domingo, 28 de abril de 2013
ESTUDO DO LIVRO " O ESPÍRITO DA VERDADE " - MARIA J. SANCHES
VIGÍLIA MATERNAL
Cap. IV – Item 18
Sorves, em lágrimas silenciosas,o cálice da amargura, ante o filho desobediente, e notas no coração que o amor e a dor palpitam juntos em paroxismos e profundezas.
Desencantada com as leves nódoas de indignidade que lhe entreviste no caráter, reparas, chorando, que ele não é mais a aparição celeste dos primeiros dias e, ao ponderar-lhe a falência iniciante, temes a liberdade que o tempo lhe concederá na construção do destino.
Pretextando querê-lo, não te rendas à feição de praça vencida...
Conquanto carregues o espinho da angústia engastado na alma, é preciso velar no posto de sentinela.
Não deformes o sentimento que te pulsa no peito.
Fortalece a própria vontade, governando-lhe os impulsos.
Ceder sempre, no fundo, é menosprezar.
Sê previdente, aparando-lhe os caprichos.
Acende a luz da prece e medita nas dores excruciantes que alcançaram também a doce mãe de Jesus e ergue a voz no corretivo às irreflexões e aos anseios imoderados que o visitam, se queres fazer dele um homem.
Dosa o sal da energia e o mel dabrandura, nos condimentos da educação.
Nem liberdade desordenada, nem apego excessivo.
Se teu filho é tua cruz, lembra-te de que, na Terra, não há nascimento de santos. Almas em lutaconsigo mesmas, é compreensível vivamos todos nós, não raro, em luta uns com os outros, nos passos ziguezagueantes da experiência.
Sê operosa e humilde,sem ser escrava.
Não cultives desgostos.
Sê fiel à esperança.
Não fites ingratidões, nem coleciones queixumes.
A missão divina da maternidade apóia-se na força onipotente do amor.
Envolve teu filho na palavra de benção, que vence o orgulho, e na luz do exemplo que dissipa as sombras da rebeldia.
Faze que se lhe desenvolvam os sentimentos bons do coração, que o musgo dos séculos recobriu e ocultou.
Não te faças borboleta do sono, quando a vida te pede vigílias de guardiã.
No rio da existência humana, os espíritas são as gotas d'água que se transformam em lâminas de arremesso contra as pedras dos obstáculos, talhando caminhos novos.
O Espiritismo gera consciências livres. Prova a teu filho semelhante verdade pelas próprias ações de renúncia e discernimento, conjugando o bálsamo do carinho com a rédea da autoridade.
Não queiras transformá-lo, à força, em escolhido, dentre aqueles chamados pelo Senhor.
Filhos do Eterno, todos somos cidadãos da Eternidade e somente elevamos a nós mesmos a golpes de esforço e trabalho, na hierarquia das reencarnações.
Assim, pois, embora muitas vezes torturada na abnegação incompreendida, mostra a teu filho quea Lei Divina é insubornável e que todo espírito é responsável por si próprio.
Anália Franco
Cap. IV – Item 18
Sorves, em lágrimas silenciosas,o cálice da amargura, ante o filho desobediente, e notas no coração que o amor e a dor palpitam juntos em paroxismos e profundezas.
Desencantada com as leves nódoas de indignidade que lhe entreviste no caráter, reparas, chorando, que ele não é mais a aparição celeste dos primeiros dias e, ao ponderar-lhe a falência iniciante, temes a liberdade que o tempo lhe concederá na construção do destino.
Pretextando querê-lo, não te rendas à feição de praça vencida...
Conquanto carregues o espinho da angústia engastado na alma, é preciso velar no posto de sentinela.
Não deformes o sentimento que te pulsa no peito.
Fortalece a própria vontade, governando-lhe os impulsos.
Ceder sempre, no fundo, é menosprezar.
Sê previdente, aparando-lhe os caprichos.
Acende a luz da prece e medita nas dores excruciantes que alcançaram também a doce mãe de Jesus e ergue a voz no corretivo às irreflexões e aos anseios imoderados que o visitam, se queres fazer dele um homem.
Dosa o sal da energia e o mel dabrandura, nos condimentos da educação.
Nem liberdade desordenada, nem apego excessivo.
Se teu filho é tua cruz, lembra-te de que, na Terra, não há nascimento de santos. Almas em lutaconsigo mesmas, é compreensível vivamos todos nós, não raro, em luta uns com os outros, nos passos ziguezagueantes da experiência.
Sê operosa e humilde,sem ser escrava.
Não cultives desgostos.
Sê fiel à esperança.
Não fites ingratidões, nem coleciones queixumes.
A missão divina da maternidade apóia-se na força onipotente do amor.
Envolve teu filho na palavra de benção, que vence o orgulho, e na luz do exemplo que dissipa as sombras da rebeldia.
Faze que se lhe desenvolvam os sentimentos bons do coração, que o musgo dos séculos recobriu e ocultou.
Não te faças borboleta do sono, quando a vida te pede vigílias de guardiã.
No rio da existência humana, os espíritas são as gotas d'água que se transformam em lâminas de arremesso contra as pedras dos obstáculos, talhando caminhos novos.
O Espiritismo gera consciências livres. Prova a teu filho semelhante verdade pelas próprias ações de renúncia e discernimento, conjugando o bálsamo do carinho com a rédea da autoridade.
Não queiras transformá-lo, à força, em escolhido, dentre aqueles chamados pelo Senhor.
Filhos do Eterno, todos somos cidadãos da Eternidade e somente elevamos a nós mesmos a golpes de esforço e trabalho, na hierarquia das reencarnações.
Assim, pois, embora muitas vezes torturada na abnegação incompreendida, mostra a teu filho quea Lei Divina é insubornável e que todo espírito é responsável por si próprio.
Anália Franco
quarta-feira, 24 de abril de 2013
LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER
EM DIFICULDADES
Reajustado, notei que podia enfrentar os conflitos da hora, sem embaraços de vulto.
O Irmão Andrade acentuou que, livre dos últimos remanescentes do corpo carnal, eu conseguiria aproximar-me dos amigos, sem choques de maior importância, aconselhando, porém, a não me avizinhar em demasia das vísceras cadavéricas, em cuja contemplação, talvez fosse acometido por impressões desequilibrantes.
As novidades sucediam-se umas às outras. Aquinhoado por visão mais segura, reparei estupefato, que desencarnados em grande número se apinhavam ao redor.
Entidade menos simpática, quase rente a nós, dizia para outra que lhe era semelhante:
– O enterro é do velho Jacob, aquele mesmo, que nos doutrinou, há tempos. Não se recorda?
– Perfeitamente – respondeu o interlocutor, gargalhando –, daria tudo para ver-lhe a “cara’”.
Riram-se gostosamente.
Memória funcionando sem empecilhos, registrando-lhes os apontamentos sarcásticos, localizei-os na lembrança. Eram perseguidores de uma jovem internada numa casa de nervos. Evoquei as particularidades da reunião em que me havia entendido com eles. Achava-me sumamente enfraquecido. Mesmo assim, gostaria de responder-lhe. Rememorei o interesse com que eu recebera a descrição da médium vidente, em relação a ambos, e confirmava, admirado, por mim mesmo, os informe com que fora presenteado.
Sacrificaria muita coisa para interpelá-los, fazendo-lhes sentir o erro em que laboravam, e dispunha-me a interferir, quando o Irmão Andrade me controlou, os impulsos, acrescentando:
– Não faça isso! Provocaria contenda desagradável e inútil. Além do mais, eles não nos veem. Respiram noutra faixa vibratória.
Realmente, procediam como se nos não vissem. Permaneciam junto de nós, sem perceber-nos, tanto quanto noutro tempo me movimentava, por minha vez, ao pé das entidades desencarnadas, sem notar-lhes a presença.
