quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES


Capítulo 25 - Sexo e Religião


Pergunta - Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?

Resposta - Sofrendo a prova de uma nova existência.

Pergunta - Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como
Espírito?

Resposta - Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal. Item n. 166, de "O Livro dos Espíritos.

Dar-se-á o fato de se isentar alguém dos impulsos e inquietações sexuais, simplesmente por haver assumido compromissos de natureza religiosa? Claro que a lógica responde no espírito de seqüência da natureza. A criatura que abraça encargos dessa ordem está procurando ou aceitando para si mesma aguilhões regeneradores ou educativos, de vez que ordenações e providências de caráter externo não transfiguram milagrosamente o mundo íntimo. As realizações da fé, por isso mesmo, se concretizam à base de porfiadas lutas da alma, de si para consigo.
Ninguém se burila de um dia para outro. De que modo alienar condições inerentes à própria vida do Espírito, acalentadas, no curso das eras, tão-somente em função de afirmativas verbais? E entendendo-se que as leis do Universo não destroem o instinto, mas transformam-no em razão e angelitude, na passagem dos evos, pelos mecanismos da sublimação, de que forma exigir a extinção dos estímulos genésicos em
alguém, tão-só porque esse alguém se consagre ao Serviço Divino da Fé, quando esses mesmos estímulos são ingredientes da vida e da evolução, criados pela mesma Providência Divina para a sustentação e a elevação de todos os seres? Compreendida a inalienabilidade dos problemas sexuais nas individualidades representativas das idéias religiosas no mundo, é mais que razoável considerar que essas individualidades, em grande maioria, solicitaram para si próprias os controles de feição moral a que transitoriamente se vinculam, no tentame de extraírem deles o proveito máximo, a favor de si próprias. Efetivamente, Espíritos superiores e já erguidos a notáveis campos de elevação, unicamente por amor e sacrifício, tomam assento nas organizações religiosas da Terra, volvendo à reencarnação em atividades socorristas, nas quais impulsionam o progresso dos seus irmãos. Esses missionários do devotamento vibram em faixas de amor sublime, quase sempre inacessível à compreensão dos seus contemporâneos. Não ocorrem análogas circunstâncias entre aqueles outros que renascem sob regime disciplinar, requisitados por eles contra eles mesmos, de vez que grande número desses obreiros das idéias religiosas, reencarnados em condições de prova, demonstram dificuldades e inibições múltiplas, no corpo e na mente, quando não sofrem exagerada tendência aos desvarios sexuais - tendência essa que habitualmente os mantém recolhidos ao medo de qualquer expansão afetiva. Temendo as manifestações do amor e bastas vezes condenando indebitamente os companheiros da Humanidade, pelo fato de se acomodarem a uniões respeitáveis e dignas, na generalidade receiam a si próprios e censuram os semelhantes, no impulso inconsciente de lhes copiar a independência e a conduta. Daí surgem os incidentes menos felizes quantas vezes! – em que vemos expositores ardentes e apaixonados, dessa ou daquela idéia religiosa, tombando em experiências emotivas, muito mais complicadas e deploráveis do que aquelas outras que eles próprios reprovavam no caminho e na vida dos companheiros!... Aliás, registe-se que o fenômeno é mais que justo, porquanto, aceitando os distintivos de determinada seara religiosa, o Espírito impõe a si mesmo um fator de frenagem e autopoliciamento, sem que as marcas exteriores de fé signifiquem mais que um convite ou um desafio a que se aperfeiçoe, de acordo com os princípios de acrisolamento que abraça. Instruções religiosas exteriores não alteram, de improviso, os impulsos do coração, conquanto se erijam em fortaleza de luz, amparando a criatura que a elas se acolhe para o serviço de auto-aprimoramento. Qualquer professor na Terra ha de se identificar com os alunos, no campo das experiências naturais do cotidiano, a fim de que se estabeleça, entre eles, o fio da compreensão mútua, unindo vanguarda e retaguarda do esforço para a escalada do grupo ao conhecimento. Um anjo e uma equipe de criaturas humanas não entrariam em relacionamento ideal para rendimento ideal do ensino. À vista disso, somos nós mesmos, Espíritos endividados ante as Leis do Universo, que nos enlaçamos uns com os outros, encarnados e desencarnados, aperfeiçoando gradativamente as qualidades próprias e aprendendo, à custa de trabalho e tempo, como alcançar a sublimação que demandamos, em marcha laboriosa para a conquista dos Valores Eternos.

domingo, 16 de outubro de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 21 ÍTENS 1 a 3 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

CONHECE-SE A ÁRVORE PELO FRUTO

1. Qual o entendimento moral que nos revela a expressão: “Conhecer-se a árvore pelo fruto”?
A árvore simboliza todos nós; os frutos são os nossos atos, nossas obras. Assim, a qualidade de nossa ação revela o grau do nosso adiantamento moral, caracterizando os cristãos que somos.

“O homem de bem tira as boas coisas do bom tesouro do seu coração e o mau tira as más do mau tesouro do seu coração.”

2. A palavra é um atributo importante no ser humano?


Sim. A palavra retrata o nosso coração. Uma palavra pode gerar uma to de fraternidade, quando empregada para o bem, envolvendo uma conversação sadia e edificante. Mas pode, também, quando mal empregada, conduzir à destruição.

“A boca fala do que está cheio o coração.”

3. Como devemos proceder para identificar os verdadeiros cristãos?


Examinando suas obras (seus frutos). Se possuem, no mais alto grau, as virtudes crustas e eternas: a caridade, a amor, a indulgência e a bondade que concilia corações e se, em apoio às palavras, apresentam atos .

Somente o bem realizado comprova se somos ou não cristãos.

4. Que árvores são essas que serão cortadas e lançadas ao fogo?


São as falsas obras dos homens: as idéias ocas que, a pretexto de promover o bem geral, geram desavenças, porque beneficiam uns, em detrimento de outros; são árvores não plantadas por Deus e que, fatalmente, serão destruídas.

Toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos.

5. Quem são os falsos cristãos?


São assim caracterizados os homens que, possuindo certos conhecimentos, abusam desse saber em proveito de suas ambições, de seus interesses e do seu anseio de dominação, aproveitando-se da boa fé de certas pessoas que acreditam serem eles missionários divinos.

“A difusão das luzes lhes aniquila o crédito, donde resulta que o número deles diminui à proporção que os homens se esclarecem.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XXI, item 5).

6. Como nos defender dos falsos profetas?


Identificando-os através de seus atos e suas palavras, tendo sempre, por certo, que o verdadeiro profeta se caracteriza pelos seus valores exclusivamente morais.

“Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão pessoas... Mas, aquele que perseverar até o fim, se salvará.”

Conclusão:

Reconhece-se os verdadeiros cristãos pelos seus atos. Não são belas palavras, nem as promessas ostensivas que caracterizam as pessoas de bem, mas sim, suas obras em favor do bem comum, sustentadas por valores exclusivamente morais.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORA JULIANA SOLARE


Capítulo 24 - Carga Erótica

Dois sistemas se defrontam: o dos ascetas, que tem por base o aniquilamento do corpo, e o dos materialistas, que se baseia no rebaixamento da alma. Duas violências quase tão insensatas uma quanto a outra. Ao lado desses dois grandes partidos, formiga a numerosa tribo dos indiferentes que, sem convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar. Onde, então, a sabedoria? Onde, então, a ciência de viver?
Em parte alguma; e o grande problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a alma e dizendo-lhes que, por serem necessários uma ao outro, importa cuidar de ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. Desatender às necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre arbítrio o induziu a cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto o cavalo, mal dirigido, pelos acidentes que causa.
Sereis, porventura, mais perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas, nem menos orgulhosos e mais caritativos para com o vosso próximo?
Não, a perfeição não está nisso, está toda nas formas por que fizerdes passar o vosso Espírito. Dobrai-o, submetei-o, humilhai-o, mortificai-o: esse o meio de o tornardes dócil à vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição. Do item 11, do Cap. XVII, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

O instinto sexual, exprimindo amor em expansão incessante, nasce nas profundezas da vida, orientando os processos da evolução. Toda criatura consciente traz consigo, devidamente estratificada, a herança incomensurável das experiências sexuais,
vividas nos reinos inferiores da Natureza. De existência a existência, de lição em lição e de passo em passo, por séculos de séculos, na esfera animal, a individualidade, erguida à razão, surpreende em si mesma todo um mundo de impulsos genésicos por educar e ajustar às leis superiores que governam a vida. A princípio, exposto aos lances adversos das aventuras poligâmicas, o homem avança, de ensinamento a ensinamento, para a sua própria instalação na monogamia, reconhecendo a necessidade de segurança e equilíbrio, em matéria de amor; no entanto, ainda aí, é impelido naturalmente a carregar o fardo dos estímulos sexuais, muita vez destrambelhados, que lhe enxameiam no sentimento, reclamando educação e sublimação. Depreende-se disso que toda criatura na Terra transporta em si mesma determinada taxa de carga erótica, de que, em verdade, não se libertará unicamente ao preço de palavras e votos brilhantes, mas à custa de experiência e trabalho, de vez que instintos e paixões são energias e estados inerentes à alma de cada um, que as leis da Criação não destroem e sim auxiliam cada pessoa a transformar e elevar, no rumo da perfeição.
Fácil entender, portanto, que do erotismo, como fator de magnetismo sexual humano, na romagem terrestre, seja em se tratando de Espíritos encarnados ou desencarnados na Comunidade Planetária, não partilham tão somente as inteligências que já se angelizaram, em minoria absoluta no Plano Físico, e aqueles irmãos da Humanidade provisoriamente internados nas celas da idiotia, por força de lides expiatórias abraçadas ou requisitadas por eles próprios, antes do berço terreno. Os Espíritos sublimados se atraem uns aos outros por laços de amor considerado divino, por enquanto inabordáveis a nós outros, seres em laboriosa escalada evolutiva e que compartilhamos das tendências e aspirações, dificuldades e provas do gênero humano. E os companheiros temporariamente bloqueados por cérebros deficientes e obtusos atravessam períodos mais ou menos longos de silêncio emocionados, destinados a reparações e reajustes, quase sempre solicitados por eles mesmos - repetimos -, já que se sentenciam a entraves e inibições, no campo de exteriorização da mente, através dos quais refazem atitudes e recondicionam impulsos afetivos em preciosas tomadas e retomadas de consciência. À vista do exposto, é fácil reconhecer que toda criatura humana, sempre nascida ou renascida sob o patrocínio do sexo, carreia consigo determinada carga de impulsos eróticos, que a própria criatura aprende, gradativamente, a orientar para o bem e a valorizar para a vida. Diante do sexo, não nos achamos, de nenhum modo, à frente de um despenhadeiro para as trevas, mas perante a fonte viva das energias em que a Sabedoria do Universo situou o laboratório das formas físicas e a usina dos estímulos espirituais mais intensos para a execução das tarefas que esposamos, em regime de colaboração mútua, visando ao rendimento do progresso e do aperfeiçoamento entre os homens.
Cada homem e cada mulher que ainda não se angelizou ou que não se encontre em processo de bloqueio das possibilidades criativas, no corpo ou na alma, traz, evidentemente, maior ou menor percentagem de anseios sexuais, a se expressarem por sede de apoio afetivo, e é claramente, nas lavras da experiência, errando e acertando e tornando a errar para acertar com mais segurança, que cada um de nós - os filhos de Deus em evolução na Terra - conseguirá sublimar os sentimentos que nos são próprios, de modo a erguer-nos em definitivo para a conquista da felicidade celeste e do Amor Universal.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ESTUDO DO LIVRO LIBERTAÇÃO - CAPÍTULO 14 - JULIANA SOLARE



