sábado, 3 de dezembro de 2011

ESTUDO DO LIVRO "SEXO E DESTINO - EXPOSITORA JULIANA SOLARE


Capítulo 2

Repousava Dona Beatriz no leito bem-posto, patenteando enorme cansaço. A doença, decerto, consumia-lhe a forma física, desde muito, porqüanto aos quarenta e sete anos de idade mostrava o rosto singularmente engelhado e o corpo leve. Refletia, ensimesmada, tristonha... Fácil de se lhe ver a preocupação, ante a crise iminente. Idéias a lhe fluírem, vivas e nobres, indicavam que se habituara à certeza da desencarnação próxima. Notava-se-lhe fixada no pensamento a convicção do viajante que atingira o término de espinhosa trilha, da qual, por fim, lhe competia sair. Conquanto tranqüila, inquietava-se pelos vínculos que a prendiam no mundo. Apesar disso, visualizava as portas do Além, plasmando formosos quadros íntimos, como quem sonha à luz da vigília, e recordava Neves, o pai que perdera na infância, qual se visse prestes a recuperá-lo, em definitivo, tal a extensão do amor que os acolchetava um ao outro. Observávamos, porém, sem dificuldade, que a alma afetuosa da enferma se dividia mais fortemente, na Terra, entre o esposo e o filho, dos quais se reconhecia em gradativo processo de inevitável separação. No aposento acolhedor, que alguns adereços ataviavam, tudo transparecia limpeza, reconforto, assistência, carinho. Ante o leito, encontramos sisudo enfermeiro desencarnado que Neves abraçou, demonstrando guardá-lo à conta de imensa estima. E apresentou-nos: - Amaro, temos aqui André Luiz, amigo e médico que, doravante, nos partilhará os serviços. Saudamo-nos cordialmente. Neves inquiriu, atencioso: — O irmão Félix veio hoje? — Sim, como sempre. Informei-me, então, de que o irmão Félix, desde muitos anos, era o superintendente de importante casa socorrista, ligada ao Ministério da Regeneração, em Nosso Lar. Famoso pela bondade e paciência, era conhecido como sendo um apóstolo da abnegação e do bom-senso. Não dispúnhamos, entretanto, de qualquer tempo para considerações pessoais. Dona Beatriz experimentava dores agudas e o companheiro mostrou o propósito de aliviá-la, através do passe confortativo, enquanto a senhora se via aparentemente a sós. Em grande prostração física, revelava profunda sensibilidade mediúnica. Oh! os sublimes pensamentos do leito de dor!... De olhos cerrados, a doente, embora não assinalasse a presença paterna, lembrava a ternura do genitor, que lhe parecia distante e inacessível no tempo. Identificava-se, de novo, com a ingenuidade infantil... Na acústica da memória, ouvia as canções do lar, voltava, encantada, às horas da meninice... Reconstituindo na imaginação as relíquias do berço, sentia-se no regaço paternal, à maneira da ave de regresso à penugem do ninho! Dona Beatriz chorava. Lágrimas de enternecimento inexprimível perolavam-lhe a face. E sem que a boca enunciasse o menor movimento, clamava intimamente com toda a alma: «pai, meu pai!...”
Meditai, vós que, no mundo, admitis para os desencarnados a indiferença da cinza! Para lá dos túmulos, amor e saudade muitas vezes se transformam, no vaso do coração, em pranto comburente! Neves cambaleou, agoniado... Enlacei-o, contudo, a pedir-lhe coragem. A ventania da angústia, porém, sobre o ânimo do companheiro atribulado, perdurou apenas alguns momentos.
Refeito, a recompor o semblante que o sofrimento transfigurara, espalmou a destra na fronte da filha e orou, suplicando o amparo da Bondade Divina. Chispas de luz, quais minúsculas flamas azulíneas, evolavam-lhe do tórax, a se projetarem naquele corpo fatigado, revestindo-o de energias calmantes. Emocionado, observei que Dona Beatriz se acomodava a suave torpor. E antes que pudesse enunciar qualquer impressão, uma jovem, figurando-se nas vinte primaveras da experiência física, entrou cautelosamente no quarto. Renteou conosco, sem perceber-nos, de leve, e tomou o pulso da enferma, verificando-lhe as condições. A recém-chegada esboçou o gesto de quem reconhecia tudo em ordem. Encaminhou-se, logo após, na direção de pequenino armário próximo e, munindo-se dos recursos necessários, voltou à cabeceira da dona da casa, aplicando-lhe injeção anestesiante. Dona Beatriz não mostrou a mínima reação, continuando a descansar, sem dormir. O concurso magnético de minutos antes insensibilizara-lhe os centros nervosos. Perfeitamente tranqüila, a moça, na qual observávamos a posição da enfermeira improvisada, retirou-se para um dos ângulos do aposento, a largar-se em acolhedora poltrona de vime. Em seguida, descerrou um dos segmentos da janela quadripartida, atraindo a corrente de ar fresco que nos bafejou sem alarde. Respirando à saciedade, a jovem, com grande surpresa para mim, acendeu um cigarro e passou a fumar distraidamente, dando a idéia de quem diligenciava fugir de si mesma. Neves fitou-a, deitando-lhe significativo olhar em que se mesclavam piedade e revolta e, indicando-a, discreto, informou-me: — Trata-se de Marina, contadora de meu genro, que se dedica ao comércio de imóveis... Agora, a pedido dele, desempenha funções de assistente... Evidente sarcasmo transparecia-lhe da palavra reticenciosa. - Imagine! — voltou a dizer — fumar aqui. numa câmara de dor, onde a morte está sendo esperada!... Contemplei Marina, cujos olhos denotavam recôndita inquietude. Manifestando ainda alguns laivos de respeitosa estima para com a nobre senhora estirada no leito, soprava, para além da janela, as baforadas cinzentas que lhe escapavam da boca. Repartindo a própria atenção entre ela e Amaro, o nosso amigo da esfera espiritual, Neves, conquanto mudo e constrangido, parecia querer falar à vontade e desinibir-se. Tentei, porém, adquirir mais amplo conhecimento da posição. Aproximei-me reverentemente da jovem, no propósito de sondá-la em silêncio e colher-lhe as vibrações mais intimas; contudo, recuei assustado. Estranhas formas-pensamentos, retratando-lhe os hábitos e anseios, em contradição com os nossos propósitos de socorrer a doente, fizeram-me para logo sentir que Marina se achava ali, a contragosto. A sua mente vagueava longe... Quadros vivos de esfuziante agitação ressumavam-lhe na cabeça... De olhar parado, escutava, adentro de si própria, a música brejeira da noite festiva, que atravessara na véspera, e experimentava ainda na garganta a impressão do gim que sorvera, abundante. Apesar de surgir-nos, superficialmente, à guisa de menina crescida, sob o turbilhão de névoa fumarenta, exibia telas mentais complexas, a lhe relampaguearem na aura imprecisa. Trazido pelas circunstâncias a colaborar na solução de um processo assistencial, sem qualquer intuito menos digno, passei a estudar-lhe o comportamento isolado. A Medicina terrestre, no futuro, para atender com eficácia, ao doente, examinar-lhe-á, com minúcias, a feição espiritual de todas as peças humanas que lhe articulam a equipe. Respeitoso, iniciei os apontamentos de ampla anamnese psicológica. Marina apresentou, a princípio, a figura de um homem amadurecido, cunhada por sua própria imaginação, a repetir-se-lhe, muitas vezes, acima da fronte. Ela e ele, juntos... Percebia-se-lhes, de pronto, a intimidade, adivinhava-se-lhes o romance... Fisicamente, semelhavam pai e filha; entretanto, pelas atitudes sentimentais, não conseguiam disfarçar a estuante paixão um pelo outro. Nos painéis sutis que surgiam e se desfaziam, alternadamente, mostravam-se ambos extasiados, ébrios de prazer, fosse aboletados no automóvel de luxo ou enlaçados na areia morna das praias, conchegados sob a proteção de arvoredo tranqüilo ou sorridentes em tumultuados abrigos de encantamento noturno... Deslumbrantes paisagens de Copacabana ao Leblon desfilavam por admirável fundo pictórico. A moça entrefechava as pálpebras para senhorear, com mais segurança, as reminiscências que lhe empolgavam os sentidos, para, logo após, mentalizar, surpreendentemente, outro homem, tão jovem quanto ela mesma, evidenciando-se-nos entregue às cenas de um filme interior, diferente... Formava novo tipo de palco para exibir a lembrança das próprias aventuras, no qual se destacava igualmente ao pé do rapaz, como se estivesse afeiçoada aos mesmos sítios, desfrutando companhias diversas... Ela e ele também juntos, no mesmo carro entrevisto ou na condição de pedestres felizes, saboreando refrescos ou repousando em animados entendimentos nos jardins públicos, sugerindo o encontro de crianças enamoradas, a entretecerem aspirações e sonhos.. Naqueles rápidos minutos de fixação espiritual, em que se exteriorizava tal qual era, Marina revelava a personalidade dúplice da mulher dividida entre o carinho de dois homens, jugulada por pensamentos de medo e inquietude, ansiedade e arrependimento. Neves, que de algum modo me partilhava a inspeção, quebrou a calma reinante, enunciando, abatido: — Está vendo? Julga que é fácil para mim, pai da doente, suportar aqui semelhante criatura? Tratei de consolá-lo e, por solicitação dele próprio, passamos a pequeno salão de leitura, contíguo ao aposento da enferma, a fim de que pudéssemos refletir e conversar.

domingo, 20 de novembro de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 24 ÍTENS 1 a 5 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO PONHAIS A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE

1. Qual o sentido da frase “(...) não se acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire”?

Significa que, assim como não se acende uma luz senão para dissipar a escuridão e iluminar o ambiente, do mesmo modo aquele que possui o conhecimento das leis divinas não deve guardá-lo para si, mais divulgá-la através da palavra e, sobretudo, do exemplo.

Os que conhecem as leis divinas deverão divulgá-las para o maior número possível de criaturas. Não espalhar os conhecimentos espirituais é esconder egoisticamente a luz que poderia beneficiar a muitos.

2. Por que “nada há secreto que não haja de ser descoberto”?


Porque tudo que se acha oculto será descoberto um dia, e o que o homem ainda não pode compreender lhe será sucessivamente desvendado, senão aqui na Terra, em mundos mais adiantados.

Deus nos concede ocasiões constantes de esclarecimento, assegurando-nos o entendimento progressivo de suas leis.

3. Por que Jesus ensinava por parábolas se, ao ouvi-las, nem todos compreendiam suas mensagens?


Porque as verdades eternas contidas em suas parábolas, embora ouvidas por muitos, só podiam ser compreendidas por aqueles que já possuíam um determinado grau de adiantamento espiritual.

“Falo-lhes por parábolas, porque vendo, não vêem e, ouvindo, não escutam e não compreendem.”

4. O que devemos entender por “(...) àquele que já tem, mais lhe será dado... àquele que não tem, mesmo o que tem se lhe tirará”?

Devemos perceber, nesta passagem, uma referência aos bens espirituais: a observância dos preceitos divinos faz com que estes bens, que constituem a verdadeira riqueza do espírito, aumentem incessantemente. Por outro lado, aqueles que se ocupam apenas da vida material, esquecem-se de desenvolver os bens espirituais e o pouco progresso que possuem fica estacionado.

Não sabendo conservar nem cultivar a semente das verdades eternas, ela acaba por ser temporariamente ofuscada, dando a sensação de perda.

5. Embora a palavra de Jesus seja de conhecimento público, por que o significado de seus ensinamentos ainda permanece oculto para muitos?