– Haverá tempo – frisou o amigo, bondoso e calmo.
Observando-me o encorajamento, conduziram-me os três à vizinhança imediata do corpo hirto.
Não obstante as melhoras de que me sentia possuído, não consegui atravessar a onda de força que se improvisara ao longo dos veículos. Desejava ardentemente penetrar o recinto doméstico e, sobretudo, espargir, sobre os entes amados que ficariam distantes, os meus pensamentos de amor, reconhecimento e esperança. Bezerra, porém, avisou prudentemente:
– Não insistamos. É desaconselhável por agora, a pedra de reservas.
Contentei-me, buscando avistar amigos nos automóveis.
Grupinho de conhecidos atraiu-me a atenção. Avancei para eles, mas fui constrangido a afastar-me, decepcionado. Comentavam a política, em agressiva atitude. Mergulhavam a mente em disputas desnecessárias.
Pela primeira vez, verifiquei que os Espíritos inferiores não se comunicam somente nas sessões doutrinárias. A palestra, apesar de desenvolver-se discreta, apresentava notas de intercâmbio com o plano invisível, em cujos domínios ingressava eu, receoso e encantado. Um amigo expressava-se quanto os problemas da vereança municipal, perfeitamente entrosado com uma entidade menos digna que, ali ante meus olhos espantados, o subjugava quase que por completo, obrigando-o a proferir sentenças desrespeitosas e cruéis.
Retrocedi, instintivamente.
– Você, Jacob – falou Bezerra, em tom grave –, por enquanto ainda não pode suportar estes dados mentais.
Encaminhamo-nos, então, para outro ângulo da rua.
Descobri nova agremiação de pessoas às quais me afeiçoara profundamente. Busquei-lhes a companhia, ansioso, seguido de perto pelos benfeitores; contudo, outra desilusão me aguardava. Falava-se em voz baixa, sobre as despesas prováveis com o enterramento dos meus despojos. Emitia-se julgamento apressado, envolvendo-se-me o nome em impressões desarmoniosas e rudes.
Recuei, como já o fizera.
Bezerra abraçou-me, compreensivo, e receitou paciência.
Abeirava-me de profundo desalento, quando não longe, em certo veículo, observei a formação de lindos círculos de luz.
O Irmão Andrade, atendendo-me à indagação silenciosa, esclareceu:
– Naquele carro, temos a claridade da oração sincera.
Pedi aos protetores me auxiliassem a procurar semelhante abrigo, mais depressa. Alcancei-o e rejubilei-me. Alguns companheiros ofertavam-me os recursos da prece santificante. Tamanho foi o meu contentamento que quase me ajoelhei, feliz. Aquela rogativa que formulava a Jesus, em benefício de minha paz, constituía dádiva celeste. Do pequeno conjunto emanava energia confortadora que me penetrava à maneira de chuva balsâmica.
A oração influenciara-me docemente. Creio que os recém-desencarnados quase sempre necessitam do pensamento fraterno dos que se demoram no círculo carnal. Explicou Bezerra que os recém-libertos comumente precisam do socorro espiritual dos entes queridos para se desembaraçarem sem delonga dos liames que ainda os prendem à experiência material.
Com o auxílio dos que ficam, aqueles que partem seguem mais livremente ao encontro do porvir.
Reajustado, notei que podia enfrentar os conflitos da hora, sem embaraços de vulto.
O Irmão Andrade acentuou que, livre dos últimos remanescentes do corpo carnal, eu conseguiria aproximar-me dos amigos, sem choques de maior importância, aconselhando, porém, a não me avizinhar em demasia das vísceras cadavéricas, em cuja contemplação, talvez fosse acometido por impressões desequilibrantes.
As novidades sucediam-se umas às outras. Aquinhoado por visão mais segura, reparei estupefato, que desencarnados em grande número se apinhavam ao redor.
Entidade menos simpática, quase rente a nós, dizia para outra que lhe era semelhante:
– O enterro é do velho Jacob, aquele mesmo, que nos doutrinou, há tempos. Não se recorda?
– Perfeitamente – respondeu o interlocutor, gargalhando –, daria tudo para ver-lhe a “cara’”.
Riram-se gostosamente.
Memória funcionando sem empecilhos, registrando-lhes os apontamentos sarcásticos, localizei-os na lembrança. Eram perseguidores de uma jovem internada numa casa de nervos. Evoquei as particularidades da reunião em que me havia entendido com eles. Achava-me sumamente enfraquecido. Mesmo assim, gostaria de responder-lhe. Rememorei o interesse com que eu recebera a descrição da médium vidente, em relação a ambos, e confirmava, admirado, por mim mesmo, os informe com que fora presenteado.
Sacrificaria muita coisa para interpelá-los, fazendo-lhes sentir o erro em que laboravam, e dispunha-me a interferir, quando o Irmão Andrade me controlou, os impulsos, acrescentando:
– Não faça isso! Provocaria contenda desagradável e inútil. Além do mais, eles não nos veem. Respiram noutra faixa vibratória.
Realmente, procediam como se nos não vissem. Permaneciam junto de nós, sem perceber-nos, tanto quanto noutro tempo me movimentava, por minha vez, ao pé das entidades desencarnadas, sem notar-lhes a presença.
– Haverá tempo – frisou o amigo, bondoso e calmo.
Observando-me o encorajamento, conduziram-me os três à vizinhança imediata do corpo hirto.
Não obstante as melhoras de que me sentia possuído, não consegui atravessar a onda de força que se improvisara ao longo dos veículos. Desejava ardentemente penetrar o recinto doméstico e, sobretudo, espargir, sobre os entes amados que ficariam distantes, os meus pensamentos de amor, reconhecimento e esperança. Bezerra, porém, avisou prudentemente:
– Não insistamos. É desaconselhável por agora, a pedra de reservas.
Contentei-me, buscando avistar amigos nos automóveis.
Grupinho de conhecidos atraiu-me a atenção. Avancei para eles, mas fui constrangido a afastar-me, decepcionado. Comentavam a política, em agressiva atitude. Mergulhavam a mente em disputas desnecessárias.
Pela primeira vez, verifiquei que os Espíritos inferiores não se comunicam somente nas sessões doutrinárias. A palestra, apesar de desenvolver-se discreta, apresentava notas de intercâmbio com o plano invisível, em cujos domínios ingressava eu, receoso e encantado. Um amigo expressava-se quanto os problemas da vereança municipal, perfeitamente entrosado com uma entidade menos digna que, ali ante meus olhos espantados, o subjugava quase que por completo, obrigando-o a proferir sentenças desrespeitosas e cruéis.
Retrocedi, instintivamente.
– Você, Jacob – falou Bezerra, em tom grave –, por enquanto ainda não pode suportar estes dados mentais.
Encaminhamo-nos, então, para outro ângulo da rua.
Descobri nova agremiação de pessoas às quais me afeiçoara profundamente. Busquei-lhes a companhia, ansioso, seguido de perto pelos benfeitores; contudo, outra desilusão me aguardava. Falava-se em voz baixa, sobre as despesas prováveis com o enterramento dos meus despojos. Emitia-se julgamento apressado, envolvendo-se-me o nome em impressões desarmoniosas e rudes.
Recuei, como já o fizera.
Bezerra abraçou-me, compreensivo, e receitou paciência.
Abeirava-me de profundo desalento, quando não longe, em certo veículo, observei a formação de lindos círculos de luz.
O Irmão Andrade, atendendo-me à indagação silenciosa, esclareceu:
– Naquele carro, temos a claridade da oração sincera.