Singular Episódio

Penetrando o compartimento em que Margarida descansava, lá nos aguardavam os dois hipnotizadores em função ativa.
Gúbio pousou significativo olhar em Saldanha e pediu-lhe em tom discreto:
— Meu amigo, chegou a minha vez de rogar. Releva-me a identificação, talvez tardia aos teus olhos, com relação aos objetivos que nos prendem aqui.
E denunciando imensa comoção na voz, esclareceu:
— Saldanha, esta senhora doente é filha de meu coração desde outras eras. Sinto por ela o enternecimento com que cuidaste, até agora, do teu Jorge, defendendo-o com as forças de que dispões. Eu sei que a luta te impôs acerbos espinhos ao coração, mas também guardo sentimentos de pai. Não te merecerei, porventura, simpatia e ajuda? Somos irmãos no devotamento aos filhos, companheiros da mesma luta.
Observei, então, cena comovedora que, minutos antes, se me figuraria inacreditável.
O perseguidor da enferma contemplou o nosso Instrutor com o olhar dum filho arrependido.
Grossas lágrimas brotaram-lhe dos olhos antes frios e impassíveis. Parecia inabilitado a responder, diante da emotividade que lhe dominava a garganta; todavia, Gúbio, enlaçando-lhe fraternalmente o busto, acrescentou:
— Passamos horas sublimes de trabalho, entendimento e perdão. Não desejarás desculpar os que te feriram, libertando, enfim, quem me é tão querida ao espírito? Chega sempre um instante no mundo em que nos entediamos dos próprios erros. Nossa alma se banha na fonte lustral do pranto renovador e esquecemos todo o mal a fim de valorizar todo o bem. Noutro tempo, persegui e humilhei, por minha vez. Não acreditava em boas obras que não nascessem de minhas mãos.
Supunha-me dominador e invencível, quando não passava de infeliz e insensato. Considerava inimigos quantos me não compreendessem os caprichos perigosos e me não louvassem a insânia.
Experimentava diabólico prazer, quando o adversário esmolasse piedade ao meu orgulho, e gostava de praticar a generosidade humilhante daquele que determina sem concorrentes. Mas a vida, que faz caminhos na própria pedra, usando a gota d’água, retalhou-me o coração com o estilete dos minutos, transformando-me devagar, e o déspota morreu dentro de mim, o título de irmão é, hoje, o único de que efetivamente me orgulho. Dize-me, Saldanha amigo, se o ódio está igualmente morto em teu espírito; fala-me se devo contar com o abençoado concurso de tuas mãos!
Eu e Elói tínhamos lágrimas ardentes, diante daquela doutrinação emocionante e inesperada.
Saldanha enxugou os olhos, fixou-os, humilde, no interlocutor bondoso e asseverou, comovendo-nos:
— Ninguém me falou ainda como tu... Tuas palavras são consagradas por uma força divina que eu não conheço, porque chegam aos meus ouvidos, quando já me encontro confundido pelos teus atos convincentes. Faze de mim o que desejares. Adotaste, nesta noite, por filhos de teu coração todos os parentes em cuja memória ainda vivo. Amparaste-me o filho demente, ajudaste-me a esposa alucinada, protegeste-me a nora infeliz, socorreste-me a neta indefesa e repreendeste os que me perturbavam sem motivo justo... Como não enlaçar, agora, as minhas mãos com as tuas na salvação da pobre mulher que amas por filha? Ainda que ela própria me houvesse apunhalado mil vezes, teu pedido, após o bem que me fizeste, redimi-la-ia ao meu olhar...
E, detendo a custo o pranto que lhe manava espontâneo, o ex-perseguidor acentuou, com expressão respeitosa:
— Poderoso Espírito e bom amigo, que me procuraste na condição do servo apagado para acordar-me as forças enrijecidas no gelo da vingança, estou pronto a servir-te! sou teu de agora em diante!
— Seremos de Jesus para sempre! — corrigiu Gúbio, sem afetação.
E abraçando-o efusivamente, conduziu-o a pequeno aposento próximo, naturalmente para organizar plano de ação eficiente e rápido.
Somente aí me lembrei de que nos achávamos na presença de ambos os hipnotizadores em função ativa, junto ao casal em repouso. Um deles se revelava inquieto e demonstrava-se francamente compreensivo; notava que algo de extraordinário se passava, mas, talvez compelido por votos de disciplina, não se animava a dirigir-nos palavra. O outro, todavia, não acusava qualquer emoção. Continuava alheio ao drama que vivíamos. Figurava-se um autômato em serviço, impressionando-me particularmente pela impassibilidade do olhar.
Alguns minutos transcorreram pesados, quando Gúbio e Saldanha retornaram à cena.
O ex-obsessor de Margarida mostrava-se mudado, quase imponente. Via-se-lhe no porte a renovação de rumo interior.
Certo, estabelecera novo programa de luta, em companhia do nosso dirigente, porque chamou o hipnotizador mais vivo, a conversação particular.
Próximos de mim, a palestra desdobrou-se clara.
— Leôncio — disse Saldanha, entusiasmado —, nosso projeto mudou e conto com a tua colaboração.
— Que houve? — indagou curiosamente o interpelado.
— Um grande acontecimento.
E prosseguiu, transformado:
— Temos aqui um mago da luz divina.
Em traços rápidos, narrou-lhe os sucessos da noite, em comovedora síntese, terminando por apelar:
