quinta-feira, 29 de abril de 2010

ESTUDO DO LIVRO ENTRE A TERRA E O CÉU - CAP. 8 - ORADOR ALEXANDRE X. CAMARGO



8 - DELICIOSA EXCURSÃO

O velhinho desencarnado demonstrava absoluta indiferença, ante a descrição do nosso orientador, mas, como se a presença da nobre senhora lhe despertasse novo interesse, fitou-a, de olhos subitamente iluminados, e bradou:
– Antonina! Antonina!... Socorre-me. Tenho medo! muito medo!...
A interpelada, que fora do corpo denso se mostrava muito mais delicada e mais bela, fixou-o, triste, e inquiriu com amargurado semblante:
– Vovô, que fazes?
O ancião curvou-se e implorou:
– Ajuda-me! Todos na família me esqueceram, com exceção de ti. Não me abandones!... Ele, o meu ferrenho inimigo, me tortura por dentro. Assemelha-se a um demônio, morando em minha consciência...
Tentava agora enlaçá-la, aflito, mas Clarêncio interferiu, indicando-nos:
– Ouça, amigo! Nossos irmãos prometeram ampará-lo e, decerto, cumprirão a palavra. Nossa abnegada Antonina, no momento, precisa ausentar-se, em nossa companhia, por algumas horas.
E abraçando-o, paternal, recomendou:
– Você pode igualmente auxiliá-la. Guarde-lhe a casa, enquanto os meninos repousam. Amanhã, receberá, por sua vez, o socorro de que necessita.
O velho sorriu conformado e aquietou-se.
Deixando-o a sós, na sala estreita, saímos para a noite.
Entrelaçando as mãos e conservando nossas irmãs no circuito fechado de nossas forças, empreendemos a formosa romagem.
Quem na Terra poderá imaginar as deliciosas sensações da alma livre?
Viajando com a rapidez do pensamento, avançamos à frente da sombra noturna, largando para trás o deslumbramento da aurora, em colorido e cantante dilúculo...
Atingindo formosa paisagem, banhada de suave luz, em que um parque imponente e acolhedor se distendia, fixei o semblante de nossas companheiras, que se mostravam extáticas e felizes.
Dona Antonina, amparando-se em Clarêncio qual se fora uma filha apoiada nos braços paternos, inquiriu, maravilhada:
– Porque não transformar esta excursão em transferência definitiva?
Pesa o corpo, à maneira de insuportável cruz de carne, quando conseguimos sentir a Terra, de longe...
– É verdade – concordou a outra irmã, que se sustentava em nós –, porque não nos é dado permanecer, olvidando os pesares e os dissabores do mundo?
– Compreendemos – ajuntou o Ministro, generoso –, compreendemos quanta inquietação punge o espírito reencarnado, mormente quando desperto para a beleza da vida superior; entretanto, é indispensável saibamos louvar a oportunidade de servir, sem
jamais desmerecê-la. Achamo-nos ainda distantes da redenção total e todos nós, com alternativas mais ou menos longas, devemos abraçar a luta na carne, de modo a solver com dignidade nossos velhos compromissos. Somos viajores nos milênios incessantes.
Ontem fomos auxiliados, hoje nos cabe auxiliar.
À medida que avançávamos, ondas de perfume acentuavamse, em torno de nós, revigorando-nos as energias e induzindo-nos a respirar a longos sorvos.
Flores de contextura delicada pendiam abundantemente de árvores vigorosas, embalsamando as leves virações que sussurravam encantadoras melodias...
Como se trouxesse agora todo o busto engrinaldado de luz, Clarêncio sorria, bondoso.
Emudecera-se-lhe a palavra.
Sentíamo-nos todos magnetizados e enternecidos ante a beleza do quadro que nos prendia a admiração.
Antonina, porém, como se estivesse irradiando insopitável curiosidade, mesclada de alegria, voltou a exclamar:
– Ah! se morrêssemos hoje!... se a carne não nos pesasse mais!...
O Ministro, contudo, imprimindo mais grave entonação à voz, mas sem perder a brandura que lhe era peculiar, considerou, de imediato:
Se hoje abandonassem o veículo de matéria densa, quem diz que seriam felizes? Quem de nós obterá a suprema ventura, sem a perfeita sublimação pessoal?
E, fitando Antonina com bondade misturada de compaixão, observou:
Agora, vocês visitarão filhinhos abençoados que a morte lhes arrebatou temporariamente ao convívio terrestre. Vocês se sentem como que num palácio dourado, em pleno paraíso de amor, mas, e os filhinhos que ficam? Haverá Céu sem a presença
daqueles que amamos? Teremos paz sem alegria para os que moram em nosso coração? Imaginemos que as algemas do cárcere físico se partissem agora... O atormentado lar humano cresceria de vulto na saudade que as tomaria de assalto... A lembrança dos
filhos aprisionados no Planeta acorrentá-las-ia ao mundo carnal, à maneira de forte raiz retendo a árvore no solo escuro. Os rogos e os gemidos, as lutas e as provas dos rebentos menos felizes da existência lhes falariam ao espírito mais imperiosamente que os cânticos de bem-aventurança dos filhos afortunados e, naturalmente, desceriam do Céu para a Terra, preferindo a posição de angustiadas servas invisíveis, trocando a resplendente glória da liberdade pelos dolorosos padecimentos da prisão, de vez que a ventura maior de quem ama reside em dar de si mesmo, a favor das criaturas amadas...
As duas mulheres ouviram as sensatas ponderações sem dizer palavra.
Finda a pausa ligeira, o instrutor continuou:
– Somos devedores uns dos outros!... Laços mil nos jungem os corações. Por enquanto, não há paraíso perfeito para quem volta da Terra, tanto quanto não existe purgatório integral para quem regressa ao humano sorvedouro! O amor é a força divina,
alimentando-nos em todos os setores da vida e o nosso melhor patrimônio é o trabalho com que nos compete ajudar-nos mutuamente.
Na paisagem banhada de luz, experimentei mais alta veneração pela Natureza, que, em todas as esferas, é sempre um livro revelador da Eterna Sabedoria...
Nossas irmãs, tocadas por júbilo inexprimível, afiguravam-seme formosas madonas de sonho, repentinamente vivificadas, diante de nós.
– É pelo trabalho – prosseguiu o orientador – que nos despojamos, pouco a pouco, de nossas imperfeições. A Terra, em sua velha expressão física, não é senão energia condensada em época imemorial, agitada e transformada pelo trabalho incessante, e nós, as criaturas de Deus, nos mais diversos degraus da escada evolutiva,
aprimoramos faculdades e crescemos em conhecimento e sublimação, através do serviço... O verme, arrastando-se, trabalha em benefício do solo e de si mesmo; o vegetal, respirando e frutescendo, ajuda a atmosfera e auxilia-se. O animal, em luta perene, é útil à gleba em que se desenvolve, adquirindo experiências que lhe são valiosas, e nossa alma, em constantes peregrinações, através de formas variadas, conquista os valores indispensáveis à sublime ascensão... Somos filhos da eternidade, em movimentação para a glória da verdadeira vida e só pelo trabalho, ajustado à Lei Divina, alcançaremos o real objetivo de nossa marcha!
Antonina, que parecia mais acordada que a sua companheira, para a contemplação do excelso quadro que nos circundava, perguntou, com enlevo:
– Porque não guardamos a viva recordação de nossas existências anteriores? Não seria bendita felicidade o reencontro consciente com aqueles que mais amamos?...
– Sim, sim... – confirmava Clarêncio, enquanto nossa deliciosa excursão prosseguia, célere, mas, na condição espiritual em que ainda nos situamos, não sabemos orientar os nossos desejos para o melhor. Nosso amor ainda é insignificante migalha de luz, sepultada nas trevas do nosso egoísmo, qual ouro que se acolhe no chão, em porções infinitesimais, no corpo gigantesco da escória.
Assim como as fibras do cérebro são as últimas a se consolidarem no veículo físico em que encarnamos na Terra, a memória perfeita é o derradeiro altar que instalamos, em definitivo, no templo de nossa alma, que, no Planeta, ainda se encontra em fases iniciais de desenvolvimento. É por isso que nossas recordações são fragmentárias...
Todavia, de existência a existência, de ascensão em ascensão, nossa memória gradativamente converte-se em visão imperecível, a serviço de nosso espírito imortal...
– Mas se pudéssemos reconhecer no mundo os nossos antigos afetos, se pudéssemos rever os semblantes amigos de outras eras, identificando-os... – aventurou Antonina, reverente.
– Retomar o contacto com os melhores, seria recuperar igualmente os piores – atalhou Clarêncio, bondoso – e, indiscutivelmente, não possuímos até agora o amor equilibrado e puro, que se consagra aos desígnios superiores, sem paixão. Ainda não
sabemos querer sem desprezar, amparar sem desservir. Nossa afetividade, por enquanto, padece deploráveis inclinações. Sem o esquecimento transitório, não saberíamos receber no coração o adversário de ontem para regenerar-nos, regenerando-o.
A Lei é sábia. De qualquer modo, porém, não olvidemos que nosso espírito assinala todos os passos da jornada que lhe é própria, arquivando em si mesmo todos os lances da vida, para formar com eles o mapa do destino, de acordo com os princípios de causa e efeito que nos governam a estrada, mas somente mais tarde, quando o amor e a sabedoria sublimarem a química dos nossos pensamentos, é que conquistaremos a soberana serenidade, capaz de abranger o pretérito em sua feição total...
O Ministro fez ligeiro intervalo, sorriu paternalmente para nós e rematou:
– A Lei, contudo, é invariavelmente a Lei. Viveremos, em qualquer parte, com os resultados de nossas ações, assim como a árvore, em qualquer trato do solo, produzirá conforme a espécie a que se subordina.
O firmamento parecia responder às sugestões da palestra admirável.
Bandos de aves mansas pousavam na ramaria que brilhava não longe de nós.
O Sol apresentava perceptíveis raios diferentes, até agora desconhecidos à apreciação comum na Terra, provocando indefiníveis combinações de cor e luz.
Por abençoada e colorida colméia de amor, harmonioso casario surgiu ao nosso olhar.
Centenas de gárrulas crianças brincavam entre fontes e flores de maravilhoso jardim.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