Pedi aos protetores me auxiliassem a procurar semelhante abrigo, mais depressa. Alcancei-o e rejubilei-me. Alguns companheiros ofertavam-me os recursos da prece santificante. Tamanho foi o meu contentamento que quase me ajoelhei, feliz. Aquela rogativa que formulava a Jesus, em benefício de minha paz, constituía dádiva celeste. Do pequeno conjunto emanava energia confortadora que me penetrava à maneira de chuva balsâmica.
A oração influenciara-me docemente. Creio que os recém-desencarnados quase sempre necessitam do pensamento fraterno dos que se demoram no círculo carnal. Explicou Bezerra que os recém-libertos comumente precisam do socorro espiritual dos entes queridos para se desembaraçarem sem delonga dos liames que ainda os prendem à experiência material.
Com o auxílio dos que ficam, aqueles que partem seguem mais livremente ao encontro do porvir.
domingo, 21 de abril de 2013
ESTUDO DO LIVRO " O ESPÍRITO DA VERDADE " - MARIA J. SANCHES
CÓLERA
Cap. IX – Item 10
A cólera apresenta dez negativas complexas que induzem a melhor das criaturas à pior das frustrações:
1. Não resolve. Agrava.
2. Não resgata. Complica.
3. Não ilumina. Escurece.
4. Não reúne. Separa.
5. Não ajuda. Prejudica.
6. Não equilibra. Desajusta.
7. Não reconforta. Envenena.
8. Não favorece. Dificulta.
9. Não abençoa. Maldiz.
10. Não edifica.Destrói.
Evite a cólera como quem foge aocontato destruidor de alta tensão.
Mas se você amanhece de mau humor, antes que o flagelo se instale de todo na sua cabeça e nasua voz, comece o dia rogando à Divina Bondade o socorro providencial de uma laringite.
André Luiz
Cap. IX – Item 10
A cólera apresenta dez negativas complexas que induzem a melhor das criaturas à pior das frustrações:
1. Não resolve. Agrava.
2. Não resgata. Complica.
3. Não ilumina. Escurece.
4. Não reúne. Separa.
5. Não ajuda. Prejudica.
6. Não equilibra. Desajusta.
7. Não reconforta. Envenena.
8. Não favorece. Dificulta.
9. Não abençoa. Maldiz.
10. Não edifica.Destrói.
Evite a cólera como quem foge aocontato destruidor de alta tensão.
Mas se você amanhece de mau humor, antes que o flagelo se instale de todo na sua cabeça e nasua voz, comece o dia rogando à Divina Bondade o socorro providencial de uma laringite.
André Luiz
quarta-feira, 17 de abril de 2013
LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER
DESLIGADO ENFIM
Mais alguns instantes escoaram difíceis, quando inopinado abalo me revolveu o ser. Supus haver sido projetado a enorme distância. O Irmão Andrade e Marta; naturalmente prevenidos ampararam-me com mais forças.
Confesso que o choque me assaltou com tão grande violência que julguei chegado o momento de “outra morte”.
Dentro em pouco, no entanto, o coração se refez, equilibrou-se a respiração e Bezerra surgiu, sorridente, a indagar se o desligamento ocorrera normal.
Abraçaram-me os três, satisfeitos.
Explicou-me o respeitável benfeitor que, até ali, meu corpo espiritual fora como que um “balão cativo”, mas doravante disporia de real liberdade interior.
Pensaria com clareza, movimentar-me-ia sem obstáculos e deteria faculdades mais precisas.
Com efeito, não obstante sentir-me enfraquecido e sonolento, guardava mais segurança. Meus olhos e ouvidos, principalmente, registravam imagens e sons, com relativa exatidão. As perturbações da hora não me afetavam com intensidade de minutos antes.
Esclareceu Bezerra que, na maioria dos casos, não seria possível libertar os desencarnados tão apressadamente, que a rápida solução do problema liberatório dependia, em grande parte, da vida mental e dos ideais a que se liga ao homem na experiência terrestre. Recomendou-me observar por mim mesmo as transformações de que era objetivo.
Examinei-me, com atenção, e reparei efetivamente que, no íntimo, me achava fortalecido e remoçado, sem a carga de mazelas fisiológicas. Conseguia locomover-me sem auxílio, embora imperfeitamente. Inalava o ar com alegria e Marta notou que meu júbilo será maior e minha sensação de leveza mais fascinante, quando eu pudesse respirar o oxigênio de cima, qual nadador que bebe a água cristalina da corrente purificada, distante do tisnado líquido das margens.
Francamente, a morte do corpo fora milagroso banho de rejuvenescimento. Sentia-me alegre, robusto e feliz.
Readquirindo minhas possibilidades de analisar com exatidão, passei a refletir nos problemas de ordem material.
Como se fixaria o futuro doméstico? Que providências mobilizar a benefício de todos? Tais indagações como que me requisitavam a mente a plano diverso.
Faleciam-me as forças de novo.
Bezerra percebeu o que se passava, bateu-me nos ombros amigavelmente, e aconselhou:
– Você conhece agora, mais que nunca, o poder do pensamento. Procure o Alto.
Compreendi a referência e modifiquei-me interiormente.
Mais alguns instantes escoaram difíceis, quando inopinado abalo me revolveu o ser. Supus haver sido projetado a enorme distância. O Irmão Andrade e Marta; naturalmente prevenidos ampararam-me com mais forças.
Confesso que o choque me assaltou com tão grande violência que julguei chegado o momento de “outra morte”.
Dentro em pouco, no entanto, o coração se refez, equilibrou-se a respiração e Bezerra surgiu, sorridente, a indagar se o desligamento ocorrera normal.
Abraçaram-me os três, satisfeitos.
Explicou-me o respeitável benfeitor que, até ali, meu corpo espiritual fora como que um “balão cativo”, mas doravante disporia de real liberdade interior.
Pensaria com clareza, movimentar-me-ia sem obstáculos e deteria faculdades mais precisas.
Com efeito, não obstante sentir-me enfraquecido e sonolento, guardava mais segurança. Meus olhos e ouvidos, principalmente, registravam imagens e sons, com relativa exatidão. As perturbações da hora não me afetavam com intensidade de minutos antes.
Esclareceu Bezerra que, na maioria dos casos, não seria possível libertar os desencarnados tão apressadamente, que a rápida solução do problema liberatório dependia, em grande parte, da vida mental e dos ideais a que se liga ao homem na experiência terrestre. Recomendou-me observar por mim mesmo as transformações de que era objetivo.
Examinei-me, com atenção, e reparei efetivamente que, no íntimo, me achava fortalecido e remoçado, sem a carga de mazelas fisiológicas. Conseguia locomover-me sem auxílio, embora imperfeitamente. Inalava o ar com alegria e Marta notou que meu júbilo será maior e minha sensação de leveza mais fascinante, quando eu pudesse respirar o oxigênio de cima, qual nadador que bebe a água cristalina da corrente purificada, distante do tisnado líquido das margens.
Francamente, a morte do corpo fora milagroso banho de rejuvenescimento. Sentia-me alegre, robusto e feliz.
Readquirindo minhas possibilidades de analisar com exatidão, passei a refletir nos problemas de ordem material.
Como se fixaria o futuro doméstico? Que providências mobilizar a benefício de todos? Tais indagações como que me requisitavam a mente a plano diverso.
Faleciam-me as forças de novo.
Bezerra percebeu o que se passava, bateu-me nos ombros amigavelmente, e aconselhou:
– Você conhece agora, mais que nunca, o poder do pensamento. Procure o Alto.
Compreendi a referência e modifiquei-me interiormente.
domingo, 14 de abril de 2013
ESTUDO DO LIVRO " O ESPÍRITO DA VERDADE " - MARIA J. SANCHES
DEUS EM NÓS
Cap. XXV – Item 1
“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias.”