Porque somos capazes de aprender apenas aquilo que está à altura do nosso entendimento. E esse entendimento é fruto do progresso intelectual e moral alcançado por nosso espírito, através de sucessivas encarnações.
Quando o significado de um ensinamento transcende os limites da nossa compreensão, ele nos confunde ou passa despercebido à nossa razão, não nos trazendo nenhum proveito.

6. Jesus pretendia que permanecêssemos ignorantes quando ocultou o sentido de alguns de seus ensinamentos?

Não. Ocultou-nos temporariamente, para que a confusão e a dúvida não se estabelecessem entre nós. Temos, a inteligência, que orienta o nosso desejo de conhecimento e nos permite a descoberta das respostas para nossas indagações.


Há sempre um momento em que a lei de progresso nos impele a buscar esses conhecimentos.

Conclusão:

Devemos espalhar os conhecimentos que possuímos em benefício de todos, pois a verdade não é para ser escondida de ninguém. Entretanto, ela pode ser gradualmente percebida por aqueles que se propõem a ir ao seu encontro.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ESTUDO DO LIVRO "SEXO E DESTINO - EXPOSITORA JULIANA SOLARE



Capítulo 1

Qual acontece entre os homens, no Mundo Espiritual que os rodeia, sofrimento e expectação esmerilam a alma, disciplinando, aperfeiçoando, reconstruindo...
Enquanto envergamos a veste física, habitualmente imaginamos o paraíso das religiões encravado para lá da morte. Sonhamos o apaziguamento integral dos sentidos, o acesso à alegria inefável que anestesie toda lembrança convertida em chaga mental. No entanto, atravessada a fronteira de cinza, eis-nos erguidos à responsabilidade inevitável, ante o reencontro da própria consciência.
Uma vida humana, a continuar-se naturalmente no Além, assume, assim, a forma de partida, em dois tempos distintos. Diferem campos e vestimentas; entretanto, a luta da personalidade, de um renascimento a outro na Terra, afigura-se laborioso prélio em duas fases. Anverso e reverso da experiência. O berço inicia, O túmulo desdobra. Com raríssimas exceções na regra, somente a reencarnação consegue transfigurar-nos de modo fundamental.
Deixamos no esquife o casulo mirrado e transportamos conosco, na mesma ficha de identificação pessoal, para outras esferas, os ingredientes espirituais que cultivamos e atraímos.
Inteligências em evolução na eternidade do espaço e do tempo, os Espíritos domiciliados na Moradia Terrestre, em abandonando o invólucro de matéria mais densa, assemelham-se, figuradamente, aos insetos. Larvas existem que se retiram do ovo e revelam-se na condição de parasitas, enquanto que outras se transformam, de imediato, em fale-nas de prodigiosa beleza, ganhando altura.
Encontramos criaturas que se afastam do estojo carnal, entrando em largos processos obsessivos, nos quais se movimentam à custa de forças alheias, ao lado de outras que, de pronto, se elevam, aprimoradas e belas, a planos superiores da evolução. E entre as que se agarram profundamente às sensações da natureza física e as que conquistam a sublime ascensão para estágios edificantes, no Grande Além, surge a gama infinita das posições em que se graduam.
Emergindo na Espiritualidade, após a desencarnação, sofremos, a princípio, o desencanto de todos os que esperavam pelo céu teológico, fácil de granjear.
A verdade aparece por alavanca renovadora. Padecendo ainda espessa amnésia, relativamente ao passado remoto, que descansa nos porões da memória, somos então defrontados por velhos preconceitos que se nos entrechocam no íntimo, tombando despedaçados. Suspiramos pela inércia que não existe. Exigimos resposta afirmativa aos absurdos da fé convencionalista e dogmática que reclama a integração com Deus para si só, excluindo, pretensiosamente, da Paternidade Divina, os que não lhe comunguem a visão acanhada.
De semelhantes conflitos, por vezes terríveis e extenuantes, nos recessos da mente, muitos de nós saímos abatidos ou revoltados para extensas incursões no vampirismo ou no desespero; a maior parte dos desencarnados, porém, a pouco e pouco se acomoda às circunstâncias, aceitando a continuidade do trabalho na reeducação própria, com os resultados da existência aparentemente encerrada no mundo, à espera da reencarnação que possibilite renovação e recomeço...
Essas ponderações afogueavam-me o pensamento, reparando a tristeza e o cansaço do meu amigo Pedro Neves, devotado servidor do Ministério do Auxílio. (1) Partilhando expedições arrojadas e valorosas em atividade benemérita, ainda não lhe víramos hesitações quaisquer. Veterano de empreendimentos socorristas, jamais entremostrara desânimo ou fraqueza, por mais opressivo se lhe evidenciasse o peso de compromissos e obrigações.
Advogado que fora, na existência última, caracterizava-se por extrema lucidez, no exame dos problemas que as eventualidades do caminho apresentassem.
Sempre denodado e humilde; agora, porém, enunciava sensíveis alterações de comportamento.
Soubera-o com breves encargos, na esfera física, para atender, de modo mais direto, a necessidades de ordem familiar, cuja extensão e natureza não me houvera sido possível perceber.
Desde então, mostrava-se arredio e desencantado, copiando o feitio de companheiros recém-chegados da Terra. Isolava-se em funda reflexão. Fugia à conversação fraterna. Queixava-se disso ou daquilo. E vez por outra, em serviço, denotava lágrimas que não chegavam a cair.
Ninguém ousava sondar-lhe o sofrimento, tal a fibra moral em que se lhe exprimiam as atitudes.
Provocando, porém, algumas horas de desafogo, num banco de jardim, busquei habilmente lançá-lo à extroversão, alegando dificuldades que me preocupavam.
Referi-me aos descendentes que deixara no mundo e às inquietações que me causavam.
Pressentia-lhe na tristeza a presença de lutas domésticas a lhe torturarem a alma, quais ulcerações em recidiva, e não me enganei.
O amigo absorveu a isca afetiva e desenovelou os sentimentos.

(1) Organização de “Nosso Lar”. — Nota do Autor espiritual.

A principio, falou vagamente das apreensões que lhe assomavam ao espírito agoniado. Aspirava a esquecer, alhear-se; no entanto... a retaguarda familiar no mundo lhe infligia dolorosas reminiscências difíceis de extirpar.
— É a esposa quem o aflige, assim tanto?
— Aventurei, procurando localizar o carnicão da mágoa que lhe abria as comportas do pranto silencioso.
Pedro fitou-me com a postura dolorida de um cão batido e respondeu:
— Há momentos, André, nos quais será preciso biografar-nos, ainda que superficialmente, para vascolejar o pretérito e extrair dele a verdade, somente a
verdade...
Meditou, algo sufocado por instantes, e prosseguiu:
— Não sou homem que me deixe governar por sentimentalismos, embora aprecie as emoções pelo justo valor. Além disso, a experiência, desde muito, me ensinou a raciocinar. Há quarenta anos, moro aqui e, há quase quarenta anos, a esposa compeliu-me a absoluto desinteresse do coração. Deixei-a quando a mocidade das energias físicas lhe estuava no sangue, e Enedina, compreensivelmente, não pôde sustentar-se a distância das exigências femininas.
E prosseguiu esclarecendo que ela se associara a outro homem, num segundo casamento, entregando-lhe seus três filhos por enteados. Esse novo marido, entretanto, arredou-a completamente de sua convivência espiritual. Homem ambicioso, senhoreou os cabedais que ele ajuntara, logrando multiplicá-los imensamente, à força de astúcia em arrojadas empresas comerciais. E agiu com tanta leviandade que a esposa, dantes simples, se apaixonou pelas comodidades demasiadas, gastando o tempo terrestre em prodigalidades e tafulices, até que se rojou às derradeiras viciações nos desvarios do sexo. Observando o esposo em aventuras galantes, de modo permanente, na posição de cavalheiro rico e desocupado, quis desforrar-se, estabelecendo para si mesma desordenado culto ao prazer, mal sabendo que apenas se transviava, em lamentáveis desequilíbrios.
— E meus dois filhos, Jorge e Ernesto, ludibriados pelo fascínio do ouro com que o padrasto lhes comprava a subserviência, enlouqueceram no mesmo delírio do dinheiro fácil e se animalizaram a tal ponto que nem de leve guardam qualquer traço de minha memória, não obstante serem atualmente negociantes abastados, em idade madura...
— A esposa, no entanto, ainda se encontra no mundo físico? — arrisquei, cortando a pausa longa, para que a explicação não esmorecesse.
— Minha pobre Enedina voltou, há dez anos, abandonando o corpo pela imposição da icterícia, que lhe apareceu por verdugo invisível, evocado pelas bebidas alcoólicas. Fitando-a, edemaciada, vencida, ensaiei alarmado todos os processos de socorro à minha disposição...
Atemorizava-me a perspectiva de vê-la escravizada às forças aviltantes a que se jungira sem perceber; ansiava retê-la no corpo de carne, como quem resguarda uma criança inconsciente em disfarçado refúgio. Entretanto, ai de mim! Colhida por entidades infelizes, às quais se consorciou levianamente, em vão procurei estender-lhe algum consolo, porquanto ela mesma, depois de desencarnada, se compraz na viciação, tentando a fuga impossível de si própria. Não há outro recurso senão
esperar, esperar...
— E os filhos?
— Jorge e Ernesto, hipnotizados pela riqueza material, para mim fizeram-se inabordáveis.
Mentalmente, não me registram a lembrança. Intentando captar-lhes cooperação e simpatia, o padrasto chegou a insinuar que não seriam meus filhos e sim dele próprio, através de união com minha esposa. ao tempo de minha experiência terrestre, o que Enedina, infelizmente, não desmentiu...
O companheiro esboçou um sorriso amarelo e considerou:
— Imagine! Na carne, o medo é comum, à frente dos desencarnados e, em meu caso, fui eu quem se afastou do ambiente doméstico, sob sensações de insopitável horror... Ainda assim, a bondade de Deus não me arrojou à solidão, em se tratando da ternura familiar. Tenho uma filha de quem jamais me separei pelos laços do espírito... Beatriz, que deixei na flor da meninice, suportou pacientemente as afrontas e conservou-se fiel ao meu nome. Somos, assim, duas almas, na mesma faixa de entendimento...
Pedro enxugou os olhos e acrescentou:
— Agora, com quase meio século de existência entre os homens, presa embora ao carinho que consagra ao esposo e ao filho único, prepara-se Beatriz para o regresso... Minha filha vem atravessando os derradeiros dias terrenos, com o corpo
torturado pelo câncer...
— Mas, atormenta-se você por isso? A idéia do reencontro pacífico não será, antes, motivo para alegrar-se?
— E os problemas, meu amigo? Os problemas do grupo consangüíneo? Por muitos anos, estive à margem de todas as tricas do navio familiar... Fizera-me ao oceano largo da vida... Agora, por amor à filha inesquecível, sou compelido a topar, com espírito de caridade, a irreflexão e o descaramento. Estou inapto, desambientado... Desde que me postei à cabeceira da doente querida, vejo-me na condição do aluno debilitado pela expectativa de erros constantes..
Dispunha-se Neves a prosseguir, mas urgente chamado de serviço nos impeliu à separação e, conquanto diligenciando acalmá-lo, despedi-me, sob o compromisso de irmanar-me a ele, nas tarefas de assistência à enferma, de modo mais intenso, a partir do dia seguinte.

