sexta-feira, 19 de agosto de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 18 ÍTEM 16 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

PELAS SUAS OBRAS É QUE SE RECONHECE O CRISTÃO

1. Por que muitos dos que dizem: “Senhor, Senhor!” não entrarão no reino dos céus?
Porque aqueles que dizem apenas palavras soltas, sem refletirem o que lhes vai no íntimo, não são agradáveis a Deus. A Ele agrada mais a devoção sincera, partida do coração e, acima de tudo, comprovada por atitudes no bem.

Nem sempre o balbuciar de palavras reverenciando o Senhor é acompanhado de atos que identificam o verdadeiro cristão.

2. Quem são os assim considerados?
São aqueles que ostentam a religiosidade apenas na aparência, mantendo, no íntimo, o coração distanciando do seu dever.

Os atos exteriores de devoção, as expressões bonitas, sem o sacrifício do nosso orgulho, egoísmo e cupidez, nada valem aos olhos do Pai.

3. E qual é “ a vontade do Pai que está nos céus”?
Que nos comportemos como verdadeiros cristãos e façamos o bem nos termos ensinados por Jesus, não importando a qual religião pertençamos .

Não é o título religioso de que somos detentores que nos levará ao Pai, mas sim nossas obras.

4. Como se reconhece o verdadeiro cristão?
Pelas suas atitudes com relação ao próximo, pelas obras que pratica e pela sua vivência real aos ensinamentos.

O verdadeiro cristão se revela pela reforma íntima por que fizer passar o seu espírito, e pelo esforço que faz para vencer os seus maus pendores.

5. Qual é o papel do Cristianismo?
O Cristianismo, através de seu código de moral cristã - o Evangelho – é a expressão das leis divinas e, por isso, exerce o nobre papel de conduzir, por um único caminho, todas as criaturas ao Pai.

“O Cristianismo, qual o fizeram há muitos séculos, continua a pregar essas virtudes divinas; esforça-se por espalhar seus frutos, mas quão poucos os colhem!”

6. Por que o Cristianismo, sendo essa árvore possante, não conseguiu ainda implantar-se totalmente na Terra?
Porque os homens procuram moldá-lo pelas suas idéias, deturpando-o nas suas finalidades, levando-o a se afastar de sua feição original.

“Cada espírito se afirma bem ou mal, aproveitando as criações do Excelso Pai para subir à luz ou delas abusando para descer às trevas.”
(Emmanuel/O Espírito da Verdade).


7. O que devemos fazer, então, para que a árvore do Cristianismo floresça?
Educarmo –nos dentro dos ensinos preconizados por Jesus, através de uma reforma que comece dentro de nós, sem o que não haverá reforma no mundo que nos rodeia.

“(...) somente as obras que fizermos, em nome do Pai, é que serão marcos indeléveis de nosso caminho, a testificarem de nós.”(Emmanuel/O Espírito da Verdade).

Conclusão:

Diante de Deus, só de obtém méritos através de obras no bem, e não através de simples religiosidade, muitas vezes falsas ou de cunho exterior. É no Cristianismo que se encontram todas as verdades, e não propriamente em alguma religião em particular.

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 18 ÍTENS 10 a 12 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

MUITO SE PEDIRÁ ÀQUELE QUE MUITO RECEBEU

1. O que significa a expressão de Jesus: “Muito se pedirá àquele que muito recebeu?
Que os talentos que recebemos de Deus, sejam os de conhecimento, sejam os de bens materiais, devem ser multiplicados em favor do próximo e nos impõem uma responsabilidade maior perante a Providência Divina e os nossos semelhantes.

A Providência Divina nos cobra a mesma proporção que nos oferece: se muito recebemos, maior é a nossa obrigação de doar em favor do próximo.

2. A ignorância justifica o erro?
Justificar não é bem o termo. Ela apenas abranda a punição. É evidente que, ao contrário do ignorante, aquele que sabe mais deve melhor proceder, sob pena de, não agindo assim, sofrer mais, por ser mais responsável.

Se erramos por desconhecer a verdade, seremos menos punidos (e não, perdoados), eis que Deus só nos cobra o que Dele temos recebido.

3. Assim sendo, não é mais aconselhável saber menos, pois, assim, menos contas teremos que prestar a Deus?
Constitui isso um regozijo efêmero, que apenas fará com que retardemos o nosso progresso, a cuja lei, mais cedo ou mais tarde, inexoravelmente, teremos que aderir.

Deus pune não somente pelos nossos erros cometidos, mas também pela nossa inércia, comodismo e má vontade.

4. De que cegueira nos fala, aqui, Jesus? Seria a dos olhos físicos?
Não. Trata-se da cegueira da alma, que pode ser voluntária nas pessoas que não querem enxergar a verdade personificada por Jesus.

“O pior cego é aquele que não quer ver.”

5. Por que os fariseus eram grandes pecadores?
Porque conheciam a lei de Deus, pregavam-na, mas não a praticavam.

“Mas, agora, dizeis que vedes e é por isso que em vós permanece o vosso pecado.”

6. O Evangelho está ao alcance de todos?
Sim, pois ele veio para atingir todas as camadas, podendo o seu aprendizado ser acessível e adquirido por todos, inclusive por analfabetos, pelo simples ouvir de suas prédicas .

O ensino dos espíritos, que se espalham por toda parte, permite que as máximas do Evangelho se estenda a todos, letrados ou iletrados, crentes ou incrédulos, cristãos ou não.

7. O conhecimento do Evangelho implica a vivência de seus ensinamentos?
O seu conhecimento implica proporcional responsabilidade pelos atos cometidos. Assim sendo, aqueles que o conhecem e não o vivenciam serão mais severamente punidos.

O Evangelho não é apenas uma admirável de vida, mas encerra as próprias leis da vida, às quais estamos subordinados.

8. O conhecimento espírita propicia mais responsabilidade?
Sim. Contudo, maiores alegrias também, se bem praticado.

“Aos espíritas, pois, muito será pedido, porque muito hão recebido; mas, também, aos que houverem aproveitado, muito será dado.”