(Atos, 19: 11)
Quem pode delimitar a extensão das bênçãos que dimanam da Altura?
Por ser sempre de origem inferior, o mal é limitado como todas as manifestações devidas exclusivamente às criaturas; o bem, no entanto, possui caráter divino e, semelhante aos atributos do Pai Excelso, traz em si a qualidade de ser infinito em qualquer direção.
Antes de tudo, vigora a intenção sincera do espírito no ato que procura executar.
Assim, utiliza as próprias possibilidades a serviço da Vontade Divina, oferecendo o coração às realizações com Jesus, e o ilimitado surgir-te-á gradativamente nas faixas da experiência, sob a forma de esperança e consolação, júbilo e paz.
Por mais sombrios te pareçam aos ideais de hoje os dias do passado, não te entregues ao desânimo.
Ergue os sentimentos e conjuga as próprias ações ao novo roteiro entrevisto.
Após a purificação necessária, a água mais poluída da sarjeta se torna límpida e cristalina, como se jamais houvesse experimentado o convívio da impureza.
O presente é perene traço de união entre os resquícios do pretérito e uma vida futura melhor.
Plasma em ti mesmo as forças reconstrutivas de tuas novas resoluções, para que se exprimam em obras de aprimoramento e de amor.
Reconhecendo a nossa origem na Fonte de todas as perfeições, é natural que podemos e precisamos realizar em torno de nós as obras perfeitas a que estamos destinados por nossa própria natureza.
Eis o valor do registro dos Atos dos Apóstolos ao recordar-nos a magnitude das tarefas de Paulo, quando o iniciado de Damasco se dispôs a caminhar, auxiliando e aprendendo, no holocausto das próprias energias à exaltação do bem.
As mãos, tanto quanto o conjunto de instrumentos e possibilidades de que nos servimos na vida comum, esperam passivamente o ensejo de se aplicarem aos desígnios superiores, segundo as nossas deliberações pessoais.
Quando agimos no bem, sentimos a presença de Deus em nós.
Medita no emprego dos teus recursos no campo da fraternidade.
Desterra de teu caminho a barreira do desalento e prossegue confiante, vanguarda a fora.
O solo frutifica sempre quando ajudado pelo cultivador.
Usa, pois, o arado com que o Senhor te enriquece as mãos, trabalhando a leira que te cabe, com firmeza e esperança, na certeza de que a colheita farta coroar-te-á os esforços, cada vez mais, desde que permaneças apoiado no propósito seguro de corresponder ao programa de trabalho que o Pai te reserva, na oficina da luz, em busca da Alegria Inalterável.
Emmanuel
sexta-feira, 12 de abril de 2013
ESTUDO DO LIVRO " SEXO E DESTINO " - MARIA J. SANCHES E JULIANA SOLARE
CAPÍTULO 5
No entardecer do dia imediato,
enquanto seguíamos de perto a crescente renovação íntima de Cláudio que, por algumas vezes, já
conseguira se entender com Agostinho, adquirindo mais amplos recursos de
cultura espírita, a filha de Aracélia repousava, sob o patrocínio de Moreira, que se
reconfortava ao identificar oresultado compensador do próprio esforço. Ele mesmo,
agora, compreendia que a moça se lhe afinava, com mais segurança, ao apoio
fluídico.E regozijava-se comisso.
A Providência Divina abençoava o
lavrador bisonho, propiciando-lhe a venturade contemplar os grelos
promissores das primeiras sementes dobem que eleplantava.
Se algo distante do posto,
durante alguns minutos, a jovem, cujo corpo espiritual se revestia de inexprimível
suscetibilidade, em vista do desgaste físico, passava a gemer, denotando sofrimento
agravado, para calar-se, em súbita acalmia,
tão logo o sustentador retomasse a posição.
Moreira sentia-se útil,
orgulhava-se. Encontrava motivos para conversar conosco, permutando impressões.
Solicitava esclarecimentos, a fim de entrar em processos mais eficazes de
auxílio.
Adquirira interesse para o
trabalho. Assemelhava-se a um homem que houvesse debalde suspirado, muito
tempo, pela condição de pai e, tendo
achado uma criança, conseguira com ela
ocupar o vazio do coração.
Cláudio, a seu turno, não se
circunscrevia à própria transformação. Desdobrava-se por dispensar à filha todo
o carinho e toda a assistência de que se via capaz.
O facultativo amigo trouxera pela
manhã um neurologista. Falou-se em modificação do tratamento e na
consequente internação da menina numa casa de saúde em Botafogo; entretanto, a
peritonite desaconselhava a mudança rápida. Por essa razão, concordou-se na
aplicação maciça de antibióticos, até que a melhora esperada autorizasse a medida.
O genitor não regateava cuidados,
nem desencorajava qualquer providência tendente a socorrê-la, custasse o
que custasse.
Chegada a noite, o irmão Félix
veio até nós e, após felicitar Moreira pela tarefa que realizava, participou-nos a
desencarnação de Dona Beatriz.
A esposa de Nemésio desligara-se,
enfim, do corpo que o câncer combalira.
Verificada a estabilidade dos
serviços em andamento, o instrutor convocou-nos a tomar-lhe o rumo, na direção
dos Torres.
Seguimos.
De jornada, conquanto discreto,
desabafou-se. Preocupava-se por Marina.
Indispensável protegê-la contra a
obsessão começante.
Afastara-se Moreira; no entanto,
permaneciam lá, no pátio interno, os arruaceiros e vampirizadores que
ele contratara. Perseguidores gratuitos e infelizes que, inevitavelmente, trariam
outros para tumultuar a vida mental da
moça, comprometida pelo remorso.
Os termos e a inflexão de voz do
irmão Félix acentuavam-lhe a grandeza de alma. Ele não via na filha de
Dona Márcia a jovem corrompida que nós mesmos, em alegações destituídas de qualquer
malícia, não hesitávamos enquadrar nas
linhasda prostituição, nem lhe conferia
certificado de aviltamento nas ideias recônditas.
Reportava-se a ela, como quem
menciona terra nobre que a desídia do
cultivador entrega à serpente. Marina, na
conceituação dele, era uma filha de Deus, credora de veneração e ternura. Confiava
nela, esperaria o futuro.
Antes, porém, que as circunstâncias
me exigissem algum pronunciamento, esbarramos com a moradia da
família que a morte visitara.
Entramos atentos.
Lustres providos de luz intensa
punham à mostra a reduzida assembléia que se habilitava ao velório.
Aqui e ali, frases convencionais,
atiradas sem maior sentimento aos ouvidos do esposo e do filho da senhora
desencarnada.
Nemésio e Gilberto não
entremostravam grande pesar nas fisionomias cansadas e impassíveis.
A moléstia prolongada no reduto
doméstico estragara-lhes a resistência para a representação de peças sociais,
mesmo singelas. Amarrotados pelas vigílias consecutivas, não ocultavam a
própria desopressão. Referiam-se à morta, no feitio de um viajor atormentado que, de
há muito, deveria ter ancorado no porto doextremo refrigério.
O invólucro abandonado por aquela
alma boa e veneranda recolhia atenções especiais, para apresentar-se no
catafalco de luxo, ao passo que ela mesma, inconsciente, se asilava nos
braços de irmãs afetuosas, sob o olhar comovido de Neves e de outros familiares em
carinhoso desvelo.
O irmão Félix, assumindo o
comando, deu instruções.
Beatriz, que se preparara
laboriosamente para aquela hora, seria conduzida, com presteza, à organização
socorrista do plano espiritual, no
próprio Rio, até que restaurasse as forças, de modo a
seguir viagem.
Tudo harmonia nas disposições
traçadas.
Entretanto, quando o triste
retrato físico de Dona Beatriz foi trazido ao estrado de repouso que se lhe
improvisara, Marina apareceu em pranto de compunção.