— Poderemos contar contigo?
— Perfeitamente — esclareceu o companheiro —, sou amigo dos amigos, não obstante os riscos da empresa.
E designando com um golpe de olhar o outro magnetizador que prosseguia operando ao lado de Margarida, em serviço automático, objetou:
— É indispensável, porém, todo o cuidado com Gaspar, que não se acha em condições de aderir.
— Tranquiliza-te — esclareceu Saldanha, mais atencioso —, providenciaremos tudo.
Mostrou Leôncio estranho brilho nos olhos e, dirigindo-se ao ex-chefe de tortura, falou súplice:
— Escuta! conheces meu problema. Já que foste socorrido pelo mago, não poderei receber contribuição dele por minha vez? Tenho na Terra a esposa seduzida e o filho à morte.
Imprimindo inolvidável acento à voz, observou:
— Saldanha, não desconheces que sou criminoso, mas sou pai ainda... Se eu pudesse livrar o filhinho da revolta e da sepultura enquanto é tempo, considerar-me-ia sumamente feliz. Sabes que um condenado não deseja igual sorte para os rebentos do coração!
Ante o choroso apelo, Saldanha não hesitou:
— Bem — tornou um tanto embaraçado —, procura o benfeitor Gúbio e expõe-lhe o caso com franqueza.
Leôncio não se fêz rogado.
Acercou-se, respeitoso, de nosso Instrutor e explicou-se, simplesmente, sem rebuços:
— Amigo, acabo de saber com que devotamento mobilizas tua força, a beneficio de criaturas desviadas do bem, como nós, que nos sentimos desprezíveis diante de todos. É por isto que também venho implorar-te auxilio imediato.
— Em que poderemos ser úteis? — indagou o orientador, cortês.
— Passei para cá, há longos sete anos, e deixei no mundo minha mulher e um filhinho recém-nato. Voltei, moço ainda, sufocado no esgotamento pelo trabalho excessivo em busca do dinheiro fácil. Obtive, realmente, o que intentara, com a provisão de vastos depósitos bancários com que a esposa ainda se mantém, até hoje, a coberto de todas as necessidades. O desespero, a ânsia inútil por retomar o corpo que abandonara, a vaidade ferida, converteram-me no colaborador desumano de que Gregório, o nosso chefe, tanto se orgulha... Ai de mim, porém, que me sentia dono exclusivo dos encantos da mulher que eu adorava! De dois anos para cá, minha infortunada Avelina passou a escutar as fantasiosas propostas de um enfermeiro que se aproveitou da fragilidade orgânica de meu filhinho para insinuar-se sobre o ânimo da pobre mãe, viúva e jovem. Chamado a prestar socorro ao menino, depois de um incidente sem importância, o profissional percebeu as preciosidades materiais da presa cobiçada. Desde então, assediou-me a esposa sem descanso e passou a envenenar meu pequeno, pouco a pouco, à força de entorpecentes, administrados por ele, seguindo um plano cruel. No decurso do tempo, conseguiu de Avelina quanto queria: dinheiro, ilusões, prazeres e promessa de casamento. Acredito que o consórcio se realizará, dentro de breves dias, e já me resignei a semelhante acontecimento, porque a alma encarnada respira sob teia grossa de pesadelos e exigências, mas o perseguidor embuçado, sentindo em meu filho um concorrente forte aos bens que amontoei, procura aniquilá-lo sem pressa, roubando-lhe, calculado e ingrato, o ensejo de viver para um futuro digno e feliz.
Interrompeu-se, por alguns momentos, e prosseguiu, comovido:
— Francamente, envergonho-me de suplicar um favor que não mereço, mas o espírito pervertido, como eu, que pede recursos salvadores para os entes amados, guarda consciência do próprio infortúnio no mal que elegeu para inspirar-lhe o caminho... Benfeitor, por piedade! meu desventurado Ângelo permanece à beira do túmulo... Admito que o fim do corpo esteja marcado para breves dias, se mãos amigas e devotadas não nos socorrerem à altura de nossa indigência. Já fiz tudo quanto se achava ao alcance de nossas possibilidades, porém sou parte integrante de uma falange de seres malvados e o mal não salva, nem melhora ninguém.
Gúbio ia responder, mas Elói tomou a dianteira e, com imensa surpresa para nós, perguntou, sem cerimônia:
— E o nome do enfermeiro? Quem é esse quase infanticida?
— É Felício de...
Quando o nome de família foi pronunciado, nosso companheiro apoiou-se em mim, para não cair... É meu irmão! — bradou — é meu irmão...
Forte emotividade empalideceu-lhe o rosto e expectativa inquietante desabou sobre nós.
Mas Gúbio, com a serenidade sublime que lhe assinalava a fronte, abraçou Elói e inquiriu calmo:
— Onde está o infeliz que não seja nosso irmão necessitado?
A frase inteligente e bondosa sossegou o colega deprimido e ofegante.
Desejoso talvez de desfazer as nuvens que se adensavam naquele reduto doméstico e de o transformar em abençoado santuário, nosso Instrutor convidou-nos a visitar o menino enfermo, sem perda de tempo.
Saldanha indicou a figura estranha de Gaspar, que parecia surdo e insensível ao que se passava) e lembrou:
— Deixá-lo-emos sozinho por algumas horas. Aliás, precisamos, pelo menos, de um dia, a fim de fortificarmos a defensiva. A falange de Gregório não nos perdoará.
