quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER


MODIFICAÇÃO

O desvanecimento da força física determinava fenômeno singular em minha alma.
Surpreendia-me enternecido e sentimentalista. Acostumara-me a tratar com o  mundo, dentro do maior senso prático. Estimava a pregação da caridade, convicto, porém, de que a energia seca era indispensável nas relações humanas.
Muita vez, na intimidade de companheiros encarnados e entidades desencarnadas, sentira-me ríspido, contundente.  Fazia  frequentemente  o possível 
por não desmerecer a confiança dos que me  estimavam, entretanto, nem sempre 
sabia ser doce na extensão da personalidade.
Semelhante traço individual, que as lutas ásperas, da experiência humana me  impuseram, representava motivo de não poucos dissabores para mim, porque, no íntimo, aspirava a servir à fraternidade legítima, em nome do Cordeiro de Deus.
“OBREIROS DA VIDA ETERNA” – Nota do autor espiritual. 
Prostrado agora; inesperada sensibilidade passou a dirigir-me.  A renovação de caminhos obrigava-me a esquecer negócios e interesses terrenos.
Não me  era mais possível governar o leme do barco material e esse impositivo, ao que me pareceu, proporcionava-me acesso a mim mesmo.
Afetava-me a necessidade de ternura e compreensão, como se naquelas horas estivessem ingressando na idade juvenil.
O homem da ativa humana, obrigado a defender-se e a preservar o bem dos que lhe eram caros, através de mil modos diferentes, estava passando...
Quanto a isto, a morte gradual era uma realidade.
Redescobria-me, afinal.  Não era eu mais que um homem comum, reclamando socorro e carinho. Trazia  o coração opresso por aflições indizíveis. Se a dispneia  me roubava a  tranquilidade, os  temores povoavam-me o espírito de tristezas  e sombras. Jamais experimentara, antes,  tamanha sensação de exílio e deslocamento.
Na terra, estava cercado de benditas dedicações, por parte das filhas queridas e dos amigos abnegados e, a rigor, não me seduzia o regresso à juventude do corpo.
Seriam saudades do Além o fator determinante da inquietude que me martirizava?
Também não. Reconhecia os meus títulos de homem imperfeito que, de modo algum,  deveria sonhar como paraíso. Esperava-me, naturalmente, laborioso futuro em  qualquer parte.  No entanto, ansiedades dolorosas pesavam-me na alma abatida. Eu, que fazia  guerra às lágrimas, reconhecia-lhes, agora, o sumo poder; represavam-se-me nos  olhos, com frequência, quando, a sós, me entregava às longas meditações. Orava,   fervoroso, mas, ao correr da prece solitária, sentimentalizava-me qual criança. Entrara nas vésperas da total exoneração quanto aos deveres terrestres. Via-me  prestes a deixar o ninho planetário que me abrigara 
por dilatados anos...
A que porto demandaria?!...