ESTUDO DO LIVRO "SEXO E DESTINO - EXPOSITORA JULIANA SOLARE


Sexo e Destino

Sexo e destino, amor e consciência, liberdade e compromisso, culpa e resgate, lar e reencarnação constituem os temas deste livro, nascido na forja da realidade cotidiana.
Entretanto, leitor amigo, após a oração do benfeitor, que se pronunciou no limiar, nada mais nos compete que não seja entregar-te a narrativa que a Divina Providência nos permitiu alinhavar, não pelo exclusivo propósito de desnudar a verdade, mas sim no objetivo de aprender com a biblioteca da experiência.
Cremos seja desnecessário esclarecer que os nomes dos protagonistas desta história real foram substituidos por óbvias razões e que a presente biografia de grupo não pertence a outras criaturas senão a eles mesmos que no-la permitiram redigir, para a nossa edificação, depois de naturalmente consultados.
Solicitamos, ainda, permissão para dizer-te que não foi retirado um só til das verdades que a entretecem — verdades da verdade, que, fremindo de capítulo a capitulo, carreia consigo, em passagens numerosas, a luz de nossas esperanças e o amargo sabor de nossas lágrimas.

ANDRÉ LUIZ

Uberaba, 4 de julho de 1963.

ESTUDO DO LIVRO "SEXO E DESTINO - EXPOSITORA JULIANA SOLARE


Prece no Limiar

Pai de Infinita Bondade!
Este é um livro em que permitiste ao nosso André Luis traçar, em lances
palpitantes da existência, alguns conceitos da Espiritualidade Superior, em torno de sexo e destino — fotografia verbal de nossas realidades amargas que entremeaste
de esperanças eternas.
Entregando-o aos companheiros reencarnados no mundo, queremos recordar Jesus — o Enviado de Tua Ilimitada Misericórdia — naquele dia de sol em Jerusalém...
Na praça repleta de acusadores, escribas e fariseus apresentaram-lhe sofredora mulher que diziam haver apanhado em transgressão, ao mesmo tempo que o inquiriam, experimentando-lhe a conduta:
— Mestre, esta mulher foi encontrada em adultério... A lei manda apedrejar. Tu, porém, que dizes?
O Mestre contemplou demoradamente os zeladores de Moisés, e, porque nada mais adiantaria explicar-lhes ao cérebro embotado de preconceitos, disse-lhes, alongando a palavra a todos os moralistas dos séculos porvindouros:
— Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra!...
Jerusalém, agora, é o mundo!
Na praça extensa das convenções humanas, empenha-se o materialismo na dissolução dos valores morais, com escárnio manifesto à dignidade humana, enquanto religiões veneráveis digladiam com a Natureza, tentando, em vão, bloquear a vida, qual se quisessem ilaquear a si próprias. Ao tremendo conflito dessas forças gigantescas que lutam pelo dominio moral da Terra, enviaste, a Doutrina Espírita, em nome do Evangelho do Cristo, para asserenar os corações e comunicar-lhes que o amor é a essência do Universo; que as criaturas te nasceram do Álito divino para se amarem umas às outras; que o sexo é legado sublime e que o lar é refúgio santificante, esclarecendo, porém, que o amor e o sexo plasmam responsabilidades naturais na consciência de cada um e que ninguém lesa alguém nos tesouros afetivos, sem dolorosas reparações.
Este volume pretende afirmar, ainda, que, se não podes subtrair os culpados às conseqüências do erro em que se tornaram incursos, não permites que os vencidos sejam desamparados, desde que te aceitem a luz retificadora para o caminho. Mostra que, em tua bênção, os delinqüentes de ontem, hoje redimidos, se transfiguram em teus mensageiros de redenção para aqueles mesmos que lhes caíram, outrora, nas ciladas sombrias.
Abençoa, pois, o presente relato estu ante de verdade e esperança, e, ao confiá-lo aos nossos irmãos do mundo, deixa possamos lembrar-lhes que a existência física, seja na infância ou na mocidade, na madureza ou na velhice, é sempre dom inefável que nos cabe honorificar e que, mesmo detendo um corpo carnal rastejante ou disforme, mutilado ou enfermiço, devemos repetir diante da tua Sabedoria Incomensurável:
— Obrigado, meu Deus!

EMMANUEL

Uberaba, 4 de julho de 1963.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ESTUDO DO LIVRO LIBERTAÇÃO - CAPÍTULO 15 - JULIANA SOLARE