Nosso Instrutor sorriu em silêncio e ausentamo-nos.
Soprava brando e fresco vento da madrugada e pesada quietude reinava nas vias suburbanas que cruzávamos a passo rápido.
Leôncio, à frente, mostrou-nos confortável vivenda e informou:
— Aqui mesmo.
Entramos.
Em aposentos diversos, a dona da casa e o enfermeiro dormiam à solta, enquanto um pequeno simpático gemia, quase imperceptivelmente, demonstrando angústia e mal-estar.
Notava-se nele a devastação operada pelos tóxicos insistentes. Profunda melancolia estampava-se-lhe no olhar.
Leôncio, o temido hipnotizador, abraçou-o e esclareceu:
— Os venenos sutis, que ingere em doses diminutas e sistemáticas, invadem-lhe o corpo e a alma.
Fios magnéticos e invisíveis ligavam, ali, pai e filho, porque o menino, num lance comovedor, embora a prostração em que se achava, contemplou, embevecido, o retrato grande do paizinho, suspenso da parede, e falou, súplice, baixinho:
— Papai, onde está o senhor?... tenho medo, muito medo...
Lágrimas ardentes seguiram-lhe a prece inesperada e o hipnotizador de Margarida, que até então se nos afigurara um gênio horrível, prorrompeu em pranto emocionante.
Gúbio ausentou-se por momentos e regressou trazendo Felício, o enfermeiro, provisoriamente desligado do aparelho fisiológico. O rapaz, não obstante semi-inconsciente, ao avistar Elói junto ao doentinho, procurou recuar, num impulso de evidente pavor, mas nosso dirigente conteve-o, sem aspereza.
Meu colega abeirou-se dele, já de fisionomia transfigurada, buscando dirigir-lhe a palavra.
O Instrutor, no entanto, afagou-o com a destra e avisou:
— Elói, não interfiras. Não te encontras em condições sentimentais de operar com êxito. A indignação afetiva denunciar-te-ia a inabilidade provisória para atenderes a este gênero de serviço. Atuarás no fim.
Em seguida, Gúbio aplicou passes de despertamento em Felício para que a mente dele acompanhasse a lição daquela hora, dentro do mais alto estado de consciência que lhe fosse possível, notando-se que o paciente passou a fixar-nos com mais clareza, envergonhado e espantadiço. Fitou Elói, positivamente amedrontado, e reparando Leôncio a chorar sobre o filhinho, fêz novo movimento de recuo, interrogando embora:
— Quê? pois este monstro chora?
Gúbio aproveitou a pergunta brutalmente desfechada e interveio, sereno:
— Não concedes a um pai o direito de emocionar-se ante o filhinho perseguido e doente?
— Sei apenas que ele é para mim um inimigo implacável — comentou o irmão de Elói, com insofreável animosidade —, e reconheço-o, de perto. É o marido de Avelina... A princípio, via-o nos odiosos retratos que povoam esta casa... depois passou a flagelar-me nas horas de sono...
— Escuta! — disse-lhe o orientador, com inflexão de carinho — quem terá assumido a posição de adversário, em primeiro lugar? o coração dele, humilhado e ferido nos sentimentos mais altos que possui, ou o teu que urdiu deplorável projeto de conquista sentimental ante uma viúva indefesa? o dele que padece nos zelos inquietantes de pai ou o teu que comparece neste lar com o escuro propósito de assassinar-lhe o filhinho?
— Mas, Leôncio é um morto”! — suspirou o enfermeiro, desapontado.
E não hás de sê-lo, um dia — tornou o nosso dirigente — quando houveres restituído o corpo de carne ao inventário de pó?
E porque o interlocutor não pudesse prosseguir, conturbado pelas forças desintegrantes da culpa, o Instrutor continuou:
— Felício, porque insistes no condenável enredo com que preparas tão calculado crime? Não te compadeces, porventura, de uma criança enferma e sem pai visível? Tens Leôncio na conta dum monstro, por defender o frágil rebento do coração, tal como a ave que ataca, ainda que impotente, na ânsia de preservar o ninho... Que dizer, porém, de ti, meu irmão, que não vacilas em devassar este santuário, tão somente com o instinto de gozo e poder? como interpretar-te o gesto lastimável de enfermeiro que se vale do divino dom de aliviar e curar para perturbar e ferir? Felício, a experiência humana, confrontada com a eternidade em que se movimentará a consciência, é simples sonho ou pesadelo de alguns minutos. Porque comprometer o futuro ao preço do conforto ilusório de alguns dias? Os que plantam espinhos colhem espinhos na própria alma e comparecem perante o Senhor de mãos convertidas em garras abomináveis. Os que espalham pedras em derredor dos pés alheios serão surpreendidos, mais tarde, pelo endurecimento e paralisia do próprio coração.
Guardas, porventura, suficiente noção da responsabilidade que assumes? Possuis ainda no coração evidentes restos de bondade igual à daqueles que se acolhem no âmbito de uma família abençoada e grande, em cujo seio a solidariedade é cultivada, desde os primórdios da luta. Vejo que o entusiasmo juvenil não se extinguiu, de todo, em tua mente. Porque ceder às sugestões do crime? não te comove a prostração deste menino a quem procuras impor a morte vagarosa?
