segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO - CAPÍTULO 10 ÍTENS 10 A 13 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO JULGUEIS, PARA NÃO SERDES JULGADOS - ATIRE A PRIMEIRA PEDRA AQUELE QUE ESTIVER EM PECADO

1. Por que Jesus nos ensina a não julgar o próximo?
Para que não sejamos igualmente julgados, pois agirão para conosco do mesmo modo que agirmos para com os outros.

“(...) empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para com os outros”.

2. Jesus recomendou aos escribas e fariseus a observância da lei de Moisés, que mandava apedrejar as adúlteras?
Não. Ele transferiu aos seus inquisidores a responsabilidade de castigá-la, condicionando a aplicação da pena à autoridade moral que cada um detivesse.

Ainda que as leis humanas apontem os preceitos legais a seguir, devemos sempre analisá-los à luz das nossas próprias ações; só então percebemos se temos ou não autoridade moral para aplicá-los a outrem.

3. Por que os mais velhos se afastaram em primeiro lugar?
Porque, tocados pela palavra de Jesus, refletiram sobre as inúmeras faltas cometidas ao longo da vida e reconheceram-se mais pecadores que os jovens, sentindo-se, portanto, incapazes de condenar um ato que talvez já houvessem praticado.

A vida é sabia mestra que nos ensina as lições da humildade e da indulgência, levando-nos, de um lado, ao reconhecimento das próprias faltas, e de outro, à compreensão das faltas alheias.

4. Naquela ocasião, qual dentre os presentes possuía condições orais para julgar a mulher adúltera?
Apenas Jesus. Ele foi o espírito mais elevado que já existiu na Terra e apenas Ele, dentre todos presentes naquela ocasião, poderia julgá-la e condená-la.

Jesus esteve entre nós para dar testemunho do bem e nos ensinar uma nova moral, baseada no amor ao próximo: o que não queremos para nós não desejemos ao nosso irmão.

5. Como agiu, no entanto, Jesus, com a pecadora?
Ele não criticou seu procedimento, não a tratou com desprezo nem lhe exigiu arrependimento. Limitou-se a dizer que, como os demais, também não a condenava, e a mostrar-lhe que nada estava perdido, pois havia uma vida nova pela frente, desde que buscasse a prática do bem.

“Também eu não te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a pecar”.

6. O que Jesus nos ensina, quando diz: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra”?
Ele nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros do que julgamos a nós mesmos; nem condenar em outrem aquilo de que já nos absolvemos.

Antes de atribuirmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.

7. Devemos tomar ao pé da letra o ensinamento de Jesus, jamais criticando ou manifestando censuras às ações alheias?
Certamente que não. Haverá ocasiões em nossa vida em que a critica às ações alheias será necessária, sob pena de estarmos, com o nosso silêncio e a nossa omissão, contribuindo para prejudicar a outrem, disseminando o mal entre as pessoas ou retardando o progresso do próximo.

Reprovar a conduta perversa de alguém constitui, em certas ocasiões, um dever, porque um bem deverá daí resultar, e porque, a não ser assim, jamais na sociedade se reprimiria o mal.

8. Quando a critica é desnecessária?
Quando tem como propósito desacreditar a pessoa cujos atos se critica, sem qualquer intuito de auxiliar-lhe progresso ou evitar a pratica do mal. .

Este propósito nunca tem escusa, porquanto se trata de maledicência e maldade de quem critica..

Conclusão:
Antes de atribuir a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita. Antes de julgar alguém com severidade, procuremos ser tão indulgentes para com ele quanto seriamos para conosco.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO - CAPÍTULO 10 ÍTENS 9 E 10 - MARIA J. CAMPOS


O ARGUEIRO E A TRAVE NO OLHO

FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

1. O que Jesus quis ensinar, quando disse: “(...) como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão quando não vedes uma trava no vosso olho”?
Ele nos ensinou que, antes de criticar os defeitos e as faltas cometidas por nosso próximo, devemos examinar nossa própria conduta, fazendo uma reserva crítica do nosso modo de proceder..

É para dentro de nós mesmos que devemos voltar nossa atenção, no sentido de conhecer o nosso íntimo e, assim, corrigir os defeitos e imperfeições.

2. Que mais nos ensina Jesus, quando diz que primeiro devemos retirar a trave de nosso olho, para que possamos tirar o argueiro do olho do nosso irmão?
Jesus nos mostra que, se ainda encontramos dificuldade para nos livrar de nossos defeitos e vícios – que constituem a trave em nosso olho – não devemos, conseqüentemente, ser rigorosos ao exigir dos outros que superem suas próprias fraquezas.

Devido à nossa imperfeição, nos é muito difícil superar as fraquezas e vícios. Lembremo-nos de que com o nosso irmão sucede o mesmo.

3. É comum vermos as faltas dos outros, antes de percebemos os erros que nós mesmos cometemos?
É prática muito comum, fruto do orgulho e vaidade do homem, pois apenas quem não comete erros está apto a apontar as falhas do próximo.

As pessoas de maior progresso espiritual e que menos erros cometem, ao invés de julgar com rigor as faltas alheias, são as mais indulgentes e compreensivas para com as fraquezas do próximo.

4. Que atitude devemos tomar, antes de nos tornar juizes das ações do próximo?
Devemos tentar perceber o nosso íntimo como se fosse uma imagem projetada num espelho, como se estivéssemos examinando uma outra pessoa, e refletir se temos autoridade moral para reprová-lo ou se merecemos críticas mais duras.

Se, antes de criticarmos as ações alheias, fizermos nosso autojulgamento, percebemos que, tal como nós, o nosso irmão precisa mais de auxilio que de censura.Antes de criticar os outros perguntemos a nós mesmos: “ Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço?”

5. Qual a principal causa que impede ao homem julgar a si próprio, antes que aos outros?
O orgulho, que o induz a dissimular para si mesmo seus defeitos, tanto morais quanto físicos, e a reconhecer-se sempre superior aos outros.

A humildade é a chave que abre ao homem o entendimento de si próprio e o reconhecimento de suas próprias fraquezas, tornando-o tolerante para com as fraquezas alheias.

6. Uma pessoa verdadeiramente caridosa costuma apontar os defeitos do próximo?
Não. Apontar as falhas do próximo é atitude avessa à caridade, pois esta tem, como principal característica, a indulgência do homem para com seus irmãos.

A caridade é sempre humilde. Caridade orgulhosa é um contra-senso, visto que esses dois sentimentos se neutralizam um ao outro.

7. Por que é difícil ao homem reconhecer e valorizar as qualidades alheias?
Porque o orgulho e a vaidade tornam-no presunçoso, a ponto de atribuir importância exagerada à própria personalidade e acreditar na supremacia de suas qualidades.

Como poderá o vaidoso ressaltar em outrem o bem que o eclipsaria em vez do mal que o exalçaria?

8. Qual o principal empecilho para o progresso do espírito e de que modo devemos combatê-lo?
O orgulho, por ser o pai de todos os vícios e a negação de muitas virtudes. Devemos combatê-los através da humildade, que nos faz reconhecer as próprias faltas, e da prática cotidiana da indulgência e da caridade.

Quanto mais reconhecemos nossas próprias faltas, tanto mais indulgentes seremos para com os outros.

Conclusão:
Antes de Julgar os atos do próximo, examinemos com honestidade nossas próprias ações; e, então, perceberemos que também cometemos faltas e necessitamos da indulgência e da compreensão de todos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

ESTUDO DO LIVRO NO MUNDO MAIOR - CAPÍTULO 15 - JULIANA SOLARE


APELO CRISTÃO

Estavam prestes a terminar minhas possibilidades de estudo, em companhia de Calderaro, quando, na véspera da prometida visita às cavernas do sofrimento, o estimado Assistente me convidou a ouvir a palavra do Instrutor Eusébio que, naquela noite, se dirigiria a algumas centenas de companheiros católicos-romanos e protestantes das Igrejas reformadas, ainda em trânsito nos serviços da esfera carnal.
— São irmãos menos dogmáticos e mais liberais que, em momentos de sono, se tornam suscetíveis de nossa influência mais direta. Pelas virtudes de que são portadores, tornam-se dignos das diretrizes dos planos mais altos.
Não ocultei a estranheza que me tomara de assalto ante a informação, mas Calderaro ajuntou sem demora:
— Importa compreender que a Proteção Divina desconhece privilégios. A graça celestial é como o fruto que sempre surge na fronde do esforço terrestre: onde houver colaboração digna do homem, aí se acha o amparo de Deus. Não é a confissão religiosa que nos interessa em sentido fundamental, senão a revelação de fé viva, a atitude positiva da alma na jornada de elevação. Claro é que as escolas da crença variam, situando-se cada uma em um círculo diferente. Quanto mais rudimentar é o curso de entendimento religioso, maior é a combatividade inferior, que traça fronteiras infelizes de opinião e acirra hostilidades deploráveis, como se Deus não passasse de um ditador em dificuldades para manter-se no poder. Constituindo o Espiritismo evangélico prodigioso núcleo de compreensão sublime, é razoável seja considerado uma escola cristã mais elevada e mais rica. Possuindo tamanhas bênçãos de conhecimento e de amor, cumpre-lhe estendê-las a todos os companheiros, ainda quando esses companheiros se mostrem rebeldes e ingratos em consequência da ignorância de que ainda não conseguiram afastar-se. A compaixão de Jesus poderia ser medida pelo estado de evolução daqueles que o seguiam de perto. Diante da mente encarcerada no vaidoso intelectualismo de muitas personalidades importantes de sua época, vêmo-lo inflamado de energia divina; pelo contrário, em Jerusalém, no último dia, à frente do populacão exaltado e ignorante — arraigado embora aos princípios da crença —, encontramo-lo silencioso e humilde, solicitando perdão para quantos o feriam.
Imprimindo inflexão mais carinhosa à palavra, acrescentou, bondoso:
- Não nos esqueçamos que, acima de tudo, nos empenhamos numa obra educativa. Salvar alguém, ou socorrê-lo, não significa subtrair o interessado à oportunidade de luta, de alçamento ou de edificação. Constitui amparo fraternal, para que desperte e se levante, entrando na posse do equilíbrio que caracteriza aquele que o ajudou. O Supremo Senhor não se compras com o possuir filhos miseráveis e infelizes na Criação; espalha bênçãos e dona, riquezas e facilidades eternas a mancheias, esperando apenas que cada um de nós se disponha a reger com sabedoria o patrimônio próprio. Como vemos, todos os setores do serviço espiritual reclamam a divina assistência.
Antes de mais amplas elucidações no referente ao assunto, alcançamos o campo tranquilo, onde o nobre emissário se fazia ouvir.
De relance, observei que a reunião, agora, não se assinalava por grande número de colegas encarnados, que ali se contavam por poucas centenas, assistidos por quantidade considerável de cooperadores da nossa esfera de ação.
O luar balsamizava docemente o arvoredo, que se inclinava à passagem do favônio.
Imponente, pela claridade sublime que lhe aureolava a figura veneranda, Eusébio, ao que me pareceu, havia iniciado a preleção desde muito. Extasiados, os ouvintes registravam-lhe o verbo tocado de luz celestial, com pasmo indisfarçável a lhes alterar as fisionomias. Confundidos e ajoelhados, em grande número, na relva fresca, sentiam-se repentinamente transportados ao paraíso...
O Instrutor, envolvido em safirinos reflexos, falava com irresistível poder de atração:
— “Se o patrimônio da fé religiosa representa o indiscutível fator de equilíbrio mental do mundo, que fazeis de vosso tesouro, esquecendo-lhe a utilização, numa época em que a instabilidade e a incerteza vos ameaçam todas as instituições de ordem e de trabalho, de entendimento e de construção? Não vos assombra, porventura, acordando-vos a consciência, a borrasca renovadora que refunde princípios e nações? Supondes possível uma era de paz exterior, sem a preparação interior do homem no espírito de observância e aplicação das Leis Divinas? Por admitir semelhante contra-senso, a máquina, filha de vossa inteligência, vos anula as possibilidades de mais alta incursão no reino do Espírito Eterno.
Ser cristão, outrora, simbolizava a escolha da experiência mais nobre, com o dever de exemplificar o padrão de conduta consagrado pelo Mestre Divino. Constituía ininterrupto combate ao mal com as armas do bem, manifestação ativa do amor contra o ódio, segurança de vitória da luz contra as sombras, triunfo inconteste da paz construtiva sobre a discórdia derruidora.