Finalmente, O Socorro

Entusiasmado com a atuação do nosso Instrutor, Saldanha entregou-se a gestos de humildade quase ingênua, e tanto ele quanto Leôncio passaram a cooperar ativamente conosco nos preparativos em benefício da solução que buscávamos.
Ambos solicitaram continuidade do mesmo quadro ambiente, para não acordarmos, contra nós, desavisadamente, a fúria das entidades ignorantes que se mantinham em posição contrária à nossa. Poderiam organizar-se em legião ameaçadora e estragar-nos os melhores projetos.
Conheciam processos de auxilio, iguais àquele em que funcionávamos e permaneciam informados quanto ao potencial da zona inimiga, do centro da qual poderiam surgir, de imediato, centenas de adversários, em massa, contra aquela instituição doméstica menos preparada a resistir um cerco de semelhante jaez.
Ouvindo-lhes os pareceres, atentei para a situação de Gaspar, sem dissimular minha justificada estranheza. O hipnotizador, de presença desagradabilíssima pelos fluidos menos simpáticos que emitia, continuava ausente de nossas conversações. O próprio olhar, quase vítreo, incapaz de fixar-nos, dava idéia de paralisia da alma, de petrificação do pensamento.
Não podendo sofrear a curiosidade por mais tempo, indaguei de Gúbio quanto ao que lhe ocorria. Que significava aquela máscara psicológica do magnetizador das sombras? Jazia surdo, quase cego, plenamente insensível. Respondia às mais longas e importantes perguntas, através de monossílabos, de modo vago, e demonstrava insistência irredutível, no setor de flagelação à vítima.
O orientador, agora liberto de cuidados, esclareceu, prestimoso:
— André, há obsessores marcadamente endurecidos de coração que se petrificam quando sob a influência de perseguidores ainda mais fortes e mais perversos que eles mesmos. Inteligências temíveis das trevas absorvem certos centros perispíriticos de determinadas entidades que se revelam pervertidas e ingratas ao bem e utilizam-nas como instrumentalidade na extensão do mal que elegeram por sementeira na vida. Gaspar encontra-se nessa situação. Hipnotizado por senhores da desordem, anestesiado pelos raios entorpecentes, perdeu transitoriamente a capacidade de ver, ouvir e sentir com elevação. Demora-se em aflitivo pesadelo, à maneira do homem comum, dentro do qual a dilaceração de Margarida se lhe torna a ideia fixa, obcecante.
— Mas não poderá reintegrar-se na posse dos sentidos naturais? — inquiri, sob forte impressão.
— Perfeitamente. O magnetismo é uma força universal que assume a direção que lhe ditarmos. Passes contrários à ação paralisante restitui-lo-ão à normalidade. Tal operação, contudo, exige momento adequado. Há necessidade, no feito, de recursos regeneradores intensivos, suscetíveis de serem encontrados junto a serviços de grupo, em que a colaboração de muitos se entrosa a favor de um só, quando necessário.
Nesse instante, Saldanha abeirou-se de nós e pediu instruções, sem rebuços.
— Meu benfeitor — disse a Gúbio, com reverência —, compreendo que demonstrar, de pronto, a nova situação seria atrair sobre nosso esforço terrível reação de quantos passarão a vigiar-nos desapiedadamente. Com franqueza, vejo-me num campo novo e desconheço o caminho por onde recomeçar.
O interpelado anuiu com bondade:
— Sim, Saldanha, permaneces bem inspirado. Estamos fracos para batalhar em conjunto. É indispensável que Margarida alcance melhoras positivas, antes de tudo. Aguardemos a noite.
Espero situar o caso em algum núcleo de amor fraternal. Até lá, convém guardarmos o ambiente doméstico sem alterações, mesmo porque Gaspar é outro doente, exigindo especial atenção: traz o veículo perispirítico enfermiço e viciado, reclamando caridoso concurso.
Mal não havia terminado a observação e Gabriel entrou no aposento e abeirou-se da esposa, desalentada e abatida.
Gúbio agora, senhor da situação, aproximou-se do rapaz, sem alarde, e colocou sobre a fronte dele a destra paternal, dominando-lhe, no cérebro, as zonas diretas da inspiração, dando curso, naturalmente, a forças magnéticas suscetíveis de inclinar
o problema de assistência a solução favorável.
Reparei que o esposo de Margarida, sob a influência renovadora, passou a contemplar a companheira, enternecidamente. Tomou-lhe as mãos com sincera ternura e falou, espontâneo:
— Margarida, dói-me ver-te assim, sob desânimo tão profundo.
Pequena pausa pesou sobre ambos; contudo, ao cabo de alguns momentos, tornou o marido de olhos iluminados por indefinível esperança:
— Ouve! Uma idéia súbita me brotou no pensamento. Desde muitos dias estamos atropelados por remédios violentos e medidas drásticas que não te socorreram com a eficiência precisa.
Consentes em que eu peça, em nosso favor, o concurso de algum amigo interessado em Espiritismo Cristão?
Tocada por aquela onda de abençoado carinho que fluía imperceptivelmente de Gúbio, por intermédio de Gabriel, a doente abriu os olhos, cheios de interesse novo, como quem encontrara inesperada senda salvadora e concordou, feliz:
— Estou pronta. Aceitarei qualquer recurso que consideres por tua vez justo e digno.
O esposo, num transporte de esperança, saiu precipitadamente, acompanhado de Gúbio, que nos recomendou a permanência ao lado de Saldanha, em preparativos de serviço para a noite próxima.
Na intimidade do ex-perseguidor, não perdi tempo.
Internara-me em atividade absolutamente nova para mim e desejava ampliar conhecimentos e recursos. Considerei que um trabalhador incompleto, em minha posição, precisa estudar sempre, e, aproximando-me do verdugo transformado em amigo, interroguei:
— Saldanha, como explicar tamanho temor de nosso lado, perante os companheiros retardados?
Ele fixou em mim o olhar espantado e observou:
— Meu caro, conheço suficientemente este capitulo. Se nos dispusermos a lutar abertamente, conservando conosco esta jovem senhora enferma, em padrão físico de menor resistência, o malogro em nossos objetivos de socorro a ela será questão de alguns minutos. Nos círculos inferiores em que nos encontramos, a maldade é força dominante em quase toda parte, contando com intérpretes que nos vigiam através de todos os flancos e não nos é fácil escapar. Para combater o mal e vencê-lo, urge possuir a prudência e a abnegação dos anjos. De outro modo é perder o tempo e cair, sem defesa, em perigosas armadilhas das trevas.
O novo aliado relanceou o olhar pelo quarto, a fim de certificar-se de que não vínhamos sendo ouvidos por adversários comuns, e prosseguiu:
— Eu mesmo, logo depois de minha vinda, tudo fiz por fugir ao mal, mas em vão. Velhas orações por mim aprendidas nos recessos do lar, que o tempo não consumiu de todo em meu espírito, articuladas então por minha boca, mereceram sarcasmo cruel dos inimigos do bem. Em verdade, pensamentos menos dignos me povoavam a cabeça, mas a vontade de melhorar-me era sincera em meu coração. Esforcei-me de alguma sorte, reagi quanto pude; todavia, meu impulso para o bem legitimo era, no fundo, um sopro frágil à frente de um tufão. Ao contacto dessa gente desencarnada, infeliz e vingativa, perdi o resto da compostura moral que procurava debalde sustentar. Se a alma, liberta do corpo de carne, não se encontra amparada em princípios robustos de virtude santificante, sentida e vivida, é quase impossível sair vitoriosa das ciladas escuras que nos armam.
— Entretanto — objetei —, não será essa atitude mero reflexo da ignorância insustentável?
— Admito que sim — elucidou o obsessor modificado, surpreendendo-me pela clareza de argumentação —; todavia, não desconheces que a maior dificuldade não nasce da ignorância em si mesma, mas de nossa dureza contrária à capitulação indispensável. A sabedoria golpeia a insciência, a bondade humilha a perversidade, o amor verdadeiro sitia o ódio num círculo de ferro; no entanto, aqueles que são surpreendidos no campo da inferioridade manobram contra o bem, deliberadamente, mil armas de despeito, calúnia, inveja, ciúme, mentira e discórdia, provocando perturbação e desânimo.
Assinalando-lhe a palavra tão fortemente esclarecida, cuja desenvoltura e acerto me assombravam, ponderei:
— Teu próprio caso é um exemplo vivo. Espanta-me o cabedal de teus comentários inteligentes. De nenhum modo poderias ser um ignorante.
— Ah! sim! — replicou o ex-verdugo, sorrindo — inteligência não me falta. Leitura, idem.
Estou positivamente informado com relação aos deveres de ordem geral que me competem.
Faltava-me, contudo, a companhia de alguém que conseguisse mostrar-me á eficiência e a segurança do bem, no meio de tantos males. Imagina um esfomeado a ouvir discursos. Acreditas que as palavras lhe satisfaçam as exigências do estômago? Isso foi precisamente o que me ocorreu.
Preocupado com a esposa e a nora, desencarnadas em terrível desequilíbrio, atormentado pelo filho louco e pela neta em perigo, não havia “espaço mental” em minha cabeça para simplesmente louvar teorias salvadoras. O benfeitor Gúbio, no entanto, demonstrou-me que o bem é mais poderoso que o mal. Isto para mim bastou, à saciedade. Nas dúvidas, o esclarecimento benéfico traduz verdadeira caridade.
Reparou em derredor, com extrema desconfiança no olhar, e acentuou:
— Sei, porém, de experiência própria, quem são os revoltados em cuja equipe trabalhei até ontem. Francamente, ainda não sei com certeza que será de mim mesmo. Perseguir-me-ão sem tréguas. Se puderem, conduzir-me-ão ao vale de miséria e penúria. Noto, contudo, que transformação salutar me possui agora o espírito. Convenci-me de que o bem pode vencer o mal e espero que o nosso Instrutor não me abandone. Ainda que eu sofra, a ele acompanharei. Não pretendo regressar ao repugnante caminho percorrido.
Leôncio, que nos fitava atencioso, registrando-nos a conversação, asseverou por sua vez:
— Eu também não mais posso servir nas fileiras da vingança. Estou farto...
Hipotequei aos dois nossa simpatia e prometi-lhes, em nome de nosso orientador, que lhes não faltaria acolhimento em plano superior.
Sorriam satisfeitos, quando Gúbio retomou ao compartimento da enferma, notificando que o problema fora resolvido. Margarida e o esposo compareceriam na noite próxima a uma reunião familiar, importante setor de socorro mediúnico.
A doente encarnada e Gaspar, o hipnotizador traumatizado, receberiam recursos eficientes.
Com ansiedade, aguardamos o anoitecer.
De quando em quando, Gúbio colocava a destra sobre a fronte da enferma, como a acentuar-lhe a resistência geral.
Por volta de vinte horas, um automóvel recebia o casal, que se fêz acompanhado por nós e pelo grande número de “ovóides”, ainda ligados à cabeça da enferma, sob processo de imantação.
Saldanha tivera o cuidado de despistar todos os companheiros perturbadores que intentavam seguir-nos. Tranquilizou-os com palavras amigas, afirmando, aliás com muita razão, que o assunto vinha sendo bem tratado.
Alcançando confortadora vivenda, fomos admiravelmente recebidos.
O senhor Silva, dono da casa, acolheu Gabriel e a esposa com inequívocas demonstrações de carinho, e Sidônio, o diretor espiritual dos trabalhos que se realizariam, estendeu-nos braços fraternais.
Lá dentro, quatro cavalheiros e três senhoras, os componentes habituais do círculo doméstico, ao que fomos informados, passaram a trocar idéias com os visitantes, reanimando-os e instruindo-os, até que o relógio indicasse o momento exato para os serviços da noite.
À indagação de Gúbio, Sidônio esclareceu, muito seguro:
— Nosso agrupamento produz satisfatoriamente; entretanto, poderia levar a efeito mais ampla colheita de bênçãos se a confiança no bem e o ideal de servir fôssem mais dilatados em nossos colaboradores no plano físico. Sabemos que a instrumentalidade é essencial em qualquer serviço.
O braço é intérprete do pensamento, o operário é complemento do administrador, o aprendiz é veículo do mestre. Sem companheiros encarnados que nos correspondam aos objetivos na ação santificante, como estabelecer a espiritualidade superior na Crosta da Terra?
Efetivamente, encontramos irmãos dispostos ao concurso fraternal, embora, forçoso é dizer, a maioria espere a mediunidade espetacular, a fim de cooperar conosco. Não procuram saber que todos somos médiuns de alguma força boa ou má, em nossas faculdades receptivas. Não aceitam as necessidades do serviço que nos aconselham a buscar desenvolvimento substancial na auto-iluminação, através do serviço aos nossos semelhantes, e tocam a exigir dons medianímicos, quais se fôssem dádivas milagrosas a serem transmitidas graciosamente àqueles que se lhes candidatam aos benefícios, por intermédio da antiga “varinha de condão”. Esquecem-se de que a mediunidade é uma energia peculiar a todos, em maior ou menor grau de exteriorização, energia essa que se encontra subordinada aos princípios de direção e à lei do uso, tanto quanto a enxada que pode ser mobilizada para servir ou ferir, conforme o impulso que a orienta, melhorando sempre, quando em serviço metódico, ou revestindo-se de ferrugem asfixiante e destrutiva, quando em constante repouso. Nossos amigos não percebem o valor de uma atitude desassombrada e permanente de fé positiva, dentro do caminho louvável, haja o que houver, e, não obstante cuidarmos devotadamente da crença deles, com a mesma ternura consagrada pelo lavrador vigilante à plantinha tenra que encerra a esperança do porvir, basta que espíritos perturbadores ou maliciosos os visitem, sutis, à maneira de melros num arrozal, e lá se vão os germens superiores que lhes confiamos, incessantemente, ao solo do coração. De um instante para outro, duvidam de nosso esforço, desconfiam de si mesmos, cerram os olhos ante a grandeza das leis que os cercam nos ângulos da natureza terrestre, e as energias mentais que deveriam centralizar em construção ativa e santificante, com vistas ao aprimoramento próprio, são desbaratadas quase que diariamente pela argumentação mentirosa de espíritos ingratos e menos permeáveis ao bem.
Verificando-se espontânea parada, aventurei-me a considerar:
— A referência abrange um grupo assim tão harmoniosamente constituído quanto este? Será crivel que o conjunto organizado sobre propósitos tão sadios dê guarida fácil às forças deprimentes?
O diretor da casa sorriu bem humorado e respondeu com franqueza:
— Sim, coletivamente considerando, reúnem-se agora, sob este teto amigo, e procuram-nos a companhia espiritualizante. Isto, porém, acontece por seis horas, nas cento e sessenta e oito horas de cada semana. Enquanto conosco, deixam-se envolver nas suaves irradiações da paz e da alegria, do bom ânimo e da esperança, registrando-nos as vibrações edificantes das quais desejávamos fôssem eles nossos portadores permanentes e seguros na esfera vulgar da luta humana. Todavia, tão logo se encontram a pequena distância de nossas portas, aceitam ou provocam milhares de sugestões sutis, diferentes das nossas. Choques de pensamentos adversos ao nosso programa, nascidos da mente de encarnados e desencarnados, vergastam-nos sem piedade. Raros se capacitam de que a fé representa bênção suscetível de ser aumentada, indefinidamente, e fogem ao serviço que a conservação, a consolidação e o crescimento desse dom nos oferecem a todos. Além disso, quando esse ou aquele irmão revela disposições mais avançadas para servir a bem de todos, em favor do império da luz, costuma ser imediatamente visitado, nas horas de sono físico, por entidades renitentes na prática do mal, interessadas na extensão do domínio das sombras, que lhe desintegram convicções e propósitos nascentes com insinuações menos dignas, quando o espírito do trabalhador não está cónvenientemente apoiado no desejo robusto de progredir, redimir-se e marchar para a frente.
A exposição era muito interessante e tudo faria a benefício de mais amplas elucidações ao assunto, mas o relógio marcava o momento de nossa cooperação ativa e pusemo-nos em forma.
Para os trabalhos da reunião que congregava nove pessoas terrestres, vinte e um colaboradores espirituais se movimentaram em nosso circulo de ação.
Gúbio e Sidônio, em esforço conjugado, efetuaram operações magnéticas ao redor de Margarida, desligando finalmente os “corpos ovóides” que foram entregues a uma comissão de seis companheiros que os conduziram, cuidadosamente, a postos socorristas.
Logo após, enquanto a prece e os estudos evangélicos se faziam ouvir, dentro das contribuições de nosso círculo, grande cópia de força nêurica, com a devida compensação em fluidos revigoradores de nossa esfera, foi extraida, através da boca, narinas e mãos dos assistentes encarnados, força essa que Gúbio e Sidônio aplicaram sobre Margarida e Gaspar, no evidente intuito de restaurar-lhes as energias perispiríticas.
A jovem senhora passou a demonstrar abençoados sinais de alívio e Gaspar, de impassível que se achava, pôs-se a gemer, qual se houvera acordado de intenso e longo pesadelo.
A essa altura, nosso orientador preparou Dona Isaura, senhora daquele santuário doméstico e médium do culto familiar, adestrando-lhe a faculdade de incorporação, por intermédio de passes magnéticos sobre a laringe e, em particular, sobre o sistema nervoso. Quando a hora de amor cristão aos desencarnados começou a funcionar, os orientadores trouxeram Gaspar à organização medianímica, a fim de que pudesse ele recolher algum benefício, ao contacto dos companheiros materializados na experiência física, que lhe haviam fornecido energias vitalizantes, tal como acontece às flores que sustentam, sem perceber, o trabalho salutar das abelhas operosas.
Reparei que os sentidos do insensível perseguidor ganharam inesperada percepção. Visão, audição, tato e olfato foram nele súbitamente acordados e intensificados. Parecia um sonâmbulo, despertando. À medida que se lhe casavam as forças às energias da médium, mais se acentuava o fenômeno de reavivamento sensorial. Apossando-se provisoriamente dos recursos orgânicos de Dona Isaura, em visível processo de “enxertia psíquica”, o hipnotizador gritou e chorou lamentosamente. Misturou blasfêmias e lágrimas, palavras comovedoras e palavras menos dignas, entre a penitência e a rebeldia. Escutando agora, com aguçada sensibilidade, conversou detidamente com o doutrinador. O senhor Silva, marido da médium, fêz-lhe sentir a necessidade de renovação espiritual em edificante lição que nos tocava as fibras mais íntimas, e, depois de sessenta minutos de exaustivo embate emocional, Gaspar foi conduzido por dois servidores de nossa equipe ao lugar que lhe correspondia, isto é, à posição de demente com retorno gradativo à razão.
Findos os serviços ativos, a reunião foi encerrada, notando-se que imensa alegria transbordava de todos os corações.
Margarida estava, enfim, aliviada e, em pranto, pedia ao esposo agradecesse, de viva voz, as dádivas recebidas.
Gúbio, porém, vendo Saldanha espantadiço, obtemperou:
— O triunfo essencial ainda não veio. Margarida recebeu amparo imediato, mas precisamos agora socorrer-lhe a casa, até que ela mesma incorpore à própria individualidade, em caráter definitivo, os benefícios aqui recolhidos.
Sorriu bondosamente e acrescentou:
— Para que uma planta seja efetivamente preciosa, não basta que esteja bela e perfumada na estufa protetora. É necessário receber o auxílio externo, consolidando a resistência própria, de modo a produzir utilidades no bem comum.
E passando a entender-se com Sidônio, aceitou a colaboração, por dez dias sucessivos, de doze companheiros espirituais incorporados ao agrupamento destinado a reforçar as atividades defensivas na moradia de Gabriel, de vez que, segundo Saldanha e Leôncio, do dia seguinte em diante, teríamos guerra aberta com os assalariados de Gregório, que viriam naturalmente sobre nós, temíveis e insistentes.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES


Capítulo 26 - À Margem do Sexo

"Lembrai-vos daquele que julga em última instância, que vê os movimentos íntimos de cada coração e que, por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censurais, ou reprova o que relevais, porque conhece o móvel de todos os atos.
Lembrai-vos de que vós, que clamais em altas vozes anátema, tereis, quiçá, cometido
faltas mais graves. Do item 16, do Cap. X, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".