Repara! o drama de Leôncio não se resume ao conflito de um “morto”, como supões em teu perturbado raciocínio. Ausculta-lhe o coração de pai amoroso e dedicado! encontrarás dentro dele a afeição doce e pura, à maneira do brilhante oculto no cascalho rijo e contundente.
O irmão de Elói pousava em nosso Instrutor os olhos medrosos e espantados.
Depois de leve pausa, Gúbio continuou:
— Aproxima-te. Vem a nós. Perdeste a capacidade de amar? Leôncio é teu amigo, nosso irmão.
Felício gritou com visível expressão de angústia:
— Quero ser bom, mas não posso... Tento melhorar-me e não consigo...
De voz entrecortada pelos soluços, acrescentou:
— E o dinheiro? como resgatarei os débitos contraídos? sem o casamento com Avelina, a solução é impraticável!
Nosso dirigente abraçou-o e aduziu:
— E acreditas solver compromissos financeiros provocando dívidas morais que te atormentarão por tempo indeterminado? Ninguém te proibe o casamento, nem Leôncio, o organizador dos bens materiais de que pretendes dispor, discricionàriamente, te poderia induzir à abstenção nesse sentido, os atos de cada homem e de cada mulher arquitetam-lhes os destinos.
Somos responsáveis por todas as deliberações que perfilharmos ante os programas do Eterno e não poderíamos interferir em teu livre arbítrio, mas te pedimos concurso em benefício desta vida frágil que deve continuar... Queres dinheiro, recursos que te façam respeitado ou temido pelos outros homens. Convence-te, porém, de que a fortuna é uma coroa pesada demais para a cabeça que não sabe sustentá-la e costuma arrojar à poeira, através do cansaço e da desilusão, todos aqueles que a senhoreiam, sem horizontes largos de trabalho e benemerência. Não importa, pois, que comandes os valiosos depósitos de prata e ouro que Leôncio amontoou, inadvertidamente, porque aprenderás, com os anos, que a felicidade não está metida em cofres que a ferrugem consome.
Todavia, Felício, interessamo-nos por tua promessa em favor desta criança, extenuada de sofrimento. Poupa-lhe o corpo tenro e aguarda o futuro! não tragas para o reino da morte semelhante delito, que te confinaria o espírito a furnas trevosas de expiação regeneradora.
Ante a interrupção que se impusera natural, Felício quis dizer qualquer coisa para justificar-se, mas não pôde.
Gúbio, todavia, prosseguiu, sereno:
— Casa-te, esbanja as reservas preciosas deste lar se não souberes entender a tempo a sagrada missão do dinheiro, sobe aos píncaros da vida social transitória, adorna-te com os títulos convencionais com que o mundo inferior se habituou a premiar as criaturas sagazes que sobem a ladeira da dominação inútil ou ruinosa, sem ferir-lhe publicamente os preconceitos, porque o tempo te esperará sempre, com lições de mestre; sem embargo, ajuda o pequenino a restabelecer-se.
E endereçando compassivo olhar ao hipnotizador de Margarida, acentuou:
— Não é bem Isto, Leôncio, quanto desejamos?
— Sim — confirmou o pobre pai em lágrimas enternecidas —, o dinheiro não importa e agora reconheço que Avelina é tão livre quanto eu mesno. Mas se meu filhinho continuar na Terra, tenho esperanças em minha própria regeneração. Terei nele um companheiro e um amigo, ligado à minha memória, em cuja capacidade de servir poderei encontrar bendito campo de serviço espiritual. Este menino, por enquanto, é o único meio de que disponho para retomar a crença no bem de que me havia afastado.
Reconhecendo-lhe o doloroso esforço para falar e rogar naquela hora, Gúbio abraçou-o, ergueu-o e disse:
— Leôncio, Jesus crê na cooperação dos homens, tanto assim que nos tolera as imperfeições renitentes até que aceitemos o imperativo de nossa conversão pessoal ao supremo bem. Porque havíamos então de descrer? Confio na renovação de Felício. De hoje em diante, o teu filhinho não será mais vigiado por um perseguidor e, sim, protegido por desvelado benfeitor, digno de nosso concurso fraterno!
O enfermeiro, vencido por semelhantes palavras, ajoelhou-se, diante de nós, e jurou:
— Em nome da Justiça Divina, prometo amparar esta criança, como verdadeiro pai!
Em seguida, reergueu-se e tentou beijar as mãos de Gúbio, mas o nosso Instrutor, abstendo-se delicadamente de receber a homenagem, recomendou a Elói e a mim conduzissemos o paciente ao corpo físico, enquanto ele mesmo aplicaria passes de fortalecimento ao doentinho.
Felícío abraçou-se a nós ambos e, depois de nosso auxílio por reajustar-se no aparelho carnal, acordou no leito em copiosas lágrimas.
O lance, porém, não terminou aí.
Forçando a situação de algum modo, Elói inoculou-lhe intensa energia magnética à esfera ocular e o irmão, apalermado, viu-nos ambos, por alguns segundos.
Boquiaberto, assombrado, não sabia que dizer, mas Elói acercou-se dele e com benéfica indignação a resplandecer-lhe nos olhos, exortou-o, francamente:
— Se assassinares este menino, eu mesmo te punirei.
O enfermeiro proferiu grito terrível e deixou cair no travesseiro a cabeça desfalecente, perdendo-nos de vista.
Nesse instante, acreditei com sinceridade que a promessa de Felício seria cumprida integralmente.