(Ante o moloque do Estado Romano, convertido em imperialismo e corrupção, os sectários do Evangelho não se expunham a polêmicas mordazes, não se enredavam nas teias do personalismo dissolvente, não dilapidavam possibilidades preciosas, a erigir fronteiras dogmáticas... Entreamavam-se em nome do Senhor, e ofereciam a própria vida, em penhor de gratidão Aquele que não trepidava em seguir para a Cruz, por amor a todos nós. Erguiam os seus mais sublimes santuários na comunhão com os princípios santificantes que os identificavam com o Salvador do Mundo. Sabiam perder vantagens transitórias, para conquistar os Imperecívels tesouros celestiais. Sacrificavam-se uns pelos outros, na viva demonstração do devotamento fraternal. Repartiam os sofrimentos e multiplicavam os júbilos entre si. Morriam em testemunhos angustiosos, para alcançar a vida eterna. Guerreavam os desequilíbrios de sua época e de seus contemporâneos, não a golpes de maldição, nem a fio de espada, mas pela prática da renunciação, submetendo-se a disciplinas cruéis e revelando, nas palavras, nos pensamentos e nos atos, a mensagem sublime do Mestre que lhes renovara os corações.
(Entretanto, herdeiros que sois daqueles heróis anônimos, que transitaram nas aflições, de espírito edificado nas promessas do Cristo, que fizestes vós da esperança transformadora, da confiança sem vacilação? onde colocastes a fé viva que os vossos patriarcas adquiriram a preço de sangue e de lágrimas? que é do espírito de fraternidade que assinalava os aprendizes da Boa-Nova? Enriquecidos pelas graças do Céu, pouco a pouco olvidastes as portas da Revelação Divina em troca das comodidades humanas.
«Construistes, entre vós mesmos, barreiras dificilmente transponíveis.
“Intoxica-vos o dogmatismo, corrompe-vos a secessão. Estreitas interpretações do plano divino vos obscurecem os horizontes mentais.
Abris hostilidade franca, em nome do Reino de Deus que significa amor universal e união eterna.
“Conspurcais a fonte das bênçãos, amaldiçoando-vos uns aos outros, invocando, para isso, o Príncipe da Paz, que, para ajudar-nos, não hesitou ante a própria morte afrontosa.
«A que delírio chegastes, estabelecendo nútua concorrência à imaginária obtenção de privilégios divinos?
«Antigamente, os companheiros do Cristo disputavam a oportunidade de servir; no entanto, na atualidade, procurais as mínimas ocasiões de serdes servidos.
(Reverenciais do Senhor a Luz dos Séculos, e mantendes-vos nas sombras do nefando egoísmo.
«Proclamais n'Ele a glória da paz, e incentivais a guerra fratricida, em que homens e instituições se trucidam reciprocamente.
«Recorreis ao Divino Mestre, centralizando em sua infinita bondade a fonte inesgotável do amor; entretanto, cultivais a desarmonia no recôndito do ser.
«Por que estranhas convicções supondes conquistar o paraíso, à força de afirmativas labiais?
«Esquecestes que o verbo, divino em seus fundamentos, é sempre criador? como admitir a redenção ao preço de simples palavras a que nenhum significado objetivo emprestais pelas atitudes? Todavia, é imperioso reconhecer o caráter sublime de vossa tarefa no mundo.
«Jesus fundou a Religião do Amor Universal, que os sacerdotes políticos dividiram em várias escolas orientadas pelo sectarismo injustificável. Mau grado esse erro lastimável dos homens, a essência dos vossos princípios é aquela mesma que sustentou a coragem e a nobreza dos trabalhadores sacrificados nos primeiros dias do Cristianismo.
“Porque alguns missionários das verdades religiosas olvidassem a Paternidade Divina e se permitissem desmandos da autoridade, preferindo a opressão e a tirania, não sois menos responsáveis, agora, pelos sagrados depósitos que Jesus nos confiou, destinados aos serviços de elevação humana e de santificação da Terra.
“O Evangelho, em suas bases, guarda a beleza do primeiro dia. Sofisma algum conseguiu empanar o brilho de “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”...
“Perante os desafios do Céu, credes, acaso, servir a Deus, encarcerando os serviços da fé nos templos suntuosos? a pompa do culto exterior só faz realçar o desatino de vossas perigosas ilusões acerca da vida espiritual.
“Infrutífera seria a divina missão do Mestre, se a Boa-Nova permanecesse circunscrita às trincheiras sectárias, onde presunçosamente vos refugiais, com o objetivo de inflamar a execranda fogueira das hostilidades simuladamente cordiais.
“Não encontrastes outra fórmula de externar a crença, além da concorrência menos digna?
“Em vão ergueis castelos de opinião para o verbalismo sem obras, porque, se a morte surpreende o materialista revel, descortinando-lhe o realismo da vida, o túmulo abre também o tribunal da reta justiça a quantos se valeram da religião para melhor dissimular a indiferença que lhes povoa o mundo Intimo.
“Não julgueis esteja a fé consagrada ao menor esforço.
“Qual ocorre à ciência, a religião tem o seu trabalho específico no mundo. Força equilibrante do pensamento, seus servidores são chamados a colaborar na harmonia da mente humana.
“Na atuação da fé positiva reside a força reguladora das paixões, dos impulsos irresistíveis da animalldade de que todos emergimos, no processo evolucionário que nos preside à existência.
“Jesus, por isto, não confinou seus ensinamentos ao círculo estreito dos templos de pedra. Reverenciou, em verdade, os monumentos que recordassem os lugares santos da oração», consagrados às manifestações superiores do espírito; entretanto, não se cristalizou nas atitudes adorativas: viveu conquistando amigos para o Reino do Céu.
Não impôs aos seus seguidores normas rígidas de ação: pedia-lhes amor e entendimento, fé sincera e bom ânimo para os serviços edificantes.
(Aproximando-se de Madalena, não extravaza em baldas conversações: interessa-lhe o coração no sublime apostolado renovador. Visitando Zaqueu, abençoa-lhe o esforço nobre e construtivo. Dirigindo-se à mulher samaritana, não desce às contendas inúteis: impressiona-a pelo contacto de sua alma divina, fazendo-a abandonar o velho cântaro da fantasia, para que busque as fontes eternas. Convivendo com cegos e leprosos, loucos e doentes de todos os matizes, exemplificou a vida social, baseada na fraternidade mais pura e nos mais elevados estímulos à santificação. Por fim, imolado na cruz, seus dois últimos companheiros eram ladrões confessos, aos quais não hesitou dirigir a palavra fraterna, inflamada de amor.
«Como invocar-lhe o nome para justificar os desvarios da separação por motivos de fé? como apoiar-se no Amigo de Todos para deflagrar embates de opinião, acendendo fogueiras de ódio em prejuízo da solidariedade comum que Ele exemplificou até ao supremo sacrifício? Não será denegrir-lhe a memória, difundir a discórdia em seu nome?
Notei que as palavras do orientador provocavam funda impressão. A maioria dos ouvintes chorava em comoção irrepressível, sentindo-se tocada pelo Juízo Celeste.
Eusébio, que mantinha presa a atenção geral, prosseguiu, impávido:
— (Não se vos reclama a transferência do depósito espiritual da crença veneranda. Em todos os setores, onde a sementeira do Cristo desabrocha, é possível honrar a Divina Lei, gravando-lhe os parágrafos sublimes no coração. O que se pede do vosso espírito de crença é o aproveitamento das bênçãos celestiais esparzidas sobre vós em caudelosas correntes de luz.
“Não limiteis, portanto, a demonstração da confiança no Altíssimo aos cerimoniais do culto externo. Varrei a indiferença que vos enregela as basílicas suntuosas. Convertamo-nos em verdadeiros irmãos uns dos outros. Transformemos a igreja no doce lar da família cristã, quaisquer que sejam as nossas interpretações. Esqueçamos a falsa afirmativa de que os tempos apostólicos passaram para sempre. Cada aprendiz do Evangelho guarda, na própria vida, um reduto destinado ao culto vivo do Divino Mestre, perante o qual escoa a multidão dos necessitados, todos os dias...
(Amando e socorrendo, crendo e agindo, Jesus amparou a mente desequilibrada do mundo greco-romano, infundindo-lhe vida nova, em favor da Humanidade mais feliz. Assim, igualmente, cada discípulo da fé redentora pode e deve cooperar no reerguimento dos irmãos frágeis e vacilantes.
(Fugi ao farisaísmo dos tempos modernos que se recusa ao auxílio fraternal, em nome do gênio satânico do cisma dogmático. Jesus nunca foi pregador da desarmonia, jamais endossou a vaidade petulante dos que pelos lábios se declaram puros, mantendo o coração atascado no lodo miasmático do orgulho e do egoísmo fatais!
“Mobilizemos nossa confiança no Todo-Misericordioso, dilatando-lhe o reino bendito de redenção.
(Aguardar O Céu, menosprezando a Terra, é obra de insensatez.
Nenhum de nós peitará a Justiça Divina, embora permaneçais cultivando, muitas vezes, a ideia de um comércio ridículo com a Divindade.
“Se um lavrador jamais é postado sem obrigações diretas diante do matagal inculto ou do pântano perigoso, como permanecer sem deveres imediatos junto às paisagens de crime e treva, de inquietação e sofrimento?...
(O irmão caído é nossa carga preciosa, a dificuldade é nosso incentivo santo, a dor nossa escola purificadora.
“Abracemo-nos, pois, uns aos outros, em nome do Cordeiro de Deus, que nos reformou a mente, alçando-a a planos superiores pela ascensão gloriosa, através do sacrifício.
Somente assim, meus amigos, é possível atender à elevada destinação que nos cabe.
Diante do mundo periclitante, alucinado por ambições rasteiras e dominado pelo ódio e pela miséria, Sequências das guerras incessantes e aniquiladoras, harmonizeino-nos em Jesus-Cristo, a fim de equilibrarmos a esfera carnal.
Sombras perturbadoras vagueiam em torno de vossos passos e de vossas instituições, em ronda Sinistra.
Evitai a subversão dos valores espirituais, afugentai as trevas que vos ameaçam as organizações político-religiosas. Temei a ciência que estadeie sem a sabedoria, livrai-vos do raciocínio que calcula sem amor, revisai a fé para que seus impulsos não se desordenem, à míngua de edificação.
A Crosta da Terra é atualmente um campo de batalha mais áspera, mais dolorosa...
Despertai a consciência adormecida e afeiçoai-vos à Lei Divina, olvidando o cativeiro multi-secular da ilusão.
“A salvação é contínuo trabalho de renovação e de aprimoramento.
Ao mundo atormentado proclamemos a nossa fé em Cristo Jesus para sempre!...
Eusébio, ao terminar, estava aureoiado de prodigiosas emissões de luz.
A assembléia prosternada mostrava semblantes lívidos de estupefação.
Enorme grupo de colaboradores de nosso plano elevou a voz em harmonias, entoando comovente cântico de glorificação ao Supremo Senhor.
As melodiosas notas do hino perdiam-se, ao longe, no arvoredo distante, nas asas de suave brisa...
Terminados os serviços da reunião, reparei que os amigos encarnados, sob o amparo de colegas das nossas atividades socorristas, não se afastaram animados e otimistas, porque muitos deles, compreendendo, talvez com mais clareza, fora do veículo denso da experiência física, os erros da crença transviada, se retiravam cabisbaixos, soluçando...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO - CAPÍTULO 10 ÍTENS 7 e 8 - MARIA J. CAMPOS


