quinta-feira, 31 de março de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES



Capítulo 9 - União Infeliz

Pergunta - Qual o fim objetivado com a reencarnação?

Resposta - Expiação. melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça? Item n° 167, de "O livro dos Espíritos".

Dolorosa, sem dúvida, a união considerada menos feliz. E, claro, que não existe obrigatoriedade para que alguém suporte, a contragosto, a truculência ou o peso de alguém, ponderando-se que todo espírito é livre no pensamento para definir-se, quanto às próprias resoluções. Que haja, porém, equilíbrio suficiente nos casais unidos pelo compromisso afetivo, para que não percam a oportunidade de construir a verdadeira libertação.
Indiscutivelmente, os débitos que abraçamos são anotados na Contabilidade da Vida; todavia, antes que a vida os registe por fora, grava em nós mesmos, em toda a
extensão, o montante e os característicos de nossas faltas. A pedra que atiramos no
próximo talvez não volte sobre nós em forma de pedra, mas permanece conosco na figura de sofrimento. E, enquanto não se remove a causa da angústia, os efeitos dela
perduram sempre, tanto quanto não se extingue a moléstia, em definitivo, se não a
eliminamos na origem do mal. Nas ligações terrenas, encontramos as grandes alegrias;
no entanto, é também dentro delas que somos habitualmente defrontados pelas mais
duras provações.
Isso porque, embora não percebamos de imediato, recebemos, quase sempre, no companheiro ou na companheira da vida intima, os reflexos de nós próprios.
É natural que todas as conjunções afetivas no mundo se nos figurem como sendo
encantados jardins, enaltecidos de beleza e perfume, lembrando livros de educação, cujo prefácio nos enleva com a exaltação dos objetivos por atingir. A existência física, entretanto, é processo específico de evolução, nas áreas do tempo, e assim como o aluno nenhuma vantagem obterá da escola se não passa dos ornamentos exteriores do educandário em que se matricula, o espírito encarnado nenhum proveito recolheria do casamento, caso pretendesse imobilizar-se no êxtase do noivado. Os princípios cármicos desenovelam-se com as horas. Provas, tentações, crises salvadoras ou situações expiatórias surgem na ocasião exata, na ordem em que se nos recapitulam oportunidades e experiências, qual ocorre à semente que, devidamente plantada, oferece o fruto em tempo certo. O matrimônio pode ser precedido de doçura e esperança, mas isso não impede que os dias subseqüentes, em sua marcha incessante, tragam aos cônjuges os resultados das próprias criações que deixaram para trás. A mudança espera todas as criaturas nos caminhos do Universo, a fim de que a renovação nos aprimore. A jovem suave que hoje nos fascina, para a ligação afetiva, em muitos casos será talvez amanhã a mulher transformada, capaz de impor-nos dificuldades enormes para a consecução da felicidade; no entanto, essa mesma jovem suave foi, no passado - em existências já transcorridas -, a vítima de nós mesmos, quando lhe infligimos os golpes de nossa própria deslealdade ou inconseqüência, convertendo-a na mulher temperamental ou infiel que nos cabe agora relevar e retificar. O rapaz distinto que atrai presentemente a companheira, para os laços da comunhão mais profunda, bastas vezes será provavelmente depois o homem cruel e desorientado, suscetível de constrangê-la a carregar todo um calvário de aflições, incompatíveis com os anseios de ventura que lhe palpitam na alma. Esse mesmo rapaz distinto, porém, foi no pretérito - em existências que já se foram – a vítima dela própria, quando, desregrada ou caprichosa, lhe desfigurou o caráter, metamorfoseando-o no homem vicioso ou fingido que lhe compete tolerar e reeducar. Toda vez que amamos alguém e nos entregamos a esse alguém, no ajuste sexual, ansiando por não nos desligarmos desse alguém, para depois somente depois - surpreender nesse alguém defeitos e nódoas que antes não víamos, estamos à frente de criatura anteriormente dilapidada por nós, a ferir-nos justamente nos pontos em que a prejudicamos, no passado, não só a cobrar-nos o pagamento de contas certas, mas, sobretudo, a esmolar-nos compreensão e assistência, tolerância e misericórdia, para que se refaça ante as leis do destino. A união suposta infeliz deixa de ser, portanto, um cárcere de lágrimas para ser um educandário bendito, onde o espírito equilibrado e afetuoso, longe de abraçar a deserção, aceita, sempre que possível, o companheiro ou a
companheira que mereceu ou de que necessita, a fim de quitar-se com os princípios de
causa e efeito, liberando-se das sombras de ontem para elevar-se, em silenciosa vitória sobre si mesmo, para os domínios da luz.

sexta-feira, 25 de março de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 16 ÍTEM 14 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON

Desprendimentos dos Bens Terrenos

1. Esbanjar a riqueza é manifestação de desprendimento dos bens terrenos?
Não. Quem assim age desconhece que a verdadeira utilidade destes bens é o serviço ao próximo; portanto, sua atitude, além de egoísmo, revela irresponsabilidade, descaso e indiferença para com o próximo e para consigo mesmo (pois dia chegará que irá responder pela leviandade de seus atos).

“Depositaria desses bens, não tem o homem o direito de os dilapidar, como não tem o de os confiscar em seu proveito.”

2. Mas, quem gasta sua fortuna sem pena, não é desprendido e generoso?
A generosidade consiste em colocar os bens materiais a serviço da caridade, e nunca esbanjá-los para a satisfação descuidada dos próprios caprichos.