domingo, 2 de outubro de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES


Capítulo 23 - Abstinência e Celibato

Pergunta - O celibato voluntário representa um estado de perfeição meritório
aos olhos de Deus?

Resposta - Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam o mundo. Pergunta - Da parte de certas pessoas, o celibato não será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais completo, ao serviço da Humanidade? Resposta - O caso é muito diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto maior o sacrifício, tanto maior o mérito. Itens ns 698 e 699, de "O Livro dos Espíritos".

Abstinência, em matéria de sexo e celibato, na vida de relação pressupõe experiências da criatura em duas faixas essenciais – a daqueles Espíritos que escolhem semelhantes posições voluntariamente para burilamento ou serviço, no curso de determinada reencarnação, daqueles outros que se vêem forçados a adotá-las, por força de inibições diversas. Indubitavelmente, os que consigam abster-se da comunhão afetiva, embora possuindo em ordem todos os recursos instrumentais para se aterem ao conforto de uma existência a mais, com o fim de se fazerem mais úteis ao próximo, decerto que traçam a si mesmos escaladas mais rápidas aos cimos do aperfeiçoamento.
Agindo assim, por amor, doando o corpo a serviço dos semelhantes, e, por esse modo,
amparando os irmãos da Humanidade, através de variadas maneiras, convertem a existência, sem ligações sexuais, em caminho de acesso à sublimação, ambientando-se em climas diferentes de criatividade, porquanto a energia sexual neles não estancou o próprio fluxo; essa energia simplesmente se canaliza para outros objetivos - os de natureza espiritual. E, em concomitância com os que elegem conscientemente esse tipo de experiência, impondo-se duros regimes de vivência pessoal, encontramos aqueles outros, os que já renasceram no corpo físico induzidos ou obrigados à abstinência sexual, atendendo a inibições irreversíveis ou a processos de inversão pelos quais sanam erros do pretérito ou se recolhem a pesadas disciplinas que lhes facilitem a desincumbência de compromissos determinados, em assuntos do espírito. Num e noutro caso, identificamos aqueles que se fazem chamar, segundo os ensinamentos evangélicos, como sendo "eunucos" por amor do Reino de Deus". Esses eunucos, porém, muito ao contrário do que geralmente se afirma, não são criaturas psicologicamente assexuadas, respirando em climas de negação da vida. Conquanto abstêmios da emotividade sexual, voluntária ou involuntariamente, são almas vibrantes, inflamadas de sonhos e desejos, que se omitem, tanto quanto lhes é possível, no terreno das comunhões afetivas, para satisfazerem as obrigações de ordem espiritual a que se impõem. Depreende-se daí a impossibilidade de se doarem a quaisquer tarefas de reparação ou elevação sem tentações, sofrimentos, angústias e lágrima:; e, às vezes, até
mesmo escorregões e quedas, nos domínios do sentimento, de vez que os impulsos do amor nelas se mantêm com imensa agudeza, predispondo-as à sede incessante de compreensão e de afeto. Entendendo-se os valores da alma por alimento do espírito, impossível esquecer que a produção do bem e do aprimoramento se realiza à base de atrito e desgaste. A semente é segregada no solo para desvencilhar-se dos empeços que a constringem, de modo a formar o pão, e o pão, a rigor, não se completa em forno frio.
A força no carro não surge sem a queima de combustível, e o motor não lhe garante
movimento sem aquecer-se em nível adequado. Abstinência e celibato, seja por decisão
súbita do homem ou da mulher, interessados em educação dos próprios impulsos, no curso da reencarnação, ou seja por deliberação assumida, antes do renascimento na esfera física, em obediência a fins específicos, não contam indiferença e nem anestesia do sentimento. Celibato e abstinência, em qualquer forma de expressão, constituem tentames louváveis do ser experiências de caráter transitório -, nos quais a fome de alimento afetivo se lhes transforma no imo do coração em fogo purificador, acrisolandolhes as tendências ou transfigurando essas mesmas tendências em clima de produção do bem comum, através do qual, pela doação de uma vida, se efetua o apoio espiritual ou a iluminação de inúmeras outras. Tais considerações nos impelem a concluir que a vida sexual de cada criatura é terreno sagrado para ela própria, e que, por isso mesmo, abstenção, ligação afetiva, constituição de família, vida celibatária, divórcio e outras ocorrências, no campo do amor, são problemas pertinentes à responsabilidade de cada um, erigindo-se, por essa razão, em assuntos, não de corpo para corpo, mas de coração para coração.

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 19 ÍTEM 12 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

A FÉ HUMANA E A FÉ DIVINA

1. A fé tem apenas caráter religioso?

Não. Ela reflete uma confiança que se tem na possibilidade de realizar alguma coisa.

“Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XIX, item 6).

2. Em que consiste a fé, no homem?


É um sentimento cujo gérmen o homem traz depositado no seu íntimo, e que lhe compete fazê-lo desabrochar e crescer pela ação da sua vontade.

Conclui-se, portanto, que a fé não é privilégio de alguns, mas dom precioso, concedido a todos por Deus.

3. Por que a maioria das pessoas interpretam a fé mais pelo o lado religioso?


Porque essas pessoas, não compreendendo o verdadeiro caráter da missão do Cristo, consideram-no apenas como um chefe religioso, capaz de operar milagres através da fé e acreditam ser este o único objetivo da fé na vida do homem.

Quando o homem conhecer melhor as verdades eternas e melhor souber aproveitar os conhecimentos que a ciência propicia, descobrirá o poder que a fé lhe faculta e que tem nas mãos.

4. Como podemos interpretar os milagres?


Os milagres não são mais do que ocorrência de fenômenos naturais, que se operam mediante a vontade de quem quer que seja, desde que imbuído de uma fé ardente, sincera e verdadeira.

É dessa forma que o homem pode, assim como Jesus e os discípulos fizeram, realizar grandes benefícios para a humanidade.

5. De que forma podemos melhor compreender a essência desses fenômenos a que chamamos de milagres?


Através do estudo das leis, que hoje encontramos mais claramente definidas, à nossa disposição, como, por exemplo, o magnetismo, associado ao estudo do Espiritismo, que nos propicia uma melhor interpretação e compreensão das leis divinas.

O estudo, hoje, nos faculta ver que o que existe de extraordinário na ocorrência dos chamados milagres: é a manifestação da vontade, aliada à fé.

6. Qual a diferença entre a fé humana e a divina?


A humana se concentra nos interesses materiais e satisfação das necessidades terrenas; a divina, nas coisas espirituais, na vida futura (espiritual).

A fé humana se vê manifestada no homem de gênio, que se propõe a realizar um empreendimento qualquer e nisso concentra todo o seu trabalho e esforços; a divina vêmo-la demonstrada no homem de bem, que enche de belas e nobres ações a sua existência.

7. Todos nós temos, então, poder de realizações várias, inclusive curas?


Sim. No entanto, é necessário dosar nossa vontade com bons sentimentos, a fim de não provocar desastres.

Por isso que Jesus nos disse: “Vós sois Deuses. O que eu faço podeis muito mais (...)”

Conclusão:

A fé é um precioso instrumento evolutivo que nos cabe fazer bom uso, a fim de cumprirmos nossa missão perante Deus. A fé humana se volta para as necessidades terrenas; a divina, para as aspirações celestiais e futuras.

