quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES



Introdução e Capítulo 1 - Vida e Sexo

Que os problemas do sexo agitam atualmente vastos setores da vida humana, é incontestável. De que forma, porém, as teses do sexo são tratadas do Plano Espiritual para o Plano Terrestre? Semelhante indagação, repetidamente endereçada a nós outros - pequenos servidores desencarnados, motivou a formação do despretensioso volume que oferecemos aqui aos leitores amigos. Com ele,não disputamos qualquer posição nova, ante os devotados lidadores da psicologia moderna que hoje esquadrinham os meandros da alma humana, para benefício da saúde mental da comunidade. Com as nossas ligeiras páginas, tão-somente desenvolvemos conceitos formulados na Codificação Kardequiana,para demonstrar que as proposições, ao redor do sexo, apaixonadamente focalizadas,na atualidade da Terra,foram objeto de criteriosas anotações do plano espiritual, no século passado, na previsão dos choques de opinião, em matéria afetiva, que a Humanidade de agora enfrenta. Nada mais realizamos que reformular o pensamento e a definição dos Mensageiros Benevolentes e Sábios que orientaram Alan Kardec, nos primórdios da Doutrina Espírita, em sua função de Consolador prometido ao mundo pelo Cristo de Deus. E para não nos delongarmos em considerações desnecessárias, concluiremos que, em torno do sexo, será justo sintetizarmos todas as digressões nas normas seguintes: Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade. Fora disso, é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra da sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um.

1. EM TORNO DO SEXO

Pergunta - O Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, numa nova existência, e vice-versa?

Sim, pois são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres. Item nº 201 de "O livro dos espíritos". Ante os problemas do sexo, é forçoso lembrar que toda criatura traz os seus temas particulares, com referência ao assunto. Atendendo à soma das qualidades adquiridas, na fieira das próprias reencarnações, o Espírito se revela, no Plano Físico, pelas tendências que registra nos recessos do ser, tipificando-se na condição de homem ou de mulher, conforme as tarefas que lhe cabe realizar. Além disso a individualidade, muitas vezes, independentemente dos sinais morfológicos, encerra em si extensa problemática, em se tratando de vinculações e inclinações de caráter múltiplo. Cada pessoa se distingue por determinadas peculiaridades no mundo emotivo. O sexo se define, desse modo, por atributo não apenas respeitável mas profundamente santo da Natureza, exigindo educação e controle. Através dele dimanam forças criativas, às quais devemos, na Terra, o instituto da reencarnação, o templo do lar, as bênçãos da família, as alegrias revitalizadoras do afeto e o tesouro inapreciável dos estímulos espirituais. Desarrazoado subtrair-lhe as manifestações aos seres humanos, a pretexto de elevação compulsória, de vez que as sugestões da erótica se entranham na estrutura da alma, ao mesmo tempo que seria absurdo deslocá-lo de sua posição venerável, a fim de arremessá-lo ao campo da aventura menos digna, com a desculpa de se lhe garantir a libertação. Sexo é espírito e vida, a serviço da felicidade e da harmonia do Universo. Conseguintemente, reclama responsabilidade e discernimento, onde e quando se expresse. Por isso mesmo, nossos irmãos e nossas irmãs precisam e devem saber o que fazem com as energias genésicas, observando como, com quem e para que se utilizam de semelhantes recursos, entendendo-se que todos os compromissos na vida sexual estão igualmente subordinados à Lei de Causa e Efeito; e, segundo esse exato princípio, de tudo o que dermos a outrem, no mundo afetivo, outrem também nos dará.