Conclusão:

Os talentos que recebemos de Deus, em termos de conhecimento e bens materiais, devem ser multiplicados em favor do próximo. Perante Deus, a responsabilidade dos nossos atos é diretamente proporcional ao esclarecimento de que já somos portadores.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES


Capítulo 21 - Homosexualidade

Pergunta - Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?

Resposta: - Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar. Item n° 202, de "O Livro dos Espíritos".

A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação. Observada a
ocorrência, mais com os preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais. A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinqüência.
A vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas.
O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta. A face disso, a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese ao corpo de formação masculina que o segregue, verificando-se análogo processo com referência à mulher nas mesmas circunstâncias. Obviamente compreensível, em vista do exposto, que o Espírito no renascimento, entre os homens, pode tomar um corpo feminino ou masculino, não apenas atendendo-se ao imperativo de encargos particulares em determinado setor de ação, como também no que concerne a obrigações regenerativas. O homem que abusou das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas com a destruição de uniões construtivas e lares diversos, em muitos casos é induzido a buscar nova posição, no renascimento físico, em corpo morfologicamente feminino, aprendendo, em regime de prisão, a reajustar os próprios sentimentos, e a mulher que agiu de igual modo é impulsionada à reencarnação em corpo morfologicamente masculino, com idênticos fins. E, ainda, em muitos outros casos, Espíritos cultos e sensíveis, aspirando a realizar tarefas específicas na elevação de agrupamentos humanos e, conseqüentemente, na elevação de si próprios, rogam dos Instrutores da Vida Maior que os assistem a própria internação no campo físico, em vestimenta carnal oposta à estrutura psicológica pela qual transitoriamente se definem. Escolhem com isso viver temporariamente ocultos na armadura carnal, com o que se garantem contra arrastamentos irreversíveis, no mundo afetivo, de maneira a perseverarem, sem maiores dificuldades, nos objetivos que abraçam.


Observadas as tendências homossexuais dos companheiros reencarnados nessa faixa de prova ou de experiência, é forçoso se lhes dê o amparo educativo adequado, tanto quanto se administra instrução à maioria heterossexual. E para que isso se verifique em linhas de justiça e compreensão, caminha o mundo de hoje para mais alto entendimento dos problemas do amor e do sexo, porquanto, à frente da vida eterna, os erros e acertos dos irmãos de qualquer procedência, nos domínios do sexo e do amor, são analisados pelo mesmo elevado gabarito de Justiça e Misericórdia. Isso porque todos os assuntos nessa área da evolução e da vida se especificam na intimidade da consciência de cada um.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 18 ÍTENS 6 a 9 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NEM TODOS OS QUE DIZEM: SENHOR, SENHOR! ENTRARÃO NO REINO DOS CÉUS

1. Por que nem todos os que dizem: Senhor, Senhor! Entrarão no reino dos céus?
Porque a entrada do reino dos céus só é facultada àqueles que cumprem a lei de Deus, segundo os preceitos de Jesus. E nem sempre o balbuciar de palavras reverenciando o Senhor é acompanhado de atos que caracterizam e dignificam o verdadeiro cristão.

Os atos exteriores de devoção, as expressões bonitas, sem o sacrifício do nosso orgulho, egoísmo e cupidez, nada valem aos olhos do Pai. A Ele interessa o que vai em nosso íntimo.

2. Onde buscar a lei de Deus, para conhecê-la?
No reduto da nossa própria consciência. Além disso, o Evangelho de Jesus é repositório de seus ensinamentos, sob a forma de lembrete e convite à nossa reforma íntima.

Com a humildade de coração e a fé em Deus e no futuro, nos é permitido compreender melhor suas leis.

3. Que lição a passagem nos ensina?
Que só teremos sucesso em nossas obras se, na sua elaboração, levarmos em conta os preceitos divinos, que nos recomendam agir com prudência, coragem e boa vontade.

O espírito dever ser conhecido pelas suas obras, e estas devem estar sustentadas em bases sólidas.

4. O que é necessário o homem fazer para conquistar o reino dos céus?
Usar os recursos intelectuais, materiais e morais de que dispõe, para realizar, tão bem quanto possível, a tarefa que lhe cabe como cristão, e todo o bem ao seu alcance, seguindo sempre o roteiro traçado por Jesus.

Só chegaremos a bom termo no cumprimento das tarefas que nos compete realizar, se tomarmos por base os mandamentos divinos.

5. Quer dizer, então, que as orações que preferimos com palavras abundantes e enaltecedoras ao Criador não são bem recebidas por Ele?
Não é bem assim. Toda oração que seja a sua forma, é bem recebida por Deus, desde que parta de um coração sincero e puro, e seja secundada por atos que a enobreçam e justifiquem.

“Não espereis dobrar a justiça do Senhor pela multiplicidade das vossas palavras e das vossas genuflexões.”

6. Qual é o papel da religião no relacionamento da criatura com o Criador?
Esclarecê-la quanto aos procedimentos a adotar em sua vida, objetivando sua ascensão até o Pai, já que o processo de salvação é individual e em função das obras de cada um.

“O caminho único que vos está Berto, para achardes graça perante ele, é o da prática sincera da lei de amor e caridade.”

7. A que instituição, na Terra, se vincula o Evangelho?
A nenhuma. O Evangelho é roteiro de luz para todas as criaturas que, tendo-o à frente de todos os seus atos, renovarão a sociedade humana para implantação do reino de Deus na Terra.

“Eis porque todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas que se apoiarem nessas palavras serão estáveis como a casa construída sobre a rocha.”

Conclusão:

Conhecer a lei de Deus e reverenciá-lo por palavras é condição necessária, porém não suficiente para a felicidade plena; é igualmente indispensável agir de acordo com os ditames da soberana lei, tão bem expressa e exemplificada por Jesus, em seu Evangelho.

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 18 ÍTENS 3 e 5 - MARIA J. CAMPOS


FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

A PORTA ESTREITA

1. Em que consistem a porta estreita e a porta larga, referidas no texto?
A porta estreita simboliza a difícil caminhada do espírito em busca da luz; a porta larga, o roteiro fácil do espírito pelo caminho do erro e da perdição.