“Um que despenda a mancheias o ouro de que disponha para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um serviço”.

3. Em que consiste, verdadeiramente, o desprendimento dos bens terrenos?
“ O desapego dos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em bem servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio; em não sacrificar por eles os interesses da vida futura e em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los”. Eis ai o verdadeiro desprendimento.

“Olvidais que, pela riqueza, vos revestistes do caráter sagrado de ministros da caridade na Terra, para serdes da aludida riqueza dispensadores inteligentes.”

4. Que atitude devemos adotar, no caso de perdermos os bens que possuímos?
Devemos ser submissos a vontade de Deus que, havendo nos concedidos bens e os retirado, pode restituir-nos o que nos tirou.

“Resisti animoso ao abatimento, ao desespero que nos paralisa as forças”, e buscai redobradas energias para recomeçar a luta, pois, ao lado de uma prova rude, Deus coloca sempre uma consolação.

5. São os bens materiais os mais preciosos que ao homem é dado possuir?
Não. Há bens infinitamente mais preciosos que os materiais, adquiridos na prática silenciosa da caridade. Apenas estes nos acompanham na eternidade, como a paz interior, a harmonia como o próximo, a comunhão com o Criador.

“Ponderai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa idéia vos ajudará a desprender-vos destes últimos”.

6. Manifesta desprendimento aquele que, voluntariamente, se despoja dos bens que possui?
Quem assim procede compreende mal o verdadeiro sentido do desprendimento e busca, de forma egoísta, eximir-se da responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre seus ombros. Valeria mais se a riqueza fosse transformada em empregos.

A ninguém ordena o Senhor que despoje dos bens que possua, mas, ao contrário, espera que administre em proveito de todos.

7. Ser rico é uma missão que Deus confere ao homem?
Sem dúvida. Deus nos concede riqueza para que aprendamos a administrá-la, tornando-a produtiva em benefício de muitos; para que saibamos prescindir dela quando não a temos e sacrificá-la, quando assim for necessário.

Diga, pois o rico: “Meu Deus, tu me destinaste um novo encargo; dá-me a força de desempenhá-la segundo a tua santa vontade”.

8. Que lição de vida podemos tirar destes ensinamentos?
Que aprendamos a nos contentar com pouco. Se somos pobres, não invejarmos os ricos; se ricos, não esqueçamos que os bens de que dispomos apenas nos estão confiados, e do seu emprego devemos contas a Deus.

“Não sejais depositário infiel, utilizando-os unicamente na satisfação do vosso orgulho e da vossa sensualidade”.

Conclusão:

O desprendimento dos bens terrenos é a virtude que capacita o homem a valorizar os bens matérias que Deus lhe concede e a utilizá-los em benefício de todos, ciente de que sua posse é transitória e sua utilidade deve estar direcionada à prática do bem.

quarta-feira, 23 de março de 2011

ESTUDO DO LIVRO LIBERTAÇÃO - CAPÍTULO 8 - JULIANA SOLARE



Inesperada Intercessão

A sala em que fomos recebidos pelo sacerdote Gregório semelhava-se a estranho santuário, cuja luz interior se alimentava de tochas ardentes.
Sentado em pequeno trono que lhe singularizava a figura no desagradável ambiente, a exótica personagem rodeava-se de mais de cem entidades em atitude adorativa. Dois áulicos, extravagantemente vestidos, manejavam grandes turíbulos, em cujo bojo se consumiam substâncias perfumadas, de violentas emanações.
Trajava ele uma túnica escarlate e nimbava-se de halo pardo-escuro, cujos raios, inquietantes e contundentes, nos feriam a retina.
Fixou em nós o olhar percuciente e inquiridor e estendeu-nos a destra, dando-nos a entender que podíamos aproximar.
Fortemente empolgado, acompanhei Gúbio.
Quem seria Gregório naquele recinto? Um chefe tirânico ou um ídolo vivo, saturado de misterioso poder?
Doze criaturas, ladeando-lhe o dourado assento, ajoelhavam-se, humildes, atentas às ordens que lhe emanassem da boca.
Com um simples gesto determinou regime sigiloso para a conversação que entabolaria conosco, porque, em alguns segundos, o recinto se esvaziou de quantos dentro dele se achavam, estranhos à nossa presença.
Compreendi que cogitaríamos de grave assunto e fitei nosso orientador para copiar-lhe os movimentos.
Gúbio, seguido por Elói e por mim, a reduzida distância, acercou-se do anfitrião que o contemplava de fisionomia rude, passando, de minha parte, a espreitar o esforço de nosso Instrutor para contornar os obstáculos do momento, de modo a não classificar-se por mentiroso, à face da própria consciência.
Cumprimentou-o Gregório, exibindo fingida complacência, e falou:
— Lembra-te de que sou juiz, mandatário do governo forte aqui estabelecido. Não deves, pois, faltar à verdade.
Decorrida pequena pausa, acrescentou:
— Em nosso primeiro encontro, enunciaste um nome...
— Sim — respondeu Gúbio, sereno —, o de uma benfeitora.
— Repete-o! — ordenou o sacerdote, imperativo.
— Matilde.
O semblante de Gregório fêz-se sombrio e angustiado. Dir-se-ia recebera naquele instante tremenda punhalada invisível. Dissimulou, no entanto, dura impassibilidade e, com a firmeza de um administrador orgulhoso e torturado, inquiriu:
— Que tem de comum comigo semelhante criatura?
Nosso orientador redargüiu, sem afetação:
— Asseverou-nos querer-te com desvelado amor materno.
— Evidente engano! — aduziu Gregório, ferino — minha mãe separou-se de mim, há alguns séculos. Ao demais, ainda que me interessasse tal reencontro, estamos fundamentalmente divorciados um do outro. Ela serve ao Cordeiro, eu sirvo aos Dragões (1).
Aquela particularidade da palestra bastava para que minha curiosidade explodisse, indômita.
Quem seriam os dragões a que se reportava? gênios satânicos da lenda de todos os tempos? Espíritos caídos no caminho evolucionário, de inteligência voltada contra os princípios salutares e redentores do Cristo, que todos veneramos na condição do Cordeiro de Deus? Sem dúvida, não me equivocava; no entanto, Gúbio lançou-me significativo olhar, certamente depois de sondar-me, em silêncio, a perquirição Intima, convidando-me, sem palavras, a selar os lábios entreabertos de assombro.
Indiscutivelmente, aquele instante não comportava a conversação dum aprendiz e devia destinar-se às manifestações conscientes e seguras de um mestre.
— Respeitável sacerdote — obtemperou o nosso orientador, com grande surpresa para mim —, não te posso discutir os motivos pessoais. Sei que há uma ordem absoluta na Criação e não ignoro que cada Espírito é um mundo diferente e que cada consciência tem a sua rota.
— Criticas, porventura, os Dragões, que se incumbem da Justiça? — perguntou Gregório, duramente.
— Quem sou para julgar? — comentou Gúbio, com simplicidade — não passo de um servidor na escola da vida.
— Sem eles — prosseguiu o hierofanta, algo colérico —, que seria da conservação da Terra?