Chorava, tocada de dor sincera e
inexprimível. Parecia, naquela reunião de etiqueta, a única pessoa ligada por laços
de amor à piedosa dama, que encerrava, calada e humilde, a derradeira página da
existência naquela casa que a fortuna abrilhantava.
Ao fitar aquele corpo hirto, caiu
de joelhos, em lágrimas copiosas. Invejou aquela cujo último sorriso de
complacência ali se estampava sereno, qual se estivesse satisfeita por deixá-la no lugar
que ocupara, durante tantos anos, ao pé
de um esposo que a enganara sempre.
Ah! Dona Beatriz!... Dona
Beatriz!...
As palavras soluçadas escapavam
daquele peito juvenil, como se quisessem traçar uma longa confissão.
Acercamo-nos da moça, no
propósito de auxiliá-la; entretanto, Félix considerou que o desafogo lhe faria bem.
Marina, fatigada de insônia e
desgastada pela ação dos obsessores que lhe exauriam as forças, sentia medo.
Contemplava o envoltório
descarnado de Dona Beatriz, através das lágrimas, refletindo nos segredos da morte
e nos problemas da vida...
Se a alma sobrevivia ao corpo —
pensava, inquieta —, decerto que a senhora Torres vê-la-ia agora sem o
mínimo subterfúgio. Certificar-se-ia de que ela fora, ali, não a enfermeira espontânea e sim
a mulher que lhe dominava o esposo e o filho...
Atemorizada, rogava-lhe
entendimento, perdão.
Que diria aquela boca silenciosa
para ela, se pudesse falar, depois de auscultar a verdade?...
Beatriz, porém, naquele instante
conduzida ao refazimento, jazia inacessível às complicações da sociedade
terrestre. E, em lugar dela, era o próprio remorso que se lhe alteava na imaginação,
acusando, acusando...
A mágoa da jovem provocava
simpatia nos circunstantes e despertava, tanto em Nemésio quanto no filho, novos
motivos de atração. A frente do choro pungente, ambos fitavam-na, enternecidos,
exprimindo reconhecimento nos olhos, cada qual desejando nela a companheira
ideal para casamento próximo, sem a menor suspeita, quanto às convicções um
do outro.
Naquela mesma noite, assinalei a
falta de Dona Beatriz no ambiente caseiro.
O afastamento da filha de Neves e
dos amigos espirituais que lhe frequentavam a companhia deixara a vivenda
qual praça desarmada de quaisquer recursos que lhe garantissem a ordem.
Transcorrido algum tempo sobre o
velório em si, vagabundos desencarnados nele tiveram acesso livre.
O nível dos pensamentos descambou
para a conversação libertina. Nem mesmo a dignidade que a morte
infundia ao recinto foi acatada. Relatos jocosos irromperam, suplementados pela
chacota dos próprios anedotistas. Um dos presentes comentou, entusiasta,
os espetáculos debochados de que fora testemunha, em recente viagem ao
estrangeiro, suscitando o interesse de vampirizadores que ouviam as
narrações, seduzidos pela tentação de repetí-los, na versão deles próprios.
Não contentes, por fim, com os
licores aristocráticos, desde muito guardados nos armários da família,
beberrões encarnados e desencarnados impeliram Nemésio à encomenda telefônica de
vinhos e uísques, rapidamente gorgolejados por gargantas sequiosas.
O irmão Félix, prevendo a
leviandade, recomendara se aplicasse, à matrona desencarnada, recursos
anestesiantes, a fim de que se lhe mantivesse o isolamento do licencioso festim, praticado
em nome da solidariedade afetiva perante a morta.
Os derradeiros afeiçoados de
Beatriz, no plano espiritual, se retiraram, discretos, e nós mesmos não
tivemos outro recurso senão largara residência, alta madrugada, depois do socorro a
Marina, relegando os despojos da nobre senhora às grossas nuvens de emanações
alcoólicas que instalavam, por toda a habitação, atmosfera dificilmente
respirável.
Somente no dia seguinte, acabados
os funerais, voltei do hospital ao ninho dos Torres, onde a filha de Cláudio
se demorava.
Telefonemas diversos, entre mãe e
filha, examinavam a nova situação. Dona Márcia reclamava o regresso,
Nemésio desejava que a secretária lhe amparasse a moradia. Ele próprio, em dado
momento, chamou Dona Márcia pelo fio, solicitando-lhe concessões. Que Marina
permanecesse orientando as servidoras que lhe atendiam a casa. Mais algumas
semanas e tudo se aclararia satisfatoriamente.
A senhora Nogueira, honrada com a
gentileza, não vacilava confiar. Aquiesceu lisonjeada, feliz.
Em cada frase que o chefe lhe
deitara de longe aos ouvidos, pressentia a aliança de Nogueiras e Torres
pelo casamento entre os jovens.
Marina, entretanto, explorada nas
próprias energias pelos agentes da perturbação que Moreira lhe
pespegara, definhava no leito. Trancara-se no quarto.
Doía-lhe a deslealdade que
cultivara, incessantemente, diante da filha de Neves, culpava-se pelo desastre que
arruinara Marita, a quem não tinha coragem de visitar ou rever. Ela que se vira, até
então, vitoriosa em todas as partidas,
sentia-se derrotada, à feição de contendor
arredado da arena pela própria imperícia. Chorava.
Ouvia vozes, declarava-se
perseguida por vultos estranhos. Fugia de todos, enfadada, nervosa. Se recebia
Nemésio ou Gilberto, caía em crise de pranto que os conselhos não removiam e nem os
medicamentos conseguiam sedar.
Escoados cinco dias de
apreensões, Nemésio telefonou para Dona Márcia, com mais clareza, rogando-lhe permissão
para um entendimento pessoal, no Flamengo, na manhã seguinte. Informado de
que o chefe da família Nogueira não poderia afastar-se do hospital, insistiu
com a interlocutora para que lhe
acolhesse a visita.
Marina andava abatida. Tencionava
levá-la a Petrópolis. Mudança de ares, renovação de paisagem. A menina
tombara em prostração, à face dos sacrifícios que lhe exigira a esposa morta.
Pretendia homenagear-lhe a dedicação, com a permanência de alguns dias no
clima serrano, mas, para isso, estimaria ouvir afamília, fazer planos.
Dona Márcia, aspirando a expor
respeitabilidade familiar, indagou se Gilberto iria também, como que temendo
acumpliciar-se em alguma ligação indesejável e prematura entre os jovens.
Nemésio, porém, apaixonado
bastante pela moça, não era capaz de penetrar a sutileza da esposa de Cláudio,
que assim se exprimia no intuito de fazer-se passar, diante dele, por severa guardiã
das virtudes domésticas; e a senhora
Nogueira, aguardando Gilberto para genro e
ignorando a intimidade entre a filha e Torres, pai, não atinava, em toda a extensão,
com aquele efusivo atestado de garantia moral que Nemésio, automaticamente, lhe
oferecia, pedindo-lhe confiança.
Estivesse tranquila. A moça
seguiria exclusivamente com ele euma governanta.
Mais ninguém.
Dona Márcia louvou a medida,
agradeceu.
Mesmo assim, a entrevista ficou
marcada para o dia seguinte.
No momento aprazado, acompanhamos
Nemésio ao Flamengo, como quem estuda ingrediente perigoso,
antes de aditá-lo a processo curativo em andamento.
A recepcionadora não esqueceu
particularidade alguma do bom tom, à
vista do luto em que os Torres haviam
entrado.
Enfeites discretos na sala,
hortênsias azuis, conjunto de peças em roxo para o café.
O negociante quedou
agradavelmente surpreendido. Cumprimentando a anfitriã bem-apessoada num modelo de
algodão transparente e suave, não sabia se a progenitora era uma segunda
edição da filha ou se lhe cabia
interpretar a filha por segunda edição dela.