ESTUDO DO LIVRO NO MUNDO MAIOR - CAPÍTULO 20 - JULIANA SOLARE



NO LAR DE CIPRIANA


Encerrada a semana de estudos que me propusera e guardando valores novos no espírito, acompanhei Calderaro, em pleno crepúsculo, à benemérita fundação nas zonas inferiores, a que o Assistente chamara “Lar de Cipriana”.
Extremamente perplexo, ante o problema que me demandava a atenção, qual o de reencontro inesperado com meu avô, não me sobravam, agora, motivos para longas perquirições de ordem filosófico-científica junto à privilegiada cultura do instrutor, prestes a despedir-se.
A pesquisa cedera lugar à meditação, o raciocínio ao sentimento. Recolhera extenso material referente às manifestações da mente, obtendo valiosas conclusões para definir os desequilíbrios da alma; examinara diversos doentes, com os quais travara relações; identificara moléstias cujas causas se prendiam às mais profundas e menos conhecidas raízes do espírito: entre as novidades, porém, encontrara um enfermo que me transferira da ardente curiosidade intelectual às acuradas reflexões no tangente ao destino e ao ser.
Reconhecia, agora, que, para conseguir a sabedoria com proveito, era indispensável adquirir amor.
Naqueles instantes, calavam em meu ser as perguntas inquietas, sofreadas pelo coração dolorido.
Poderia, em verdade, ter avançado muito no domínio dos conhecimentos novos, conquistado simpatias prestigiosas, renovado as concepções da vida e do Universo, melhorando-as; no entanto, de que me valeriam semelhantes troféuz, se me não fôsse possível socorrer um benfeitor em dificuldade?
De pensamento fixo na surpreendente questão da hora, cheguei, em companhia de Calderaro, àenorme instituição em que Cipriana administrava o constante beneficio de seu devotamento fraternal.
Tratava-se, a meu ver, de casa socorrista diferente de quantas conhecia; parecia grande centro de trabalho prôpriamente terrestre.
A maioria dos companheiros que ai se agitavam não eram portadores de luminosa expressão, mas típicas personalidades humanas em processo regenerador. Com exceção de Cipriana. e dos assessores que lhe compunham o séquito, a comunidade, não pequena, era formada de criaturas evidentemente inferiores: homens e mulheres análogos, no aspecto, aos que povoam os círculos carnais.
Como acontecia habitualmente, Calderaro me veio em auxílio, esclarecendo:
- Irmã Cipriana idealizou este amorável reduto de restauração espiritual, e concretizou-o, usando os próprios irmãos sofredores e perturbados que vagueiam nas regiões circunvizinhas.
É claro que não reside sistematicamente aqui; todavia, neste colégio regenerador passa grande parte do tempo, que consagra ao seu ministério santificante nas esferas de baixo nível de evolução. No fundo, a organização funciona sob a vigilância dos próprios companheiros que vão melhorando. Trata-se, pois, de importante escola de reajustamento anímico, de auto-reconhecimento e de preparação, para individuos de boa vontade. Nossa benemérita amiga iniciou a obra e tornou-se-lhe provedora fidelíssima. Contudo, o instituto é de região inferior para criaturas que desejem melhorar suas condições de existência. Educandário de trânsito, sob a ação direta dos que dele colhem proveito, passou, destarte, a valioso núcleo de instrução e de amparo. Individualidades libertas da carne, em penosas condições intimas nos setores do conhecimento, aqui recebem precioso concurso, a fim de se readaptarem convenientemente à vida.
Grupos diversos de mediana condição dirigiam-se para um edifício ao centro da vastíssima organização, no qual adivinhei o templo votado à prece.
Muitos companheiros se encaminhavam céleres, conversando, ao nosso lado. Havia ali tanta gente alegre e tanta gente preocupada, como em qualquer via pública de grande cidade no plano denso; tive a impressão de que visitávamos enorme universidade, situada em clima sombrio.
Embora, quanto ao aspecto, fôssem distintos entre si, quer os pequenos, quer os numerosos ajuntamentos de irmãos, que aí se moviam, eram idênticos uns aos outros pela nota viva de esperança, que a todos luzia no olhar percuciente. Quantos se nos deparavam, exibiam atitude iniludível de trabalho e de renovação; ainda mesmo os aleijados e doentes que aí estacionavam, em grande número, mostravam disposições de otimismo transformador.
— A venerável instrutora — prosseguiu, benévolo, o Assistente — montou aqui verdadeira oficina de restauração do espírito. Antigos expoentes do orgulho que entre os homens se engriponavam na vaidade e no crime, depois de bastos anos de purgação, e ao demonstrarem propósitos reedificantes, são recolhidos a esta casa, onde reorganizam sentimentos e cabedais, a caminho do porvir. Daqui, como de outras instituições do mesmo gênero, localizadas em plenas regiões expiatórias, saem inúmeras reencarnações retificadoras, O programa fundamental de Cipriana é o esquecimento do mal com a valorização permanente do bem, à luz da esperança em Deus. A principio, a organização custou-lhe muitos sacrifícios, em matéria de tempo e de direito que lhe mereciam os méritos pessoais; no transcurso dos anos, porém, elementos por ela mesma formados passaram a superintender a obra e a conservá-la.
Ponderava eu a bondade e a sabedoria daquela estrênua missionária, pronta a todo serviço de colaboração superior, recordando meu próprio caso ante meu demente avô emaranhado nas sombras, quando penetramos o santuário, onde sua voz se faria ouvir na oração. Cercavam-na diversas criaturas que lhe eram conhecidas.
Um cavalheiro, visívelmente confortado, dizia-lhe, reverente:
— Seguindo-lhe os conselhos, Irmã, não mais senti pesadelos. Renovei minha atitude para com os familiares: passei a cooperar, ao invés de combater.
— Agora, sim! — exclamou Cipriana, satisfeita; o bem duradouro é filho da colaboração fraternal. Você verá quão sensível diferença para sua felicidade se verificará em torno de seus passos.
— Irmã — falou-lhe simpática senhora, minha situação é outra. Agora, reparo que o mundo não foi edificado para mim, e que me cumpre a obrigação de trabalhar em benefício do mundo.
A respeitável interlocutora estampou bela expressão fisionômica e observou:
— Seu progresso é visível, O esquecimento de nossos caprichos pessoais dilata-nos a compreensão.
Trêmulo velhinho, com todas as características de recém-desencarnado, dirigiu-se a ela, de olhos rasos d’água.
— Irmã — balbuciou, triste, ainda experimento os antigos achaques. Há instantes em que me sinto cair, perdendo a noção de mim mesmo, para despertar em seguida, aflito...
A orientadora acariciou-o, discreta, encorajando-o:
— É natural. Esteja, porém, convicto de que a situação melhorará. Gastamos, às vezes, anos, armazenando impressões que naturalmente não se esvaem nalguns dias.
Outros companheiros se aproximavam com o evidente intuito de ouvi-la, mas, notando-nos a presença, veio, sorridente, até nós, informando, obsequiosa:
— André, o problema de nosso enfermo já foi providenciado, em todas as particularidades suscetíveis de solução imediata. Cláudio demorar-se-á no recolhimento até que se apresente em condições de mudança para nosso instituto regenerativo. Aqui se preparará convenientemente para o retorno aos círculos carnais. Tudo se processará com a harmonia desejável. Além disto, nossos cooperadores estão instruídos quanto ao auxílio que devemos a Ismênia para a concretização de seus ideais.
Agradeci, confundido e sensibilizado, rendendo graças a Deus. Nosso entendimento não se prolongou. O sinal da oração chamava-nos ao alegre e doce dever.
Cipriana, assumindo a direção da prece, fêz-se acompanhar pelos colaboradores diretos que a seguiam no momento.
De alma genuflexa, vi-a de olhos erguidos para o alto, de onde jorrava intensa luz sobre a sua fronte... Do tórax, do cérebro e das mãos brotavam radiosas emissões de força divina, das quais ela se constituía visível intermediária para nós todos.
Alcançados pelos fulgurantes raios que fluiam de esfera superior através de sua personalidade sublime, sentíamo-nos embalados por indizível suavidade...
Harmonioso coro de uma centena de vozes bem afinadas cantou inolvidável hino de louvor ao Supremo Pai, arrancando-me copiosas lágrimas.
Logo após, a palavra comovente da instrutora vibrou no ambiente, exorando a proteção do Cristo:

«Senhor Jesus,
Permanente inspiração de nossos caminhos,
Abre-nos, por misericórdia,
Como sempre,
As portas excelsas
De tua providência incomensurável...

Doador da Vida,
Acorda-nos a consciência
Para semearmos ressurreição
Nos vales sombrios da morte;

Distribuidor do Sumo Bem,
Ajuda-nos a combater o mal
Com as armas do espírito;

Príncipe da Paz,
Não nos deixes indiferentes
À discórdia
Que vergasta O coração
De nossos companheiros sofredores;

Mestre da Sabedoria
Afugenta para longe de nós
A sensação de cansaço
À frente dos serviços
Que devemos prestar
Aos nossos irmãos ignorantes;

Emissário do Amor Divino,
Não nos concedas paz
Enquanto não vencermos
Os monstros da guerra e do ódio,
Cooperando contigo,
Em tua augusta obra terrestre;

Pastor da Luz Imortal,
Fortalece-nos,
Para que nunca nos intimidemos
Perante as angústias e desesperos das trevas;

Distribuidor da Riqueza Infinita,
Supre-nos as mãos
Com teus recursos ilimitados,
Para que sejamos úteis
A todos os seres do caminho,
Que ainda se sentem minguados
De teus dons imperecíveis;

Embaixador Angélico,
Não nos abandones ao desejo
De repousar indebitamente,
E converte-nos
Em teus servidores humildes,
Onde estivermos;

Mensageiro da Boa Nova,
Não permitas
Que nossos ouvidos adormeçam
Ao coro dos soluços
Dos que clamam por socorro
Nos círculos do sofrimento;

Companheiro da Eternidade,
Abençoa-nos as responsabilidades e deveres;
Não nos relegues à imperfeição
De que ainda somos portadores!

Dá-nos, amado Jesus, o favor de servir-te
E que o Supremo Senhor do Universo te glorifique
Para sempre.
Assim seja!...

Fizera-se resplandecente o recinto do santuário. Vi, então, através do espesso véu de lágrimas que me assomavam aos olhos, que maravilhosa coroa de brilhantes evanescentes cintilou, por instantes, na cabeça venerável daquela missionária do bem, como se ali fora instantaneamente colocada por mãos invisíveis...
Encerrada a reunião, Cipriana, com admirável simplicidade, veio despedir-se de mim.
Porque não dizer? Tinha meus olhos velados de pranto, desejaria segui-la como filho reconhecido para sempre, tais a sabedoria e o amor que lhe transbordavam do espírito glorificado.
Calderaro foi o primeiro a abraçar-me, fazendo votos de boa viagem, a que não pude responder, sufocado pela intensa comoção. Os demais companheiros saudaram-me, enternecidos, e, por fim, Cipriana apertou-me ao peito, beijou-me maternalmente, e disse com olhos úmidos:
Que o Pai te abençoe. Nunca te esqueça a bondade no desempenho de qualquer obrigação.
E talvez porque me visse tão fundamente sensibilizado, acrescentou:
— Estaremos unidos pelo espírito.
Desvencilhei-me dos seus braços com as saudades do filho, em cujo santuário interior jamais se extingue a chama da gratidão.
De volta, agora, aos trabalhos que me aguardavam, solitário e comovido, aspirei os perfumes da noite clara que se povoava de prodigios mensagens dos astros coruscantes...
— Misericordioso Senhor — supliquei, mentalmente, digna-te abençoar o verme que eu sou!...
Tive a impressão de que meu coração pulsava, túmido, dentro do peito. À frente dos meus olhos faiscavam constelações, indicando gloriosos destinos, no futuro infindável...
E ponderando, em silêncio, a grandeza de Deus, verti copioso pranto de júbilo, dando guarida às intraduzíveis sensações que me invadiam a alma, extasiada e feliz sob nova esperança!