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 19 ÍTEM 11 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

A FÉ: MÃE DA ESPERANÇA E DA CARIDADE

1. Por que a esperança e a caridade estão associadas à fé?

Porque a esperança só reside num coração que crê e confia nas promessas do Cristo, e a caridade só é praticada por aquele dotado do verdadeiro sentimento de amor ao próximo, cujo labor, obrigatoriamente, se sustenta na fé.

“A esperança e a caridade da fé e forma com esta uma trindade inseparável.”

2. Por que a fé necessita de obras?


Porque não basta a fé simplesmente estar em nossa consciência. É necessário que a tornemos verdadeira, dando-lhe eficácia, isto é, ela deve nos impulsionar para Deus, através do serviço em favor ao próximo.

“Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se.” “A fé que não produz é semelhante à lâmpada aparatosa que não esparze claridade: é inútil.” (Joanna de Ângelis/Estudos Espíritas).

3. A fé propicia recursos para nossa regeneração?


Sim, pois a nossa regeneração depende do grau de confiança que temos em Deus e no futuro, e a fé nos propicia essa confiança.

A fé nos dá ânimo, confiança em Deus e a certeza de que venceremos, por estarmos buscando nos ajustar às leis da vida.

4. Sendo inspiração divina, por que muita gente não tem fé?


Porque, embora seja dado a todos possuí-la, a fé se adquire e se desenvolve através do empenho de cada um. Mas esse empenho, muitas vezes, é frustrado pelo descaso e pelo orgulho.

“(...) a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem... Preciso é, pois, que essa base seja forte e durável... Seja mais forte a vossa fé do que os sofismas e as zombarias dos indivíduos...”

5. A fé pode ser transmitida por alguém a outrem?


De certo modo, sim. Embora seja certo que a fé não se prescreve, não se impõe a ninguém, é igualmente certo que, pelo exemplo da nossa fé sincera, podemos contagiar os outros, animando-os a desenvolvê-la dentro de si.

“A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunicar-se aos que não a tinham, ou mesmo não desejariam tê-la... A fé aparente apenas usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente que as escuta.”

6. Que mudanças nos acarreta a fé?


Otimismo sadio, vontade de viver, esperança firme, valorização do sentimento de amor ao próximo, melhor utilização do tempo, em face da consciência do progresso que temos a alcançar etc.

“ Tende, pois, a fé com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade.”

7. Por que a fé deve ser raciocinada?


Porque “ a fé necessita de uma base, que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XIX, item 7).

Sem base na razão, dificilmente a fé resiste às dúvidas que surgem de um coração visitado pelas provas rudes.

Conclusão:

A fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É nela que se sustentam a esperança e a caridade. Contudo, é necessário o exemplo das obras que ela seja eficaz e verdadeira; tem que ser ativa, para ser proveitosa.

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 18 ÍTENS 10 a 12 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

MUITO SE PEDIRÁ ÀQUELE QUE MUITO RECEBEU

1. O que significa a expressão de Jesus: “Muito se pedirá àquele que muito recebeu?
Que os talentos que recebemos de Deus, sejam os de conhecimento, sejam os de bens materiais, devem ser multiplicados em favor do próximo e nos impõem uma responsabilidade maior perante a Providência Divina e os nossos semelhantes.

A Providência Divina nos cobra a mesma proporção que nos oferece: se muito recebemos, maior é a nossa obrigação de doar em favor do próximo.

2. A ignorância justifica o erro?

Justificar não é bem o termo. Ela apenas abranda a punição. É evidente que, ao contrário do ignorante, aquele que sabe mais deve melhor proceder, sob pena de, não agindo assim, sofrer mais, por ser mais responsável.

Se erramos por desconhecer a verdade, seremos menos punidos (e não, perdoados), eis que Deus só nos cobra o que Dele temos recebido.

3. Assim sendo, não é mais aconselhável saber menos, pois, assim, menos contas teremos que prestar a Deus?

Constitui isso um regozijo efêmero, que apenas fará com que retardemos o nosso progresso, a cuja lei, mais cedo ou mais tarde, inexoravelmente, teremos que aderir.

Deus pune não somente pelos nossos erros cometidos, mas também pela nossa inércia, comodismo e má vontade..

4. De que cegueira nos fala, aqui, Jesus? Seria a dos olhos físicos?

Não. Trata-se da cegueira da alma, que pode ser voluntária nas pessoas que não querem enxergar a verdade personificada por Jesus.

“O pior cego é aquele que não quer ver.”

5. Por que os fariseus eram grandes pecadores?

Porque conheciam a lei de Deus, pregavam-na, mas não a praticavam.

“Mas, agora, dizeis que vedes e é por isso que em vós permanece o vosso pecado.”

6. O Evangelho está ao alcance de todos?

Sim, pois ele veio para atingir todas as camadas, podendo o seu aprendizado ser acessível e adquirido por todos, inclusive por analfabetos, pelo simples ouvir de suas prédicas .

O ensino dos espíritos, que se espalham por toda parte, permite que as máximas do Evangelho se estenda a todos, letrados ou iletrados, crentes ou incrédulos, cristãos ou não.

7. O conhecimento do Evangelho implica a vivência de seus ensinamentos?
O seu conhecimento implica proporcional responsabilidade pelos atos cometidos. Assim sendo, aqueles que o conhecem e não o vivenciam serão mais severamente punidos.

O Evangelho não é apenas uma admirável de vida, mas encerra as próprias leis da vida, às quais estamos subordinados.

8. O conhecimento espírita propicia mais responsabilidade?

Sim. Contudo, maiores alegrias também, se bem praticado.

“Aos espíritas, pois, muito será pedido, porque muito hão recebido; mas, também, aos que houverem aproveitado, muito será dado.”

Conclusão:

Os talentos que recebemos de Deus, em termos de conhecimento e bens materiais, devem ser multiplicados em favor do próximo. Perante Deus, a responsabilidade dos nossos atos é diretamente proporcional ao esclarecimento de que já somos portadores.