(1) Espíritos caídos no mal, desde eras primevas da Criação Planetária, e que operam em zonas inferiores da vida, personificando líderes de rebelião, ódio, vaidade e egoísmo; não são, todavia, demônios eternos, porque individualmente se transformam para o bem, no curso dos séculos, qual acontece aos próprios homens. — Nota do autor espiritual.
Como poderia operar o amor que salva, sem a justiça que corrige? Os Grandes Juizes são temidos e condenados; entretanto, suportam os resíduos humanos, convivem com as nojentas chagas do Planeta, lidam com os crimes do mundo, convertem-se em carcereiros dos perversos e dos vis.
E à maneira da pessoa culpada, que estima longas justificações, continuou, irritadiço:
— Os filhos do Cordeiro poderão ajudar e resgatar a muitos. No entanto, milhões de criaturas (1), como sucede a mim mesmo, não pedem auxílio nem liberação.
Afirma-se que não passamos de transviados morais - Seja - Seremos, então, criminosos, vigiando-nos uns aos outros.
A Terra pertence-nos, porque, dentro dela, a animalidade domina, oferecendo-nos clima ideal. Não tenho, por minha vez, qualquer noção de Céu. Acredito seja uma corte de eleitos, mas o mundo visível para nós constitui extenso reino de condenados. No corpo físico, caímos na rede de circunstâncias fatais; contudo, a teia que os planos inferiores nos prepararam servirá a milhões - Se é nosso destino joeirar o trigo do mundo, nossa peneira não se fará complacente. Experimentados que somos na queda, provaremos todos os que nos surgirem no caminho.
Ordenam os Grandes Juizes que guardemos as portas - Temos, por isso, servidores, em todas as direções. Subordinam-se-nos todos os homens e mulheres afastados da evolução regular, e é forçoso reconhecer que semelhantes individualidades se contam por milhões - Além disso, os tribunais terrestres são insuficientes para a identificação de todos os delitos que se processam entre as criaturas. Nós, sim, é que somos os olhos da sombra, para os quais os menores dramas ocultos não passam despercebidos.
Ante o intervalo que se fizera, contemplei o rosto de Gúbio, que não apresentava qualquer alteração.
Fitando Gregório, com humildade, considerou:
— Grande sacerdote, eu sei que o Senhor Supremo nos aproveita em sua obra divina, segundo as nossas tendências e possibilidades de satisfazer-lhe os desígnios. Os fagócitos no corpo humano são utilizados na eliminação da impureza, do mesmo modo que a faísca elétrica irrompe, insofreável, a fim de sanar os desequilíbrios atmosféricos. Respeito, assim, o teu poder, porque se a Sabedoria Celeste conhece a existência das folhas tenras das árvores, sabe também a razão de teu extenso domínio; entretanto, não concordas em que a nossa interferência prevalece sobre a fatalidade, círculo fechado de circunstâncias que nós mesmos criamos? Não estou habilitado a apreciar o trabalho dos Juizes que administram estes pousos de sofrimento reparador... Conheço, contudo, os quadros pavorosos que se desdobram ao teu olhar. Observo, de perto, os criminosos que se imantam uns aos outros; sondo, de quando em vez, os dramas sombrios daqueles que jazem nas furnas de dor, magnetizados ao mal que praticaram, e não ignoro que a Justiça deve reinar, consoante as determinações soberanas. Todavia, respeitável Gregório, não admites que o amor, instalado nos corações, redimiria todos os pecados? não aceitas, porventura, a vitória final da bondade, através do serviço fraterno que nos eleva e conduz ao Pai Supremo? Se gastássemos nos cometimentos divinos do Cordeiro as mesmas energias que se despendem a serviço dos Dragões, não alcançaríamos, mais apressadamente os objetivos do supremo triunfo?
O sacerdote ouviu, contrariado, e clamou com desagradável inflexão de voz:
— Como pude escutar-te, calado, tanto tempo? somos aqui julgadores na morte de todos aqueles que malbarataram os tesouros da vida. Como inocular amor em corações enregelados?
Não disse o Cordeiro, certa vez, que não se deve lançar pérolas aos porcos? Para cada pastor de rebanho na Terra, há mil porcos ostentando as insígnias da carne. E se o teu Mestre reclama pegureiros ao seu apostolado, que fazer, de nossa parte, senão constituir equipes de inteligências vigorosas, especializadas em corrigir as criaturas delinqüentes que se colocam sob nossa vara diretiva? Os Dragões são os gênios conservadores do mundo físico e se esmeram em preservar a aglutinação dos elementos planetários. Coerentes com a lógica, não entendem o paraíso de imposição. Se o amor conquistasse a Terra, de um dia para outro, desintegrando-lhe os abismos escuros a fim de que a luz sublime aí brilhasse para sempre, fácil e instantânea, como acomodar nesse clima celestial as consciências de lobos e leões, panteras e tigres pela extrema analogia que ainda guardam com essas feras, almas essas que habitam formas humanas aos milhares de milhares? Que seria dos Céus se não vigiássemos os infernos?
Gargalhada sarcástica e estrepitosa seguiu-lhe as palavras.