RECONCILIAÇÃO COM OS ADVERSÁRIOS

FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

O SACRIFÍCIO MAIS AGRADÁVEL A DEUS

1. O que Jesus nos recomenda fazer, antes de reverenciar a Deus com nossos atos de sacrifício?
Ele recomenda que nos reconciliemos com o nosso irmão, antes de efetivar qualquer tipo de sacrifício em reverencia ao Pai.

Reconcilia-vos com vosso irmão, antes de apresentar a Deus a vossa oferenda.

2. Por que, somente após reconciliar-se com seu irmão, deve o homem apresentar a Deus sua oferenda?
Porque o amor a Deus e ao próximo são inseparáveis e constituem um único mandamento, de tal modo que quem guarda rancor do próximo encontra-se irremediavelmente afastado de Deus.

“ (...) deixai a vossa dádiva junto ao altar e ide, antes, reconciliar-vos com vosso irmão; depois, então, voltai a oferecê-la.”

3. Qual o sacrifico mais agradável a Deus?
O que o homem faz do próprio ressentimento, ao se aproximar daquele a quem ofendeu ou por quem foi ofendido, num ato de humildade e amor.

Antes de se apresentar a Deus para ser por Ele perdoado, precisa o homem haver perdoado e reparado o agravo que tenha feito a qualquer de seus irmãos.

4. Por que Jesus se refere sempre a “oferendas”?
Porque, quando de sua passagem na Terra, era costume entre os judeus oferecer bens materiais a Deus, como forma de Lhe demonstrar respeito e amor.

“Os judeus ofereciam sacrifícios materiais; cumpria-Lhe conformar Suas palavras aos usos ainda em voga.”.

5. Em nossos dias, ainda oferecemos a Deus sacrifícios materiais?
Não. Hoje oferecemos a Deus a nossa prece, nossos sentimentos, intenções, boas obras, nossa alma, enfim; portanto, devemos nos libertar de qualquer pensamento de ódio ou mágoa em relação ao próximo.

“O cristão não oferece dons materiais, pois que espiritualizou o sacrifício (...) Ele oferece sua alma a Deus e essa alma tem de ser purificada”.

6. Por que é tão difícil aproximarmo-nos do nosso irmão, em busca de reconciliação?
Porque esta atitude exige renúncia, desprendimento, humildade – virtudes.frontalmente contrárias ao egoísmo, orgulho e vaidade que ainda carregamos em nós.

Sejamos a cada dia, operários da harmonia e da concórdia, removendo desentendimento, eliminando rancores e construindo paz.

7. E se o nosso irmão estiver distante de nós, de sorte que não possamos nos aproximar dele?
Resta-nos pedir a Deus por ele: pela sua felicidade e bem-estar, pela sua paz e progresso, pois para a oração não existe distância.

Só a incompreensão e o desamor separam os homens. A boa vontade e o amor os aproximam, a despeito das distancias materiais.

8. O fato de nos recolhermos em prece, num templo religioso ou em outro lugar qualquer, nos aproxima de Deus?
Nem sempre. Não é o ato em si que nos aproxima de Deus, mas os sentimentos que carregamos no coração, com relação ao nosso irmão.

“Entretanto no templo do Senhor, o homem deve deixar de fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão. Só então os anjos levarão sua prece aos pés do Eterno”.

Conclusão:
O sacrifício mais agradável a Deus é o que o homem faz do próprio ressentimento, reconciliado-se com o seu irmão antes de elevar em prece com pensamento ao Pai.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

ESTUDO DO LIVRO NOSSO LAR - CAPÍTULO 23 - JULIANA SOLARE


SABER OUVIR

Intimamente, lamentei a interrupção da palestra. Os esclarecimentos da senhora Laura fortaleciam-me o coração.
Lísias entrou em casa visivelmente satisfeito.
- Olá! ainda não se recolheu? - perguntou, sorridente.
E, enquanto os jovens se despediam, convidava-me, solícito:
- Venha ao jardim, pois ainda não viu o luar destes sítios.
A dona da casa entrava em conversação com as filhas, enquanto acompanhando Lísias fui aos canteiros em flor.
O espetáculo apresentava-se soberbo! Habituado à reclusão hospitalar, entre grandes árvores, ainda não conhecia o quadro maravilhoso que a noite clara apresentava, ali, nos vastos quarteirões do Ministério do
Auxílio Glicínias de prodigiosa beleza enfeitavam a paisagem. Lírios de neve, matizados de ligeiro azul ao do do cálice, pareciam taças, de caricioso aroma. Respirei a longos haustos, sentindo que ondas de energia nova me penetravam o ser. Ao longe, as torres da Governadoria mostravam belos efeitos de luz. Deslumbrado, não conseguia emitir impressões. Esforçando-me para exteriorizar a admiração que me invadia a alma, falei comovidamente:
- Nunca presenciei tamanha paz! Que noite!...
O companheiro sorriu e acentuou:
- Há compromisso entre todos os habitantes equilibrados da colônia, no sentido de não se emitirem pensamentos contrários ao bem. Dessarte, o esforço da maioria se transforma numa prece quase perene. Dai nascerem as vibrações de paz que observamos.
Após enlevar-me na contemplação do quadro prodigioso, como se estivesse bebendo a luz e a calma da noite, voltamos ao interior onde Lísias se aproximou de pequeno aparelho postado na sala, à maneira de nossos receptores radiofônicos. Aguçou-se-me a curiosidade. Que iríamos ouvir?
Mensagens da Terra? Vindo ao encontro de minhas interrogações íntimas, o amigo esclareceu:
- Não ouviremos vozes do planeta. Nossas transmissões baseiam-se em forças vibratórias mais sutis que as da esfera da crosta.
- Mas não há recurso - indaguei - para recolher as emissões terrestres?
- Sem dúvida que temos elementos para fazê-lo, em todos os Ministérios; entretanto, no ambiente doméstico o problema de nossa atualidade é essencial. A programação do serviço necessário, as notas da Espiritualidade Superior e os ensinamentos elevados vivem, agora, para nós outros, muito acima de qualquer cogitação terrestre.
A observação era justa; mas, habituado ao apego doméstico, inquiri,de pronto:
- Será tanto assim? E os parentes que ficaram a distância? Nossos pais, nossos filhos?
- Já esperava essa pergunta: Nos círculos terrestres somos levados, muitas vezes, a viciar as situações. A hipertrofia do sentimento é mal comum de quase todos nós. Somos, por lá, velhos prisioneiros da condição exclusivista. Em família, isolamo-nos freqüentemente no cadinho do sangue e esquecemos o resto das obrigações. Vivemos distraídos dos verdadeiros princípios de fraternidade. Ensinamo-los a todo mundo, mas, em geral, chegado o momento do testemunho, somos solidários apenas com os nossos. Aqui, porém, meu amigo, a medalha da vida apresenta a outra face.
É preciso curar nossas velhas enfermidades e sanar injustiças. No início da colônia, todas as moradias, ao que sabemos, ligavam-se com os núcleos de evolução terrestre. Ninguém suportava a ausência de notícias da parentela comum. Do Ministério da Regeneração ao da Elevação, vivia-se em constante guerra nervosa. Boatos assustadores perturbavam as atividades em geral. Mas, precisamente há dois séculos, um dos generosos Ministros da União Divina compelia a Governadoria a melhorar a situação. O ex-Governador era talvez demasiadamente tolerante. A bondade desviada provoca indisciplinas e quedas. E, de quando em quando, as notícias dos afeiçoados terrestres punham muitas famílias em polvorosa. Os desastres coletivos no mundo, quando interessassem algumas entidades em "Nosso Lar", eram aqui verdadeiras calamidades públicas. Segundo nosso arquivo, a cidade era mais um departamento do Umbral, que propriamente zona de refazimento e instrução. Amparado pela União Divina, o Governador proibiu o intercâmbio generalizado. Houve luta. Mas o Ministro generoso, que incrementou a medida, valeu-se do ensinamento de Jesus que manda os mortos enterrarem seus mortos e a inovação se tornou vitoriosa em pouco tempo.
- Entretanto - objetei -, seria interessante colher notícias dos nossos amados em trânsito na Terra. Não daria isso mais tranqüilidade à alma?
Lísias, que permanecia junto ao receptor, sem ligá-lo, como interessado em me fornecer explicações mais amplas, acrescentou:
- Observe a si mesmo, a fim de ver se valeria a pena. Está preparado, por exemplo, para manter a precisa serenidade, esperando com fé e agindo com os preceitos divinos, em sabendo que um filho de seu coração está caluniado ou caluniando? Se alguém o informasse, agora, de que um dos seus irmãos consangüíneos foi hoje encarcerado como criminoso, teria bastante força para conservar-se tranqüilo?
Sorri, desapontado.
- Não devemos procurar notícias dos planos inferiores - prosseguiu, solicito - senão para levar auxílios justos. Convenhamos, porém, que a criatura alguma auxiliará com justiça, experimentando desequilíbrios do sentimento e do raciocínio. Por isso, é indispensável a preparação conveniente, antes de novos contactos com os parentes terrenos. Se eles oferecessem campo adequado ao amor espiritual, ó intercâmbio seria
desejável; mas esmagadora porcentagem de encarnados não alcançou, ainda, nem mesmo o domínio próprio e vive às tontas, nos altos e baixos das flutuações de ordem material. Precisamos, embora as dificuldades sentimentais, evitar a queda nos círculos vibratórios inferiores.
Contudo, evidenciando minha teimosia caprichosa, indaguei:
- Mas, Lísias, você que tem um amigo encarnado, qual seu pai, não gostaria de comunicar-se com ele?
- Sem dúvida - respondeu bondosamente -, quando merecemos essa alegria, visitamo-lo em sua nova forma, verificando-se o mesmo, quando se trata de qualquer expressão de intercâmbio entre ele e nós. Não devemos esquecer, entretanto, que somos criaturas falíveis. Necessitamos, pois, recorrer aos órgãos competentes, que determinem a oportunidade ou o merecimento exigidos. Para esse fim, temos o Ministério da Comunicação.
Acresce notar que, da esfera superior, é possível descer à inferior com mais facilidade. Existem, contudo, certas leis que mandam compreender devidamente os que se encontram nas zonas mais baixas. É tão importante saber falar como saber ouvir. "Nosso Lar" vivia em perturbações porque, não sabendo ouvir, não podia auxiliar com êxito e a colônia transformava-se, freqüentemente, em campo de confusão.
Calei-me vencido pelo argumento ponderoso. E, enquanto me conservava em silêncio, o enfermeiro amigo abriu o controle de recepção sob meus olhos curiosos.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO - CAPÍTULO 10 ÍTENS 5 E 6 - MARIA J. CAMPOS