“A porta estreita revela o acerto espiritual que nos permite marchar ma senda evolutiva, com o justo aproveitamento das horas; a porta larga expressa-nos o desequilíbrio interior, com que somos forçados à dor da reparação, com lastimáveis perdas de tempo.”(Emmanuel/O Espírito da Verdade – mens. 14)

2. Entrar pela porta estreita é um privilégio?
Não. É conquista acessível a todos, uma vez que o progresso está na lei de Deus.

No dicionário divino não existe o termo “privilégio”.

3. Por que é larga a porta da perdição e estreita a da salvação?
Reler o primeiro parágrafo do item 5 e solicitar a algum participante que o explique, corrigindo as possíveis distorções).
“Porta larga – entrada na ilusão -, saída pelo reajuste...
Porta estreita – saída pelo erro -, entrada na renovação... ”
(Emmanuel/O Espírito da Verdade)


4. Por que a maioria prefere o caminho da porta larga, se é o da estreita que “salva”?
Não se trata propriamente de uma preferência, mas de uma predisposição do homem em perambular pelas veredas do erro, em face do estágio evolutivo em que se encontra a Humanidade, hoje, na Terra.

Ao influxo da lei do processo, o homem, mais cedo ou mais tarde, cederá à necessidade de evoluir e de tomar o caminho que conduz à porta estreita.

5. Por ser grande a massa de iludidos pela porta larga, significa ser ela um obstáculo intransponível?
Não. Esse obstáculo é difícil, no entanto, nada nem ninguém detém a marcha do progresso das criaturas que a queiram encetar, desde que de acordo com os desígnios divinos.

O progresso está ínsito na lei divina e nada há que o impeça de implantar-se na Terra.

6. O que acontece aos que elegem a caminho da porta larga?
Àqueles que rejeitam o convite fraterno do Evangelho para a porta estreita, o tempo e a dor a ela conduzirão em regime de misericórdia divina.

Nenhuma ovelha se perderá no rebanho do Senhor, e todos faremos parte, um dia, da sublime família universal.

7. Será sempre estreita a porta da salvação?
Não. À proporção que aumentar o número de caminheiros do bem, ela se alargará e menos árdua será a caminhada daqueles que se propõem a alcançá-la.

Conforme o homem vai evoluindo, mais consciência toma da necessidade de praticar o bem e menos difícil é seguir esse caminho.

8. Sobre esse assunto, o que nos revela o princípio da anterioridade da alma e da pluralidade dos mundos?
Revela-nos que, pela benção da reencarnação, o homem pode melhorar-se e fazer melhorar o atual estado em que se encontra a Humanidade terrena.

Dia virá em que na Terra só haverá lugar para os caminheiros da porta estreita.

Conclusão:

A porta estreita é o único caminho que nos levará, todos, a Deus. Quando rejeitamos o convite fraterno para a porta estreita, o tempo e a dor a ela nos conduzirão, em regime de misericórdia divina.