Gúbio, porém, não se perturbou.
Com simplicidade, tornou a considerar:
— Ouso lembrar, todavia, que, se nos lançássemos todos a socorrer os miseráveis, a miséria se extinguiria; se educássemos os ignorantes, a treva não teria razão de ser; se amparássemos os delinqüentes, oferecendo-lhes estímulos à luta regenerativa, o crime seria varrido da face da Terra.
O sacerdote fêz vibrar uma campainha, que me pareceu destinada a expandir-lhe as expressões de ira e gritou, rouquenho:
— Cala-te! insolente! sabes que te posso punir!...
— Sim — concordou o nosso orientador, imperturbável —, suponho conhecer a extensão de tuas possibilidades. Eu e meus companheiros, à leve ordem de tua boca, podemos receber prisão e tortura e, se esta representa a vontade de teu coração, estamos prontos a recebê-las.
Conhecíamos, de antemão, as probabilidades contra nós, nesta aventura; entretanto, o amor nos inspira e confiamos no mesmo Poder Soberano que te permite aplicar a justiça.
Gregório fitou Gúbio, assombrado, à vista de tamanha coragem e, decerto, aproveitando este a transformação psicológica do momento, enunciou com firmeza serena:
— Declarou-nos Matilde, a nossa benfeitora, que a tua nobreza não se esvaiu e que as tuas elevadas qualidades de caráter permanecem invioladas, não obstante a direção diferente que imprimiste aos passos; por isto mesmo, identificando-te o valor pessoal, chamo-te de “respeitável” nos apelos que te dirijo.
A cólera do sacerdote pareceu amainar-se.
— Não acredito em tuas informações — acentuou, contrariado —, mas sê claro nas rogativas. Não disponho de tempo para falas inúteis.
— Venerável Gregório — pediu nosso Instrutor, humilde —, serei breve. Ouve-me com tolerãncia e bondade. Não ignoras que tua mãe espiritual jamais se esqueceria de Margarida, ameaçada atualmente de loucura e morte, sem razão de ser...
Escutando o informe, o hierofante modificou-se visivelmente, expressando na fisionomia inquietação indisfarçável. A estranha auréola que lhe revestia a fronte revelou tonalidades mais escuras. Dureza singúlar transpareceu-lhe nos olhos felinos e os lábios se lhe contraíram num neto de infinita amargura.
Tive a idéia de que ele nos fulminaria se pudesse, mas conteve-se, imóvel, apesar da expressão agressiva e rude.
— Não desconheces que Matilde possui na tua companheira de outras eras uma pupila muito amada ao coração. As preces dessa torturada filha espiritual atingem-lhe a alma abnegada e luminosa. Gregório: Margarida empenha-se em viver no corpo, faminta de redenção. Aspirações renovadoras banharam-lhe a meninice e, agora, que o casamento, em plena juventude, lhe revigoriza as esperanças, deseja demorar-se no campo de luta benéfica, de modo a ressarcir o passado culposo. Certamente, fortes razões te obrigam a constrangê-la ao retorno, porque lhe armaste caprichoso caminho de morte. Não te reprovo, nem te acuso, pois nada sou. E ainda que o Senhor me conferisse algum alto encargo representativo, não me competiria julgar-te, senão depois de haver vivido a tua própria tragédia, experimentando as tuas próprias dores. Sei, porém, que pelo amor e pelo ódio do pretérito ela permanece intensamente ligada aos raios de tua mente e todos sabemos que os credores e os devedores se encontrarão, uns com os outros, tarde ou cedo, face a face...
Entretanto, a atual existência dela envolve largo serviço salvador. Desposou antigo associado de luta evolutiva que te não é estranho ao coração e reinará, maternalmente, num lar em que devotados benfeitores organizarão formoso ministério de trabalho iluminativo. Espíritos amigos da verdade e do bem se preparam a receber-lhe a ternura materna, quais flores abençoadas pelo orvalho celeste, em caminho de preciosa frutificação. Venho rogar-te, pois, seja suavizada a vindita cruel. Nossa alma, por mais impassível, modifica-se com as horas, o tempo tudo devasta e nos subtrai todos os patrimônios da inferioridade para que a obra de aperfeiçoamento permaneça. A matéria que nos serve às manifestações modifica-se com os dias. E, por mais invencíveis que fôssem os poderosos Juizes aos quais obedeces, não ultrapassariam eles, de nenhum modo, a autoridade soberana do Todo-Misericordioso que lhes permite agir em nome da corrigenda, afeiçoando-lhes a tarefa ao bem comum.
Pesados minutos de expectação e silêncio caíram sobre nós.
Nosso Instrutor, no entanto, longe de desanimar, retomou a palavra, em voz súplice:
— Se ainda não consegues ouvir os recursos interpostos pela Lei do Cordeiro Divino que nos recomenda o amor recíproco e santificante, não te ensurdeças aos apelos do coração materno. Ajuda-nos a liberar Margarida, salvando-a da destrutiva perseguição. Não se faz imperioso o teu concurso pessoal. Bastar-nos-á tua indiferença, a fim de que nos orientemos com a precisa liberdade.
O hierofante riu-se, contrafeito, e acrescentou:
— Observo que conheces a justiça.
— Sim — concordou Gúbio, melancólico.
O anfitrião, contudo, falou sem rebuços:
— Quem lavra sentenças, despreza a renúncia. Entre os que defendem a ordem, o perdão é desconhecido. Determinavam os legisladores da Bíblia que os arestos se baseassem no princípio da troca: “olho por olho e dente por dente”. E já que te mostras tão bem informado acerca de Margarida, poderás, em sã consciência, suprimir as razões que me compelem a decretar-lhe a morte?
— Não discuto os motivos que te conduzem — exclamou nosso orientador, entre aflito e entristecido —, todavia, ouso insistir na súplica fraterna. Auxilia-nos a conservar aquela existência valiosa e frutífera. Ajudando-nos, quem sabe? Talvez, pelos braços carinhosos da vitima de hoje poderias, tu mesmo, voltar ao banho lustral da experiência humana, renovando caminhos para glorioso futuro.
— Qualquer idéia de volta à carne me é intolerável! — gritou Gregório, contrafeito.
— Sabemos, grande sacerdote — continuou Gúbio, muito calmo —, que sem a tua permissão, em vista dos laços que Margarida criou com a tua mente, poderosa e ativa, ser-nos-ia difícil qualquer atividade libertadora. Promete-nos independência de ação! Não te pedimos sustar a sentença, nem pretendemos inocentar Margarida. Quem assume compromissos diante das Leis Eternas é obrigado a encará-los, de frente, agora ou mais tarde, para resgate justo. Rogar-te-íamos, contudo, adiamento na execução de teus propósitos. Concede à tua devedora um intervalo benéfico, em homenagem aos desvelos de tua mãe e, possivelmente, os dias se encarregarão de modificar este processo doloroso.
Demonstrando expressão de surpresa, em face da imprevista solicitação de adiamento, quando, nós mesmos, esperávamos que o orientador se impusesse, reclamando revogação definitiva, Gregório considerou, menos contundente:
— Tenho necessidade do alimento psíquico que só a mente de Margarida me pode proporcionar.
Perguntou Gúbio, mais encorajado:
— E se reencontrasses o doce reconforto da ternura materna, sustentando-te a alma, até que Margarida te pudesse fornecer, redimida e feliz, o sublimado pão do espírito?
O sacerdote levantou-se pela primeira vez e clamou:
— Não creio...
— E se propuséssemos semelhante bênção em troca de tua neutralidade ante o nosso esforço de salvação? Permitir-nos-ias agir concomitantemente com os servidores que te obedecem às ordens? Não os inclinarias contra nós e deixar-nos-ias ombrear com eles, tentando a restauração?
O tempo, dessa forma, daria o último retoque em tuas decisões...
Gregório refletiu alguns instantes e redargüiu:
— É muito tarde.
— Porquê? — indagou nosso Instrutor, inquieto.
— O caso de Margarida — esclareceu o hierofante em tom significativo — está definitivamente entregue a uma falange de sessenta servidores de meu serviço, sob a chefia de duro perseguidor que lhe odeia a família. A solução cabal poderia ter sido alcançada em poucas horas, mas não desejo que ela me volte às mãos, com a revolta de vítima, em cuja fonte interior só me fôsse possível recolher as águas turvas do desespero e do fel. Será torturada como me torturou em outra época; padecerá humilhações sem nome e desejará a morte como valioso bem. Atingida a rendição pelo sofrimento dilacerante, a mente dela me receberá por benfeitor, amoroso e providencial, envolvendo-me nas emissões de carinho que, há muitos anos, venho esperando...
Seria infrutífera qualquer tentativa liberatória. Os raciocínios dela vão sendo conturbados, pouco a pouco, e o trabalho de imantação para a morte estão quase terminados.
O nosso dirigente, no entanto, não se deu por vencido e insistiu:
— E se nos confundíssemos com a tua falange, tentando o serviço a que nos propomos?
Compareceríamos, junto à enferma, como amigos teus e, sem te desrespeitarmos a autoridade, procuraríamos a execução do programa que nos trouxe até aqui, testemunhando a humildade e o amor que o Cordeiro nos ensina.
Gregório pensava, maduramente, em silêncio, mas Gúbio prosseguia com simplicidade e firmeza:
— Concede!... concede!... Dá-nos tua palavra de sacerdote! lembra-te de que, um dia, ainda que não creias, enfrentarás, de novo, o olhar de tua mãe!
O interpelado, após longos minutos de reflexão, ergueu os braços e asseverou:
— Não creio nas possibilidades do tentame; todavia, concordo com a providência a que recorres. Não interferirei.
Em seguida, tilintando a campainha de modo particular, determinou que os auxiliares se reaproximassem. Como que semivencido na batalha em que se empenhara com a própria consciência, invocou a presença de um certo Timão, que nos surgiu pela frente surpreendendo-nos com seu semblante de carrasco. Dirigiu-lhe a palavra, indagando pelo andamento do “Caso-Margarida”, ao que o preposto informou estar o processo de alienação mental quase pronto.
Questão de poucos dias para a segregação em casa de saúde.
Indicando-nos, algo constrangido, determinou Gregório que o auxiliar de sinistro aspecto nos situasse junto da falange que operava, ativa, na execução gradual do seu decreto de morte.