RECONCILIAÇÃO COM OS ADVERSÁRIOS

FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

1. O que devemos entender pela expressão usada por Jesus: “Reconcilia-vos (...) enquanto todos estais a caminho?
Que devemos nos reconciliar com os nossos adversários enquanto estamos vivendo lado a lado, na condição de espíritos encarnados; somente assim aproveitaremos as oportunidades que a Misericórdia de Deus nos concede, de repararmos as faltas cometidas contra nossos irmãos em encarnações passadas.

Muitas das inimizades de hoje são frutos de malquerenças passadas, que nos compete superar pelo perdão e pela conciliação.

2. A que prisão se refere Jesus, quando diz: “...reconciliai-vos (...) para que não sejais metido em prisão”?
A prisão de que Jesus fala é a situação de sofrimento e aflição experimentada pelo espírito quando, por orgulho e vaidade, não perdoou nem se reconciliou com seu adversário.

Somos os carcereiros de nossa própria prisão, e a chave que nos liberta é o perdão, a conciliação com o adversário.


3. Como interpretar a frase: “ Digo-vos em verdade, que daí não saireis enquanto não houverdes pago o último ceitil”.?
Que seremos libertados da prisão que nós mesmo criamos, pelo orgulho e vaidade, quando houvermos perdoado nosso inimigo e reparado todos os males que lhe causamos.

A justiça divina estabelece que toda falta seja reparada; portanto; só estaremos realmente livres quando a menor dívida contraída para com o próximo for resgatada.

4. A morte nos livre dos inimigos?
Não. “ Os espíritos vingativos perseguem, muitas vezes, com seu ódio, no além-túmulo, aqueles contra os quais guardam rancor”.

O provérbio “morto o animal, morto o veneno”, torna-se falso quando aplicado ao homem.

5. Como age o Espírito mau para com o inimigo encarnado ?
“ O espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e , assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir em seus interesses ou nas suas mais caras afeições”.

“O obsediado e o possesso são, pois, quase sempre, vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existências anteriores, e à qual o que a sofre deu lugar pelo seu proceder”.

6. Por que permite Deus que tais vinganças ocorram?
Para que a pessoa tenha ocasião de expiar o mal praticado ou de se reabilitar com relação às suas atitudes do passado, através das quais tenha faltado com a indulgência, a caridade e o perdão.

Somos sempre julgados segundo nossas ações; assim, experimentaremos sempre as situações boas ou más que houvermos propiciado aos outros.

7. Como devemos tratar nossos adversários, se quisermos assegurar a tranqüilidade futura?
Devemos reparar, quanto antes, os agravos que causamos ao próximo; perdoar os inimigos e reconciliarmos-nos co eles, a fim de que, antes que a morte nos chegue, estejam apagados quaisquer motivos de mágoa, rancor ou vinganças futuras.

“Por essa forma, de um inimigo encarnado neste mundo se pode fazer um amigo no outro”.

8. O que acontece se, a despeito de nossa boa vontade, o adversário não aceita a reconciliação?
Quando a dureza do adversário torna impossível a conciliação, resta-nos pedir a Deus que lhe abrande o coração e Nele confiar, certos de que fizemos nossa parte.

“Trabalha, pois, quanto te seja possível, no capítulo da harmonização; mas, se o adversário te desdenha os bons desejos, concilia-te com a própria consciência e espera confiante”.

Conclusão:
Não adiemos a tarefa de perdoarmos e reconciliarmo-nos com os nossos adversário: façamos de cada instante de nossa vida ocasião de reparar o mal e constituir a fraternidade .

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO - CAPÍTULO 10 ÍTEM 1 - MARIA J. CAMPOS


PERDOAI, PARA QUE DEUS VOS PERDOE

FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

1. Por que os misericordiosos obterão misericórdia?
Porque somos regidos pela lei de causa e efeito, estabelecida pela sabedoria divina; assim, do modo côo agimos para com os outros, do mesmo modo agirão para conosco.

Sendo Deus a suprema misericórdia, quem não for misericordioso estará em sofrimento, por contrariar Sua lei..

2. Como se aplica a lei de causa e efeito, no caso do perdão?
Somente perdoando aos homens é que obteremos o perdão de Deus.

Deus nos criou para sermos felizes e onde há ódio não existe felicidade: quem não perdoa não pode ser feliz.

3. Que atitude devemos tomar, quando formos ofendidos por alguém?
Devemos procurá-lo em particular, para esclarecer a situação e buscar o entendimento, pondo fim à discórdia..

“Se contra vós pecou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta em particular, a sós com ele”.

4. De acordo com os ensinamentos de Jesus, até quantas vezes devemos perdoar ao irmão que os ofende?
Não há limite para o perdão: Jesus nos ensina a perdoar sempre.

“Jesus nos ensina que a misericórdia não deve ter limites, quando diz que cada um perdoe seu irmão, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes”.

5. Em que consiste a misericórdia?
No esquecimento e no perdão das ofensas recebidas – atitudes próprias da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir, e é toda calam, mansidão e caridade.

“A misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico”.

6. Quais as característica do espírito que não perdoa as ofensas recebidas?
Este é sempre ansioso, de sombria suscetibilidade, ressentindo-se por tudo e cheio de amargura; vê no próximo o inimigo, nunca o irmão.

Lembremo-nos de que o agressor sempre tem razão: se demos motivo, é justo que se ressinta; se não demos, é um infeliz que deus confia ao nosso amparo.

7. Para que haja o perdão verdadeiro, basta-nos dizer que perdoamos?
Não. O perdão verdadeiro não é o dos lábios, mas o do coração nobre e generoso, sem pensamento oculto, que evita, com delicadeza, ferir o amor próprio e a suscetibilidade do adversário, ainda quando este ultimo nenhuma justificativa possa ter.

É impossível uma reconciliação sincera de parte a parte quando o ofendido estende a mão ao ofensor com arrogância e ostentação.

8. É vergonhoso buscar a conciliação e a paz, perdoando a quem nos ofende?
Não. A lição de hoje nos ensina que, em qualquer desentendimento, o espírito mais elevado mostra-se mais conciliador e, com esta atitude, obterá sempre a simpatia das pessoas de bem e as graças de Deus.

Achamos difícil perdoar porque somos ainda almas inferiores, distanciadas de Deus, que compassivo, nossa decisão de cumprir Sua lei de amor.

Conclusão:
Somos regidos pela lei de causa e efeito, que nos faz experimentar as mesmas situações que proporcionamos aos outros; portanto, sejamos misericordiosos, para que possamos obter misericórdia; e perdoemos sempre, para que sejamos perdoados pelos homens e por Deus.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ESTUDO DO LIVRO NOSSO LAR - CAPÍTULO 22 - JULIANA SOLARE