Comodamente sentados, a palestra
começou pela troca de sentimentos recíprocos. Pêsames pela morte de
Dona Beatriz, pesar diante do acidente ocorrido em Copacabana. Moléstia de
Marita, cansaço de Marina. Devotamento de Cláudio pela filha hospitalizada. Elogio
a parentes.
Apontamentos ao redor das aperturas
da vida.
Dona Márcia, com requintes de
apresentação, comentava todos os assuntos propostos, com aprumo de
inteligência. Otimismo irradiante, finura de trato.
Nemésio, encantado, fumava e
sorria, admirando-lhe a personalidade.
Conversa vai, conversa vem, a
viagem a Petrópolis surgiu à tona e o diálogo mais vivo desenrolou-se entre
aquela que o visitante esperava para sogra e aquele com quem a interlocutora não
contava para genro.
— A senhora descanse —
recomendava Torres, eufórico —, Marina seguirá em minha companhia, tudo em ordem.
Creia que a mudança de ares é a terapêutica adequada. A pobrezinha merece
repouso, excedeu-se em trabalho...
— Não tenho objeções — acentuou a
genitora de Marina, estranhando o lume daqueles olhos percucientes
que lhe investigavam as reações —; no entanto, o senhor sabe... Sou mãe. Além
disso, tenho o marido ocupado com a outra filha que, apesar de adotiva, é para
nós um pedaço do coração... Uma viagem, assim, à pressa...
— Oh! mas não se preocupe, de
modo algum; afinal, não sou mais uma criança...
— Sim, mas o senhor compreende...
Enquanto sua esposa estava de cama, a permanência de minha filha em sua
casa era justa, mas agora... Sei que Marina não se encontra no convívio de
estranhos, o senhor para nós não é somente o diretor da firma em que ela trabalha, o
senhor para ela é também um amigo, um protetor, um pai...
— Muito mais do que isso!...
A senhora Nogueira estremeceu.
Que projetava dizer o entrevistador com semelhante afirmação, diante das
frases que articulara intencionalmente reticenciosas, aguardando que ele
lhe fornecesse alguma esperança positiva no enlace próximo dos filhos? Sem
querer, tornou a refletir, de escantilhão, nas suspeitas de Cláudio. Os passeios
e divertimentos do abastado comprador de imóveis com a menina, que ela
admitira fossem apenas motivos de consolação para um velho sofrido, assumiriam o
aspecto inconfessável que o marido lhes conferia?
«Muito mais do que isso!...»
Aquelas palavras, no tempero de ternura com que eram ditas, varavam-lhe a cabeça.
Acordavam-na para a realidade que
nem de leve pressentira. Ainda assim, não se dispunha a acreditar.
Impossível! impossível que Marina...
Num átimo, empregou toda a sua
curiosidade feminil no rico negociante, fisgando-o, de alto a baixo.
Excessivamente humana para não examinar
o jogo em que se encontrava sem conhecer
exatamente a posição que lhe competia na defesa do próprio interesse, descobriu
no viúvo, que supusera arcaico e patriarcal, atrativos marcantes, suscetíveis de
impressionar favoravelmente qualquer moça desprevenida. Conhecia Gilberto
em pessoa, classificando-o, aliás, como sendo um rapaz notável; entretanto,
concluía, ali, que o velho ganharia do moço em qualquer torneio de sedução. Ela que se
orgulhava de experiências avantajadas,
em matéria de ligações afetivas, receava
agora... Quis falar, inventando uma saída brilhante,
mas engasgava-se. Os olhos
conquistadores, na elegância daquele Brummel amadurecido e circunspecto,
perturbavam-na.
Tremeu, desconcertou-se.
Nemésio sorriu, atribuindo-lhe a
emoção ao contentamento de mãe que se garante, quanto ao futuro da
filha, e observou:
— A senhora não tem razões para
afligir-se. Marina é credora de minha melhor consideração.
Esteja convicta de que, nestes
dois meses de trato diário, ela vem desfrutando a maior liberdade em minha casa. É
hoje dona de nossa absoluta intimidade. Estou certo de que a senhora é dama de
nossa época, sem clausura e sem preconceitos.
Não se agastará, desse modo, ao
saber que Marina em meu lar faz o que
quer, gasta o que quer, dorme onde
quer, sem que ninguém a incomode...
Dona Márcia escutou as alegações com
deferência e inferiu que Nemésio lhe estimava a filha desinibida,
liberta. Mesmo assim, ficou sem saber onde Torres, pai,
diligenciava chegar, em se
reportando à independência que Marina usufruía... Não lograva perceber em que situação
o cavalheiro a desejava mais livre, se junto dele ou se junto do filho... Hábil o
suficiente para não se arriscar a
qualquer apreciação capaz de arruinar-lhe
vantagens futuras, recompôs as energias, esboçouum sorriso brejeiro e falou,
afável:
— Bem, eu não tenho uma filha
namorando, no tempo dos mártires; no entanto, gostaria que o senhor fosse mais
explícito...
E, deixando-a quase a
estatelar-se de pasmo, Nemésio copiou a doçura de um menino e confessou-lhe o próprio
romance. Amava-lhe a filha, aspirava ao matrimônio. Enlutara-se, mas, em
breves semanas, o tributo social desapareceria.
Que ela, Dona Márcia, conservasse
o segredo perante o marido. Rendera-se-lhe ao entendimento afetuoso e
extravasara o coração, solicitando-lhe auxílio.
Ante aqueles olhos dominados de
assombro, que ele interpretava por júbilo materno, relacionou parte da
fortuna que amontoara. Enumerou seis dos
melhores apartamentos que possuía,
alugados em condições excelentes,
salientou os negócios da imobiliária, cujos
lucros eram satisfatoriamente compensativos, embora
manejasse capitais alheios, a
juros módicos, para os empreendimentos de maior vulto.
A senhora Nogueira sentia-se
perplexa, esmagada.
Não sabia em que pensar, se no
inusitado da situação, se na sagacidade da filha. Reconhecia-se excedida em
astúcia, atirada para trás.
Em fração de segundos, imaginou a
posição de Gilberto. Como estaria o rapaz, arrebatado à outra?
Mulher experiente, conquanto, por
vezes, chegasse a conclusões tardias quanto ao esposo e à filha, em
matéria de inclinação e conduta, não se
enganava sobre as ligações que Nemésio
intentava esconder na conversação deleitosa. A inflexão apaixonada com que o
viúvo esmaltava cada frase, no momento
em que as flores no sepulcro da morta não
haviam emurchecido, dispensava para ela quaisquer circunlóquios. Aquele homem
lhe mencionava a filha, não na expectativa do admirador ingênuo, mas sim com a
certeza do amante consolidado.
A que estouvamentos se entregara
Marina, no lar dos Torres? — conjeturava, inquieta. Se empolgara o próprio
chefe, enredando-lhe o espírito nas teias de lamentável alucinação, que
procedimento adotara perante o jovem, alterando-lhe os rumos? Inferindo, porém, que as
qualidades de Nemésio, com os cabedais financeiros de que se seguiam,
não eram, em seu conceito, um partido
para desprezar, ouvia tudo,
imobilizando um sorriso complacente no rosto.
Quando se dispunha, no entanto, a
mergulhar no assunto,o telefone chamou.
A campainhada valeu-lhe por
desafogo. Intervalo providencial que lhe modificava o pensamento,
conferindo-lhe tréguas para analisar os episódios em curso.
Era o médico amigo, em aviso
confidencial.