Companheiros da Terra, à frente de todas as complicações e problemas do sexo, abstende-vos de censura e condenação. Todos nós, os Espíritos em aperfeiçoamento nos climas do Planeta estamos emergindo de passado multimilenar, em que as tramas da alma se entreteciam em labirintos de sombra, para que as bênçãos do aprendizado se nos fixassem no espírito.
Ainda assim, achamo-nos todos muito longe da meta por alcançar. Se alguém vos parece cair, sob enganos do sentimento, silenciai e esperai!
Se alguém se vos afigura tombar em delinqüência, por desvarios do coração, esperai e silenciai!... Sobretudo, compadeçamo-nos uns dos outros, porque, por enquanto, nenhum de nós consegue conhecer-se tão exatamente, a ponto de saber hoje qual o tamanho da experiência afetiva que nos aguarda amanhã. Calai os vossos possíveis libelos, ante as supostas culpas alheias, porquanto nenhum de nós, por agora, é capaz de medir a parte de responsabilidade que nos compete a cada um nas irreflexões e desequilíbrios dos outros. Somos todos peças integrantes de uma só família, operando em dois mundos, simultaneamente - aquele das inteligências corporificadas no plano físico e aquele outro das inteligências desencarnadas que se domiciliam nas regiões da mesma Terra que habitais, disputando convosco, tanto quanto igualmente entre si, a aquisição de recursos substanciais da evolução. Não dispomos de recursos para examinar as consciências alheias e cada um de nós, ante a Sabedoria Divina, é um caso particular, em matéria de amor, reclamando compreensão. A vista disso, muitos de nossos erros imaginários no mundo são caminhos certos para o bem, ao passo que muitos de nossos acertos hipotéticos são trilhas para o mal de que nos desvencilharemos, um dia!... Abençoai e amai sempre. Diante de toda e qualquer desarmonia do mundo afetivo, seja com quem for e como for, colocai-vos, em
pensamento, no lugar dos acusados, analisando as vossas tendências mais íntimas e,
após verificardes se estais em condições de censurar alguém, escutai, no âmago da
consciência, o apelo inolvidável do Cristo: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos
amei.

FIM

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 22 ÍTENS 1 a 4 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO

1. Em que sentido devemos entender as palavras de Jesus: “Não separe o homem o que Deus juntou”?

Devemos entendê-las com referência à união dos seres ligados por afinidade espiritual, por si só indissolúvel e conforme a lei de Deus; e não acerca da união onde predomina o interesse puramente material.

Apenas os laços de afinidade espiritual e de mútuo afeto são indissolúveis, porque conforme à lei de Deus , os interesses materiais são passageiros e logo desaparecem.

2. Qual a diferença entre a lei divina e a humana?


A lei divina é imutável: é a mesma em todos os tempos e em todos os países, enquanto a lei humana muda segundo o tempo, os lugares e o progresso da inteligência.

O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna entre os seres.

3. Como estas duas leis – divina e humana – podem ser identificadas no casamento?


No casamento, o que é de ordem divina é a união dos sexos, destinada à substituição dos seres que morrem, ficando ao encargo da lei humana as condições que regulam essa união.

O casamento observa-se entre todos os povos, se bem que em condições diversas, conforme o tempo e o lugar.

4. Que outra lei divina, além da de reprodução, rege a união dos sexos?


A par desta lei divina de reprodução, comum a todos os seres vivos, outra lei divina e imutável deve ser observada, de cunho exclusivamente moral, que é a lei de amor.

“Nem a lei civil nem os compromissos dela decorrentes podem suprir a lei do amor, quando esta não preside a união.”

5. O que ocorre aos que se casam por interesses materiais?


Terão de aprender a se amar, pela renúncia e abnegação.

“Quis Deus que os seres se unissem pelos laços da carne, mas também pelos da alma.”

6. As separações são contrárias à lei de Deus?


Se for para atender interesses circunstanciais e materiais, sim. Mas, se for para evitar males maiores, não. É mais humano, mais caridoso e mais moral, restituir a liberdade a seres que não podem mais viver juntos, do que mantê-los unidos.

Em nossos dias, geralmente, o casamento não leva em conta a afeição entre dois seres, mas a satisfação do orgulho, da vaidade, da cupidez. Numa palavra: de todos os interesses materiais.”

7 - A lei humana é inútil?


Não. Pela dificuldade que oferece às separações irresponsáveis, ela assegura a manutenção dos filhos e auxilia os infratores a se ajustar à lei de Deus, que é de amor.

A lei civil tem por fim regular as relações sociais e os interesses das famílias, de acordo com as exigências da civilização.

Conclusão:

Quando um homem e uma mulher se unem por laços de afeto mútuo e afinidade entre os espíritos, essa união é, por si só, indissolúvel, porque está de acordo com as leis de Deus. Caso contrário, quando predominam os interesses puramente materiais, é fonte de dores e sofrimentos, por contrariar a lei de amor.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES


Capítulo 25 - Sexo e Religião


Pergunta - Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?

Resposta - Sofrendo a prova de uma nova existência.

Pergunta - Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como
Espírito?

Resposta - Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal. Item n. 166, de "O Livro dos Espíritos.

Dar-se-á o fato de se isentar alguém dos impulsos e inquietações sexuais, simplesmente por haver assumido compromissos de natureza religiosa? Claro que a lógica responde no espírito de seqüência da natureza. A criatura que abraça encargos dessa ordem está procurando ou aceitando para si mesma aguilhões regeneradores ou educativos, de vez que ordenações e providências de caráter externo não transfiguram milagrosamente o mundo íntimo. As realizações da fé, por isso mesmo, se concretizam à base de porfiadas lutas da alma, de si para consigo.
Ninguém se burila de um dia para outro. De que modo alienar condições inerentes à própria vida do Espírito, acalentadas, no curso das eras, tão-somente em função de afirmativas verbais? E entendendo-se que as leis do Universo não destroem o instinto, mas transformam-no em razão e angelitude, na passagem dos evos, pelos mecanismos da sublimação, de que forma exigir a extinção dos estímulos genésicos em
alguém, tão-só porque esse alguém se consagre ao Serviço Divino da Fé, quando esses mesmos estímulos são ingredientes da vida e da evolução, criados pela mesma Providência Divina para a sustentação e a elevação de todos os seres? Compreendida a inalienabilidade dos problemas sexuais nas individualidades representativas das idéias religiosas no mundo, é mais que razoável considerar que essas individualidades, em grande maioria, solicitaram para si próprias os controles de feição moral a que transitoriamente se vinculam, no tentame de extraírem deles o proveito máximo, a favor de si próprias. Efetivamente, Espíritos superiores e já erguidos a notáveis campos de elevação, unicamente por amor e sacrifício, tomam assento nas organizações religiosas da Terra, volvendo à reencarnação em atividades socorristas, nas quais impulsionam o progresso dos seus irmãos. Esses missionários do devotamento vibram em faixas de amor sublime, quase sempre inacessível à compreensão dos seus contemporâneos. Não ocorrem análogas circunstâncias entre aqueles outros que renascem sob regime disciplinar, requisitados por eles contra eles mesmos, de vez que grande número desses obreiros das idéias religiosas, reencarnados em condições de prova, demonstram dificuldades e inibições múltiplas, no corpo e na mente, quando não sofrem exagerada tendência aos desvarios sexuais - tendência essa que habitualmente os mantém recolhidos ao medo de qualquer expansão afetiva. Temendo as manifestações do amor e bastas vezes condenando indebitamente os companheiros da Humanidade, pelo fato de se acomodarem a uniões respeitáveis e dignas, na generalidade receiam a si próprios e censuram os semelhantes, no impulso inconsciente de lhes copiar a independência e a conduta. Daí surgem os incidentes menos felizes quantas vezes! – em que vemos expositores ardentes e apaixonados, dessa ou daquela idéia religiosa, tombando em experiências emotivas, muito mais complicadas e deploráveis do que aquelas outras que eles próprios reprovavam no caminho e na vida dos companheiros!... Aliás, registe-se que o fenômeno é mais que justo, porquanto, aceitando os distintivos de determinada seara religiosa, o Espírito impõe a si mesmo um fator de frenagem e autopoliciamento, sem que as marcas exteriores de fé signifiquem mais que um convite ou um desafio a que se aperfeiçoe, de acordo com os princípios de acrisolamento que abraça. Instruções religiosas exteriores não alteram, de improviso, os impulsos do coração, conquanto se erijam em fortaleza de luz, amparando a criatura que a elas se acolhe para o serviço de auto-aprimoramento. Qualquer professor na Terra ha de se identificar com os alunos, no campo das experiências naturais do cotidiano, a fim de que se estabeleça, entre eles, o fio da compreensão mútua, unindo vanguarda e retaguarda do esforço para a escalada do grupo ao conhecimento. Um anjo e uma equipe de criaturas humanas não entrariam em relacionamento ideal para rendimento ideal do ensino. À vista disso, somos nós mesmos, Espíritos endividados ante as Leis do Universo, que nos enlaçamos uns com os outros, encarnados e desencarnados, aperfeiçoando gradativamente as qualidades próprias e aprendendo, à custa de trabalho e tempo, como alcançar a sublimação que demandamos, em marcha laboriosa para a conquista dos Valores Eternos.

domingo, 16 de outubro de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 21 ÍTENS 1 a 3 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

CONHECE-SE A ÁRVORE PELO FRUTO

1. Qual o entendimento moral que nos revela a expressão: “Conhecer-se a árvore pelo fruto”?
A árvore simboliza todos nós; os frutos são os nossos atos, nossas obras. Assim, a qualidade de nossa ação revela o grau do nosso adiantamento moral, caracterizando os cristãos que somos.

“O homem de bem tira as boas coisas do bom tesouro do seu coração e o mau tira as más do mau tesouro do seu coração.”

2. A palavra é um atributo importante no ser humano?


Sim. A palavra retrata o nosso coração. Uma palavra pode gerar uma to de fraternidade, quando empregada para o bem, envolvendo uma conversação sadia e edificante. Mas pode, também, quando mal empregada, conduzir à destruição.

“A boca fala do que está cheio o coração.”