O BÔNUS-HORA

Notando que a senhora Laura entristecera subitamente ao recordar o marido, modifiquei o rumo da palestra, interrogando:
- Que me diz do bônus-hora? Trata-se de algum metal amoedado?
Minha interlocutora perdeu o aspecto cismativo, a que se recolhera, e replicou, atenciosa:
- Não é propriamente moeda, mas ficha de serviço individual, funcionando como valor aquisitivo.
- Aquisitivo? - perguntei abruptamente.
- Explico-me - respondeu a bondosa senhora -; em "Nosso Lar" a produção de vestuário e alimentação elementares pertence a todos em comum. Há serviços centrais de distribuição na Governadoria e departamentos do mesmo trabalho nos Ministérios. O celeiro fundamental é propriedade coletiva.
Ante meu gesto silencioso de espanto, acentuou:
- Todos cooperam no engrandecimento do patrimônio comum e dele vivem. Os que trabalham, porém, adquirem direitos justos. Cada habitante de "Nosso Lar" recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente necessário; mas os que se esforçam na obtenção do bônus-hora conseguem certas prerrogativas na comunidade social. O espírito que ainda não trabalha, poderá ser abrigado aqui; no entanto, os que cooperem podem ter casa própria. O ocioso vestirá, sem dúvida; mas o operário dedicado vestirá o que melhor lhe pareça; compreendeu? Os inativos podem permanecer nos campos de repouso, ou nos parques de tratamento, favorecidos pela intercessão de amigos; entretanto, as almas operosas conquistam o bônus-hora e podem gozar a companhia de irmãos queridos, nos lugares consagrados ao entretenimento, ou o contacto de orientadores sábios, nas diversas escolas dos Ministérios em geral. Precisamos conhecer o preço de cada nota de melhoria e elevação. Cada um de nós, os que trabalhamos, deve dar, no mínimo, oito horas de serviço útil, nas vinte e quatro de que o dia se constitui. Os programas de trabalho, porém, são numerosos e a Governadoria permite quatro horas de esforço extraordinário, aos que desejem colaborar no trabalho comum, de boa-vontade. Desse modo, há muita gente que consegue setenta e dois bônus-hora, por semana, sem falar dos serviços sacrificiais, cuja remuneração é duplicada e, às vezes, triplicada.
- Mas, é esse o único título de remuneração? - perguntei.
- Sim, é o padrão de pagamento a todos os colaboradores da colônia, não só na administração, como também na obediência.
Lembrando as organizações terrestres, indaguei, espantado:
- Todavia, como conciliar semelhante padrão com a natureza do serviço? O administrador ganhará oito bônus-hora na atividade normal do dia, e o operário do transporte receberá a mesma coisa? Não é o trabalho do primeiro mais elevado que o do segundo?
A senhora sorriu à pergunta e explicou:
- Tudo é relativo. Se, na orientação ou na subalternidade, o trabalho é de sacrifício pessoal, a expressão remunerativa é justamente multiplicada.
Examinando, porém, mais detidamente a sua pergunta, precisamos, antes de mais nada, esquecer determinados prejuízos da Terra. A natureza do serviço é problema dos mais importantes; contudo, na própria esfera da crosta é que o assunto apresenta solução mais difícil. A maioria dos homens encarnados está simplesmente ensaiando o espírito de serviço e aprendendo a trabalhar nos diversos setores da vida humana. Por isso
mesmo, é imprescindível fixar as remunerações terrestres com maior atenção. Todo o ganho externo do mundo é lucro transitório. Vemos trabalhadores obcecados pela questão de ganhar, transmitindo fortunas vultosas à inconsciência e à dissipação; outros amontoam expressões bancárias que lhes servem de martírio pessoal e de ruína à família. Por outro lado, é indispensável considerar que setenta por cento dos administradores terrenos não pesam os deveres morais que lhes competem, e que a mesma porcentagem pode ser adjudicada a quantos foram chamados à subordinação. Vivem, quase todos, a confessar ausência do impulso vocacional, recebendo embora os proventos comuns aos cargos que ocupam. Governos e empresas pagam a médicos que se entregam à exploração de interesses outros e a operários que matam o tempo. Onde, aí, a natureza de serviço? Há técnicos de indústria econômica, que nunca prezaram integralmente a obrigação que lhes assiste e valem-se de leis magnânimas, à maneira de moscas venenosas no pão sagrado, exigindo abonos, facilidades e aposentadorias. Creia, porém, que todos pagarão muito caro a displicência. Parece ainda distante o tempo em que os institutos sociais poderão determinar a qualidade de serviço dos homens, porque, para o plano espiritual superior, não se especificará teor de trabalho, sem a consideração dos valores morais despendidos.
Essas palavras despertavam-me para concepções novas. Percebendo-me a sede de instrução, a interlocutora continuou:
- O verdadeiro ganho da criatura é de natureza espiritual e o bônus hora, em nossa organização, modifica-se em valor substancial, segundo a natureza dos nossos serviços. No Ministério da Regeneração, temos o Bônus-Hora Regeneração; no Ministério do Esclarecimento, o Bônus-Hora Esclarecimento, e assim por diante. Ora, examinando o provento espiritual, é razoável que a documentação de trabalho revele a essência do serviço. As aquisições fundamentais constituem-se de experiência, educação, enriquecimento de bênçãos divinas, extensão de possibilidades. Nesse prisma, os fatores assiduidade e dedicação representam, aqui, quase tudo.
Em geral, em nossa cidade de transição, a maioria prepara-se com vistas à necessidade de regresso aos círculos carnais. Examinando esse princípio, é natural que o homem que empregou cinco mil horas, em serviços regeneradores, tenha efetuado esforço sublime, a benefício de si mesmo; o que despendeu seis mil horas de atividade, no Ministério do Esclarecimento, estará mais sábio. Poderemos gastar os bônus-hora conquistados; entretanto, é mais valioso ainda o registro individual da contagem de tempo de serviço útil, que nos confere direito a preciosos títulos.
Semelhantes instruções interessavam-me profundamente.
- Poderemos, porém, gastar nossos bônus-hora a favor dos amigos? - indaguei curioso.
- Perfeitamente - disse ela -; poderemos repartir as bênçãos de nosso
esforço com quem nos aprouver. Isto é direito inalienável do trabalhador fiel.
Contam-se por milhares as pessoas favorecidas em "Nosso Lar", pela movimentação da amizade e do estimulo fraternal.
A essa altura, a genitora de Lis ias sorriu e observou:
- Quanto maior a contagem do nosso tempo de trabalho, maiores intercessões podemos fazer. Compreendemos, aqui, que nada existe sem preço e que para receber é indispensável dar alguma coisa. Pedir, portanto, é ocorrência muito significativa na existência de cada um. Somente poderão rogar providências e dispensar obséquio os portadores de títulos adequados, entendeu?
- E o problema da herança? - inquiri de repente.
- Não temos aqui demasiadas complicações - respondeu a senhora Laura, sorrindo. Vejamos, por exemplo, o meu caso. Aproxima-se o tempo do meu regresso aos planos da crosta. Tenho comigo três mil Bônus-Hora-Auxílio, no meu quadro de economia pessoal. Não posso legá-los a minha filha que está a chegar, porque esses valores serão revertidos ao patrimônio comum, permanecendo minha família apenas com o direito de herança ao lar; no entanto, minha ficha de serviço autoriza-me a interceder por ela e preparar-lhe aqui trabalho e concurso amigo, assegurando-me, igualmente, o valioso auxílio das organizações de nossa colônia espiritual, durante minha permanência nos círculos carnais. Nesse cômputo, deixo de referir-me ao lucro maravilhoso que adquiri no capítulo da experiência, nos anos de cooperação no Ministério do Auxílio. Volto à Terra, investida de valores mais altos e demonstrando qualidades mais nobres de preparação ao êxito desejado.
Ia prorromper em exclamações admirativas, referentes ao processo simples de ganhar, aproveitar, cooperar e servir, confrontando aquelas soluções com os princípios imperantes no planeta, mas um brando burburinho aproximou-se da casa. Antes que pudesse emitir qualquer observação, a senhora Laura murmurou, satisfeita:
- Nossos queridos estão de volta.
E levantou-se para atender.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ESTUDO DO LIVRO NO MUNDO MAIOR - CAPÍTULO 14 - JULIANA SOLARE