(1) Não devemos esquecer que a argumentação procede de um Espírito poderoso nos raciocínios e que ainda não aceitou a iluminação do Cristo, idêntico, pois, a muitos homens representativos do mundo, obcecados pelos desvarios da inteligência. — Nota do autor espiritual.

sábado, 19 de março de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 16 ÍTEM 13 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON

Emprego da Riqueza

1. A quem pertencem os bens matérias?
A Deus que, no entanto, confia aos homens sua administração, pedindo-lhes severas contas de sua utilização.

O homem é o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos.

2. Quando uma riqueza é mal utilizada?
Quando quem a possui a emprega exclusivamente na sua satisfação pessoal.

“Não retenhas recursos externos de que não careças?”.

3. E a correta utilização da riqueza, quando se dá?
A riqueza bem empregada é o móvel da beneficência, que tanto bem pode causar à humanidade.

4. Quais as maneiras corretas, abordadas no texto, de se empregar a riqueza?
A beneficência, porque presta socorro imediato ao desassistido, atendendo às suas necessidades materiais mais urgentes, como a fome, o frio, o abrigo;
_ A criação de oportunidades de trabalho, visto que prevenir a miséria é dever de todos, sobretudo dos mais aquinhoados.

“(...) o trabalho desenvolve a inteligência e exalta a dignidade do homem (...), enquanto a esmola humilha e degrada.”

5. Como deve agir aquele que possui grande riqueza?
Deve empregá-la em trabalhos de todo gênero, tornando-a produtiva, em benefício de muitos.

“A riqueza concentrada em uma mão deve ser qual fonte de água viva, que espalha a fecundidade e o bem-estar ao seu derredor.”

6. Por que Jesus nunca se referiu à criação de empregos, mas sempre às esmolas?
“Porque naquele tempo e no país em que ele vivia não se conheciam os trabalhos que as artes e a indústria criaram depois e nas quais as riquezas podem ser aplicadas utilmente para o bem geral.”

Àqueles que utilizam a riqueza em benefício de seus irmãos, o Soberano Senhor dirá, como na parábola dos talentos: “Bom e fiel servo, entra na alegria do teu Senhor.”

7. Que lição tiramos deste ensinamento para nossa vida?
Que devemos dar esmola quando assim for necessário; mas, tanto quanto possível, devemos convertê-la em justo salário, a fim de que quem o receber, dele não se envergonhe.

“Lembra-te de que amanhã restituirás à vida o que ela te emprestou, em nome de Deus, e de que os tesouros do teu espírito serão apenas aqueles que houveres amealhado em ti próprio, no campo da educação e das boas obras.”

Conclusão:

Os bens matérias pertencem a Deus, que nos confia, eventualmente, sua administração e dela nos toma severas contas. Cabe-nos, pois utilizá-los corretamente, seja praticando a beneficência, seja convertendo-os em justo salário.

sexta-feira, 18 de março de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES



Capítulo 8 - Divórcio

O divórcio é lei humana que tem por objeto separar legalmente o que já, de fato, está separado. Não é contrário à lei de Deus, pois que apenas reforma o que os homens hão feito e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta a lei divina.

Do item 5, do Cap. XXII, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

Partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o divórcio, a rigor, não deve ser facilitado entre as criaturas. É aí, nos laços matrimoniais definidos nas leis do mundo, que se operam burilamentos e reconciliações endereçados à precisa sublimação da alma.
O casamento será sempre um instituto benemérito, acolhendo, no limiar, em flores de alegria e esperança aqueles que a vida aguarda para o trabalho do seu próprio aperfeiçoamento e perpetuação. Com ele, o progresso ganha novos horizontes e a lei do renascimento atinge os fins para os quais se encaminha. Ocorre, entretanto, que a Sabedoria Divina jamais institui princípios de violência, e o Espírito, conquanto em muitas situações agrave os próprios débitos, dispõe da faculdade de interromper, recusar, modificar, discutir ou adiar, transitoriamente, o desempenho dos compromissos que abraça. Em muitos lances da experiência, é a própria individualidade, na vida do Espírito, antes da reencarnação, que assinala a si mesma o casamento difícil que faceará na estância física, chamando a si o parceiro ou a parceira de existências pretéritas para os ajustes que lhe pacificarão a consciência, à vista de erros perpetrados em outras épocas. Reconduzida, porém, à ribalta terrestre e assumida a união esponsalícia que atraiu a si mesma, ei-la desencorajada à face dos empeços que se lhe desdobram à frente. Por vezes, o companheiro ou a companheira voltam ao exercício da crueldade de outro tempo, seja através de menosprezo, desrespeito, violência ou deslealdade, e o cônjuge prejudicado nem sempre encontra recursos em si para se sobrepor aos processos de dilapidação moral de que é vítima.
Compelidos, muita vez, às últimas fronteiras da resistência, é natural que o esposo ou a esposa, relegado a sofrimento indébito, se valha do divórcio por medida extrema contra o suicídio, o homicídio ou calamidades outras que lhes complicariam ainda mais o destino. Nesses lances da experiência, surge a separação à maneira de bênção necessária e o cônjuge prejudicado encontra no tribunal da própria consciência o apoio moral da auto-aprovação para renovar o caminho que lhe diga respeito, acolhendo ou não nova companhia para a jornada humana. Óbvio que não nos é lícito estimular o divórcio em tempo algum, competindo-nos tão-somente, nesse sentido, reconfortar e reanimar os irmãos em lide, nos casamentos de provação, a fim de que se sobreponham às próprias suscetibilidades e aflições, vencendo as duras etapas de regeneração ou expiação que rogaram antes do renascimento no Plano Físico, em auxílio a si mesmos; ainda assim. É justo reconhecer que a escravidão não vem de Deus e ninguém possui o direito de torturar ninguém, à face das leis eternas. O divórcio, pois, baseado em razões justas, é providência humana e claramente compreensível nos processos de evolução pacifica.
Efetivamente, ensinou Jesus: "não separeis o que Deus ajuntou", e não nos cabe interferir na vida de cônjuge algum, no intuito de arredá-lo da obrigação a que se confiou. Ocorre, porém, que se não nos cabe separar aqueles que as Leis de Deus reuniu para determinados fins, são eles mesmos, os amigos que se enlaçaram pelos vínculos do casamento, que desejam a separação entre si, tocando-nos unicamente a obrigação de respeitar-lhes a livre escolha sem ferir-lhes a decisão.