ESTUDO DO LIVRO LIBERTAÇÃO - CAPÍTULO 12 - JULIANA SOLARE



Missão de Amor

Voltando a casa, algumas horas transcorreram tocadas para nós de singular expectativa; entretanto, à noitinha, Saldanha manifestou o propósito de visitar o filho hospitalizado.
Com espanto, reparei que o nosso Instrutor lhe pedia permissão para que o acompanhássemos.
O perseguidor de Margarida, algo surpreso, acedeu, indagando, porém, quanto ao móvel de semelhante solicitação:
— Quem sabe se poderemos ser úteis? — respondeu Gúbio, otimista.
Não houve relutância.
Guardadas rigorosas precauções por parte de Saldanha, que se fêz substituir, junto à doente, por Leôncio, um dos dois implacáveis hipnotizadores, rumamos para o hospício.
Entre variadas vítimas da demência, relegadas a reajuste cruel, a posição de Jorge era de lamentar. Encontramo-lo de bruços, no cimento gelado de cela primitiva. Mostrava as mãos feridas, coladas ao rosto imóvel.
O genitor, que até ali se nos afigurara impermeável e endurecido, contemplou o filho com visível angústia nos olhos velados de pranto e elucidou com infinita amargura na voz:
— Está, certamente, repousando depois de crise forte.
Não era, contudo, o rapaz tresloucado e abatido quem mais inspirava compaixão. Agarradas a ele, ligadas ao circulo vital que lhe era próprio, a mãezinha e a esposa desencarnadas absorviam-lhe os recursos orgânicos. Jaziam igualmente estiradas no chão, letárgicas quase, como se houvessem atravessado violento acesso de dor.
Irene, a suicida, trazia a destra jungida à garganta, apresentando o quadro perfeito de quem vivia sob dolorosa aflição de envenenamento, ao passo que a genitora enlaçava o enfermo, de olhos parados nele, exibindo ambas sinais iniludíveis de atormentada introversão. Fluidos semelhantes a massa viscosa cobriam-lhes todo o cérebro, desde a extremidade da medula espinhal até os lobos frontais, acentuando-se nas zonas motoras e sensitivas.
Concentradas nas forças do infeliz, como se a personalidade de Jorge representasse a única ponte de que dispunham para a comunicação com a forma de existência que vinham de abandonar, revelavam-se integralmente subjugadas pelos interesses primários da vida física.
— Estão loucas — informou Saldanha, na intenção evidente de ser agradável —, não me compreendem, nem me reconhecem, embora me fixem. Guardam o comportamento de crianças, quando fustigadas pela dor. Corações de porcelana, quebrados fàcilmente.
E franzindo o sobrecenho, transtornado agora por insofreável rancor, acrescentou:
— Raras mulheres sabem conservar a fortaleza nas guerras de revide. Em geral, sucumbem rapidamente, vencidas pela ternura inoperante.
Nosso orientador, desejando anular as vibrações de cólera no companheiro, cortou-lhe o rumo das impressões destrutivas, confirmando, pesaroso:
— Demoram-se, efetivamente, em profunda hipnose. Nossas irmãs não conseguiram, por enquanto, ultrapassar o pesadelo do sofrimento, no transe da morte, qual acontece ao viajante que inicia a travessia de vasta corrente de águas turvas, sem recursos para alcançar a outra margem. Ligadas ao filho e esposo, objeto que lhes centralizou, nas horas finais do corpo denso, todas as preocupações afetivas, combinaram as próprias energias com as forças torturadas dele e aquietam-se, aflitivamente, no centro dos fluidos que lhes constituem criação individual, como acontece ao “Bombyx mori” imobilizado e dormente sob os fios, tecidos por ele mesmo.
O obsessor de Margarida registrou as observações, demonstrando indisfarçável surpresa no olhar e acentuou, mais calmo:
— Por mais que eu me procure insinuar, gritando-lhes meu nome aos ouvidos, não conseguem entender-me. Em verdade, movem-se e se lastimam, através de longas frases desconexas, mas a memória e a atenção parecem mortas. Se insisto, carregando-as, a custo, ansioso por infundir-lhes vida nova com que me possam auxiliar na vingança, vejo baldado todo esforço, porquanto regressam imediatamente para Jorge, logo que as suponho livres, num impulso análogo ao das agulhas que um Imã recolhe a distância.
— Sim — corroborou o nosso diretor —, mostram-se temporariamente esmagadas de pavor, desânimo e sofrimento. Pela ausência de trabalho mental contínuo e bem coordenado, não expeliram as “forças coagulantes” do desalento, que elas mesmas produziram, inconformadas, ante os imperativos da luta normal na Terra e entregaram-se, com indiferença, a deplorável torpor, dentro do qual se alimentam das energias do enfermo. Drenado incessantemente nas reservas psíquicas, o doente, hipnotizado por ambas, vive entre alucinações e desesperos, naturalmente incompreensíveis para quantos o rodeiam.
Com sincera disposição de servir, Gúbio sentou-se no piso cimentado e, num gesto de extrema bondade, acomodou no regaço paternal as cabeças das três personagens daquela cena comovente de dor, e, endereçando olhar amigo ao algoz da mulher que pretendia salvar, que o observava espantadiço, indagou:
— Saldanha, permite-me algo fazer em benefício dos nossos?
A fisionomia do perseguidor modificou-se.
Aquele gesto espontâneo do nosso orientador desarmava-lhe o coração, emocionando-o nas fibras mais íntimas, a julgar pelo sorriso que lhe inundou o semblante até então desagradável e sombrio.
— Como não? — falou quase gentil... — É o que procuro realizar inutilmente.
Impressionado com a lição que recebíamos, contemplei a paisagem ao redor, cotejando-a com a da câmara em que Margarida experimentava aflição e tortura. Os impedimentos aqui eram muito mais difíceis de vencer. O cubículo transbordava imundície. Nas celas contíguas, entidades de repugnante aspecto se arrastavam a esmo. Mostravam algumas características animalescas, de pasmar. A atmosfera para nós se fizera sufocante, saturada de nuvens de substâncias escuras, formadas pelos pensamentos em desequilíbrio de encarnados e desencarnados que perambulavam no local, em deplorável posição.
Confrontando as situações, monologava mentalmente: por que motivo singular não operara nosso orientador no quarto da simpática senhora, que amava por filha espiritual, para entregar-se, ali, sem reservas, ao trabalho de assistência cristã? Vendo-lhe, porém, a solicitude na solução do problema afetivo que atormentava o adversário, entendi, pouco a pouco, através da ação do mentor magnânimo, a beleza emocionante e sublime do ensinamento evangélico: “Ama o teu inimigo, ora por aqueles que te perseguem e caluniam, perdoa setenta vezes sete”.
Gúbio, sob nosso olhar comovido, afagava a fronte das três entidades sofredoras, parecendo liberar cada uma dos fluidos pesados que as entorpeciam, em profundo abatimento. Decorrida meia hora na evidente operação magnética de estimulo, endereçou novo olhar ao verdugo de Margarida, que lhe analisava os mínimos gestos com dobrada atenção, e interrogou:
— Saldanha, não te agastarias se eu orasse em voz alta?
A pergunta obteve os efeitos de um choque.
— Oh! oh!... — fêz o interpelado, surpreendido —, acreditas em semelhante panaceia?
Mas, sentindo-nos, de pronto, a infinita boa vontade, aduziu, confundido:
— Sim... sim... se querem...
Nosso Instrutor valeu-se daquele minuto de simpatia e, alçando o pensamento ao Alto, deprecou, humilde:
— Senhor Jesus! Nosso Divino Amigo...
Há sempre quem peça pelos perseguidos, mas raros se lembram de auxiliar os perseguidores!
Em toda parte, ouvimos rogativas em beneficio dos que obedecem, entretanto, é dificil surpreendermos uma súplica em favor dos que administram.
Há muitos que rogam pelos fracos para que sejam, a tempo, socorridos; no entanto, raríssimos corações imploram concurso divino para os fortes, a fim de que sejam bem conduzidos.