Fim

segunda-feira, 26 de abril de 2010

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 12 ÍTENS 1 a 4 - MARIA J. CAMPOS




FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

AMAI AOS VOSSOS INIMIGOS

Retribuir o Mal com o Bem

1. Que recompensa teremos em retribuir o mal com o bem?
A recompensa de está com Deus e experimentar uma sensação de paz interior e de indescritível felicidade, estado natural daqueles que fielmente cumprem as leis divinas.

O pensamento malévolo cria uma corrente fluídica que impressiona penosamente; o benévolo, ao contrário, nos envolve num agradável bem estar.

2. Por que devemos amar, inclusive, os nossos inimigos?
Primeiro, que eles nos servem para provar nossa paciência, resignação e capacidade de perdoar; segundo, porque é nosso dever ajudar a se reerguerem, para a senda divina, os irmãos que dela se desviaram.

O amor aos inimigos representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.

3. Por que não há mérito em só amarmos os que nos amam?
Porque, quando amamos só os que nos amam, o fazemos por mero dever de retribuição, sem nenhum esforço de nossa parte. Conseqüentemente, não existe aí progresso algum.

Os malfeitores e os criminosos também amam aqueles que lhes são caros. Deus ama a todos nós indistintamente, bons e maus.

4. Qual deve ser, então, o nosso comportamento no relacionamento diário com as pessoas que nos rodeiam?
Devemos tratar a todos, inclusive aqueles com quem não nos afinamos, com a mesma dignidade e respeito que gostaríamos nos dispensassem; fazer aos outros todo o bem ao nosso alcance; e auxiliar sem esperar coisa alguma.

Jesus nos recomendou que amássemos o nosso próximo como a nós mesmos.

5. Amando os inimigos não estaremos apoiando a perversidade e a continuidade do mal?
Não, pois esse amor não tem por fim aprovar suas atitudes, mas sensibilizá-los para a necessidade de se reformarem intimamente. Para isso, é indispensável a nossa paciência e disposição sincera e fraternal em ajudá-los.

O próprio malfeitor se corrigirá do mal, através do sofrimento que experimenta, decorrente de sua má conduta.

6. De que forma podemos amar os inimigos?
Não lhes guardando ódio, rancor ou desejo de vingança; perdoando-lhes o mal que nos causem; experimentando júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; enfim, retribuindo-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar.

Amar os inimigos não é dedicar-lhes extrema afeição, mas não lhes desejar nada que não quiséssemos para nós próprios. Embora seja difícil amar os inimigos, devemos os esforçar para dar-lhes o mesmo tratamento que dispensamos aos amigos.

7. O que dizer os que vêem no inimigo um ser nocivo, indigno de merecer o seu perdão?
São pessoas incrédulas, que desconhecem a harmonia e a justiça que presidem as leis divinas, as quais nos colocam em convívio com aqueles a quem ofendemos no passado que eu, hoje, nos servem de instrumento de evolução.

O inimigo é a mão que Deus nos dá para demonstrarmos paciência e resignação.

Conclusão:

Não existe mérito algum em só amar aqueles que nos amam, visto que os maus também fazem o mesmo. O verdadeiro mérito está em fazer o bem a quem nos faz o mal; em perdoar e amar os nossos inimigos; em fazer, enfim, o bem a todos, indistintamente, sem esperar retribuição alguma.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