MEDIDA SALVADORA

Havíamos terminado ativa colaboração, num elevado ambiente consagrado à prece, quando certo companheiro se abeirou de nós, reclamando o concurso do Assistente num caso particular.
Calderaro decerto conheceria os pormenores da situação, porque entre ambos logo se estabeleceu curioso diálogo.
— Infelizmente — dizia o informante, nosso Antídio não sobreleva a situação; permanece em derrocada quase total. Vinculou-se de novo a perigosos elementos da sombra, e voltou aos desacertos noturnos, com grave prejuízo para o nosso trabalho socorrista.
— Não lhe valeram as melhoras da quinzena passada? — indagou fraternalmente o orientador.
— Aproveitou-as para mais presto volver à irreflexão — esclareceu o interlocutor com inflexão magoada.
— É de notar, porém, que se achava quase de todo louco.
— Sim, mas conseguiu fruir, outra vez, estado orgânico invejável, mercê de sua intervenção última; logo, porém, que se viu fortalecido, tornou desbragadamente aos alcoólicos. A sede escaldante, provocada pela própria displicência e pela instigação dos vampiros que, vorazes, se lhe enxameiam à roda, everteu-lhe o sistema nervoso. A organização perispirítica, semililberta do corpo denso pelos perniciosos processos da embriaguez, povoa-lhe a mente de atros pesadelos, agravados pela atuação das entidades perversas que à seguem passo a passo.
— Estará em casa a esta hora? — inquiriu Calderaro com interesse.
— Não — disse o outro, abatido, deixei-o, ainda agora, num centro menos digno, onde a situação do nosso doente tornou a características lamentáveis.
O instrutor estudou o caso em silêncio, durante alguns instantes, e considerou:
— Poderemos providenciar; contudo, se da outra vez consistiu o socorro em restitui-lo ao equilíbrio orgânico possível, no momento há que agir em contrário. Convém ministrar-lhe provisória e mais acentuada desarmonia ao corpo. Neste, como em outros processos difíceis, a enfermidade retifica sempre.
E, contemplando o benfeitor do necessitado distante, interrogou:
— De acordo?
— Perfeitamente — redargüiu ele, sem hesitação; o meu amigo é especialista em assistência, e eu lhe acato as determinações. O que nos interessa é a saúde efetiva do infeliz irmão, que se entregou sem defesa aos reclamos do vicio.
Rumamos para o local em que deveríamos acudir o amigo extraviado.
Penetramos o recinto, servido de amplas janelas e abundantemente iluminado.
O ambiente sufocava. Desagradáveis emanações se faziam cada vez mais espessas, à maneira que avançávamos.
No salão principal do edifício, onde abundavam extravagantes adornos, algumas dezenas de pares dançavam, tendo as mentes absorvidas nas baixas vibrações que a atmosfera vigorosamente insuflava.
Indefinível e dilacerante impressão dominou-me o ser. Não provinha da estranheza que a indiferença dos cavalheiros e a leviandade das mulheres me provocavam; o que me enchia de assombro era o quadro que eles não viam. A multidão de entidades conturbadas e viciosas que aí se movia era enorme. Os dançarinos não bailavam sós, mas, inconscientemente, correspondiam, no ritmo açodado da música inferior, a ridículos gestos dos companheiros irresponsáveis que lhes eram invisíveis. Atitudes simiescas surdiam aqui e ali, e, de quando em quando, gritos histéricos feriam o ar.
Calderaro não se deteve. Mostrava-se habituado à cena; mas, não conseguindo sofrear a estupefação que se assenhoreara de mim, solicitei-lhe uma intermitência, perguntando:
— Meu amigo, que vemos? criaturas alegres cercadas de seres tão inconscientes e perversos? pois será crime dançar? buscar alegria constituirá falta grave?
O orientador escutou pacientemente as indagações ingênuas que me escapavam dos lábios, ditadas pelo espanto que me assomara repentinamente, e esclareceu:
— Que perguntas, André! O ato de dançar pode ser tão santificado como o ato de orar, pois a alegria legítima é sublime herança de Deus. Aqui, porém, o quadro é diverso. O bailado e o prazer nesta casa significam declarado retorno aos estados primitivos do ser, com iniludíveis agravantes de viciação dos sentidos. Observamos, neste recinto, homens e mulheres dotados de alto raciocínio, mas assumindo atitudes de que muitos símios talvez se pejassem. Todavia, esteja longe de nós qualquer recriminação: lastimemo-los simplesmente. São trânsfugas sociais, e, na maioria, rebeldes à disciplina instituída pelos Desígnios Superiores para os seus trilhos terrestres. Muitos deles são profundamente infelizes, precisando de nossa ajuda e compaixão. Procuram afogar no vinho ou nos prazeres certas noções de responsabilidade que não logram esquecer. Fracos perante a luta, mas dignos de piedade pelos remorsos e atribulações que os devoram, merecem amparados fraternalmente.
E, passando os olhos de relance pela multidão de Espíritos perturbadores que ali se davam ao vampirismo e ao sarcasmo, obtemperou:
— Quanto a estes infortunados, que fazer senão recomendá-los ao Divino Poder? Tentam igualmente a fuga impossível de si mesmos. Alucinados, apenas adiam o terrível minuto de auto-reconhecimento, que chega sempre, quando menos esperam, através dos mil processos da dor, esgotados os recursos do amor divino, que o Supremo Pai nos oferece a todos. A mente deles também está apegada aos instintos primitivos, e, frágeis e hesitantes, receiam a responsabilidade do trabalho da regeneração.
Vendo-me boquiaberto e faminto de novas elucidações, o Assistente propôs-me:
— Vamos! deixemo-los divertir-se. A dança, nesta casa, não lhes deixa de ser, em última análise, um benefício. Chegaram nossos amigos encarnados e desencantados, aqui presentes, a nível tão desprezível que, sem dúvida, não fora o sapateado, estariam rodando, lá fora, em atos extremamente condenáveis, tal a predisposição em que se encontram para o crime. Que o Pai se comisere de todos nós.
Demandamos o interior, apressadamente.
Numa saleta abafada, um cavalheiro de quarenta e cinco anos presumíveis jazia a tremer. Não conseguia manter-se de pé.
Calderaro examinou-o detidamente e indagou do novo amigo que nos acompanhava:
— Voltou aos alcoólicos, há muitos dias?
— Precisamente, há uma semana.
— Vê-se que se esgotou rápido.
Enquanto encetava a aplicação de fluidos magnéticos, o orientador aconselhou-me notar os característicos do quadro dantesco sob nossos olhos.
Antídio, doente e desventurado, a despeito das condições precárias, reclamava um copinho, sempre nais um copinho, que um rapaz de serviço trazia, obediente. Tremiam-lhe os membros, denunciando-lhe o abatimento. Álgido suor lhe escorria da fronte e, de vez em quando, desferia gritos de terror selvagem. Em derredor, quatro entidades embrutecidas submetiam-no aos seus desejos. Empolgavam-lhe a organização fisiológica, alternadamente, uma a uma, revezando-se para experimentar a absorção das emanações alcoólicas, no que sentiam singular prazer. Apossavam-se particularmente da “estrada gástrica”, inalando a bebida a volatilizar-se da cárdia ao piloro.
A cena infundia angústia e assombro.
Estaríamos diante de um homem embriagado ou de uma taça viva, cujo conteúdo sorviam gênios satânicos do vicio?
O infortunado Antídio trazia o estômago atestado de liquido e a cabeça turva de vapores.
Semidesligado do organismo denso pela atuação anestesiante do tóxico, passou a identificar-se mais intimamente com as entidades que o per seguiam.
Os quatro infelizes desencarnados, a seu turno, tinham a mente invadida por visões terrificantes do sepulcro que haviam atravessado como dipsomaníacos. Sedentos, aflitos, traziam consigo imagens espectrais de víboras e morcegos dos lugares sombrios onde haviam estacionado.
Entrando em sintonia magnética com o psiquismo desequilibrado dos vampiros, o ébrio começou a rogar, estentôreamente:
— Salve-me! salve-me, por amor de Deus!
E indicando as paredes próximas, bradava sob a impressão de indefinível pavor:
— Oh! os morcegos!... os morcegos! afugentem-nos, detenham-nos...! Piedade! quem me livrará! Socorro! Socorro!...
Dois senhores, também obnubilados pelo vinho, aproximaram-se, espantados. Um deles, porém, tranquilizou o outro, dizendo:
— Nada de mais. É o Antídio, de novo. Os acessos voltaram. Deixemo-lo em paz.
Enquanto isso, o desditoso ébrio continuava bradando:
— Ai! ai! uma cobra... aperta-me, sufoca-me... Que será de mim? Socorro!
As entidades perturbadoras timbravam nas atitudes sarcásticas; gargalhavam de maneira sinistra. Ouvia-as o infeliz, a lhe ecoarem no fundo do ser, e gritava, tentando investir, embora cambaleante, os algozes invisíveis:
— Quem zomba de mim? quem?
Cerrando os punhos, acrescentava:
— Malditos! malditos sejam!
A cena prosseguia, dolorosa, quando Calderaro se acercou de mim, esclarecendo:
- É deplorável pai de família que, incapaz de reagir contra as atrações do vício, se entregou, inerme, à influência de malfeitores desencarnados, afins com a sua posição desequilibrada. Em atenção às intercessões da esposa e de dois filhinhos amoráveis que o seguem, assistimo-lo com todos os recursos ao alcance de nossas possibilidades; entretanto, o imprevidente irmão não corresponde ao nosso esforço. Emerge de todas as tentativas, mais e mais disposto à perversão dos sentidos; busca, acima de tudo, a fuga de si mesmo; detesta a responsabilidade e não se anima a conhecer o valor do trabalho. Atenuando-lhe a ânsia irrefreável de sorver alcoólicos, esperamos se reeduque. Para isso, porém, usaremos agora recurso drástico, já que o desventurado se revela infenso a todos os nossos processos de auxilio.
Fixando em mim expressivo olhar, concluiu:
— Antídio, por algum tempo, a partir de hoje, será amparado pela enfermidade. Conhecerá a prisão no leito, durante alguns meses, a fim de que se lhe não apodreça o corpo num hospício, o que se iniciaria dentro de alguns dias, lançando nobre mulher e duas crianças em pungente incerteza do porvir.
Dito isto, Calderaro encetou complicado serviço de passes, ao longo da espinha dorsal.
O enfermo aquietou-se, pouco a pouco, na velha poltrona em que se mantinha.
O Assistente passou a aplicar-lhe eflúvios luminosos sobre o coração, durante vários minutos. Notei que essas emissões se concentravam gradativamente no órgão central, que em certo instante acusou parada súbita.
Antídio parecia prestes a desencarnar, quando o orientador lhe restituiu as energias, em movimentação rápida. Premido pelo fenômeno circulatório, que lhe valeu tremendo choque, o desditoso amigo pôs-se a pedir auxílio em altos brados. Havia tamanha inflexão de dor, na voz lamentosa, que grande número de pessoas se aproximaram, penalizadas.
Um piedoso cavalheiro tomou-lhe o pulso, verificou a desordem do coração e, presto, requisitou um carro da assistência pública. Em breves momentos Antídio era transportado em maca de hospital, para receber socorro urgente, seguido, de perto, pelo solícito benfeitor espiritual.
Retirando-se em minha companhia, Calderaro acrescentou, tristonho:
— O infortunado amigo será portador de uma nevrose cardíaca por dois a três meses, aproximadamente. Debalde usará a valeriana e outras substâncias medicamentosas, em vão apelará para anestésicos e desintoxicantes. No curso de algumas semanas conhecerá intraduzível mal-estar, de modo a restabelecer a harmonia do cosmo psíquico. Experimentará Indizível angústia, submeter-se-á a medicações e regimes, que lhe diminuirào a tendência de esquecer as obrigações sagradas da hora e lhe acordarão os sentimentos, devagarinho, para a nobreza do ato de viver.
Notando-me a estranheza, o Assistente concluiu:
— Que fazer, meu amigo? As mesmas Forças Divinas que concedem ao homem a brisa cariciosa, infligem-lhe a tempestade devastadora... Uma e outra, porém, são elementos indispensáveis à glória da vida.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO - CAPÍTULO 9 ÍTEM 10 - MARIA J. CAMPOS


A CÓLERA

FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

1. O que é a cólera?
É a manifestação de um sentimento que se expressa por atitudes rudes e grosseiras, em represália a uma contrariedade qualquer. É a causadora de muitos danos orgânicos que atingem aquele que a cultiva, além de constituir um comportamento antifraterno perante os que o cercam.

“A cólera... nada mais significa que um traço de recordação dos primórdios da vida humana em suas expressões mais grosseiras”.(Emmanuel/O consolador – questão nº 181).

2. É o organismo que determina o nosso proceder?
Não. Quem age e determina o proceder é o espírito, não o corpo. Este, constituído instrumento daquele, poderá dificulta a ação do espírito no bem, jamais, porém, impedi-la.

“O corpo não dá a cólera aquele que a tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios”.

3. Por que, então, se costuma atribuir ao corpo físico a causa da cólera?
Trata-se de pretexto que o homem usa para desculpar as tendências negativas próprias de seu espírito, sob a alegação de que é impossível reformar a sua própria natureza.

Muitos assim pensam por ignorarem que reside no espírito a origem de todas as nossas manifestações e ações.

4. Podemos afirmar que físico vigoroso é sinônimo de violência e que físico debilitado ou apático é sinônimo de calma?
Não, pois não são esses requisitos que tornam uma pessoa agressiva ou não, mas o seu espírito que, sendo violento, fará o corpo que o anima também violento.

“(...) persuadi-vos de que um Espírito pacifico, ainda que num corpo bilioso será sempre pacifico, e que um espírito violento, mesmo num corpo linfático, não será brando ”.

5. O que podemos concluir com referencia a origem dos nossos acessos de cólera?
Concluímos que esses acessos partem de nosso espírito, e é a este que devemos dirigir os esforços no sentido de combatê-la, esforços estes que, portanto, dependem da nossa iniciativa.

“Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao espírito.”daí, o imperativo do constante esforço no seu burilamento.

6. De que forma podemos dominar a cólera?
Através da nossa vontade podemos transformar as energias que emitimos, de modo a torná-las mais serenas, dosando, assim, as nossas reações ante aquilo que os contraria. Por outro lado, as nossas contrariedades são igualmente amenizadas quando usamos de paciência e resignação perante as provações da vida.

“A energia serena edifica sempre, na construção dos sentimentos purificadores” (Emmanuel? O consolador – questão nº181).

7. Onde buscarmos a força necessária?
No Evangelho de Jesus, onde encontramos repertório inesgotável de ensinamentos voltados para nossa reforma intima; e na prece, através da qual angariamos o auxilio do Alto e o equilíbrio renovador.

Residindo a origem da cólera no orgulho ferido, para dominá-la temos que combater justamente o orgulho, mediante a nossa reforma íntima, sob a égide da doutrina do Mestre.


