quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER


À FRENTE DA MORTE

Todos nós, que estudamos o Espiritismo, consagrando-lhe as forças do coração, somos comumente assediados pela ideia da morte.
Como se opera a desencarnação? Que forças atuam no grande momento? 
De vez que quando, abordamos a experiência de pessoas respeitáveis e concluímos pela expectativa indagadora.
Por minha vez, lera descrições e teses preciosas, relativamente ao assunto, inclusive Bozzano e André Luiz. Desse último, recolhera informações que me sensibilizaram profundamente. Pouco antes de abrigar-me no leito da morte, meditara-lhe  as narrativas acerca da desencarnação de alguns companheiros e,  perante os  sintomas que me assaltavam, não tive qualquer dúvida. Aproximava -se o fim do corpo.

PREPARATIVOS

Não obstante o valor com que passei a encarar a situação e apesar do velho  hábito de convidar os amigos para o meu enterramento, em observações xistosas dos  dias de bom humor, descansei o organismo extenuado, na posição horizontal, mesmo porque me era totalmente impossível agir de outro modo.
O Irmão Andrade, Espírito benemérito dedicado à Medicina, com quem tive a  alegria de colaborar alguns anos, recomendara absoluto repouso e tão insistente se  fizera o conselho que fui obrigado a abandonar as últimas atividades doutrinárias.
O repouso físico, porém, agravava-me a preocupação mental. O impedimento  das mãos impunha-me verdadeira revolução íntima. No silêncio do quarto, os pensamentos como que se me evadiam do cérebro, postando-se ao meu lado a  argumentarem comigo. Alguns em posição simpática, outros em atitude adversa: “Velho Jacob –  proclamavam no fundo  –, você agora deixará as ilusões da carne. Viajará de regresso à realidade. Prepare-se. Que possui na bagagem? Não se esqueça de que a justiça tudo vê, tudo ouve, tudo sabe”.
Por vezes, interpunha recursos. A consciência compelia-me a retroceder aos  problemas nos quais funcionara com desacerto. Todavia, buscava atenuantes às próprias faltas. Alegava incertezas e imperativos da vida.
Confesso, no entanto, que as incursões, dentro de mim mesmo, angustiavam-me o ser. Se a vigília se tornara menos agradável, o sono fizera-se-me doloroso. Não  chegava a penetrar a região dos sonhos. Dispondo-me a dormir, supunha ingressar num modo inabitual de ser, em que a verdade se me patenteava com mais clareza.
Via-me noutra paisagem, noutro clima, ante, conhecido e desconhecido, qual se  estivera perante enorme multidão de pessoas desejosas de se fazerem compreendidas por mim.
De outras ocasiões, minha memória, recusava no tempo. Revia situações alegres e tristes, confortadoras e embaraçosas, de há muito extintas. Novamente no  corpo exausto, sentia extremas dificuldades  para reter as imagens e descrevê-las. O  cérebro acusava vida intensa, mas, no serviço de comunicação com o exterior, sentia-me  esgotado, tal qual um limão espremido.  A fé preparava-me o espírito, ante a grande transição; todavia, os receios  avultavam, as preocupações cresciam sempre.