ESTUDO DO LIVRO ENTRE A TERRA E O CÉU - CAP. 7 - ORADOR ALEXANDRE X. CAMARGO



7 - CONSCIÊNCIA EM DESEQUILÍBRIO


Consoante as recomendações que havíamos recebido, aguardamos dona Antonina, no estreito recinto em que se processara o culto familiar.
Agora, conseguíamos reparar o ancião desencarnado com mais atenção. Conservando integrais remanescentes da vida física, abatido e trêmulo, parecia inquieto, dementado...
Tentamos debalde uma aproximação.
Não nos via.
Lembrei ao meu companheiro que poderíamos densificar o nosso veículo, pela concentração da vontade, e apressamo-nos na providência.
Em momentos breves, fornecendo a impressão de recémchegados, atraímos-lhe o interesse.
O velhinho precipitou-se para nós, exclamando:
– São oficiais ou praças? Estão pró ou contra?
Aquele olhar esgazeado era efetivamente o de um louco.
Hilário e eu trocamos impressões de curiosidade e espanto.
E antes que nos pronunciássemos, começou a chorar, convulsivamente, acentuando:
– Quem trouxe aqui a idéia de perdoar? Em que ponto me situaria na questão? Devo perdoar ou ser perdoado? Não entendo a necessidade de discussão em torno de um assunto como esse entre fraca mulher e três crianças... Comentários dessa natureza devem ser reservados para pessoas aflitas como eu, que trazem um vulcão no centro do crânio...
Assim dizendo, alteraram-se-lhe as feições fisionômicas.
Afigurou-se-nos mais distante da realidade, mais inconsciente.
Gritando quase, continuou:
– Tudo teria sido modificado se me houvessem facultado o encontro com o novo Generalíssimo... Sua Alteza compreenderme-ia a situação. Era propósito do Marechal requisitar-me para seu serviço exclusivo, entretanto, por influência do meu miserável
perseguidor, sofri transferência injusta...
Nosso inesperado amigo vasculhou com os olhos os recantos da sala, qual se temesse a presença de alguma testemunha invisível, e prosseguiu:
– Ouçam, porém, o que lhes digo! Ele não somente pretendia afastar-me dos favores do Marechal doente, mas planejava furtarme a mulher... Lola Ibarruri! Como não haveria de querê-la com a paixão que me inspirou? Porque teria eu de seguir para Fecho dos
Morros? O intento de me prejudicarem era evidente. Sem dúvida, fui constrangido a sair, mas não fui além de Tacuaral. O General Polidoro não me abandonaria... Devia regressar a Luque e regressei.
.. O infame Esteves, contudo, agira sem descansar... Além de assaltar-me os direitos de enfermeiro no Quartel General, desviara a atenção de Lola... A formosa Ibarruri não mais me pertencia.
Entregara-se ao amigo desleal... Nossa pequena chácara de laranjeiras e nosso jardim estavam esquecidos... Quem disse que não me sacrifiquei na aquisição da encantadora casinha, por mim confiada à pérfida mulher? Durante um mês longo e terrível,
suspirei pelo retorno aos carinhos dela... Quando tornei ao lar, naquela estrelada noite de maio, encontrei-a nos braços do traidor...
Lola tentou desculpar-se, mas surpreendi-os juntos... Quis vingar-me, de imediato, espetando-o com meu punhal, todavia, as tropas deixariam a cidade, daí a três dias, e o meu inimigo, que se esgueirara na sombra, ante a minha aproximação deu-se pressa em viajar, a serviço, no rumo de Itauguá... O ódio passou a dominarme,
enceguecendo-me... Encontrá-lo-ia em alguma parte, abraçálo-ia com a mesma cordialidade fingida com que me abraçara pela primeira vez e arrancar-lhe-ia a vida... Assim fiz... Aparentei ignorar a realidade e busquei-o, sorrindo... e, sorrindo, enveneneio...
Creiam, contudo, que somente me abalancei a semelhante ato, porque ele era impudente, libertino, cruel... Assassinar-me-ia, se eu não tivesse o arrojo de liquidá-lo...
Fez breve pausa e, em seguida, ajoelhando diante de nós, passou a clamar, de novo, em alta voz:
– Oh!... para mim, estou certo de que pratiquei a justiça, mas este homem realmente não me abandona! Lutei tanto!... Casei-me e organizei grande família!... Devotei-me à religião, desfrutei os benefícios dos santos sacramentos e admiti que tudo estivesse amplamente solucionado; entretanto, depois de retirar-me do corpo físico sob a imposição da velhice e da enfermidade, longe de encontrar o céu que parece cada vez mais distante de mim, reconheço que este homem continua a perseguir-me por dentro!...
Faz muitos anos que me despedi dos ossos fatigados e perambulo, aflito e infeliz, carregando o inferno, dentro de mim!... A princípio, procurei o sepulcro, na esperança de soerguer meus restos e, escondendo-me neles, esquecer... esquecer... Compreendendo, porém, que meu desejo era de todo frustrado, fugi para sempre do
lugar que me asila os despojos e devoro ruas e praças, buscando autoridades que me socorram...
Depois de passar as mãos pelo rosto, enxugando as lágrimas, continuou:
– Ó senhores, por quem são!... ainda mesmo que o meu erro fosse tão clamoroso assim, tanto tempo de convívio com este monstro a fitar-me, imperturbável, não bastaria à expiação que me compete ao resgate? Se eu confessasse o crime e me demorasse por menos tempo no cárcere, não estaria redimido, diante dos tribunais?
Sentindo que algo nos caberia dizer à guisa de consolo, afaguei-lhe a cabeça branca e falei, tentando ser gentil:
– Acalme-se, meu irmão! Quem de nós não terá desacertado no caminho da vida? Sua dor não é única... Também nós trazemos o espírito pejado de aflitivas recordações. As lágrimas de desesperação desajudam a alma...
Pelas citações que ouvíramos, percebi que o nosso interlocutor se reportava ao tempo da Guerra do Paraguai e, buscando penetrar o labirinto de suas palavras que estabeleciam ligação do passado com o presente, indaguei:
– A que novo Generalíssimo se refere?
– Ah! ignoram?
E dando-nos a idéia de quem vivia profundamente arraigado a particularidades do pretérito, aduziu:
– Recordo-me com precisão... Sim, a proclamação dele era de 16 de abril... O Príncipe D. Gastão de Orleães era o novo comandante em chefe, mas muito me pesava o afastamento do Marechal...