Satisfazendo-lhe a solicitação,
formulada dias antes, participava-lhe a piora de Marita. Se desejasse vê-la com
vida, não atrasasse a visita. Cláudio não compreendia a gravidade do
problema e ainda sonhava com o
reerguimento da moça; entretanto, nele, cínico
amadurecido, já não havia lugar à esperança.
Reportou-se à peritonite, ao
processo renal, à caquexia, às feridas que haviam surgido das contusões...
Dona Márcia agradeceu e fez-se
pálida, a tal ponto, que Nemésio se viu forçado a correr de um lado para outro, a
fim de ampará-la. Inteirando-se do que
ocorria, ofereceu-se para conduzi-la até o
leito da filha. Explicou que usufruiria não somente a satisfação de acompanhá-la,
como também aproveitaria o ensejo para cumprimentar a jovem acidentada e
levar um abraço pessoal ao pai de
Marina, que considerava, antecipadamente,
um amigo e familiar.
Assustada, aflita, a senhora
Nogueira aceitou e, a breves instantes,
os dois se punham de automóvel, a caminho do
hospital, com as aparências de um casal elegante e feliz, rolando sobre o
asfalto para uma visita de cerimônia.
domingo, 7 de abril de 2013
ESTUDO DO LIVRO " O ESPÍRITO DA VERDADE " - MARIA J. SANCHES
CRÍTICA
Cap. XII – Item 2
Se você está na horade criticar alguém, pense um pouco, antes de iniciar.
Se o parente está em erro, lembre-se de que você vive junto dele para ajudar.
Se o irmão revela procedimentolamentável, recorde que há moléstias ocultas que podem atingir você mesmo.
Se um companheiro faliu, é chegado o momento de substituí-lo em trabalho, até que volte.
Se o amigo está desorientado, medite nas tramas da obsessão.
Se o homem da atividade pública parece fora do eixo, o desequilíbrio é problema dele.
Se há desastres morais nos vizinhos, isso é motivo para auxílio fraterno, porquanto esses mesmos desastres provavelmente chegarão até nós.
Se o próximo caiu em falta, não é preciso que alguém lhe agrave as dores deconsciência.
Se uma pessoa entrou em desespero, no colapso das próprias energias, o azedume não adianta.
Ainda que você esteja diante daqueles que se mostram plenamente mergulhados na loucura ou na delinqüência, fale no bem e fuja da crítica destrutiva, porque a sua reprovação não fará o serviço dos médicos e dos juizes indicados para socorrê-los, e, mesmo que a sua opinião seja austera e condenatória, nisso ou naquilo, você não pode olvidar que a opinião de Deus, Pai de nós todos, pode ser diferente.
André Luiz
Cap. XII – Item 2
Se você está na horade criticar alguém, pense um pouco, antes de iniciar.
Se o parente está em erro, lembre-se de que você vive junto dele para ajudar.
Se o irmão revela procedimentolamentável, recorde que há moléstias ocultas que podem atingir você mesmo.
Se um companheiro faliu, é chegado o momento de substituí-lo em trabalho, até que volte.
Se o amigo está desorientado, medite nas tramas da obsessão.
Se o homem da atividade pública parece fora do eixo, o desequilíbrio é problema dele.
Se há desastres morais nos vizinhos, isso é motivo para auxílio fraterno, porquanto esses mesmos desastres provavelmente chegarão até nós.
Se o próximo caiu em falta, não é preciso que alguém lhe agrave as dores deconsciência.
Se uma pessoa entrou em desespero, no colapso das próprias energias, o azedume não adianta.
Ainda que você esteja diante daqueles que se mostram plenamente mergulhados na loucura ou na delinqüência, fale no bem e fuja da crítica destrutiva, porque a sua reprovação não fará o serviço dos médicos e dos juizes indicados para socorrê-los, e, mesmo que a sua opinião seja austera e condenatória, nisso ou naquilo, você não pode olvidar que a opinião de Deus, Pai de nós todos, pode ser diferente.
André Luiz
quarta-feira, 3 de abril de 2013
LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER
DESPEDIDAS
Em muitas ocasiões colaborei nos serviços de socorro aos recém-desencarnados, mormente nas preces memorativas, mas estava longe de calculas as lutas de um “morto”.
Amargurado e aflito qual me achava, ponderei os sofrimentos dos que abandonam a experiência física sem qualquer preparação. Se eu, que consagrara longos anos aos estudos espiritualistas, encontrava óbices t ão grandes, que não correria aos homens comuns, que não cogitam dos problemas relativos à alma? Ali, à frente de meus próprios amigos, sentia-me num torvelinho de contraditórias sensações. Para quem apelar?
ATENÇÕES PERTURBADORAS
Marta afagou-me a cabeça exausta e pediu-me calma. Esclareceu que as dificuldades eram justas. Muita gente se despede do mundo carnal sem obstáculos e sem desagradáveis incidentes. Inúmeras almas dormem longuíssimos sonos, outras nada percebem, na inconsciência infantil em que vazam as impressões.
Comigo, porém, a situação se modificava. Adestrara a mente para enfrentar a grande transição, no campo de serviço ativo a que me dedicara. Convivera com os problemas do Espírito, durante muito tempo, em esforço diário. Fizera relações extensas entre encarnados e desencarnadas. E não poderia evitar que perante o corpo inerte se concentrassem manifestações mentais heterogêneas. Nem todos os pensamentos ali congregados traduziam amor e auxílio fraternais. As opiniões a meu respeito divergiam entre si, formando corrente de força menos simpáticas.
Alguns conhecidos me atiravam flores que eu não merecia, ao passo que outros me crivavam de espinhos dilacerantes.
Situava-se, pois, num quadro de impressões complexas.
As informações procediam da filha querida, em suaves esclarecimentos.
Acrescentou que não devia preocupar-me em excesso. A perturbação era passageira. Quando se dispersassem as atenções centralizadas no funeral, respiraria contente.
Contrafeito, registrei as explicações, meditando no ensinamento que recebia. A vida real para mim, agora, era a do Espírito, a que recomeçava com a extinção da carcaça física.
Que desejo experimentei de materializar-me diante de todos, rogando a esmola da oração sincera! Como suspirei pela concessão de uma oportunidade de solicitar desculpas pelas minhas fraquezas! Se os amigos presente me esquecessem os erros humanos e me auxiliassem com a prece, naturalmente o equilíbrio me beneficiaria imediatamente. Vigorosos recursos os sustentariam o coração. Mas, era tarde para ensinar atitudes íntimas, de caridade e perdão.
Pensei nos que haviam partido, antes de mim, experimentando as aflições que me assaltavam, e consolei-me. E não me esqueci de que os encarnados a ajuizaram com tanta facilidade, relativamente à minha situação, também seriam chamados, depois, à verdade espiritual, tanto quanto ocorria a mim mesmo.
Não me cabia reagir inutilmente por intermédio da angústia. O tempo é o nosso abençoado renovador.
Em muitas ocasiões colaborei nos serviços de socorro aos recém-desencarnados, mormente nas preces memorativas, mas estava longe de calculas as lutas de um “morto”.
Amargurado e aflito qual me achava, ponderei os sofrimentos dos que abandonam a experiência física sem qualquer preparação. Se eu, que consagrara longos anos aos estudos espiritualistas, encontrava óbices t ão grandes, que não correria aos homens comuns, que não cogitam dos problemas relativos à alma? Ali, à frente de meus próprios amigos, sentia-me num torvelinho de contraditórias sensações. Para quem apelar?
ATENÇÕES PERTURBADORAS
Marta afagou-me a cabeça exausta e pediu-me calma. Esclareceu que as dificuldades eram justas. Muita gente se despede do mundo carnal sem obstáculos e sem desagradáveis incidentes. Inúmeras almas dormem longuíssimos sonos, outras nada percebem, na inconsciência infantil em que vazam as impressões.
