quarta-feira, 13 de março de 2013
LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER
VIDA NOVA
A excursão, embora de alguns passos somente, apesar de realizada com o auxílio de energias alheias, agravou-me o abatimento. Contudo, não perdera o gosto de observar, tamanhas as surpresas que se sucediam.
Recordando a ansiedade com que sempre aguardara na Terra as descrições do momento da morte, por parte de companheiros que me haviam antecedido, buscava fixar todas as particularidades da situação, na esperança de transmitir notícias aos irmãos da retaguarda.
Aquele contato inesperado, com a Natureza nos impunha, porém, singular renovação. Os remanescentes das dores físicas desapareciam. A ausência de certas impressões desagradáveis ampliava-me a apatia. Achava-me intensamente aliviado, conquanto
mais fraco.
REPOUSO BREVE
Irresistível desejo de dormir assaltou-me. Bezerra, Andrade e Marta eram benfeitores e expressavam a vida diversa em que eu penetraria doravante. Com certeza, guardariam mil informações preciosas que eu esperava; curioso e feliz, mas, como vencer o sono e pesar-me no cérebro?
Extenuado, vacilante, notei que não envergava as mesmas peças que usava habitualmente no leito. Envolvia-me vasto roupão claro, de convalescente.
Tentei indagar; entretanto, a fraqueza dos órgãos vocais prosseguia sem variações.
Era preciso aceitar os recursos quais se me ofereciam. Não adiantava qualquer interrogação. Indispensáveis a serenidade e a paciência.
Perante o mar, diferençava-se-me a posição orgânica. Aquelas bafagens de ar fresco, que eu recebia encantado, regeneravam -me as forças. Pareciam portadoras de alimento invisível. Inalando-as, permanecia singularmente sustentado, como se houvera sorvido caldo, substancioso.
Marta, agora sentada, oferece-me o regaço acolhedor, acariciando-me a
fronte. Notei que o Irmão Andrade comentava as virtudes do mar no reerguimento das energias do perispírito. Referia-se a casos repetidos de socorro a irmãos recém-desencarnados, conduzidos com êxito à frente das águas.
Desenvolvia o máximo esforço para registrar-lhe as impressões, quando o benemérito amigo me dirigiu a palavra, cuidadoso, aconselhando-me o sono pacífico e restaurador.
Não deveria reagir contra o repouso – desse-me, fraternal –, e acrescentou que não, convinha sacrificar necessidades da alma à curiosidade, embora nobre.
Teria tempo para observar e aprender muito e, pelo menos durante algumas horas, não poderia furtar-me ao descanso imprescindível.
Compreendi o alcance do conselho e obedeci. Entreguei-me sem resistência e perdi a noção de espaço e tempo no sono abençoado e reparador.