– Qual deles? – perguntei, reavivando-lhe a memória.
– O Marechal Guilherme Xavier de Souza. Era meu amigo, meu protetor... Doente, cansado, precisava de mim... Contudo, afastaram-me dele... Esteves, o cão infiel...
Nesse instante, porém, a voz extinguiu-se-lhe na garganta.
Esbugalharam-se-lhe os olhos e, como se estivesse atenazado no íntimo por forças terríveis, insondáveis à nossa observação, começou a queixar-se, desesperado:
– Ah! não posso continuar!... Ele, novamente ele, a crescer dentro de mim! Observa-me com asco e ainda lhe ouço as últimas palavras no estertor da morte... Não! Não! – bradava ele, agora, com evidentes sinais de angústia – hei de libertar-me! hei de libertar-me! Tenho fé!
Comovidamente, acerquei-me do pobrezinho e considerei:
– Sim, meu amigo, a fé representa o milagroso salva-vidas de todos os náufragos. Você tem orado? Tem pedido a Jesus amparo e assistência?
– Sim, sim...
– E ainda não lhe chegou qualquer sinal de socorro celeste?
O infortunado centralizou em mim o olhar inquieto e informou:
– Há alguns dias, fui à Igreja do Rosário, recordando, como sempre, a visita que fiz até lá, na véspera de minha partida para a guerra, e tanto rezei que tive a felicidade de ver o Marechal, que me apareceu, de súbito... Estava mais moço e incompreensivelmente refeito... Roguei-lhe proteção ao que me respondeu, informando
que o meu caso seria tomado em apreço, que eu descansasse, pois ainda que os nossos erros sejam grandes, maior é a compaixão de Deus que nunca nos desampara...
E, exibindo um gesto de profundo abatimento, acrescentou:
– Mas, até agora, não tive o menor sinal de renovação do caminho...
Acariciei-lhe a nevada cabeça e considerei, comovidamente:
– Esteja convencido, porém, de que a bondade de Jesus não nos faltará.
– Prometa ajudar-me! Compadeça-se de mim! – gritou o infeliz.
De coração, intimamente tocado por semelhante apelo, hipotequei-lhe a decisão de colaborar em sua paz e soerguimento.
Quando o infortunado ancião procurava abraçar-me, Clarêncio chegou, guiando a outra pupila que nos acompanharia na excursão.
Simpática e humilde, após cumprimentar-nos, manteve-se a distância, O mentor, num átimo, compreendeu o que se passava.
Vimo-lo concentrar-se por momentos, densificando-se para auxiliar com mais presteza.
Saudado pelo velhinho, afagou-lhe a fronte e avisou-nos:
– Permanece dementado. A mente dele fixou-se em recordações que o obcecam.
Mais experiente que nós outros, guardou-o nos braços com paternal carinho, conquistando-lhe a confiança e inquiriu:
– Que procura, meu irmão?
– Venho suplicar o socorro de Antonina, minha neta. É a única pessoa que se lembra de mim com amor... Dentre os numerosos membros de minha família, só ela me oferece asilo na oração...
E, porque reiniciasse as referências lamuriosas, o Ministro colocou a destra sobre a cabeça de nosso interlocutor, como a sondar-lhe o íntimo em minuciosa perquirição e, em seguida, informou:
– Temos aqui nosso irmão Leonardo Pires, desencarnado há cerca de vinte anos... Quando jovem, foi empregado do Marechal Guilherme Xavier de Souza e hoje conserva a mente detida num crime de envenenamento em que se envolveu, quando integrava as forças brasileiras acampadas em Piraju, no Paraguai. Podemos conhecer o delito, em suas particularidades, na tela das recordações que o atormentam... É um domingo de festa em campanha...
11 de julho de 1869... A missa é celebrada em pleno campo por um frade capuchinho... O Conde d’Eu, com a luzida oficialidade do seu Quartel General, está presente... Nosso amigo, muito moço ainda, aparece no corpo da infantaria. Não se mostra, porém,
interessado nas graves advertências do sacerdote, no ato religioso, nem no apelo ardente e patriótico do Generalíssimo, que pronuncia brilhante e inspirada alocução para os convidados... Fita com impertinência um companheiro recém-chegado de Itauguá, enfermeiro em serviços especiais... É José Esteves, irrequieto brasileiro
de olhos escuros e inteligentes, de garboso porte, com os seus trinta anos bem feitos... Partilha com o nosso amigo o afeto de linda mulher desquitada, que abandonou o marido e um filho pelo prazer da aventura... Pires, o irmão que observamos, inconformado com os favores da criatura amada para com o patrício que ele
odeia, finge ignorar-lhe a situação e insinua-se maneiroso e gentil...
Terminada a festa, convida Esteves para refeição mais íntima...
E, juntos, comentam entusiásticos as noitadas do Rio, ansiosos pelo retorno às seduções da retaguarda... Esteves entrosa-se com as impressões de Leonardo, confia nele e conversa, loquaz, até que o vingativo colega, na taverna improvisada, lhe oferece um copo de vinho com o veneno fatal... O companheiro bebe, experimenta estranhas vertigens e morre praguejando... O acontecimento é recebido com admiração... Um médico argentino é chamado a opinar e verifica o envenenamento, contudo, as autoridades julgam o silêncio mais acertado... As tropas deveriam seguir
rumo a Paraguari e o caso é encerrado sem maior investigação...
Leonardo acompanha o Exército para a vanguarda e tenta esquecer o ocorrido... Convive ainda com a requestada mulher, por mais algum tempo, mas, de regresso à terra natal, desinteressa-se dela e casa-se no Brasil, deixando vários descendentes...
Desencarna, valetudinário; todavia, no leito de morte, reconhece que a lembrança do crime lhe castiga o mundo interior... Olvida quase todos os demais episódios da existência para centralizar-se apenas nesse... José Esteves já reencarnou, demorando-se agora em outros setores de luta, mas Leonardo Pires vive com a imagem
do assassinado que se revitaliza, cada dia, na memória dele, ao influxo das sugestões da própria consciência que se considera culpada... Como vemos, é a Lei de causa e efeito a cumprir-se, natural...
Nesse instante, porém, Antonina, em seu veículo sutil, surgiu à porta da câmara em que o seu corpo dormia, vindo ao nosso encontro.