quinta-feira, 10 de março de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES



Capítulo 7 - Casamento

Pergunta: - Será contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres?

Resposta - É um progresso na marcha da Humanidade. Item n°. 695, de "O Livro dos Espíritos". O casamento ou a união permanente de dois seres, como é óbvio, implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à outra, no campo da assistência mútua. essa união reflete as Leis Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida. Imperioso, porém, que a ligação se baseie na responsabilidade recíproca, de vez que na comunhão sexual um ser humano se entrega a outro ser humano e, por isso mesmo, não deve haver qualquer desconsideração entre si. Quando as obrigações mútuas não são respeitadas no ajuste, a comunhão sexual injuriada ou perfidamente interrompida costuma gerar dolorosas repercussões na consciência, estabelecendo problemas cármicos de solução, por vezes, muito difícil, porquanto ninguém fere alguém sem ferir a si mesmo. Indiscutivelmente, nos Planos Superiores, o liame entre dois seres é espontâneo, composto em vínculos de afinidade inelutável. Na Terra do futuro, as ligações afetivas obedecerão a idêntico princípio e, por antecipação, milhares de criaturas já desfrutam no próprio estágio da encarnação dessas uniões ideais, em que se jungem psiquicamente uma à outra, sem necessidade da permuta sexual, mais profundamente considerada, a fim de se apoiarem mutuamente, na formação de obras preciosas, na esfera do espírito. Acontece, no entanto, que milhões de almas, detidas na evolução primária, jazem no Planeta, arraigadas a débitos escabrosos, perante a lei de causa e efeito e,inclinadas que ainda são ao desequilíbrio e ao abuso, exigem severos estatutos dos homens para a regulação das trocas sexuais que lhes dizem respeito, de modo a que não se façam salteadores impunes na construção do mundo moral. Os débitos contraídos por legiões de companheiros da Humanidade, portadores de entendimento verde para os temas do amor, determinam a existência de milhões de uniões supostamente infelizes, nas quais a reparação de faltas passadas confere a numerosos ajustes sexuais, sejam eles ou não acobertados pelo beneplácito das leis humanas, o aspecto de ligações francamente expiatórias, com base no sofrimento purificador. De qualquer modo, é forçoso reconhecer que não existem no mundo conjugações afetivas, sejam elas quais forem, sem razões nos princípios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são esposadas em comum.

domingo, 6 de março de 2011

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 16 ÍTENS 11 e 12 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON

Emprego da Riqueza

1. O que podemos entender com a frase: “Não podeis servir a Deus e a Mamon”?
Que o amor aos bens e gozos materiais é incompatível com o amor a Deus e ao próximo, visto que aprisiona o homem nas cadeias do egoísmo, levando-o a empregar sua riqueza exclusivamente na satisfação pessoal.

“Se, pois, sentis vossa alma dominada pelas cobiças da carne, dai-vos pressa em alijar o jugo que vos oprime.”

2. É justo utilizarmos a riqueza em nosso bem-estar pessoal?
Sim, desde que respeitemos os limites de nossas necessidades. Ocorre que, normalmente, abusamos desse uso, esquecendo dos nossos irmãos que morrem à míngua, sem o mínimo indispensável à própria subsistência.

“Deus, justo e severo, vos dirá: Que fizeste, ecônomo infiel, dos bens que te confiei?”.

3. Qual o melhor emprego que se pode dar à riqueza?
Utilizá-la conforme os preceitos da verdadeira caridade, que nos ensina a dar com amor, não apenas do que nos sobra, mas um pouco do que nos é necessário.

“Procurais – nestas palavras: “Amai-vos uns aos outros” a solução do problema. (...) Rico!... dá do que te sobra; faze mais:dá um pouco do que te é necessário, porquanto o de que necessitas ainda é supérfluo.”

4. Como devemos atender os nossos irmãos necessitados?
Com sabedoria; sem desconfiança; buscando conhecer as origens de suas necessidades para, se possível, eliminá-las; procurando as vítimas das desgraças para erguê-las, sem as humilhar; indo além do socorro simplesmente material, difundindo o amor de Deus, o amor ao trabalho, o amor ao próximo.