3. Como devemos proceder para identificar os verdadeiros cristãos?


Examinando suas obras (seus frutos). Se possuem, no mais alto grau, as virtudes crustas e eternas: a caridade, a amor, a indulgência e a bondade que concilia corações e se, em apoio às palavras, apresentam atos .

Somente o bem realizado comprova se somos ou não cristãos.

4. Que árvores são essas que serão cortadas e lançadas ao fogo?


São as falsas obras dos homens: as idéias ocas que, a pretexto de promover o bem geral, geram desavenças, porque beneficiam uns, em detrimento de outros; são árvores não plantadas por Deus e que, fatalmente, serão destruídas.

Toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos.

5. Quem são os falsos cristãos?


São assim caracterizados os homens que, possuindo certos conhecimentos, abusam desse saber em proveito de suas ambições, de seus interesses e do seu anseio de dominação, aproveitando-se da boa fé de certas pessoas que acreditam serem eles missionários divinos.

“A difusão das luzes lhes aniquila o crédito, donde resulta que o número deles diminui à proporção que os homens se esclarecem.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XXI, item 5).

6. Como nos defender dos falsos profetas?


Identificando-os através de seus atos e suas palavras, tendo sempre, por certo, que o verdadeiro profeta se caracteriza pelos seus valores exclusivamente morais.

“Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão pessoas... Mas, aquele que perseverar até o fim, se salvará.”

Conclusão:

Reconhece-se os verdadeiros cristãos pelos seus atos. Não são belas palavras, nem as promessas ostensivas que caracterizam as pessoas de bem, mas sim, suas obras em favor do bem comum, sustentadas por valores exclusivamente morais.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORA JULIANA SOLARE


Capítulo 24 - Carga Erótica

Dois sistemas se defrontam: o dos ascetas, que tem por base o aniquilamento do corpo, e o dos materialistas, que se baseia no rebaixamento da alma. Duas violências quase tão insensatas uma quanto a outra. Ao lado desses dois grandes partidos, formiga a numerosa tribo dos indiferentes que, sem convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar. Onde, então, a sabedoria? Onde, então, a ciência de viver?
Em parte alguma; e o grande problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a alma e dizendo-lhes que, por serem necessários uma ao outro, importa cuidar de ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. Desatender às necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre arbítrio o induziu a cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto o cavalo, mal dirigido, pelos acidentes que causa.
Sereis, porventura, mais perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas, nem menos orgulhosos e mais caritativos para com o vosso próximo?
Não, a perfeição não está nisso, está toda nas formas por que fizerdes passar o vosso Espírito. Dobrai-o, submetei-o, humilhai-o, mortificai-o: esse o meio de o tornardes dócil à vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição. Do item 11, do Cap. XVII, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

O instinto sexual, exprimindo amor em expansão incessante, nasce nas profundezas da vida, orientando os processos da evolução. Toda criatura consciente traz consigo, devidamente estratificada, a herança incomensurável das experiências sexuais,
vividas nos reinos inferiores da Natureza. De existência a existência, de lição em lição e de passo em passo, por séculos de séculos, na esfera animal, a individualidade, erguida à razão, surpreende em si mesma todo um mundo de impulsos genésicos por educar e ajustar às leis superiores que governam a vida. A princípio, exposto aos lances adversos das aventuras poligâmicas, o homem avança, de ensinamento a ensinamento, para a sua própria instalação na monogamia, reconhecendo a necessidade de segurança e equilíbrio, em matéria de amor; no entanto, ainda aí, é impelido naturalmente a carregar o fardo dos estímulos sexuais, muita vez destrambelhados, que lhe enxameiam no sentimento, reclamando educação e sublimação. Depreende-se disso que toda criatura na Terra transporta em si mesma determinada taxa de carga erótica, de que, em verdade, não se libertará unicamente ao preço de palavras e votos brilhantes, mas à custa de experiência e trabalho, de vez que instintos e paixões são energias e estados inerentes à alma de cada um, que as leis da Criação não destroem e sim auxiliam cada pessoa a transformar e elevar, no rumo da perfeição.
Fácil entender, portanto, que do erotismo, como fator de magnetismo sexual humano, na romagem terrestre, seja em se tratando de Espíritos encarnados ou desencarnados na Comunidade Planetária, não partilham tão somente as inteligências que já se angelizaram, em minoria absoluta no Plano Físico, e aqueles irmãos da Humanidade provisoriamente internados nas celas da idiotia, por força de lides expiatórias abraçadas ou requisitadas por eles próprios, antes do berço terreno. Os Espíritos sublimados se atraem uns aos outros por laços de amor considerado divino, por enquanto inabordáveis a nós outros, seres em laboriosa escalada evolutiva e que compartilhamos das tendências e aspirações, dificuldades e provas do gênero humano. E os companheiros temporariamente bloqueados por cérebros deficientes e obtusos atravessam períodos mais ou menos longos de silêncio emocionados, destinados a reparações e reajustes, quase sempre solicitados por eles mesmos - repetimos -, já que se sentenciam a entraves e inibições, no campo de exteriorização da mente, através dos quais refazem atitudes e recondicionam impulsos afetivos em preciosas tomadas e retomadas de consciência. À vista do exposto, é fácil reconhecer que toda criatura humana, sempre nascida ou renascida sob o patrocínio do sexo, carreia consigo determinada carga de impulsos eróticos, que a própria criatura aprende, gradativamente, a orientar para o bem e a valorizar para a vida. Diante do sexo, não nos achamos, de nenhum modo, à frente de um despenhadeiro para as trevas, mas perante a fonte viva das energias em que a Sabedoria do Universo situou o laboratório das formas físicas e a usina dos estímulos espirituais mais intensos para a execução das tarefas que esposamos, em regime de colaboração mútua, visando ao rendimento do progresso e do aperfeiçoamento entre os homens.
Cada homem e cada mulher que ainda não se angelizou ou que não se encontre em processo de bloqueio das possibilidades criativas, no corpo ou na alma, traz, evidentemente, maior ou menor percentagem de anseios sexuais, a se expressarem por sede de apoio afetivo, e é claramente, nas lavras da experiência, errando e acertando e tornando a errar para acertar com mais segurança, que cada um de nós - os filhos de Deus em evolução na Terra - conseguirá sublimar os sentimentos que nos são próprios, de modo a erguer-nos em definitivo para a conquista da felicidade celeste e do Amor Universal.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ESTUDO DO LIVRO LIBERTAÇÃO - CAPÍTULO 14 - JULIANA SOLARE