domingo, 18 de abril de 2010

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 11 ÍTENS 14 e 15 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO

Caridade para com os Criminosos - Deve-se expor a vida por um malfeitor?

1. Como fazer caridade a um criminoso?
Não lhe desejando mal, não julgando seus atos, visitando-o no presídio, levando-lhe uma mensagem que poderá conduzi-lo à regeneração.

A violência é fruto do desamor, do egoísmo e da indiferença para com o próximo.

2. O crime desaparecerá da Terra, um dia?
Sim. Quando os homens aprenderem a ser irmãos, obedecendo aos ensinos de Jesus, não estabelecendo diferença entre si e a ninguém desprezando. È com esta finalidade que estamos na Terra.

“Permite deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamentos” .

3. Como devemos considerar os criminosos?
São doentes da alma, como somos também, e irmãos nosso, criados, como nós, para a perfeição.

“Devemos orar com fé pelos criminosos, pois o arrependimento pode tocar-lhes o coração”.

4. Devemos expor a própria vida para salvar um criminoso?
Sim. Livrar um malfeitor da morte, além de constituir um ato de caridade, representa para ele uma oportunidade de reerguimento moral.

Um homem verdadeiramente caridoso não se furta a dar sua própria vida por alguém, mesmo sendo por um malfeitor, pois este também é filho de Deus.

5. A “morte” seria um bem para o criminoso?
Só a Deus cabe julgar. Mas podemos acreditar que, a partir do ato salvacionista, a vida do malfeitor poderia reformular-se para melhor, e conquistaríamos um amigo para a eternidade, disposto a ouvir nossas propostas renovadoras.

Sem a caridade das almas nobres, o malfeitor demoraria muito mais para renovar-se.
Socorre-se um inimigo; deve-se, portanto, socorrer o malfeitor, que é o inimigo da sociedade.


6. Pode um homem vir a se arrepender de seus atos pecaminosos se tiver, diante da morte iminente, a chance de ser salvo?
É possível, pois, nesse instante, o homem perdido vê surgir diante de si todo o seu passado, fazendo-o enxergar a chance de redimir-se vivendo mais algum tempo na recuperação renovadora.

Ao salvar um malfeitor da morte, não devemos indagar se ele vai agradecer ou não; devemos seguir a voz do nosso coração.

Conclusão:

A nossa atitude diante de um criminoso deverá ser de benevolência, de amor, de consolação e de encorajamento. Se tivermos oportunidade de salvá-lo diante da morte, não devemos desperdiçá-la. Ele é tanto nosso irmão quanto o melhor dos homens.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