Senhor, tua justiça não falha.
Conheces aquele que fere e aquele que é ferido.
Não julgas pelo padrão de nossos desejos caprichosos, porque o teu amor é perfeito e infinito...
Nunca te inclinaste tão somente para os cegos, doentes e desalentados da sorte, porque amparas, na hora justa, os que causam a cegueira, a enfermidade e o desânimo...
Se salvas, em verdade, as vítimas do mal, buscas, igualmente, os pecadores, os infieis e os injustos.
Não menos cabaste a jactância dos doutores e conversaste amorosamente com ele no templo de Jerusalém.
Não condenaste os afortunados e, sim, abençoaste-lhes as obras úteis.
Em casa de Simão, o fariseu orgulhoso, não desprezaste a mulher transviada, ajudaste-a com fraternas mãos.
Não desamparaste os malfeitores, aceitaste a companhia de dois ladrões, no dia da cruz.
Se Tu, Mestre, o Mensageiro Imaculado, assim procedeste na Terra, quem somos nós, Espíritos endividados, para amaldiçoarmo-nos, uns aos outros?
Acende em nós a claridade dum entendimento novo! Auxilia-nos a interpretar as dores do próximo por nossas próprias dores.
Quando atormentados, faze-nos sentir as dificuldades daqueles que nos atormentam para que saibamos vencer os obstáculos em teu nome.
Misericordioso amigo, não nos deixe, sem rumo, relegados à limitação dos nossos próprios sentimentos...
Acrescenta-nos a fé vacilante, descortina-nos as raízes comuns da vida, a fim de compreendermos, finalmente, que somos irmãos uns dos outros.
Ensina-nos que não existe outra lei, fora do sacrifício, que nos possa facultar o anelado crescimento para os mundos divinos.
Impele-nos à compreensão do drama redentor a que nos achamos vinculados.
Ajuda-nos a converter o ódio em amor, porque não sabemos, em nossa condição de inferioridade, senão transformar o amor em ódio, quando os teus desígnios se modificam, a nosso respeito.
Temos o coração chagado e os pés feridos na longa marcha, através das incompreensões que nos são próprias, e nossa mente, por isto, aspira ao clima da verdadeira paz, com a mesma aflição por que o viajor extenuado no deserto anseia por água pura.
Senhor, infunde-nos o dom de nos ampararmos mutuamente. Beneficiaste os que não creram em TI, protegeste os que te não compreenderam, ressurgiste para os discípulos que te fugiram, legaste o tesouro do conhecimento divino aos que te crucificaram e esqueceram...
Por que razão, nós outros, míseros vermes do lodo ante uma estrela celeste, quando comparados contigo, recearíamos estender dadivosas mãos aos que nos não entendem ainda?...
O Instrutor imprimira tocante inflexão aos últimos lances da rogativa.
Elói e eu tínhamos os olhos turvos de lágrimas, tanto quanto Saldanha que recuara, aterrado, para um dos ângulos escuros da cela triste.
Gúbio transformara-se, gradualmente. As vibrações vigorosas daquela súplica, que arrancara ao próprio coração, expulsaram as partículas obscuras de que se havia tocado, quando penetrávamos a colônia penal em que conhecêramos Gregório, e sublimada luz brilhava-lhe agora no semblante que o pranto de amor e compunção irisava com intraduzível beleza. Parecia ocultar desconhecido alampadário no peito e na fronte, que despediam raios luminosos de intenso azul, ao mesmo tempo que formoso fio de claridade incompreensível o ligava com o Alto, perante nosso aturdido olhar.
Findo o intervalo, fêz incidir toda a luminosidade que o envolvia sobre as três criaturas que asilava no regaço e exorou:
— É para eles, Senhor, para os que repousam aqui em densas sombras, que te suplicamos a bênção!
Desata-os, Mestre da caridade e da compaixão, liberta-os para que se equilibrem e se reconheçam...
Ajuda-os a se aprimorarem nas emoções do amor santificante, olvidando as paixões inferiores para sempre.
Possam eles sentir-te o desvelado carinho, porque também te amam e te buscam, inconscientemente, embora permaneçam supliciados no vale fundo de sentimentos escuros e degradantes.
Nesse ponto, o orientador interrompeu-se. Tensos jorros de luz projetavam-se em torno dele, atirados por mãos invisíveis aos nossos olhos. Com perceptível emotividade, Gúbio aplicou passes magnéticos em cada um dos três infelizes e, em seguida, falou ao rapaz encarnado:
— Jorge, levanta-te! Estás livre para o necessário reajustamento.
O interpelado arregalou os órgãos visuais, parecendo acordar de pesadelo angustioso.
Inquietação e tristeza desapareceram-lhe do rosto, cêleremente. Num impulso maquinal, obedeceu à ordem recebida, erguendo-se com absoluto controle do raciocinio.
A interferência do benfeitor quebrara os elos que o prendiam às parentas desencarnadas, liberando-lhe a economia psíquica.
Presenciando o acontecimento, Saldanha gritou, em lágrimas:
— Meu filho! meu filho!...
O doente não registrou as exclamações nascidas do entusiasmo paterno, mas procurou o leito singelo onde se aquietou com inesperada serenidade.
Vencido nos melhores sentimentos de que era detentor, o algoz de Margarida aproximou-se do nosso dirigente, com as maneiras de uma criança humilhada que reconhece a superioridade do mestre, mas antes que pudesse tomar-lhe as mãos, para osculá-las talvez, pediu-lhe Gúbio, sem afetação:
— Saldanha, acalma-te. Nossas amigas despertarão agora.
Afagou a cabeça de Iracema e a infortunada mãe de Jorge voltou a si, gemendo:
— Onde estou?...
Reparando, no entanto, a presença do marido, ao lado, nomeou-o por apelido carinhoso de família e bradou, desvairada de emoção:
— Socorre-me! onde está nosso filho? nosso filho?
Passou, logo após, para a fraseologia particular de quem reencontra um ser amado, depois de ausência longa.
O obsessor da doente que nos interessava de mais perto, tangido nas fibras recônditas do ser, derramava agora abundantes lágrimas e buscava o olhar de Gúbio, instintivamente, rogando-lhe, sem palavras, medidas salvacionistas.
— Em que mau sonho me demorei? — indagava a desventurada irmã, chorando convulsivamente — que cela imunda é esta? Será verdade que já atravessamos o túmulo?
E, em crise de desespero, acrescentava:
— Temo o demônio! temo o demônio! Ó Deus meu! salva-me, salva-me!...
Nosso Instrutor dirigiu-lhe palavras encorajadoras e indicou-lhe o filho que descansava, bem ao nosso lado.
Recompondo-se, gradualmente, ela perguntou a Saldanha porque emudecera, faltando à palavra amorosa e confiante de outro tempo, ao que o verdugo de Margarida respondeu, significativamente:
— Iracema, eu ainda não aprendi a ser útil... Não sei confortar ninguém.
A essa altura, a sofredora mãe, então desperta, passou a interessar-se pela companheira de infortúnio, que fazia a mão direita movimentar-se sobre a garganta. Crendo a custo tratar-se da nora, que se lhe fizera irreconhecível, apelou aflita:
— Irene! Irene!
Interveio Gúbio, com o poder de despertamento que lhe era peculiar, distribuindo vigorosas energias aos centros cerebrais da criatura que continuava abatida.
Transcorridos alguns instantes, a nora de Saldanha ergueu-se, num grito terrível.
Sentia dificuldade em articular a voz. Sufocava-se, ruidosamente, presa de angústia infinita.
Nosso orientador, vigilante, segurou-lhe ambas as mãos com a destra e com a mão esquerda ministrou-lhe recursos magnético-balsâmicos sobre a glote e, sobretudo, ao longo das papilas gustativas, acalmando-a, de alguma sorte.
Embora despertada, a suicida não mostrava a relativa consciência de si mesma. Não guardava a menor idéia de que seu corpo físico se desfizera no túmulo. Era o tipo da sonâmbula perfeita, acordando de súbito.
Adiantou-se na direção do esposo, reintegrado nas próprias faculdades e exclamou, estentórica:
— Jorge, Jorge! ainda bem que o veneno nao me matou! Perdoa-me o gesto impensado... Curar-me-ei para vingar-te! Assassinarei o juiz que te condenou a tão cruéis padecimentos!
Observando, ao contrário do que esperava, que o esposo não reagia, implorou:
— Ouve! atende-me! onde dormi tanto tempo? Nossa filha! onde está?
O interpelado, todavia, que se lhe desligara da influência direta nos centros perispirituais, prosseguiu na mesma atitude fleumática e impassível de quem ajuizava com dificuldade a própria situação.
Foi ainda Gúbio quem se abeirou de Irene, elucidando:
— Aquieta-te, minha filha!
— Sossegar-me? eu? — protestou a infortunada — não posso! Quero tornar a casa... Esta grade me asfixia... Cavalheiro, por quem é! reconduza-me ao lar. Meu esposo permanece encarcerado injustamente... Estará por certo dementado... Não me escuta, não me atende. Por minha vez, sinto a garganta carcomida de veneno mortal... quero minha filha e um médico!
Nosso orientador, contudo, respondeu-lhe com voz triste, não obstante acariciar-lhe a fronte assustadiça:
— Filha, as portas de tua casa no mundo cerraram-se para tua alma com os olhos do corpo que perdeste. Teu esposo jaz liberado dos compromissos do matrimônio carnal e tua filha, desde muito, foi acolhida em outro lar. É indispensável, pois, que te refaças, de modo a prestar-lhes todo o serviço que desejas.
A desditosa criatura rojou-se de joelhos, soluçando.
— Então, morri? a morte é uma tragédia pior que a vida? — clamou, desesperada.
— A morte é simples mudança de veste — elucidou Gúbio, sereno —, somos o que somos.
Depois do sepulcro, não encontramos senão o paraíso ou o inferno criados por nós mesmos.
E adoçando a voz para conversar na condição de um pai, prosseguiu, comovido:
— Porque atiraste fora o remédio salvador, esfacelando o vaso sagrado que o continha? nunca ouviste o choro dos que padeciam mais que tu mesma? jamais te inclinaste para registrar as aflições que vinham de mais fundo? porque não auscultaste o silencioso martírio daqueles que não possuem mãos para reagir, pernas para andar, voz para suplicar?
— A revolta consumiu-me.... — explicou a desventurada.
— Sim — confirmou o Instrutor, solícito —, um momento de rebeldia põe um destino em perigo, como diminuto erro de cálculo ameaça a estabilidade dum ediff cio inteiro.
— Infeliz de mim! — suspirou Irene, aceitando a amargosa realidade — onde estava Deus que me não socorreu a tempo?
— A pergunta é inoportuna — esclareceu nosso dirigente bondosamente. — Procuraste saber, antes, onde te encontravas a ponto de te esqueceres tão profundamente de Deus? A bondade do Senhor nunca se ausenta de nós. Se transparecia da bendita oportunidade terrena que te conduzia à vitória espiritual, reside também agora nas lágrimas de contrição que te encaminham à regeneração salutar. Admito que possas, em breve, alcançar semelhante bênção; entretanto, cavaste enorme precipício entre a tua consciência e a harmonia divina, que precisarás transpor efetuando a própria recomposição. Por algum tempo, experimentarás a consequência do ato impensado. Colher fruto imaturo é praticar violência. Intoxicaste a matéria delicada sobre a qual se estruturam os tecidos da alma e poucas circunstâncias te atenuam a gravidade da falta. Não percas, porém, a esperança e dirige os passos na direção do bem. Se o horizonte, por vezes, se faz mais longínquo, nunca se torna inatingível.
E encorajando-a, paternalmente, acentuou:
— Vencerás, Irene; vencerás.
A interlocutora, entre o desapontamento e a rebelião, não parecia interessada em reter os elevados conceitos ouvidos. Desviando a atenção da verdade que a feria, fundo, identificou a presença de Saldanha, passando a gritar medrosamente.
Gúbio interferiu, acalmando-a.
A companheira de Jorge, todavia, dominado o temor infantil, regressou à intemperança mental, pousou no sogro os olhos atormentados e inquiriu:
— Sombra ou fantasma, que procuras aqui? porque não vingaste o filho infeliz? não te dói tanta infâmia inútil? não disporás, acaso, de armas, com que possas ferir o juiz desalmado que nos conspurcou a vida? Cessa, então, com a morte o devotamento dos pais? descansarás, porventura, em algum céu, contemplando Jorge, assim, reduzido a frangalhos? ou ignoras a realidade cruel? que razões te compelem à mudez das estátuas? porque não buscaste, sem repouso, a justiça de Deus, que não se encontra na Terra?
As perguntas semelhavam-se a golpes de ferro em brasa.
O perseguidor de Margarida recebia-as por vergastadas no íntimo, porqüanto extrema indignação lhe empalideceu o semblante. Hesitava, quanto à atitude a assumir, mas, reconhecendo-se diante de um condutor amoroso e sábio, procurou o olhar de Gúbio, rogando-lhe cooperação em silêncio, e o nosso Instrutor tomou, por ele, a palavra.
— Irene — exclamou, melancólico —, a certeza da vida vitoriosa, acima da morte, não te infunde respeito ao coração? Supões estejamos subordinados a um poder que nos desconhece?
Perante a verdade nova que te surpreende a alma, não percebes a infinita sabedoria de um Supremo Doador de todas as bênçãos? Onde se encontra a felicidade da vingança? O sangue e as lágrimas de nossos inimigos apenas aprofundam as chagas que nos abriram nos corações.
Acreditas que a legítima consagração de um pai deva traduzir-se através da dilaceração ou do homicídio, da perseguição ou da cólera? Saldanha veio até este cárcere, por amor, e eu creio que as mais nobres conquistas dele lhe retornam à superfície da personalidade, triunfantes e renascentes!.. Não lhe precipites a ternura paterna no abismo do desespero, de cujas trevas procuras inútilmente fugir.
A desditosa mulher silenciou, soluçante, enquanto o sogro enxugava as lágrimas que as observações generosas de Gúbio lhe haviam arrancado.
Foi então que Iracema se declarou exausta e suplicou a dádiva dum leito.
O nosso orientador convidou Saldanha a se pronunciar.
Se Jorge melhorara, ambas as senhoras desencarnadas exigiam socorro urgente. Não seria lícito abandoná-las àquele clima de desintegração das melhores energias morais.
— Perfeitamente — concordou o obsessor de Margarida, sob intensa modificação —, conheço os celerados que aqui se reúnem, e agora que Iracema e Irene tornaram à consciência que lhes é própria, preocupa-me a gravidade do assunto.
Nosso dirigente explicou-lhe que poderíamos abrigá-las numa organização socorrista, não distante, mas, para levarmos a efeito semelhante medida, não poderíamos olvidar-lhe a permissão.
Saldanha aceitou contente e agradeceu, desapontado. Sentia-se estimulado ao bem, através da palavra cordial de nosso orientador e revelava-se disposto a não perder o mínimo ensejo de corresponder-lhe à dedicação fraterna.
Depois de alguns minutos, ausentávamo-nos do hospício conduzindo as irmãs enfermas a recolhimento adequado, onde Gúbio as internou com todo o prestígio de suas virtudes celestes, ante o visível espanto de Saldanha que não sabia como exprimir-se no reconhecimento a extravasar-lhe da alma.
Ao retornarmos, cabisbaixo e humilhado o perseguidor de Margarida perguntou, timidamente, quais eram as armas justas num serviço de salvação, ao que o nosso orientador retrucou atenciosamente:
— Em todos os lugares, um grande amor pode socorrer o amor menor, dilatando-lhe as fronteiras e impelindo-o para o Alto, e, em toda parte, a grande fé, vitoriosa e sublime, pode auxiliar a fé pequenina e vacilante, arrebatando-a às culminâncias da vida.
Saldanha não voltou à palavra e fizemos a maior parte do caminho em significativo silêncio.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ESTUDO DO LIVRO DESOBSESSÃO DE CHICO XAVIER E WALDO VIEIRA POR ANDRÉ LUIZ