Conclusão:
A verdadeira origem da cólera está no espírito. Este é que pode estar vicioso, não o corpo. Desculpar-se do proceder colérico, alegando mau funcionamento do organismo, é pretexto que se usa para dissimular as próprias imperfeições. Para combatê-la é necessário o homem reformar-se interiormente, mediante o uso da vontade, inteligência e livre arbítrio, dirigidos para o bem.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

ESTUDO DO LIVRO NOSSO LAR - CAPÍTULO 21 - JULIANA SOLARE


CONTINUANDO A PALESTRA

- A palestra, senhora Laura - exclamei com interesse -, sugere numerosas interrogações, relevar-me-á a curiosidade, o abuso...
- Não diga isso - retrucou, bondosa -, pergunte sempre. Não estou em condições de ensinar; todavia, é sempre fácil informar.
Rimo-nos da observação e indaguei em seguida:
- Como se encara o problema da propriedade na colônia? Esta casa, por exemplo, pertence-lhe?
Ela sorriu e esclareceu:
- Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas aquisições são feitas à base de horas de trabalho. O bônus-hora, no fundo, é o nosso dinheiro. Quaisquer utilidades são adquiridas com esses cupons, obtidos por nós mesmos, a custa de esforço e dedicação. As construções em geral representam patrimônio comum, sob controle da Governadoria; cada família espiritual, porém, pode conquistar um lar (nunca mais que um), apresentando trinta mil bônus-hora, o que se pode conseguir com algum tempo de serviço. Nossa morada foi conquistada pelo trabalho perseverante de meu esposo, que veio para a esfera espiritual muito antes de mim. Dezoito anos estivemos separados pelos laços físicos, mas sempre unidos pelos elos espirituais. Ricardo, porém, não descansou. Recolhido ao "Nosso Lar", depois de certo período
de extremas perturbações, compreendeu imediatamente a necessidade do esforço ativo, preparando-nos um ninho para o futuro. Quando cheguei, estreamos a habitação que ele organizara com esmero, acentuando-se nossa ventura. Desde então, meu esposo ministrou-me conhecimentos novos. Minhas lutas na viuvez haviam sido intensas. Muito moça ainda, com os filhos tenros, tive de enfrentar serviços rudes. A custa de testemunhos difíceis, proporcionei aos rebentos de nossa união os valores educativos, de que eu podia dispor, habituando-os, porém, muito cedo, aos trabalhos
árduos. Compreendi, depois, que a existência laboriosa me livrara das indecisões e angústias do Umbral, por colocar-me a coberto de muitas e perigosas tentações. O suor do corpo ou a preocupação justa, nos campos de atividade honesta, constituem valiosos recursos para a elevação e defesa da alma. Reencontrar Ricardo, tecer novo ninho de afetos, representava o céu para mim. Durante anos consecutivos, vivemos a vida de perene ventura, trabalhando por nossa evolução, unindo-nos cada vez mais, e
cooperando no progresso efetivo dos que nos são afins. Com o correr do tempo, Lísias, Iolanda e Judite reuniram-se a nós, aumentando nossa felicidade.
Após ligeiro intervalo, em que parecia meditar, minha interlocutora prosseguiu em tom grave:
- Mas a esfera do globo nos esperava. Se o presente estava cheio de alegria, o passado chamava a contas, para que o futuro se harmonizasse com a lei eterna. Não podíamos pagar à Terra com bônus-hora e sim com o suor honrado, fruto de trabalhos. Dada a nossa boa -vontade, aclarava-se-nos a visão, relativamente ao pretérito doloroso. A lei do ritmo exigia, então, nossa volta.
Aquelas afirmativas causavam-me viva impressão. Era a primeira vez que se feria tão fundo aos meus ouvidos, na colônia, o assunto referente a encarnações pregressas.
- Senhora Laura - exclamei, interrompendo-a -, permita, por obséquio, um aparte. Perdoe a curiosidade; no entanto, até agora, ainda não pude conhecer mais detidamente o que se relaciona com o meu passado espiritual. Não estou isento dos laços físicos? Não atravessei o rio da morte? A senhora recordou o passado, logo após sua vinda, ou esperou o concurso do tempo?
- Esperei-o - replicou, sorridente -; antes de tudo, é indispensável nos despojarmos das impressões físicas. As escamas da inferioridade são muito fortes. É preciso grande equilíbrio para podermos recordar, edificando. Em geral, todos temos erros clamorosos, nos ciclos da vida eterna. Quem lembra o crime cometido costuma considerar-se o mais desventurado do Universo; e quem recorda o crime de que foi vítima, considera-se em conta de infeliz, do mesmo modo. Portanto, somente a alma, muito segura de si, recebe tais atributos como realização espontânea. As demais são
devidamente controladas no domínio das reminiscências, e, se tentam burlar esse dispositivo da lei, não raro tendem ao desequilíbrio e à loucura.
- Mas a senhora recordou o passado de maneira natural? - perguntei.
- Explico-me - respondeu bondosamente -; quando se me aclarou a visão interior, as lembranças vagas me causavam perturbações de vulto. Coincidiu que meu marido partilhava o mesmo estado dalma. Resolvemos ambos consultar o assistente Longobardo. Esse amigo, depois de minucioso exame das nossas impressões, nos encaminhou aos
magnetizadores do Ministério do Esclarecimento. Recebidos com carinho, tivemos acesso em primeiro lugar à Seção do Arquivo, onde todos nós temos anotações particulares. Aconselharam-nos os técnicos daquele Ministério a ler nossas próprias memórias, durante dois anos, sem prejuízo
de nossa tarefa do Auxílio, abrangendo o período de três séculos. O chefe do serviço de Recordações não nos permitiu a leitura de fases anteriores, declarando-nos incapazes de suportar as lembranças correspondentes a outras épocas.
- E bastou a leitura para que se sentisse na posse das reminiscências? - atalhei, curioso.
- Não. A leitura apenas informa. Depois de longo período de meditação para esclarecimento próprio, e como surpresas indescritíveis, fomos submetidos a determinadas operações psíquicas, a fim de penetrar os domínios emocionais das recordações. Os espíritos técnicos no assunto nos aplicaram passes no cérebro, despertando certas energias adormecidas... Ricardo e eu ficamos, então, senhores de trezentos anos de memória integral. Compreendemos, então, quão grande é ainda o nosso
débito para com as organizações do planeta!...
- E onde está nosso irmão Ricardo? Como estimaria conhecê-lo!... - exclamei sob forte impressão.
A genitora de Lísias meneou significativamente a cabeça e murmurou:
- Em vista de nossas observações referentes ao passado, combinamos novo encontro nas esferas da crosta. Temos trabalho, muito trabalho, na Terra. Desse modo, Ricardo partiu há três anos. Quanto a mim, seguirei dentro de breves dias. Aguardo apenas a chegada de Teresa, para deixá-la junto aos nossos.
E de olhar vago, como se a mente estivesse muito longe, ao lado da filha ainda retida na Terra, a senhora Laura acentuou:
- A mãe de Eloísa não tardará. A passagem dela através do Umbral será somente de algumas horas, em vista dos seus profundos sacrifícios, desde a infância. Pelo muito que sofreu não precisará dos tratamentos da Regeneração. Poderei, portanto, transmitir-lhe minhas obrigações no Auxílio e partir sossegada. O Senhor não nos esquecerá.

ESTUDO DO LIVRO NOSSO LAR - CAPÍTULO 20 - JULIANA SOLARE


NOÇÕES DE LAR

Desejando colher valores educativos que fluíam naturalmente da palestra da senhora Laura, perguntei, curioso:
- Desempenhando tantos deveres, a senhora ainda tem atribuições fora de casa?
- Sim; vivemos numa cidade de transição; no entanto, as finalidades da colônia residem no trabalho e no aprendizado. As almas femininas, aqui, assumem numerosas obrigações, preparando-se para voltar ao planeta ou para ascender a esferas mais altas.
- Mas a organização doméstica, em "Nosso Lar", é idêntica à da Terra?
A interlocutora esboçou uma facies muito significativa e acrescentou:
- O lar terrestre é que, de há muito, se esforça por copiar nosso instituto doméstico; mas os cônjuges por lá, com raras exceções, estão ainda a mondar o terreno dos sentimentos, invadido pelas ervas amargosas da vaidade pessoal, e povoado de monstros do ciúme e do egoísmo. Quando regressei do planeta, pela última
vez, trazia, como é natural, profundas ilusões. Coincidiu, porém, que, na minha crise de orgulho ferido, fui levada a ouvir um grande instrutor, no Ministério do Esclarecimento. Desde esse dia, nova corrente de idéias me penetrou o espírito.
- Não poderia dizer-me algo das lições recebidas? - indaguei com interesse.
- O orientador, muito versado em matemática - prosseguiu ela -, feznos sentir que o lar é como se fora um ângulo reto nas linhas do plano da evolução divina. A reta vertical é o sentimento feminino, envolvido nas inspirações criadoras da vida. A reta horizontal é o sentimento masculino, em marcha de realizações no campo do progresso comum. O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável. É templo, onde as criaturas devem unir-se espiritual antes que corporalmente. Há na Terra, agora, grande número de estudiosos das
questões sociais, que aventam várias medidas e clamam pela regeneração da vida doméstica. Alguns chegam a asseverar que a instituição da família humana está ameaçada. Importa considerar, entretanto, que, a rigor, o lar é conquista sublime que os homens vão realizando vagarosamente. Onde, nas esferas do globo, o verdadeiro instituto doméstico, baseado na harmonia justa, com os direitos e deveres legitimamente partilhados? Na maioria, os casais terrestres passam as horas sagradas do dia vivendo a indiferença ou o egoísmo feroz. Quando o marido permanece calmo, a mulher parece desesperada; quando a esposa se cala, humilde, o companheiro tiraniza.
Nem a consorte se decide a animar o esposo, na linha horizontal de seus trabalhos temporais, nem o marido se resolve a segui-la no vôo divino de ternura e sentimento, rumo aos planos superiores da Criação. Dissimulam em sociedade e, na vida íntima, um faz viagens mentais de longa distância, quando o outro comenta o serviço que lhe seja peculiar.
Se a mulher fala nos fílhinhos, o marido excursiona através dos negócios; se o companheiro examina qualquer dificuldade do trabalho, que lhe diz respeito, a mente da esposa volta ao gabinete da modista. É claro que, em tais circunstâncias, o ângulo divino não está devidamente traçado. Duas linhas divergentes tentam, em vão, formar o vértice sublime, a fim de construírem um degrau na escada grandiosa da vida eterna.
Esses conceitos calavam-me fundo e, sumamente impressionado, observei:
- Senhora Laura, essas definições suscitam um mundo de pensamentos novos. Ah! se conhecêssemos tudo isso lá na Terra!...
- Questão de experiência, meu amigo - replicou a nobre matrona -, o homem e a mulher aprenderão no sofrimento e na luta. Por enquanto, raros conhecem que o lar é instituição essencialmente divina e que se deve viver, dentro de suas portas, com todo o coração e com toda a alma. Enquanto as criaturas vulgares atravessam a florida região do noivado, procuram-se mobilizando os máximos recursos do espírito, e daí o dizer-se que todos os seres são belos quando estão verdadeiramente amando. O assunto mais trivial assume singular encanto nas palestras mais fúteis. O homem e a
mulher comparecem aí, na integração de suas forças sublimes. Mas logo que recebem a bênção nupcial, a maioria atravessa os véus do desejo, e cai nos braços dos velhos monstros que tiranizam corações. Não há concessões recíprocas. Não há tolerância e, por vezes, nem mesmo fraternidade. E apaga-se a beleza luminosa do amor, quando os cônjuges perdem a camaradagem e o gosto de conversar. Daí em diante, os mais
educados respeitam-se; os mais rudes mal se suportam. Não se entendem.
Perguntas e respostas são formuladas em vocábulos breves. Por mais que se unam os
corpos, vivem as mentes separadas, operando em rumos opostos.
- Tudo isso é a pura verdade! - aduzi comovido.
- Que fazer, porém, meu amigo? - replicou a bondosa senhora - na fase atual evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora porcentagem de ligações de resgate. O maior número de casais humanos é constituído de verdadeiros forçados, sob algemas.
Procurando retomar o fio das considerações sugeridas por minha pergunta inicial, continuou a genitora de Lísias:
- As almas femininas não podem permanecer inativas aqui. É preciso aprender a ser mãe, esposa, missionária, irmã. A tarefa da mulher, no lar, não pode circunscrever-se a umas tantas lágrimas de piedade ociosa e a muitos anos de servidão. É claro que o movimento coevo do feminismo desesperado constituí abominável ação contra as verdadeiras atribuições do espírito feminino. A mulher não pode ir ao duelo com os homens, através de escritórios e gabinetes, onde se reserva atividade justa ao espírito masculino. Nossa colônia, porém, ensina que existem nobres serviços de extensão do lar, para as mulheres. A enfermagem, o ensino, a indústria do fio, a informação, os serviços de paciência, representam atividades assaz expressivas. O homem deve aprender a carrear para o ambiente doméstico a
riqueza de suas experiências, e a mulher precisa conduzir a doçura do lar para os labores ásperos do homem. Dentro de casa, a inspiração; fora dela, a atividade. Uma não viverá sem a outra. Como sustentar-se o rio sem a fonte, e como espalhar-se a água da fonte sem o leito do rio?
Não pude deixar de sorrir, ouvindo a interrogação. A mãe de Lísias, depois de longo intervalo, continuou:
- Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas horas de serviço são contadas em dobro, o que lhe pode dar idéia da importância do serviço maternal no plano terreno. Entretanto, quando isso não acontece, tenho meus deveres diuturnos nos trabalhos de enfermagem, com a semana de quarenta e oito horas de tarefa. Todos trabalham em nossa casa. A não ser minha neta convalescente, não temos qualquer
pessoa da família em zonas de repouso. Oito horas de atividade no interesse
coletivo, diariamente, é programa fácil a todos. Sentir-me-ia envergonhada
se não o executasse também.
Interrompeu-se a interlocutora por alguns momentos, enquanto me perdia em vastas considerações...