ESTUDO DO LIVRO NOSSO LAR - CAPÍTULO 33 - JULIANA SOLARE



CURIOSAS OBSERVAÇÕES

Poucos minutos antes de meia-noite, Narcisa permitiu minha ida ao grande portão das Câmaras. Os Samaritanos deviam estar nas vizinhanças.
Era imprescindível observar-lhes a volta, para tomar providências.
Com que emoção tornei ao caminho cercado de árvores frondosas e acolhedoras! Aqui, troncos que recordavam o carvalho vetusto da Terra; além, folhas caprichosas lembrando a acácia e o pinheiro. Aquele ar embalsamado figurava-se-me uma bênção. Nas Câmaras, apesar das janelas amplas, não experimentara tamanha impressão de bem-estar. Assim caminhava, silencioso, sob as frondes carinhosas. Ventos frescos agitavamnas de manso, envolvendo-me em sensações de repouso.
Sentindo-me só, ponderei os acontecimentos que me sobrevieram, desde o primeiro encontro com o Ministro Clarêncio. Onde estaria a paragem de sonho? Na Terra, ou naquela colônia espiritual? Que teria sucedido a Zélia e aos filhinhos? Por que razão me prestavam ali tão grande esclarecimentos sobre as mais variadas questões da vida, omitindo, contudo, qualquer notícia pertinente ao meu antigo lar? Minha própria mãe me selhara o silêncio, abstendo-se de qualquer informação direta.
Tudo indicava a necessidade de esquecer os problemas carnais, no sentido de renovar-me intrinsecamente, e, no entanto, penetrando os recessos do ser, encontrava a saudade viva dos meus. Desejava ardentemente rever a esposa muito amada, receber de novo o beijo dos filhinhos... Por que decisões do destino estávamos agora separados, como se eu fosse um náufrago em praia desconhecida? Simultaneamente, idéias generosas confortavam-me o íntimo. Não era eu o náufrago abandonado. Se
minha experiência podia classificar-se como naufrágio, não devia o desastre senão a mim mesmo. Agora que observava em "Nosso Lar" vibrações novas de trabalho intenso e construtivo, admirava-me de haver perdido tanto tempo no mundo em frioleiras de toda sorte.
Em verdade, muito amara a companheira de lutas e, sem dúvida, dispensara aos filhinhos ternuras incessantes; mas, examinando desapaixonadamente minha situação de esposo e pai, reconhecia que nada criara de sólido e útil no espírito dos meus familiares. Tarde verificava esse descuido. Quem atravessa um campo sem organizar sementeira necessária ao pão e sem proteger a fonte que sacia a sede, não pode voltar com a intenção de abastecer-se. Tais pensamentos instalavam-se-me no cérebro
com veemência irritante. Ao deixar os círculos carnais, encontrara as penúrias da incompreensão. E que teria sucedido à esposa e aos filhinhos, deslocados da estabilidade doméstica para as sombras da viuvez e da orfandade? Inútil interrogação.
O vento calmo parecia sussurrar concepções grandiosas, como que desejoso de me espertar a mente para estados mais altos.
Torturavam-me as inquirições internas, mas, prendendo-me então aos imperativos do dever justo, aproximei-me da grande cancela, investigando além, através dos campos de
cultura.
Tudo luar e serenidade, céu sublime e beleza silenciosa! Extasiandome na contemplação do quadro, demorei alguns minutos entre a admiração e a prece.
Instantes depois, divisei ao longe dois vultos enormes que me impressionaram vivamente. Pareciam dois homens de substância indefinível, semiluminosa. Dos pés e dos braços pendiam filamentos estranhos, e da cabeça como que se escapava um longo fio de singulares proporções. Tive a impressão de identificar dois autênticos fantasmas. Não suportei. Cabelos eriçados, voltei apressadamente ao interior. Inquieto e amedrontado, expus a Narcisa a ocorrência, notando que ela mal continha o
riso.
- Ora essa, meu amigo - disse, por fim, mostrando bom humor, não reconheceu aquelas personagens?
Fundamente desapontado, nada consegui responder, mas Narcisa continuou:
- Também eu, por minha vez, experimentei a mesma surpresa, em outros tempos. Aqueles são os nossos próprios irmãos da Terra. Trata-se de poderosos espíritos que vivem na carne em missão redentora e podem, como nobres iniciados da Eterna Sabedoria, abandonar o veículo corpóreo, transitando livremente em nossos planos. Os filamentos e fios que observou são singularidades que os diferenciam de nós outros. Não se arreceie, portanto. Os encarnados, que conseguem atingir estas paragens, são
criaturas extraordinariamente espiritualizadas, apesar de obscuras ou humildes na Terra.
E, encorajando-me bondosamente, acentuou:
- Vamos até lá. Temos quarenta minutos depois de meia-noite. Os Samaritanos não podem tardar.
Satisfeito, voltei com ela ao grande portão.
Lobrigava-se, ainda, a enorme distância, os dois vultos que se afastavam de "Nosso Lar", tranqüilamente.
A enfermeira contemplou-os, fez um gesto expressivo de reverência e exclamou:
- Estão envolvidos em claridade azul. Devem ser dois mensageiros muito elevados na esfera carnal, em tarefa que não podemos conhecer.
Ali estivemos, minutos longos, parados na contemplação dos campos silenciosos. Em dado momento, porém, a bondosa amiga indicou um ponto escuro no horizonte enluarado, e observou:
- Lá vêm eles!
Identifiquei a caravana que avançava em nossa direção, sob a claridade branda do céu. De repente, ouvi o ladrar de cães, a grande distância.
- Que é isso? - interroguei, assombrado.
- Os cães - disse Narcisa - são auxiliares preciosos nas regiões obscuras do Umbral, onde não estacionam somente os homens desencarnados, mas também verdadeiros monstros, que não cabe agora descrever.
A enfermeira, em voz ativa, chamou os servos distantes, enviando um deles ao interior, transmitindo avisos.
Fixei atentamente o grupo estranho que se aproximava devagarinho.
Seis grandes carros, formato diligência, precedidos de matilhas de cães alegres e bulhentos, eram tirados por animais que, mesmo de longe, me pareceram iguais aos muares terrestres. Mas a nota mais interessante era os grandes bandos de aves, de corpo volumoso, que voavam a curta distância, acima dos carros, produzindo ruídos singulares.
Dirigi-me, incontinenti, a Narcisa, perguntando:
- Onde o aeróbus? Não seria possível utilizá-lo no Umbral?
Dizendo-me que não, indaguei das razões.
Sempre atenciosa, a enfermeira explicou:
- Questão de densidade da matéria. Pode você figurar um exemplo com a água e o ar. O avião que fende a atmosfera do planeta não pode fazer o mesmo na massa equórea. Poderíamos construir determinadas máquinas como o submarino; mas, por espírito de compaixão pelos que sofrem, os núcleos espirituais superiores preferem aplicar aparelhos de transição. Além disso, em muitos casos, não se pode prescindir da colaboração dos animais.
- Como assim? - perguntei, surpreso.
- Os cães facilitam o trabalho, os muares suportam cargas pacientemente e fornecem calor nas zonas onde se faça necessário; e aquelas aves - acrescentou, indicando-as no espaço -, que denominamos íbis viajores, são excelentes auxiliares dos Samaritanos, por devorarem as formas mentais odiosas e perversas, entrando em luta franca com as trevas umbralinas.
Vinha, agora, mais próxima a caravana.
Narcisa fixou-me com bondosa atenção, rematando:
- Mas, no momento, o dever não comporta minudências informativas.
Poderá colher valiosas lições sobre os animais, não aqui, mas no Ministério do Esclarecimento, onde se localizam os parques de estudo e experimentação.
E distribuindo ordens de serviço, aqui e acolá, preparava-se para receber novos doentes do espírito.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