35 - MANIFESTAÇÃO DE ENFERMO ESPIRITUAL (3)

Convém observar que há médiuns psicofônicos para quem os Amigos Espirituais designam determinados tipos de manifestantes que lhes correspondam às tendências, caracteres, formação moral e cultural, especializando-lhes as possibilidades mediúnicas.
Urge não confundir esse imperativo do trabalho de intercâmbio com o chamado animismo ou supostas mistificações inconscientes.

ESTUDO DO LIVRO DESOBSESSÃO DE CHICO XAVIER E WALDO VIEIRA POR ANDRÉ LUIZ



34 - MANIFESTAÇÃO DE ENFERMO ESPIRITUAL (3)

No curso do trabalho mediúnico, os esclarecedores não devem constranger os médiuns psicofônicos a receberem os desencarnados presentes, repetindo ordens e sugestões nesse sentido, atentos ao preceito de espontaneidade, fator essencial ao êxito do intercâmbio.
Os esclarecedores permitirão aos Espíritos sofredores que se exprimam pelos médiuns psicofônicos tanto quanto possível, em matéria de desinibição ou desabafo, desde que a integridade dos médiuns e a dignidade do recinto sejam respeitadas, considerando, porém, que as manifestações devem obedecer às disciplinas de tempo.
Os médiuns, sejam eles esclarecedores ou psicofônicos, sustentarão o máximo cuidado para não prejudicarem as atividades espirituais que lhes competem. Alimentando dúvidas e atitudes suspeitosas, inconciliáveis com a obra de caridade que se dispõem a prestar, muitas vezes põem a perder excelentes serviços de desobsessão, por favorecerem a intromissão de Inteligências perversas.
Os médiuns de qualquer grupo de desobsessão, como aliás acontece a todo espírita, são chamados a honrar sempre e cada vez mais as obrigações de família e profissão, abstendo-se de todas as manifestações e atitudes suscetíveis de induzi-los a cair em profissionalismo religioso.
Compreendam os dirigentes e seus assessores que o esclarecimento aos desencarnados sofredores é semelhante à psicoterapia e que a reunião é tratamento em grupo, cabendo-lhes, quando e quanto possível, a aplicação dos métodos evangélicos. Observando, ainda, que a parte essencial no entendimento é atingir o centro de interesse do Espírito preso a idéias fixas, para que se lhes descongestione o campo mental, devem abster-se, desse modo, de qualquer discurso ou divagação desnecessária.

ESTUDO DO LIVRO DESOBSESSÃO DE CHICO XAVIER E WALDO VIEIRA POR ANDRÉ LUIZ



33 - MANIFESTAÇÃO DE ENFERMO ESPIRITUAL (2)

Os médiuns esclarecedores, pelo que ouçam do manifestante necessitado, deduzam qual o sexo a que ele tenha pertencido, para que a conversação elucidativa se efetue na linha psicológica ideal; analisem, sem espírito de censura ou de escândalo, os problemas de animismo ou mistificação inconsciente que porventura venham a surgir, realizando o possível para esclarecer, com paciência e caridade, os médiuns e os desencarnados envolvidos nesses processos de manifestações obscuras, agindo na equipe com o senso de quem retira criteriosamente um desajuste do corpo sem comprometer as demais peças orgânicas; anulem qualquer intento de discussão ou desafio com entidades comunicantes, dando mesmo razão, algumas vezes, aos Espíritos infelizes e obsessores, reconhecendo que nem sempre a desobsessão real consiste em desfazer o processo obsessivo, de imediato, de vez que, em casos diversos, a separação de obsidiado e obsessor deve ser praticada lentamente; e pratiquem a hipnose construtiva, quando necessário, no ânimo dos Espíritos sofredores comunicantes, quer usando a sonoterapia para entregá-los à direção e ao tratamento dos instrutores espirituais presentes, efetuando a projeção de quadros mentais proveitosos ao esclarecimento, improvisando idéias providenciais do ponto de vista de reeducação, quer sugerindo a produção e ministração de medicamentos ou recursos de contenção em favor dos desencarnados que se mostrem menos acessíveis à enfermagem do grupo.

