quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER
EM PLENO TRANSE
Amparado à Marta, intentei proclamar o júbilo que me dominava, fazendo-me ouvido em alta voz. Todavia, os membros jaziam inteiriçados e os órgãos da fala em descontrole.
Não tinha perfeito conhecimento da posição em que os familiares se moviam. Meus olhos demoravam-se perturbados. Sensação de esmagamento percorria-me todo; no entanto, que pedir além daquela infinita ventura que o devotamente filial me proporcionava?
Tentei alinhar ideias a fim de agradecer a intervenção da filha querida; contudo, não consegui.
Percebendo-me as dificuldades; Marta afagou-me a fronte e falou, meiga:
— Os nossos benfeitores desatam os últimos elos. Enquanto isto; façamos nossa oração.
O SALMO 23
Não me seria possível, naqueles minutos, enfileirar pensamentos e muito menos enunciar qualquer frase. Tinha a respiração opressa, como nos derradeiros dias de luta no corpo físico.
Com alegria, no entanto, via a filha elevar-se no alto, repetindo, em voz pausada e comovedora as expressões do Salmo 23, ampliando-lhes o sentido:“O Senhor é nosso Pastor; nada nos faltará. Deitar-nos faz em refúgio de esperança, guia-nos suavemente a águas do repouso”.
“Refrigera-nos a alma, conduz-nos pelas veredas da justiça, na qual confiamos por amor ao seu nome.
“Ainda que andemos pelo vale da sombra e da morte, não temeremos mal algum, porque Ele está conosco; a sua vontade e a sua vigilância nos consolam. Prepara–nos mesa farta de bênçãos, ainda mesmo na presença dos inimigos que trazemos dentro de nós, unge–nos a cabeça de bom ânimo e o nosso coração transborda de júbilo.
“Certamente que a bondade e a compaixão do Senhor nos seguirão em todos os dias da vida e habitaremos na sua Casa Divina, por longo tempo. Assim seja.”
À medida que sua voz pronunciava o texto antigo, multiplicando-me as lágrimas abundantes e espontâneas, dores cruéis me assaltavam a região torácica.
Vim saber, mais tarde, que aqueles sofrimentos provinham da extração de resíduos fluídicos que ainda me enlaçavam à zona do coração.
LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER
Minha filha!
Observando-me relegado às próprias obras (por que não confessar?), senti-me sozinho e amedrontei-me. Esforcei-me por gritar, implorando socorro, porém, os músculos não mais me obedeceram.
Busquei abrigar-me na prece, mas o poder de coordenação escapava-me.
Não conseguiria precisar se eu era um homem a morrer ou um náufrago a debater-se em substância desconhecida, sob extremo nevoeiro. Naquele intraduzível conflito, lembrei mais insistentemente o dever de orar nas circunstâncias mais duras... Rememorei a passagem evangélica em que Jesus acalma a tempestade, perante os companheiros espavoridos, rogando ao Céu salvação e piedade...
Forças de auxílio dos nossos protetores espirituais, irmanadas à minha confiança, sustaram as perturbações. Braços vigorosos, não obstante invisíveis para mim, como que me reajustavam no leito. Aflição asfixiante, contudo, oprimia-me o íntimo. Ansiava por libertar-me. Chorava conturbado, jungido ao corpo desfalecente, quando tênue luz se fez perceptível ao meu olhar. Em meio do suor copioso lobriguei minha filha Marta a estender-me os braços. Estava linda como nunca. Intensa alegria transbordava-lhe do semblante calmo. Avançou, carinhosa, enlaçou-me o busto e falou-me, terna, aos ouvidos: “Agora, paizinho, é necessário descansar”.
“A CRISE DA MORTE” – Nota do autor espiritual.
Tentei movimentar os braços de modo a retribuir-lhe o gesto de amor,
mas não pude erguê-los. Pareciam guardados sob uma tonelada de chumbo.
O pranto de júbilo e reconhecimento, porém, correu-me abundante dos olhos. Quem era Marta, naquela hora, para mim? Minha filha ou minha mãe? Difícil responder. Sabia apenas que a presença dela representava o mundo diferente, em nova revelação. E entreguei-me, confiado, aos seus carinhos, experimentando felicidade impossível de descrever.
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