domingo, 16 de dezembro de 2012

ESTUDO DO LIVRO " O ESPÍRITO DA VERDADE " - MARIA J. SANCHES


AS ESTATUETAS
Cap. X – Item 14 

O diálogo, à noite, entre as duas senhoras, continuava na copa: 
– Você, minha filha, deve perdoar, esquecer... Lá diz o Evangelho que costumamos ver o argueiro no olho do vizinho, sem ver 
a trave dentro do nosso... 
– Mas, mamãe, foi um insulto! O moço parou à frente da janela, viu as minhas estatuetas e atirou a pedra! 
E Dona Balbina, senhora espírita de generoso coração, prosseguia falando à filha, Dona Rogéria: 
– Ele é um pobre rapaz obsediado. 
– História! É uma fera solta, isto sim! 
– Mas Dona Margarida, a mãe dele, foi sempre amiga... 
– Isso não vem ao caso... Cada qual é responsável pelos próprios atos. A senhora sabe que ele é maior. 
– Precisamos perdoar para sermos perdoados... 
– Ser bom é uma coisa, e outra coisa é ser tolo! Darei queixa à polícia... Somente não queria fazê-lo sem ouvi-la; contudo, Fábio e eu estamos decididos. Meu Fábio já anda cansado do volante... 
Pobre marido!... Dinheiro cavado emcaminhão é duro de ganhar... 
– Meu conselho, filha, é desculpar e desculpar... 
– Mas o prejuízo é de dois mil cruzeiros, além da injúria! 
– Mesmo assim, o perdãoé o melhor remédio. 
– Ah! Que será do mundo, assim, sem corrigenda, sem justiça? 
Nesse instante, alguém bate à porta. 
Ambas atendem. 
O portador comunica: 
– Um desastre! O senhor Fábio trombou uma casa e a parede caiu! 
Mãe e filha correm para o local,que se encontra entulhado de multidão, e vêem a casa acidentada. É justamente a moradia de Dona Margarida, a mãe do rapaz que atirara a pedra. 
O caminhão, num lance estouvado, derribara uma parede lateral e penetrara, fundo, inutilizando todo o mobiliário da sala de refeições. 
Apagara-se a luz no quarteirão e as duas, sem que ninguém as reconhecesse, podiam escutar Dona Margarida, que sustentava uma vela acesa, diante do guarda de trânsito: 
– Peço-lhe – dizia ao fiscal – não abrir processo algum. Não quero reclamações. 
– Mas, Dona Margarida – insistia o funcionário –, a senhora vai ter aqui um prejuízo para mais de quarenta contos! 
– Não importa. Deus dará jeito. “Seu” Fábio e Dona Rogéria são meus amigos de muito tempo. 
As duas senhoras, porém, não puderam continuar ouvindo, pois a voz irritada de Fábio elevou-se da multidão e era necessário socorrê-lo, porque o infeliz estava ébrio. 

Hilário Silva