“Alivia primeiro; em seguida informa-te e vê se o trabalho, os conselhos, mesmo a afeição, não serão mais eficazes do que a tua esmola.”

5. E a riqueza do espírito, como devemos utilizá-la?
Tal como as riquezas materiais, as riquezas do espírito devem ser empregadas nas boas obras em favor dos nossos irmãos, visando ao seu esclarecimento e progresso moral.

“Derrama em torno de ti os tesouros da instrução; derrama sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão.”

6. O homem confere igual importância ao bem-estar material e ao aperfeiçoamento moral?
Infelizmente não. Percebe-se que o homem concentra a maior parte de suas atenções e energias no bem-estar material, dedicando pouco ou nenhum tempo ao atendimento das necessidades espirituais.

O homem se preocupa incessantemente com o bem-estar da matéria transitória, e pouca importância dá ao aperfeiçoamento do seu espírito imortal.

7. O esforço por adquirir riquezas e usá-las a nosso bel-prazer não é legítimo?
Tanto uma atitude quanto a outra podem se constituir em equívocos de grandes conseqüências: a primeira, se estimulada exclusivamente pelo egoísmo, produz a vaidade, o orgulho, a cupidez, os excessos; a segunda, favorece o esquecimento do futuro eterno e a negligência dos deveres de solidariedade fraterna.

“Dinheiro de sobra é o amigo e servo que a Divina Providência te envia para substituir-te a presença, onde a tua mão, muitas vezes, não conseguiu chegar.”

Conclusão:

Vivamos como espíritos encarnados, conscientes de que a vida material é um instante fugaz e a vida do espírito é eterna; portanto, concedamos aos bens materiais sua real importância e busquemos, no aperfeiçoamento moral, o caminho que nos levará a Deus.

quinta-feira, 3 de março de 2011

ESTUDO DO LIVRO VIDA E SEXO - FACILITADORAS JULIANA SOLARE E MARIA J. SANCHES



Capítulo 6 - Compromisso Afetivo

O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes se mostra impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do
coração eleva o homem; porém, como determiná-lo com exatidão? Onde começa ele? O
dever principia sempre, para cada um de vós, do ponto em que ameaçais a felicidade ou
a tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha
com relação a vossa. Do item 7, no Cap. XVII, de "O Evangelho Segundo o
Espiritismo". A guerra efetivamente flagela a Humanidade, semeando terror e morticínio, entre as nações; entretanto, a afeição erradamente orientada, através do
compromisso escarnecido, cobre o mundo de vítimas. Quem estude os conflitos do sexo, na atualidade da Terra, admitindo a civilização em decadência, tão-só examinando as absurdidades que se praticam em nome do amor, ainda não entendeu que os problemas do equilíbrio emotivo são, até agora, de todos os tempos, na vida planetária. As Leis do Universo esperar-nos-ão pelos milênios afora, mas terminarão por se inscreverem, a caracteres de luz, em nossas próprias consciências. E essas Leis determinam amemos os outros qual nos amamos. Para que não sejamos mutilados psíquicos, urge não mutilar o próximo. Em matéria de afetividade, no curso dos séculos, vezes inúmeras disparamos na direção do narcisismo e, estirados na volúpia do prazer estéril, espezinhamos sentimentos alheios, impelindo criaturas estimáveis e nobres a processos de angústia e criminalidade, depois de prendê-las a nós mesmos com o vínculo de promessas brilhantes, das quais nos descartamos em movimentação imponderada. Toda vez que determinada pessoa convide outra à comunhão sexual ou aceita de alguém um apelo neste sentido, em bases de afinidade e confiança, estabelece-se entre ambas um circuito de forças, pelo qual a dupla se alimenta psiquicamente de energias espirituais, em regime de reciprocidade. Quando um dos parceiros foge ao compromisso assumido, sem razão justa, lesa o outro na sustentação do equilíbrio emotivo, seja qual for o campo de circunstâncias em que esse compromisso venha a ser efetuado. É dada a ruptura no sistema de permuta das cargas magnéticas de manutenção, de alma para alma, o parceiro prejudicado, se não dispõe de conhecimentos superiores na auto-defensiva, entra em pânico, sem que se lhe possa prever o descontrole que, muitas vezes, raia na delinqüência. Tais resultados da imprudência e da invigilância repercutem no agressor, que partilhará das conseqüências desencadeadas por ele próprio, debitando-se-lhe ao caminho a sementeira partilhada de conflitos e frustrações que carreará para o futuro. Sabemos que a Justiça Humana comina punições para os atos de pilhagem na esfera das realidades objetivas, considerando a respeitabilidade dos interesses alheios; no entanto, os legisladores terrestres perceberão igualmente, um dia, que a Justiça Divina alcança também os contraventores da Lei do Amor e determina se lhes instale nas consciências os reflexos do saque afetivo que perpetram contra os outros. Daí procede a clara certeza de que não escaparemos das equações infelizes dos compromissos de ordem sentimental, injustamente menosprezados, que resgataremos em tempo hábil, parcela a parcela, pela contabilidade dos princípios de causa e efeito. Reencarnados que estaremos sempre, nesse sentido, até exonerar o próprio espírito das mutilações e conflitos hauridos no clima da irreflexão, aprenderemos no corpo de nossas próprias manifestações ou no ambiente da vivência pessoal, através da penalogia sem cárcere aparente, que nunca lesaremos a outrem sem lesar a nós.