Comigo, porém, a situação se modificava. Adestrara a mente para enfrentar a grande transição, no campo de serviço ativo a que me dedicara. Convivera com os problemas do Espírito, durante muito tempo, em esforço diário. Fizera relações extensas entre encarnados e desencarnadas. E não poderia evitar que perante o corpo inerte se concentrassem manifestações mentais heterogêneas. Nem todos os pensamentos ali congregados traduziam amor e auxílio fraternais. As opiniões a meu respeito divergiam entre si, formando corrente de força menos simpáticas.
Alguns conhecidos me atiravam flores que eu não merecia, ao passo que outros me crivavam de espinhos dilacerantes.
Situava-se, pois, num quadro de impressões complexas.
As informações procediam da filha querida, em suaves esclarecimentos.
Acrescentou que não devia preocupar-me em excesso. A perturbação era passageira. Quando se dispersassem as atenções centralizadas no funeral, respiraria contente.
Contrafeito, registrei as explicações, meditando no ensinamento que recebia. A vida real para mim, agora, era a do Espírito, a que recomeçava com a extinção da carcaça física.
Que desejo experimentei de materializar-me diante de todos, rogando a esmola da oração sincera! Como suspirei pela concessão de uma oportunidade de solicitar desculpas pelas minhas fraquezas! Se os amigos presente me esquecessem os erros humanos e me auxiliassem com a prece, naturalmente o equilíbrio me beneficiaria imediatamente. Vigorosos recursos os sustentariam o coração. Mas, era tarde para ensinar atitudes íntimas, de caridade e perdão.
Pensei nos que haviam partido, antes de mim, experimentando as aflições que me assaltavam, e consolei-me. E não me esqueci de que os encarnados a ajuizaram com tanta facilidade, relativamente à minha situação, também seriam chamados, depois, à verdade espiritual, tanto quanto ocorria a mim mesmo.
Não me cabia reagir inutilmente por intermédio da angústia. O tempo é o nosso abençoado renovador.
LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER
DE RETORNO A CASA
Grande movimentação de gente se fizera em volta do lar onde meus olhos de carne se haviam cerrado para sempre.
Natural atração me impulsionava a entrar, precipitadamente. O campo doméstico reclamava-me o espírito qual poderoso ímã. Entretanto, forças desconhecidas compeliam-me a retroceder.
Registrando o fenômeno, aflito, fixei Bezerra, buscando esclarecimento.
O venerável amigo contemplou-me pacientemente e falou:
– Ainda agora, reparávamos que o veículo físico de uma senhora em nada nos afetou a organização, mas aqui somos defrontados por matéria de nosso plano, envolvendo pensamentos agressivos e desfavoráveis em massa. As projeções mentais da maioria de nossos amigos, aqui congregados, formam energias contraditórias, entre si. Alguns discutem e muitos pensam de maneira inadequada ao respeito que devemos a um companheiro em transe. Para nós, adestrados na travessia de obstáculos, esta compacta emissão de forças antagônicas não constitui barreira insuperável, mas é preciso reconhecer as condições especialíssimas do seu estado. Você ainda se acha na condição do pássaro mal saído do ninho, incapaz de voar livremente.
Regozijei-me com a explicação; contudo, indaguei, curioso:
– E seu eu insistisse?
– Teria choques sumamente desagradáveis, adiando o restabelecimento de suas forças. Toda realização útil pede exercício.
Não teimei. A simples vizinhança das conversações infundia-me pronunciado mal-estar.
Recomendou Bezerra ao Irmão Andrade e Marta me assistisse, enquanto cortaria o laço que de certa forma, ainda me retinha às vísceras cadavéricas.
O regresso a casa, com as surpresas de que se fazia acompanhar, trouxe-me penosas impressões. Esforçava-me por não cair, extenuado, ali mesmo.
Retornara a dispneia. Se o leito estivesse à minha disposição, nele buscaria, sem delonga, refúgio confortante.
Marta ajudou-me, esclarecendo que a hora se caracterizava por muita ansiedade no coração dos entes que me consagravam sincera estima na Terra, que inúmeros pensamentos de angústia convergiam sobre mim e, por isso, eu devia resistir, garantindo a tranquilidade própria.
Considerando o que ouvia, procurei acalmar-me.
As forças que me colhiam em cheio, insofreáveis e impetuosas, surpreendiam-me, dolorosamente, qual se fossem corrente elétricas. Vozes imprecisas cercavam-me os ouvidos.
Onde me encontrava? Entre amigos ou no centro de um redemoinho de energias desconhecidas, mais furiosas que as do vento forte?
O Irmão Andrade percebeu-me o desajustamento e sustentou-me nos braços com mais carinho e segurança.
Não ignorava que muitos amigos meus ali se encontravam; entretanto, apesar do imenso desejo de revê-los, via-me inibido de semelhante satisfação.
Meus olhos se mantinham turvos e minha mente jazia atormentada.
Grande movimentação de gente se fizera em volta do lar onde meus olhos de carne se haviam cerrado para sempre.
Natural atração me impulsionava a entrar, precipitadamente. O campo doméstico reclamava-me o espírito qual poderoso ímã. Entretanto, forças desconhecidas compeliam-me a retroceder.
Registrando o fenômeno, aflito, fixei Bezerra, buscando esclarecimento.
O venerável amigo contemplou-me pacientemente e falou:
– Ainda agora, reparávamos que o veículo físico de uma senhora em nada nos afetou a organização, mas aqui somos defrontados por matéria de nosso plano, envolvendo pensamentos agressivos e desfavoráveis em massa. As projeções mentais da maioria de nossos amigos, aqui congregados, formam energias contraditórias, entre si. Alguns discutem e muitos pensam de maneira inadequada ao respeito que devemos a um companheiro em transe. Para nós, adestrados na travessia de obstáculos, esta compacta emissão de forças antagônicas não constitui barreira insuperável, mas é preciso reconhecer as condições especialíssimas do seu estado. Você ainda se acha na condição do pássaro mal saído do ninho, incapaz de voar livremente.
Regozijei-me com a explicação; contudo, indaguei, curioso:
– E seu eu insistisse?
– Teria choques sumamente desagradáveis, adiando o restabelecimento de suas forças. Toda realização útil pede exercício.
Não teimei. A simples vizinhança das conversações infundia-me pronunciado mal-estar.
Recomendou Bezerra ao Irmão Andrade e Marta me assistisse, enquanto cortaria o laço que de certa forma, ainda me retinha às vísceras cadavéricas.
O regresso a casa, com as surpresas de que se fazia acompanhar, trouxe-me penosas impressões. Esforçava-me por não cair, extenuado, ali mesmo.
Retornara a dispneia. Se o leito estivesse à minha disposição, nele buscaria, sem delonga, refúgio confortante.
Marta ajudou-me, esclarecendo que a hora se caracterizava por muita ansiedade no coração dos entes que me consagravam sincera estima na Terra, que inúmeros pensamentos de angústia convergiam sobre mim e, por isso, eu devia resistir, garantindo a tranquilidade própria.
Considerando o que ouvia, procurei acalmar-me.
As forças que me colhiam em cheio, insofreáveis e impetuosas, surpreendiam-me, dolorosamente, qual se fossem corrente elétricas. Vozes imprecisas cercavam-me os ouvidos.
Onde me encontrava? Entre amigos ou no centro de um redemoinho de energias desconhecidas, mais furiosas que as do vento forte?
O Irmão Andrade percebeu-me o desajustamento e sustentou-me nos braços com mais carinho e segurança.
Não ignorava que muitos amigos meus ali se encontravam; entretanto, apesar do imenso desejo de revê-los, via-me inibido de semelhante satisfação.
Meus olhos se mantinham turvos e minha mente jazia atormentada.
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