domingo, 15 de novembro de 2009

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO - CAPÍTULO 9 ÍTEM 9 - MARIA J. CAMPOS


A CÓLERA

FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

1. O que é a cólera?
É a manifestação de um sentimento que se expressa por atitudes rudes e grosseiras, em represália a uma contrariedade qualquer. É a causadora de muitos danos orgânicos que atingem aquele que a cultiva, além de constituir um comportamento antifraterno perante os que o cercam.

“A cólera... nada mais significa que um traço de recordação dos primórdios da vida humana em suas expressões mais grosseiras”.(Emmanuel/O consolador – questão nº 181).

2. Onde encontramos a causa da cólera?
No orgulho ferido, que faz com que o homem se revolte diante da menor contrariedade e de situações que o obriguem a aceitar-se como um ser ainda imperfeito e, portanto, com graves erros a corrigir.

“A energia serena edifica sempre... mas a cólera impulsiva... é um vinho envenenado cuja embriaguez a alma desperta sempre com o coração tocado de amargosos ressaibos”. (Emmanuel/O consolador – questão nº 181).

3. De que forma a cólera prejudica aquele que a ela se predispõe?
Alterando-lhe as funções orgânicas, debilitando-lhe a saúde e afastando-lhe os amigos, parentes e auxílio dos bons espíritos.

“Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio sua primeira vítima”.

4. Além de si próprio, como o homem colérico prejudica os outros?
As suas atitudes de revolta e rebeldia se refletem naqueles que o cercam, causando-lhes sofrimento e mal estar em razão de vê-lo nesse estado, fazendo-os se sentir infelizes.

“Se tem coração, não lhe será motivo de remorso fazer sofrer os entes a quem mais ama? E que pesar moral se, num acesso de fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar toda a sua vida!”.

5. Como defender os valores que julgamos corretos, sem nos encolerizar?
Agindo de conformidade com os mesmos, respeitando nos outros sua forma de pensar, sem perder a confiança em Deus e em sua sabedoria.

Para a definição consciente daquilo que realmente é correto, torna-se imprescindível a nossa constante ligação com Jesus.

6. Mas, e se formos bloqueados em nossa ação, que julgamos acertada, não haveria aí razão justa para nos revoltarmos?
Não. Isso não seria justificativa para a cólera. Tampouco, impor nossa vontade, quando não somos compreendidos, não resolve o problema. O segredo do sucesso está em aguardar pacientes, pois a verdade prevalecerá.

“(...) se a nossa paciência jaz tranqüila, na certeza de que temos procurado realizar o melhor ao nosso alcance, no aproveitamento das oportunidades que o Senhor nos concedeu, estejamos serenos na dificuldade e operosos na prática do bem...” (Emmanuel e André/Estude e Viva – nº14).

Conclusão:
A cólera é sentimento que contraria a lei de Deus e se expressa por atitudes rudes e grosseiras, acarretando sérios desajustes orgânicos àquele que a cultiva e fazendo deste a sua principal vítima. Além disso, revela um sentimento antifraterno de quem a ela se predispõe, perante os semelhantes. Trata-se de um mal cuja origem reside no orgulho ferido, que o homem terá de dominar, se deseja ser feliz.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CURSO COM ALEXANDRE XAVIER DE CAMARGO


DIA 14 DE NOVEMBRO,

EM 4 SÁBADOS SEGUIDOS, DAS 20:00 às 21:00hs, COMEÇA O CURSO SOBRE O TEMA:






" COMO USAR O SUBCONSCIENTE E A LEI DA ATRAÇÃO ".


INSCRIÇÕES/CONTATO:

E-Mail: mariajscampos@yahoo.com.br
Paltalk nikyname: mariajscampos


EMMANUEL RESPONDE

1 - O que estrutura espiritualmente o corpo de carne?

Emmanuel: O corpo espiritual ou perispírito é o corpo básico, constituído de matéria sutil, sobre o qual se organiza o corpo de carne.
2 - O erro de uma encarnação passada pode incluir na encarnação presente, predispondo o corpo físico às doenças? De que modo?

Emmanuel : A grande maioria das doenças tem a sua causa profunda na estrutura semi-material do corpo espiritual. Havendo o espírito agido erradamente, nesse ou naquele setor da experiência evolutiva, vinca o corpo espiritual com desequilíbrios ou distonias, que o predispõem à instalação de determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido.
3 - Quais os dois aspectos da Justiça?

Emmanuel: A Justiça na Terra pune simplesmente a crueldade manifesta, cujas conseqüências transitam nas áreas do interesse público, dilapidando a vida e induzindo à criminalidade; entretanto, esse é apenas o seu aspecto exterior, porque a Justiça é sempre manifestação constante da Lei Divina, nos processos da evolução e nas atividades da consciência.
4 - Qual a relação existente entre doenças e a Justiça?

Emmanuel: No curso das enfermidades, é imperioso venhamos a examinar a Justiça, funcionando com todo o seu poder regenerativo, para sanar os males que acalentamos.
5 - O que faz o Espírito, antes de reencarnar-se visando à própria melhoria?

Emmanuel: Antes da reencarnação, nós mesmos, em plenitude de responsabilidade, analisamos os pontos vulneráveis da própria alma, advogando em nosso próprio favor a concessão dos impedimentos físicos que, em tempo certo, nos imunizem, ante a possibilidade de reincidência nos erros em que estamos incursos.
6 - Que pedem, para regenerar-se, os intelectuais que conspurcaram os tesouros da alma?

Emmanuel: Artífices do pensamento, que malversamos os patrimônios do espírito, rogam impedimentos cerebrais, que se façam por algum tempo alavancas coercitivas, contra as nossas tendências ao desequilíbrio intelectual.
7 - Que medidas de reabilitação rogam os artistas que corromperam a inteligência?

Emmanuel: Artistas, que intoxicamos a sensibilidade alheia com os abusos da representação viciosa, imploramos moléstias ou mutilações, que nos incapacitem para a queda em novas culpas.
8 - Que emendas solicitam os oradores e pessoas que influenciaram negativamente pela palavra?
Emmanuel: Tarefeiros da palavra, que nos prevalecemos dela para caluniar ou para ferir, solicitamos as deficiências dos aparelhos vocais e auditivos, que nos garantam a segregação providencial.
9 - Que providências retificadoras pedem para si próprios aqueles que abraçaram graves compromissos do sexo?

Emmanuel: Criaturas dotadas de harmonia orgânica, que arremessamos os valores do sexo ao terreno das paixões aviltantes, enlouquecendo corações e fomentando tragédias, suplicamos as doenças e as inibições genésicas que em nos humilhando, servem por válvulas de contenção dos nossos impulsos inferiores.
10 - Todas as enfermidades conhecidas foram solicitadas pelo Espírito do próprio enfermo, antes de renascer?

Emmanuel: Nem sempre o Espírito requisita deliberadamente determinadas enfermidades de vez que, em muitas circunstâncias quais aqueles que se verificam no suicídio ou na delinqüência, caímos, de imediato, na desagregação ou na insanidade das próprias forças, lesando o corpo espiritual, o que nos constrange a renascer no berço físico, exibindo defeitos e moléstias congênitas, em aflitivos quadros expiatórios.
11 - Quais são os casos mais comuns de doenças compulsórias, impostas pela Lei Divina?

Emmanuel: Encontramos numerosos casos de doenças compulsórias, impostas pela Lei Divina, na maioria das criaturas que trazem as provações da idiotia ou da loucura, da cegueira ou da paralisia irreversíveis, ou ainda, nas crianças-problemas, cujos corpos, irremediavelmente frustrados, durante todo o curso da reencarnação, mostram-se na condição de celas regenerativas, para a internação compulsória daqueles que fizeram jus a semelhantes recursos drásticos da Lei. Justo acrescentar que todos esses companheiros, em transitórias, mas duras dificuldades, renascem na companhia daqueles mesmos amigos e familiares de outro tempo que, um dia, se cumpliciaram com eles na prática das ações reprováveis em que delinqüiram.
12 - A mente invigilante pode instalar doenças no organismo? E o que pode provocar doenças de causas espirituais na vida diária?

Emmanuel: A mente é mais poderosa para instalar doenças e desarmonias do que todas as bactérias e vírus conhecidos. Necessário, pois, considerar igualmente, que desequilíbrios e moléstias surgem também da imprudência e do desmazelo, da revolta e da preguiça. Pessoas que se embriagam a ponto de arruinar a saúde; que esquecem a higiene até se tornarem presas de parasitas destruidores; que se encolerizam pelas menores razões, destrambelhando os próprios nervos; os que passam, todas as horas em redes e leitos, poltronas e janelas, sem coragem de vencer a ociosidade e o desânimo pela movimentação do trabalho, prejudicando a função dos órgãos do corpo físico, em razão da própria imobilidade, são criaturas que geram doenças para si mesmas, nas atitudes de hoje mesmo, sem qualquer ligação com causas anteriores de existências passadas.
13 - Qual a advertência de Jesus para que nos previnamos dos males do corpo e da alma?

Emmanuel: Assinalando as causas distantes e próximas das doenças de agora, destacamos o motivo por que os ensinamentos da Doutrina Espírita nos fazem considerar, com mais senso de gravidade, a advertência do Mestre: “Orai e vigiai, para não cairdes em tentação”.

EMMANUEL
(Do livro “Leis Do Amor”, Francisco Cândido Xavier & Waldo Vieira)