ESTUDO DO LIVRO DESOBSESSÃO DE CHICO XAVIER E WALDO VIEIRA POR ANDRÉ LUIZ



32 - MANIFESTAÇÃO DE ENFERMO ESPIRITUAL (1)

As manifestações de enfermos espirituais irão até o limite de uma hora a uma hora e meia, na totalidade delas, para que a reunião perdure no máximo por duas horas, excluída a leitura inicial.
O Espírito desencarnado em condição de desequilíbrio e sofrimento utiliza o médium psicofônico (ou mais propriamente, o médium de incorporação), com as deficiências e angústias de que é portador, exigindo a conjugação de bondade e segurança, humildade e vigilância no companheiro que lhe dirige a palavra.
Natural venhamos a compreender no visitante dessa qualidade um doente, para quem cada frase precisa ser medicamento e bálsamo. Claro que não será possível concordar com todas as exigências que formule; no entanto, não é justo reclamar-lhe entendimento normal de que se acha ainda talvez longe de possuir.
Entendamos cada Espírito sofredor qual se nos fosse um familiar extremamente querido, e acertaremos com a porta íntima, através da qual lhe falaremos ao coração.
Neste e nos próximos capítulos são indicadas algumas atitudes naturais dos médiuns psicofônicos em transe.

ESTUDO DO LIVRO DESOBSESSÃO DE CHICO XAVIER E WALDO VIEIRA POR ANDRÉ LUIZ



31 - CONSULTAS AO MENTOR

Começada a reunião, o dirigente, por vezes, tem necessidade de ouvir o mentor espiritual para o exame de assuntos determinados.
Freqüentemente, é um amigo que deseja acesso à reunião e que não pode ser acolhido sem a consulta necessária; de outras, é a localização mais aconselhável para as visitas que venham a ocorrer, é a ministração de socorro medicamentoso ou magnético a esse ou àquele companheiro que se mostre subitamente necessitado de assistência, é a pergunta inevitável e justa em derredor de problemas que sobrevenham no mecanismo da equipe, ou o pedido de cooperação em casos imprevisíveis.
Nessas circunstâncias, o dirigente esperará que o mentor finalize a pequena instrução de início, através do médium responsável, e formulará as indagações que considere inevitáveis e oportunas.

ESTUDO DO LIVRO DESOBSESSÃO DE CHICO XAVIER E WALDO VIEIRA POR ANDRÉ LUIZ



30 - MANIFESTAÇÃO INICIAL DO MENTOR

Feita a oração inicial, o dirigente e a equipe mediúnica esperarão que o mentor espiritual do grupo se manifeste pelo médium psicofônico indicado.
Essa medida é necessária, porqüanto existem situações e problemas, estritamente relacionados com a ordem doutrinária do serviço, apenas visíveis a ele, e o amigo espiritual, na condição de condutor do agrupamento, perante a Vida Maior, precisará dirigir-se ao conjunto, lembrando minudências e respondendo a alguma consulta ocasional que o dirigente lhe queira fazer, transmitindo algum aviso ou propondo determinadas medidas.
Esse entendimento, no limiar do programa de trabalho a executar-se, é indispensável à harmonização dos agentes e fatores de serviço, ainda mesmo que o mentor se utilize do medianeiro tão-só para uma simples oração que, evidentemente, significará tranqüilidade em todos os setores da instrumentação.

ESTUDO DO LIVRO DESOBSESSÃO DE CHICO XAVIER E WALDO VIEIRA POR ANDRÉ LUIZ



29 - PRECE INICIAL

Sobrevindo o momento exato em que a reunião terá começo, o orientador diminuirá o teor da iluminação e tomará a palavra, formulando a prece inicial.
Cogitará, porém, de ser preciso, não se alongando além de dois minutos.
Há quem prefira a oração decorada; todavia, é aconselhável que o dirigente ore com suas próprias palavras, envolvendo a equipe nos sentimentos que lhe fluem da alma.
A prece, nessas circunstâncias, pede o mínimo de tempo, de vez que há entidades em agoniada espera de socorro, à feição do doente desesperado, reclamando medicação substancial. Em diversas circunstâncias, acham-se ligadas desde muitas horas antes à mente do médium psicofônico, alterando-lhe o psiquismo e até mesmo a vida orgânica, motivo pelo qual o socorro direto não deve sofrer dilação.

ESTUDO DO LIVRO DESOBSESSÃO DE CHICO XAVIER E WALDO VIEIRA POR ANDRÉ LUIZ - ALEXANDRE CAMARGO



28 - LEITURA PREPARATÓRIA

A leitura preparatória, que não ultrapassará o tempo-limite de 15 minutos, constituir-se-á, preferentemente, de um dos itens de «O Evangelho segundo o Espiritismo», seguindo-se-lhe uma das questões de «O Livro dos Espíritos», com um trecho de um dos livros de comentários evangélicos, em torno da obra de Allan Kardec.
Efetuada a leitura, o dirigente retirará os livros de sobre a mesa, situando-os em lugar próprio.
O contacto com o ensino espírita, antes do intercâmbio com os irmãos desencarnados, ainda sofredores, dispõe o ambiente à edificação moral, favorecendo a integração vibratória do grupo para o socorro fraterno a ser desenvolvido.
O conjunto evitará entretecer comentários ao redor dos temas expostos, atento que precisa estar em uníssono, à recepção das entidades enfermas em expectativa, quase sempre aguardando alívio com angustiosa ansiedade.
Repitamos, assim: o dirigente providenciará a leitura, aproximadamente quinze minutos antes do momento marcado para o início do intercâmbio, pronunciando a prece de abertura, depois de lida a página última, com o que se iniciarão, para logo, as tarefas programadas.