ESTUDO DO LIVRO ENTRE A TERRA E O CÉU - CAP. 37 - ORADOR ALEXANDRE CAMARGO



37 – Reajuste

Quando os amigos se afastaram, Clarêncio cercou Zulmira de cuidados especiais, aplicando-lhe passes de reconforto.
A injeção de sangue renovador lhe fizera grande bem.
Pouco a pouco, acomodaram-se-lhe os centros de força.
Desde a desencarnação do filhinho, a pobre criatura não desfrutava tão acentuado repouso, quanto naquela hora.
Nosso instrutor recomendou a Odila preparasse o pequeno Júlio para o reencontro com a mãezinha.
Zulmira vê-lo-ia, buscando energias novas.
E enquanto nossa irmã se distanciava para o desempenho da missão que lhe fora cometida, o orientador falou, otimista:
– Um sonho reconfortante é uma bênção de saúde e alegria para os nossos irmãos encarnados.
Íamos responder, mas a doente, à semelhança das pessoas na hipnose profunda, levantou-se em Espírito, contemplando-nos, surpresa.
O olhar dela, admiravelmente lúcido, falava-nos de sua ansiedade maternal.
Clarêncio afagou-a, como se o fizesse a uma filha, rogandolhe calma e fé.
Desdobrava-se-lhe a preleção carinhosa, quando partimos.
Amparada em nossos braços, Zulmira volitou sem perceber.
Observei que o espetáculo magnificente da Natureza não lhe feria a atenção. Introvertida, apenas a imagem da criancinha morta lhe ocupava a tela mental.
O Lar da Bênção mostrava-se maravilhoso.
Flores de rara beleza coloriam a estrada e embalsamavam-na de suave perfume.
Aqui e ali, doces melodias vibravam no ar. A glória fulgurante do céu induzia-nos à oração de reverência e louvor ao Pai Celestial, mas a pobre mulher que seguia conosco parecia insensível à excelsitude do ambiente, à face da tortura interior de que se via possuída, obrigando-me a reconhecer, mais uma vez, que o paraíso da alma, em verdade, reside onde se lhe situa o amor.
Reparei que para a devoção afetuosa de Zulmira não importava o rumo. Qualquer indagação, perante aquela ternura atormentada, resultaria inútil.
Creio que, se, ao invés da refulgente luz do Lar da Bênção, apenas víssemos trevas, para aquele espírito agoniado de mãe o quadro seria de verdadeiro paraíso, desde que pudesse reter nos braços o filhinho inesquecível.
Quem poderá definir com exatidão os indevassáveis segredos que Deus colocou nos corações que amam?
Quando penetramos o berçário, onde o menino repousava, sob a abnegada vigilância de Odila e Blandina, a sofredora mãezinha tentou arrojar-se sobre a criança sonolenta, sendo delicadamente advertida por nosso orientador, que a sustentou, paternal, asseverando:
– Zulmira, não perturbes o pequenino se o amas.
– É meu filho! – bradou, semidesvairada.
– Não ignoramos que Júlio se asilou na Terra em teu regaço e, por isso, fomos teus companheiros na presente viagem para que amenizes a tua dor. Entretanto, não admitas que o egoísmo te ensombre a alma!... Certamente, o carinho materno é um tesouro inapreciável, contudo não devemos olvidar que todos somos filhos de Deus, nosso Eterno Pai! Acalma-te! Pede ao Senhor os recursos necessários para que o teu devotamento seja um auxílio positivo ao pequenino necessitado!
Tocada por essas palavras, Zulmira desfez-se em pranto.
Enlaçada afetuosamente por Odila, que tentava soerguer-lhe o ânimo, reconheceu a primeira esposa de Amaro e recordou a luta que haviam atravessado, quando do afogamento do pequeno irmão de Evelina.
O remorso voltou a refletir-se-lhe na mente e, atribulada, exclamou:
– Odila! perdoa-me, perdoa-me!... Agora vejo o inferno que te impus, despreocupando-me de teu filhinho... Hoje, pago com lágrimas minha deplorável displicência! Ajuda-me, querida irmã!...
Sê para o meu Júlio a guardiã que não fui para o teu!
A interpelada acariciou-a, compadecidamente, e ajuntou:
– Tem paciência! A aflição é um incêndio que nos consome...
Paguemos à vida o tributo da conformação na dor, para que sejamos efetivamente dignas do socorro celestial...
E, beijando-a nos olhos, aduziu:
– Enxuga as lágrimas que te fustigam inutilmente. A serenidade é o nosso caminho de reestruturação espiritual. Não te reportes ao passado... Vivamos o presente, fazendo o melhor ao nosso alcance.
– Agora, porém, que sofro as agruras de minha prova – acentuou Zulmira, em tom amargo –, penso em teu anjinho...
Odila, conchegando-a de encontro ao peito, conduziu-a para mais perto do menino adormecido e, indicando-o, aclarou, satisfeita:
– Ouve! Meu filhinho é também o teu. Júlio de hoje é o nosso Júlio de ontem. Pesados compromissos com o pretérito obriga ram-no a aceitar as dificuldades do momento... Em nosso aprendizado de agora, teve a existência frustrada por duas vezes, a fim de valorizar, com segurança, a bênção da escola terrestre.
Ante a companheira perplexa, acrescentou, convincente:
– O corpo de carne é uma veste que o nosso Júlio usou de dois modos diferentes, por nosso intermédio.
E sorrindo:
– Como vemos, somos duas mães, partilhando o mesmo amor.
Notávamos que Zulmira, admirada, estimaria algo perguntar, mas o choque da revelação como que lhe imobilizara a garganta.
No imo d'alma, decerto algo lhe alterara o campo emotivo.
Secaram-se-lhe as lágrimas, ao passo que o olhar se lhe fazia mais brilhante.
Afigurava-se-nos uma estátua viva de intraduzível expectação.
Sem resistência, deixou-se conduzir pelos braços de Odila até um leito próximo, para ajustar-se ao repouso preciso.
Agora sim – pensava, surpreendida –, começava a compreender...
Júlio prematuramente expulso da experiência material pelo afogamento, ao mundo tornara em nova tentativa que redundara em frustração...
Porquê? porquê?
O pensamento dolorido intentava penetrar os segredos do tempo, arrastando-a ao passado remoto, mas o cérebro doía-lhe, dilacerado... Realmente, não lhe seria possível naquelas circunstâncias qualquer incursão no domínio das reminiscências, mas percebia, enfim, a Bondade Eterna que reúne as almas nos mesmos laços de trabalho e esperança do caminho redentor...
Lembrou a animosidade fria que experimentara por Júlio, logo após seus esponsais, e o imanifesto ciúme que nutria, diante das atenções que Amaro lhe dispensava, e reconheceu que a Providência Divina, ligando-o ao seu coração de mãe, lhe sublimara os sentimentos...
Agora sentia por ele inexpressável carinho e iluminado amor...
De espírito assim transformado, via em Odila não mais a rival, mas a benfeitora que, sem dúvida, lhe seguira de perto a transfiguração.
Enlaçou-se a ela, em pranto silencioso, qual se lhe fora filha a ocultar-se nos braços maternais.
A primeira esposa de Amaro, imensamente comovida, correspondia-lhe as manifestações afetivas, afagando-lhe os cabelos.
– Convém-lhe o repouso – afirmou Clarêncio, amigo –, qualquer recordação agora lhe agravaria o conflito mental.
Odila desembaraçou-se da companheira, deixando-a a sós no descanso justo, e seguiu-nos.
Despedindo-nos, o instrutor aconselhou fosse Zulmira mantida no berçário mais algumas horas.
Desse modo, o corpo denso seria mais amplamente beneficiado pelo sono reparador.
Voltaríamos para reconduzi-la à residência terrestre, de maneira a garantir-lhe, tanto quanto possível, as melhoras gerais.
Afastamo-nos, assim, para regressar em breve.
Com efeito, transcorrido o tempo que o nosso instrutor julgou indispensável, tornamos ao Lar da Bênção para restituir nossa amiga ao ninho distante.
O relógio marcava nove da manhã, quando a enferma, sob a nossa vigilância, despertou no corpo físico.
Zulmira, retomando o equipamento cerebral mais denso, não conseguiu articular a lembrança da excursão que se lhe afigurou, então, delicioso sonho.
Guardava a impressão nítida de que revira o filhinho em alguma parte e semelhante certeza lhe restaurara a calma e a confiança.
Sentia-se mais leve, quase feliz.
Evelina, atendendo-lhe o chamado, identificou-lhe as melhoras, rendendo graças a Deus.
A jovem, contente, trouxe Antonina e Lisbela ao quarto. A viúva chegara cedo com a filhinha, com o melhor desejo de cooperar.
A doente saudou-as, satisfeita. Recordava-se, de modo impreciso, da noite anterior e agradeceu o cuidado de que se via objeto.
Aceitou o café substancioso que lhe foi trazido e tão reanimada se sentia que, sem qualquer cerimônia, confiou a Antonina as impressões renovadoras de que se via dominada.
Permanecia convicta de que vira Júlio e abraçara-o... Onde e como? não saberia dizer.
Mas o contentamento que a felicitava era bem o testemunho de que recolhera naquela noite benefícios reais.
– Felizmente, a transfusão de sangue foi coroada de pleno êxito!
– exclamou Evelina, encantada.
– Sim – disse Antonina, concordando –, a providência terá sido das mais proveitosas, no entanto, estou certa de que dona Zulmira terá reencontrado o filhinho no plano espiritual, readquirindo novo ânimo para a luta.
Aquela asserção confiante foi registrada pela enferma com sincera alegria.
– A senhora julga então possível? – indagou a dona da casa, de olhos faiscantes.
– Como não? – aduziu Antonina, confortada – A morte não existe como a entendemos. Do Além, nossos amados que partiram estendem-nos os braços. Tenho igualmente um filho na Vida Maior que vem sendo para mim precioso sustentáculo.
A enferma demonstrou invulgar interesse na conversação.
Há momentos na vida em que somos castigados pela fome de fé e Antonina era uma fonte irradiante de otimismo e firmeza moral.
Evelina e Lisbela retiraram-se para o interior da casa, atentas à limpeza doméstica, e as duas amigas passaram a mais íntimo entendimento.
A colaboração de Antonina fora realmente providencial, porque, ao deixarmos o domicílio do ferroviário, reparamos que Zulmira, de alma restaurada, ao toque de novas esperanças, mostrava no rosto a tranqüilidade segura de abençoada convalescença.