Singular Episódio

Penetrando o compartimento em que Margarida descansava, lá nos aguardavam os dois hipnotizadores em função ativa.
Gúbio pousou significativo olhar em Saldanha e pediu-lhe em tom discreto:
— Meu amigo, chegou a minha vez de rogar. Releva-me a identificação, talvez tardia aos teus olhos, com relação aos objetivos que nos prendem aqui.
E denunciando imensa comoção na voz, esclareceu:
— Saldanha, esta senhora doente é filha de meu coração desde outras eras. Sinto por ela o enternecimento com que cuidaste, até agora, do teu Jorge, defendendo-o com as forças de que dispões. Eu sei que a luta te impôs acerbos espinhos ao coração, mas também guardo sentimentos de pai. Não te merecerei, porventura, simpatia e ajuda? Somos irmãos no devotamento aos filhos, companheiros da mesma luta.
Observei, então, cena comovedora que, minutos antes, se me figuraria inacreditável.
O perseguidor da enferma contemplou o nosso Instrutor com o olhar dum filho arrependido.
Grossas lágrimas brotaram-lhe dos olhos antes frios e impassíveis. Parecia inabilitado a responder, diante da emotividade que lhe dominava a garganta; todavia, Gúbio, enlaçando-lhe fraternalmente o busto, acrescentou:
— Passamos horas sublimes de trabalho, entendimento e perdão. Não desejarás desculpar os que te feriram, libertando, enfim, quem me é tão querida ao espírito? Chega sempre um instante no mundo em que nos entediamos dos próprios erros. Nossa alma se banha na fonte lustral do pranto renovador e esquecemos todo o mal a fim de valorizar todo o bem. Noutro tempo, persegui e humilhei, por minha vez. Não acreditava em boas obras que não nascessem de minhas mãos.
Supunha-me dominador e invencível, quando não passava de infeliz e insensato. Considerava inimigos quantos me não compreendessem os caprichos perigosos e me não louvassem a insânia.
Experimentava diabólico prazer, quando o adversário esmolasse piedade ao meu orgulho, e gostava de praticar a generosidade humilhante daquele que determina sem concorrentes. Mas a vida, que faz caminhos na própria pedra, usando a gota d’água, retalhou-me o coração com o estilete dos minutos, transformando-me devagar, e o déspota morreu dentro de mim, o título de irmão é, hoje, o único de que efetivamente me orgulho. Dize-me, Saldanha amigo, se o ódio está igualmente morto em teu espírito; fala-me se devo contar com o abençoado concurso de tuas mãos!
Eu e Elói tínhamos lágrimas ardentes, diante daquela doutrinação emocionante e inesperada.
Saldanha enxugou os olhos, fixou-os, humilde, no interlocutor bondoso e asseverou, comovendo-nos:
— Ninguém me falou ainda como tu... Tuas palavras são consagradas por uma força divina que eu não conheço, porque chegam aos meus ouvidos, quando já me encontro confundido pelos teus atos convincentes. Faze de mim o que desejares. Adotaste, nesta noite, por filhos de teu coração todos os parentes em cuja memória ainda vivo. Amparaste-me o filho demente, ajudaste-me a esposa alucinada, protegeste-me a nora infeliz, socorreste-me a neta indefesa e repreendeste os que me perturbavam sem motivo justo... Como não enlaçar, agora, as minhas mãos com as tuas na salvação da pobre mulher que amas por filha? Ainda que ela própria me houvesse apunhalado mil vezes, teu pedido, após o bem que me fizeste, redimi-la-ia ao meu olhar...
E, detendo a custo o pranto que lhe manava espontâneo, o ex-perseguidor acentuou, com expressão respeitosa:
— Poderoso Espírito e bom amigo, que me procuraste na condição do servo apagado para acordar-me as forças enrijecidas no gelo da vingança, estou pronto a servir-te! sou teu de agora em diante!
— Seremos de Jesus para sempre! — corrigiu Gúbio, sem afetação.
E abraçando-o efusivamente, conduziu-o a pequeno aposento próximo, naturalmente para organizar plano de ação eficiente e rápido.
Somente aí me lembrei de que nos achávamos na presença de ambos os hipnotizadores em função ativa, junto ao casal em repouso. Um deles se revelava inquieto e demonstrava-se francamente compreensivo; notava que algo de extraordinário se passava, mas, talvez compelido por votos de disciplina, não se animava a dirigir-nos palavra. O outro, todavia, não acusava qualquer emoção. Continuava alheio ao drama que vivíamos. Figurava-se um autômato em serviço, impressionando-me particularmente pela impassibilidade do olhar.
Alguns minutos transcorreram pesados, quando Gúbio e Saldanha retornaram à cena.
O ex-obsessor de Margarida mostrava-se mudado, quase imponente. Via-se-lhe no porte a renovação de rumo interior.
Certo, estabelecera novo programa de luta, em companhia do nosso dirigente, porque chamou o hipnotizador mais vivo, a conversação particular.
Próximos de mim, a palestra desdobrou-se clara.
— Leôncio — disse Saldanha, entusiasmado —, nosso projeto mudou e conto com a tua colaboração.
— Que houve? — indagou curiosamente o interpelado.
— Um grande acontecimento.
E prosseguiu, transformado:
— Temos aqui um mago da luz divina.
Em traços rápidos, narrou-lhe os sucessos da noite, em comovedora síntese, terminando por apelar:
— Poderemos contar contigo?
— Perfeitamente — esclareceu o companheiro —, sou amigo dos amigos, não obstante os riscos da empresa.
E designando com um golpe de olhar o outro magnetizador que prosseguia operando ao lado de Margarida, em serviço automático, objetou:
— É indispensável, porém, todo o cuidado com Gaspar, que não se acha em condições de aderir.
— Tranquiliza-te — esclareceu Saldanha, mais atencioso —, providenciaremos tudo.
Mostrou Leôncio estranho brilho nos olhos e, dirigindo-se ao ex-chefe de tortura, falou súplice:
— Escuta! conheces meu problema. Já que foste socorrido pelo mago, não poderei receber contribuição dele por minha vez? Tenho na Terra a esposa seduzida e o filho à morte.
Imprimindo inolvidável acento à voz, observou:
— Saldanha, não desconheces que sou criminoso, mas sou pai ainda... Se eu pudesse livrar o filhinho da revolta e da sepultura enquanto é tempo, considerar-me-ia sumamente feliz. Sabes que um condenado não deseja igual sorte para os rebentos do coração!
Ante o choroso apelo, Saldanha não hesitou:
— Bem — tornou um tanto embaraçado —, procura o benfeitor Gúbio e expõe-lhe o caso com franqueza.
Leôncio não se fêz rogado.
Acercou-se, respeitoso, de nosso Instrutor e explicou-se, simplesmente, sem rebuços:
— Amigo, acabo de saber com que devotamento mobilizas tua força, a beneficio de criaturas desviadas do bem, como nós, que nos sentimos desprezíveis diante de todos. É por isto que também venho implorar-te auxilio imediato.
— Em que poderemos ser úteis? — indagou o orientador, cortês.
— Passei para cá, há longos sete anos, e deixei no mundo minha mulher e um filhinho recém-nato. Voltei, moço ainda, sufocado no esgotamento pelo trabalho excessivo em busca do dinheiro fácil. Obtive, realmente, o que intentara, com a provisão de vastos depósitos bancários com que a esposa ainda se mantém, até hoje, a coberto de todas as necessidades. O desespero, a ânsia inútil por retomar o corpo que abandonara, a vaidade ferida, converteram-me no colaborador desumano de que Gregório, o nosso chefe, tanto se orgulha... Ai de mim, porém, que me sentia dono exclusivo dos encantos da mulher que eu adorava! De dois anos para cá, minha infortunada Avelina passou a escutar as fantasiosas propostas de um enfermeiro que se aproveitou da fragilidade orgânica de meu filhinho para insinuar-se sobre o ânimo da pobre mãe, viúva e jovem. Chamado a prestar socorro ao menino, depois de um incidente sem importância, o profissional percebeu as preciosidades materiais da presa cobiçada. Desde então, assediou-me a esposa sem descanso e passou a envenenar meu pequeno, pouco a pouco, à força de entorpecentes, administrados por ele, seguindo um plano cruel. No decurso do tempo, conseguiu de Avelina quanto queria: dinheiro, ilusões, prazeres e promessa de casamento. Acredito que o consórcio se realizará, dentro de breves dias, e já me resignei a semelhante acontecimento, porque a alma encarnada respira sob teia grossa de pesadelos e exigências, mas o perseguidor embuçado, sentindo em meu filho um concorrente forte aos bens que amontoei, procura aniquilá-lo sem pressa, roubando-lhe, calculado e ingrato, o ensejo de viver para um futuro digno e feliz.
Interrompeu-se, por alguns momentos, e prosseguiu, comovido:
— Francamente, envergonho-me de suplicar um favor que não mereço, mas o espírito pervertido, como eu, que pede recursos salvadores para os entes amados, guarda consciência do próprio infortúnio no mal que elegeu para inspirar-lhe o caminho... Benfeitor, por piedade! meu desventurado Ângelo permanece à beira do túmulo... Admito que o fim do corpo esteja marcado para breves dias, se mãos amigas e devotadas não nos socorrerem à altura de nossa indigência. Já fiz tudo quanto se achava ao alcance de nossas possibilidades, porém sou parte integrante de uma falange de seres malvados e o mal não salva, nem melhora ninguém.
Gúbio ia responder, mas Elói tomou a dianteira e, com imensa surpresa para nós, perguntou, sem cerimônia:
— E o nome do enfermeiro? Quem é esse quase infanticida?
— É Felício de...
Quando o nome de família foi pronunciado, nosso companheiro apoiou-se em mim, para não cair... É meu irmão! — bradou — é meu irmão...
Forte emotividade empalideceu-lhe o rosto e expectativa inquietante desabou sobre nós.
Mas Gúbio, com a serenidade sublime que lhe assinalava a fronte, abraçou Elói e inquiriu calmo:
— Onde está o infeliz que não seja nosso irmão necessitado?
A frase inteligente e bondosa sossegou o colega deprimido e ofegante.
Desejoso talvez de desfazer as nuvens que se adensavam naquele reduto doméstico e de o transformar em abençoado santuário, nosso Instrutor convidou-nos a visitar o menino enfermo, sem perda de tempo.
Saldanha indicou a figura estranha de Gaspar, que parecia surdo e insensível ao que se passava) e lembrou:
— Deixá-lo-emos sozinho por algumas horas. Aliás, precisamos, pelo menos, de um dia, a fim de fortificarmos a defensiva. A falange de Gregório não nos perdoará.
Nosso Instrutor sorriu em silêncio e ausentamo-nos.
Soprava brando e fresco vento da madrugada e pesada quietude reinava nas vias suburbanas que cruzávamos a passo rápido.
Leôncio, à frente, mostrou-nos confortável vivenda e informou:
— Aqui mesmo.
Entramos.
Em aposentos diversos, a dona da casa e o enfermeiro dormiam à solta, enquanto um pequeno simpático gemia, quase imperceptivelmente, demonstrando angústia e mal-estar.
Notava-se nele a devastação operada pelos tóxicos insistentes. Profunda melancolia estampava-se-lhe no olhar.
Leôncio, o temido hipnotizador, abraçou-o e esclareceu:
— Os venenos sutis, que ingere em doses diminutas e sistemáticas, invadem-lhe o corpo e a alma.
Fios magnéticos e invisíveis ligavam, ali, pai e filho, porque o menino, num lance comovedor, embora a prostração em que se achava, contemplou, embevecido, o retrato grande do paizinho, suspenso da parede, e falou, súplice, baixinho:
— Papai, onde está o senhor?... tenho medo, muito medo...
Lágrimas ardentes seguiram-lhe a prece inesperada e o hipnotizador de Margarida, que até então se nos afigurara um gênio horrível, prorrompeu em pranto emocionante.
Gúbio ausentou-se por momentos e regressou trazendo Felício, o enfermeiro, provisoriamente desligado do aparelho fisiológico. O rapaz, não obstante semi-inconsciente, ao avistar Elói junto ao doentinho, procurou recuar, num impulso de evidente pavor, mas nosso dirigente conteve-o, sem aspereza.
Meu colega abeirou-se dele, já de fisionomia transfigurada, buscando dirigir-lhe a palavra.
O Instrutor, no entanto, afagou-o com a destra e avisou:
— Elói, não interfiras. Não te encontras em condições sentimentais de operar com êxito. A indignação afetiva denunciar-te-ia a inabilidade provisória para atenderes a este gênero de serviço. Atuarás no fim.
Em seguida, Gúbio aplicou passes de despertamento em Felício para que a mente dele acompanhasse a lição daquela hora, dentro do mais alto estado de consciência que lhe fosse possível, notando-se que o paciente passou a fixar-nos com mais clareza, envergonhado e espantadiço. Fitou Elói, positivamente amedrontado, e reparando Leôncio a chorar sobre o filhinho, fêz novo movimento de recuo, interrogando embora:
— Quê? pois este monstro chora?
Gúbio aproveitou a pergunta brutalmente desfechada e interveio, sereno:
— Não concedes a um pai o direito de emocionar-se ante o filhinho perseguido e doente?
— Sei apenas que ele é para mim um inimigo implacável — comentou o irmão de Elói, com insofreável animosidade —, e reconheço-o, de perto. É o marido de Avelina... A princípio, via-o nos odiosos retratos que povoam esta casa... depois passou a flagelar-me nas horas de sono...
— Escuta! — disse-lhe o orientador, com inflexão de carinho — quem terá assumido a posição de adversário, em primeiro lugar? o coração dele, humilhado e ferido nos sentimentos mais altos que possui, ou o teu que urdiu deplorável projeto de conquista sentimental ante uma viúva indefesa? o dele que padece nos zelos inquietantes de pai ou o teu que comparece neste lar com o escuro propósito de assassinar-lhe o filhinho?
— Mas, Leôncio é um morto”! — suspirou o enfermeiro, desapontado.
E não hás de sê-lo, um dia — tornou o nosso dirigente — quando houveres restituído o corpo de carne ao inventário de pó?
E porque o interlocutor não pudesse prosseguir, conturbado pelas forças desintegrantes da culpa, o Instrutor continuou:
— Felício, porque insistes no condenável enredo com que preparas tão calculado crime? Não te compadeces, porventura, de uma criança enferma e sem pai visível? Tens Leôncio na conta dum monstro, por defender o frágil rebento do coração, tal como a ave que ataca, ainda que impotente, na ânsia de preservar o ninho... Que dizer, porém, de ti, meu irmão, que não vacilas em devassar este santuário, tão somente com o instinto de gozo e poder? como interpretar-te o gesto lastimável de enfermeiro que se vale do divino dom de aliviar e curar para perturbar e ferir? Felício, a experiência humana, confrontada com a eternidade em que se movimentará a consciência, é simples sonho ou pesadelo de alguns minutos. Porque comprometer o futuro ao preço do conforto ilusório de alguns dias? Os que plantam espinhos colhem espinhos na própria alma e comparecem perante o Senhor de mãos convertidas em garras abomináveis. Os que espalham pedras em derredor dos pés alheios serão surpreendidos, mais tarde, pelo endurecimento e paralisia do próprio coração.
Guardas, porventura, suficiente noção da responsabilidade que assumes? Possuis ainda no coração evidentes restos de bondade igual à daqueles que se acolhem no âmbito de uma família abençoada e grande, em cujo seio a solidariedade é cultivada, desde os primórdios da luta. Vejo que o entusiasmo juvenil não se extinguiu, de todo, em tua mente. Porque ceder às sugestões do crime? não te comove a prostração deste menino a quem procuras impor a morte vagarosa?
Repara! o drama de Leôncio não se resume ao conflito de um “morto”, como supões em teu perturbado raciocínio. Ausculta-lhe o coração de pai amoroso e dedicado! encontrarás dentro dele a afeição doce e pura, à maneira do brilhante oculto no cascalho rijo e contundente.
O irmão de Elói pousava em nosso Instrutor os olhos medrosos e espantados.
Depois de leve pausa, Gúbio continuou:
— Aproxima-te. Vem a nós. Perdeste a capacidade de amar? Leôncio é teu amigo, nosso irmão.
Felício gritou com visível expressão de angústia:
— Quero ser bom, mas não posso... Tento melhorar-me e não consigo...
De voz entrecortada pelos soluços, acrescentou:
— E o dinheiro? como resgatarei os débitos contraídos? sem o casamento com Avelina, a solução é impraticável!
Nosso dirigente abraçou-o e aduziu:
— E acreditas solver compromissos financeiros provocando dívidas morais que te atormentarão por tempo indeterminado? Ninguém te proibe o casamento, nem Leôncio, o organizador dos bens materiais de que pretendes dispor, discricionàriamente, te poderia induzir à abstenção nesse sentido, os atos de cada homem e de cada mulher arquitetam-lhes os destinos.
Somos responsáveis por todas as deliberações que perfilharmos ante os programas do Eterno e não poderíamos interferir em teu livre arbítrio, mas te pedimos concurso em benefício desta vida frágil que deve continuar... Queres dinheiro, recursos que te façam respeitado ou temido pelos outros homens. Convence-te, porém, de que a fortuna é uma coroa pesada demais para a cabeça que não sabe sustentá-la e costuma arrojar à poeira, através do cansaço e da desilusão, todos aqueles que a senhoreiam, sem horizontes largos de trabalho e benemerência. Não importa, pois, que comandes os valiosos depósitos de prata e ouro que Leôncio amontoou, inadvertidamente, porque aprenderás, com os anos, que a felicidade não está metida em cofres que a ferrugem consome.
Todavia, Felício, interessamo-nos por tua promessa em favor desta criança, extenuada de sofrimento. Poupa-lhe o corpo tenro e aguarda o futuro! não tragas para o reino da morte semelhante delito, que te confinaria o espírito a furnas trevosas de expiação regeneradora.
Ante a interrupção que se impusera natural, Felício quis dizer qualquer coisa para justificar-se, mas não pôde.
Gúbio, todavia, prosseguiu, sereno:
— Casa-te, esbanja as reservas preciosas deste lar se não souberes entender a tempo a sagrada missão do dinheiro, sobe aos píncaros da vida social transitória, adorna-te com os títulos convencionais com que o mundo inferior se habituou a premiar as criaturas sagazes que sobem a ladeira da dominação inútil ou ruinosa, sem ferir-lhe publicamente os preconceitos, porque o tempo te esperará sempre, com lições de mestre; sem embargo, ajuda o pequenino a restabelecer-se.
E endereçando compassivo olhar ao hipnotizador de Margarida, acentuou:
— Não é bem Isto, Leôncio, quanto desejamos?
— Sim — confirmou o pobre pai em lágrimas enternecidas —, o dinheiro não importa e agora reconheço que Avelina é tão livre quanto eu mesno. Mas se meu filhinho continuar na Terra, tenho esperanças em minha própria regeneração. Terei nele um companheiro e um amigo, ligado à minha memória, em cuja capacidade de servir poderei encontrar bendito campo de serviço espiritual. Este menino, por enquanto, é o único meio de que disponho para retomar a crença no bem de que me havia afastado.
Reconhecendo-lhe o doloroso esforço para falar e rogar naquela hora, Gúbio abraçou-o, ergueu-o e disse:
— Leôncio, Jesus crê na cooperação dos homens, tanto assim que nos tolera as imperfeições renitentes até que aceitemos o imperativo de nossa conversão pessoal ao supremo bem. Porque havíamos então de descrer? Confio na renovação de Felício. De hoje em diante, o teu filhinho não será mais vigiado por um perseguidor e, sim, protegido por desvelado benfeitor, digno de nosso concurso fraterno!
O enfermeiro, vencido por semelhantes palavras, ajoelhou-se, diante de nós, e jurou:
— Em nome da Justiça Divina, prometo amparar esta criança, como verdadeiro pai!
Em seguida, reergueu-se e tentou beijar as mãos de Gúbio, mas o nosso Instrutor, abstendo-se delicadamente de receber a homenagem, recomendou a Elói e a mim conduzissemos o paciente ao corpo físico, enquanto ele mesmo aplicaria passes de fortalecimento ao doentinho.
Felícío abraçou-se a nós ambos e, depois de nosso auxílio por reajustar-se no aparelho carnal, acordou no leito em copiosas lágrimas.
O lance, porém, não terminou aí.
Forçando a situação de algum modo, Elói inoculou-lhe intensa energia magnética à esfera ocular e o irmão, apalermado, viu-nos ambos, por alguns segundos.
Boquiaberto, assombrado, não sabia que dizer, mas Elói acercou-se dele e com benéfica indignação a resplandecer-lhe nos olhos, exortou-o, francamente:
— Se assassinares este menino, eu mesmo te punirei.
O enfermeiro proferiu grito terrível e deixou cair no travesseiro a cabeça desfalecente, perdendo-nos de vista.
Nesse instante, acreditei com sinceridade que a promessa de Felício seria cumprida integralmente.

domingo, 2 de outubro de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES


Capítulo 23 - Abstinência e Celibato

Pergunta - O celibato voluntário representa um estado de perfeição meritório
aos olhos de Deus?

Resposta - Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam o mundo. Pergunta - Da parte de certas pessoas, o celibato não será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais completo, ao serviço da Humanidade? Resposta - O caso é muito diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto maior o sacrifício, tanto maior o mérito. Itens ns 698 e 699, de "O Livro dos Espíritos".

Abstinência, em matéria de sexo e celibato, na vida de relação pressupõe experiências da criatura em duas faixas essenciais – a daqueles Espíritos que escolhem semelhantes posições voluntariamente para burilamento ou serviço, no curso de determinada reencarnação, daqueles outros que se vêem forçados a adotá-las, por força de inibições diversas. Indubitavelmente, os que consigam abster-se da comunhão afetiva, embora possuindo em ordem todos os recursos instrumentais para se aterem ao conforto de uma existência a mais, com o fim de se fazerem mais úteis ao próximo, decerto que traçam a si mesmos escaladas mais rápidas aos cimos do aperfeiçoamento.
Agindo assim, por amor, doando o corpo a serviço dos semelhantes, e, por esse modo,
amparando os irmãos da Humanidade, através de variadas maneiras, convertem a existência, sem ligações sexuais, em caminho de acesso à sublimação, ambientando-se em climas diferentes de criatividade, porquanto a energia sexual neles não estancou o próprio fluxo; essa energia simplesmente se canaliza para outros objetivos - os de natureza espiritual. E, em concomitância com os que elegem conscientemente esse tipo de experiência, impondo-se duros regimes de vivência pessoal, encontramos aqueles outros, os que já renasceram no corpo físico induzidos ou obrigados à abstinência sexual, atendendo a inibições irreversíveis ou a processos de inversão pelos quais sanam erros do pretérito ou se recolhem a pesadas disciplinas que lhes facilitem a desincumbência de compromissos determinados, em assuntos do espírito. Num e noutro caso, identificamos aqueles que se fazem chamar, segundo os ensinamentos evangélicos, como sendo "eunucos" por amor do Reino de Deus". Esses eunucos, porém, muito ao contrário do que geralmente se afirma, não são criaturas psicologicamente assexuadas, respirando em climas de negação da vida. Conquanto abstêmios da emotividade sexual, voluntária ou involuntariamente, são almas vibrantes, inflamadas de sonhos e desejos, que se omitem, tanto quanto lhes é possível, no terreno das comunhões afetivas, para satisfazerem as obrigações de ordem espiritual a que se impõem. Depreende-se daí a impossibilidade de se doarem a quaisquer tarefas de reparação ou elevação sem tentações, sofrimentos, angústias e lágrima:; e, às vezes, até
mesmo escorregões e quedas, nos domínios do sentimento, de vez que os impulsos do amor nelas se mantêm com imensa agudeza, predispondo-as à sede incessante de compreensão e de afeto. Entendendo-se os valores da alma por alimento do espírito, impossível esquecer que a produção do bem e do aprimoramento se realiza à base de atrito e desgaste. A semente é segregada no solo para desvencilhar-se dos empeços que a constringem, de modo a formar o pão, e o pão, a rigor, não se completa em forno frio.
A força no carro não surge sem a queima de combustível, e o motor não lhe garante
movimento sem aquecer-se em nível adequado. Abstinência e celibato, seja por decisão
súbita do homem ou da mulher, interessados em educação dos próprios impulsos, no curso da reencarnação, ou seja por deliberação assumida, antes do renascimento na esfera física, em obediência a fins específicos, não contam indiferença e nem anestesia do sentimento. Celibato e abstinência, em qualquer forma de expressão, constituem tentames louváveis do ser experiências de caráter transitório -, nos quais a fome de alimento afetivo se lhes transforma no imo do coração em fogo purificador, acrisolandolhes as tendências ou transfigurando essas mesmas tendências em clima de produção do bem comum, através do qual, pela doação de uma vida, se efetua o apoio espiritual ou a iluminação de inúmeras outras. Tais considerações nos impelem a concluir que a vida sexual de cada criatura é terreno sagrado para ela própria, e que, por isso mesmo, abstenção, ligação afetiva, constituição de família, vida celibatária, divórcio e outras ocorrências, no campo do amor, são problemas pertinentes à responsabilidade de cada um, erigindo-se, por essa razão, em assuntos, não de corpo para corpo, mas de coração para coração.

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 19 ÍTEM 12 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

A FÉ HUMANA E A FÉ DIVINA

1. A fé tem apenas caráter religioso?

Não. Ela reflete uma confiança que se tem na possibilidade de realizar alguma coisa.

“Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XIX, item 6).

2. Em que consiste a fé, no homem?


É um sentimento cujo gérmen o homem traz depositado no seu íntimo, e que lhe compete fazê-lo desabrochar e crescer pela ação da sua vontade.

Conclui-se, portanto, que a fé não é privilégio de alguns, mas dom precioso, concedido a todos por Deus.

3. Por que a maioria das pessoas interpretam a fé mais pelo o lado religioso?


Porque essas pessoas, não compreendendo o verdadeiro caráter da missão do Cristo, consideram-no apenas como um chefe religioso, capaz de operar milagres através da fé e acreditam ser este o único objetivo da fé na vida do homem.

Quando o homem conhecer melhor as verdades eternas e melhor souber aproveitar os conhecimentos que a ciência propicia, descobrirá o poder que a fé lhe faculta e que tem nas mãos.

4. Como podemos interpretar os milagres?


Os milagres não são mais do que ocorrência de fenômenos naturais, que se operam mediante a vontade de quem quer que seja, desde que imbuído de uma fé ardente, sincera e verdadeira.

É dessa forma que o homem pode, assim como Jesus e os discípulos fizeram, realizar grandes benefícios para a humanidade.

5. De que forma podemos melhor compreender a essência desses fenômenos a que chamamos de milagres?


Através do estudo das leis, que hoje encontramos mais claramente definidas, à nossa disposição, como, por exemplo, o magnetismo, associado ao estudo do Espiritismo, que nos propicia uma melhor interpretação e compreensão das leis divinas.

O estudo, hoje, nos faculta ver que o que existe de extraordinário na ocorrência dos chamados milagres: é a manifestação da vontade, aliada à fé.

6. Qual a diferença entre a fé humana e a divina?


A humana se concentra nos interesses materiais e satisfação das necessidades terrenas; a divina, nas coisas espirituais, na vida futura (espiritual).

A fé humana se vê manifestada no homem de gênio, que se propõe a realizar um empreendimento qualquer e nisso concentra todo o seu trabalho e esforços; a divina vêmo-la demonstrada no homem de bem, que enche de belas e nobres ações a sua existência.

7. Todos nós temos, então, poder de realizações várias, inclusive curas?


Sim. No entanto, é necessário dosar nossa vontade com bons sentimentos, a fim de não provocar desastres.

Por isso que Jesus nos disse: “Vós sois Deuses. O que eu faço podeis muito mais (...)”

Conclusão:

A fé é um precioso instrumento evolutivo que nos cabe fazer bom uso, a fim de cumprirmos nossa missão perante Deus. A fé humana se volta para as necessidades terrenas; a divina, para as aspirações celestiais e futuras.