ESTUDO DO LIVRO ENTRE A TERRA E O CÉU - CAP. 6 - ORADOR ALEXANDRE X. CAMARGO



6 - NUM LAR CRISTÃO


Propúnhamo-nos seguir o caso de Zulmira, não só para cooperar, a favor de suas melhoras, mas também para registrar os ensinamentos possíveis, e, solicitando o concurso de Clarêncio, dele ouvimos judiciosas ponderações.
– Sim – disse –, para auxiliar em processos dessa natureza, é preciso marchar para a frente, mas, para compreender o serviço que nos compete e avançar com segurança, é necessário voltar à retaguarda, armando-nos de lições que nos esclareçam.
Não sabíamos como interpretar-lhe a palavra, entretanto, ele mesmo nos socorreu, explicando, depois de ligeira pausa:
– Para realizarmos um estudo geral da situação, convém o contacto com outras personagens do drama que se desenrola. Sernos-á interessante, para isso, uma visita ao pequeno Júlio, no domicílio espiritual em que estagia.
– Oh! será um prazer! – clamei, contente.
– Poderíamos seguir agora? – perguntou Hilário, encantado.
O Ministro refletiu por segundos e observou:
– Nas responsabilidades que esposamos, não é aconselhável indagar por indagar. Procuremos o objetivo, a utilidade e a colaboração no bem. Não nos achamos em férias e sim em trabalho ativo.
Pensou, pensou... e aduziu:
– Sei que amanhã, à noite, Eulália deve acompanhar duas de nossas irmãs encarnadas à visitação dos filhinhos que as precederam na grande viagem da morte e que se encontram no mesmo sítio em que Júlio se demora asilado. Poderemos substituir nossa
cooperadora no serviço a fazer. Seguiremos em lugar dela. Prestaremos assistência às nossas amigas e examinaremos a situação da criança.
Anotando a preciosa lição de trabalho que aquelas expressões encerravam, aguardamos a nite próxima, com ansiedade real.
Na hora aprazada, descemos à matéria densa,em busca das irmãs que seguiriam conosco.
Deixou-nos o Ministro numa casinha singela de remota região suburbana, depois de informar-nos:
– Aqui reside nossa irmã Antonina, com três dos quatro filhos que o Senhor lhe confiou. Incapaz de vencer as tentações da própria natureza, o marido abandonou-a, há quatro anos, para comprometer-se em delituosas aventuras. A dona da casa, porém, não desanimou. Trabalha com diligência numa fábrica de tecidos e educa os rebentos do lar com acendrado amor ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus. Tem sabido resgatar com valor as dívidas que trouxe do pretérito próximo. Perdeu, há meses, o pequeno
Marcos, de oito anos, atacado de fulminante pneumonia, e com ele se encontrará, depois da prece que proferirá com os pequeninos.
Trarei comigo a outra companheira de nossa viagem. Quanto a vocês, auxiliem nas orações e nos estudos de Antonina, até que eu volte, de modo a seguirmos todos juntos.
Hilário e eu penetramos a sala desataviada e estreita.
Uma senhora ainda jovem, mas extremamente abatida, achava-se de pé, junto de três lindas crianças, dois rapazinhos entre onze e doze anos e uma loura pequerrucha, certamente a caçula da família, que pousava na mãezinha os belos olhos azuis.
Num recanto do compartimento humilde, triste velhinho desencarnado como que se colocava à escuta.
Dona Antonina colocou sobre a toalha muito alva dois copos com água pura, tomou um exemplar do Novo Testamento e sentou-se.
Logo após, falou carinhosamente:
– Se não me falha a memória, creio que a prece de hoje deve ser feita por Lisbela.
A pequenita levou as minúsculas mãos ao rosto, apoiou graciosamente os cotovelos sobre a mesa e, cerrando os olhos, recitou:
– Pai Nosso que estais no Céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na Terra como nos Céus; o pão nosso de cada dia dai-nos hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores; não nos deixeis cair em tentação e livrai-nos de todo mal, porque vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja.
Lisbela abriu os olhos, de novo, e procurou silenciosamente a aprovação maternal.
Dona Antonina sorriu, satisfeita, e exclamou:
– Você orou muito bem, minha filha.
E dividindo agora a atenção com os dois meninos, entregou o Evangelho a um deles, convidando:
– Abra, Henrique. Vejamos a mensagem cristã para os nossos estudos da noite.
O rapazinho escolheu o texto, ao acaso, restituindo o livro às mãos maternais.
A genitora, emocionada, leu os versículos 21 e 22 do capítulo 18 das anotações do apóstolo Mateus:
– “Então Pedro, aproximando-se dele, disse: – Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim e eu lhe perdoarei?
Até sete? Jesus lhe disse: – Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete.”
Calou-se dona Antonina, como quem aguardava a manifestação de curiosidade dos jovens aprendizes.
O pequeno Henrique, iniciando a conversação, perguntou, com simplicidade:
– Mãezinha, porque Jesus recomendava um perdão, assim tão grande?
Demonstrando vasto treinamento evangélico, a senhora replicou:
– Somos levados a crer, meus filhos, que o Divino Mestre, em nos ensinando a desculpar todas as faltas do próximo, inclinavanos ao melhor processo de viver em paz. Quem não sabe desvencilhar-se dos dissabores da vida, não pode separar-se do mal. Uma pessoa que esteja parada em lembranças desagradáveis caminha sempre com a irritação permanente. Imaginemos vocês na escola.
Se não conseguirem esquecer os pequeninos aborrecimentos nos estudos, não poderão aproveitar as lições. Hoje é um colega menos amigo a preparar lamentável brincadeira, amanhã é uma incorreção do guarda enfadado em razão de algum equívoco. Se vocês imobilizarem o pensamento na impaciência ou na revolta, poderão fazer coisa pior, afligindo a professora, desmoralizando a escola e prejudicando o próprio nome e a saúde. Uma pessoa que não sabe desculpar vive comumente isolada. Ninguém estima a
companhia daqueles que somente derramam de si mesmos o vinagre da queixa ou da censura.
Nessa altura do ensinamento, dona Antonina fitou o primogênito e perguntou:
– Você, Haroldo, quando tem sede preferiria beber a água escura de um cântaro recheado de lodo?
– Ah! isso não – replicou o mocinho muito sério, escolherei água pura, cristalina...
– Assim somos também, em se tratando de nossas necessidades espirituais. A alma que não perdoa, retendo o mal consigo, assemelha-se ao vaso cheio de lama e fel. Não é coração que possa reconfortar o nosso. Não é alguém capaz de ajudar-nos a vencer nas dificuldades da vida. Se apresentamos nossa mágoa a um companheiro dessa espécie, quase sempre nossa mágoa fica maior. Por isso mesmo, Jesus aconselhava-nos a perdoar infinitamente, para que o amor, em nosso espírito, seja como o Sol brilhando
em casa limpa.
Expressivo intervalo fez notar.
O jovem Haroldo, de semblante apoquentado, interferiu, indagando:
– Mas a senhora crê, mãezinha, que devemos perdoar sempre?
– Como não, meu filho?
– Ainda mesmo quando a ofensa seja a pior de todas?
– Ainda assim...
E, observando-o, inquieta, dona Antonina acentuou:
– Porque tratas deste assunto com tamanha preocupação?
– Refiro-me ao papai – disse o menino algo triste, papai abandonou-nos quando mais precisávamos dele. Seria justo esquecer o mal que nos fez?
– Oh! meu filho! – comentou a nobre mulher – não te detenhas nesse problema. Porque alimentar rancor contra o homem que te deu a vida? Como condená-lo se não sabemos tudo o que lhe aconteceu? Seria realmente melhor para o nosso bem estar se ele estivesse conosco, mas, se devemos suportar a ausência dele, que os nossos melhores pensamentos o acompanhem. Teu pai, meu filho, com a permissão do Céu, deu-te o corpo em que aprendes a servir a Deus. Por esse motivo, é credor de teu maior carinho.
Há serviços que não podemos pagar senão com amor. Nossa dívida para com os pais é dessa natureza...
Recordando talvez que a família se achava num curso de formação cristã, a dona da casa acrescentou:
– Um dia, quando Moisés, o grande profeta, foi ao monte receber a revelação divina, uma das mais importantes determinações por ele ouvidas do Céu foi aquela em que a Eterna Bondade nos recomenda: “Honrarás teu pai e tua mãe”. A Lei enviada ao
mundo não estabelece que devamos analisar a espécie de nossos pais, mas sim que nos cabe a obrigação de honrá-los com o nosso amoroso respeito, sejam eles quais forem.
A reduzida assembléia recolhia as explicações, de olhos felizes e iluminados.
Haroldo mostrou-se conformado, todavia, ainda ponderou:
– Compreendo, mãezinha, o que a senhora quer dizer. Entretanto, se papai estivesse junto de nós, talvez que Marcos não tivesse morrido. Teríamos o dinheiro suficiente para tratá-lo.
Dona Antonina enxugou, apressada, as lágrimas que lhe caíram, espontâneas, ante a evocação do filhinho, e continuou:
– Seria um erro permitir a queda de nossa confiança no Pai Celestial. Marcos partiu ao encontro de Jesus, porque Jesus o chamava. Nada lhe faltou. Rogo a vocês não darmos curso a qualquer idéia triste, em torno da memória do anjo que nos precedeu.
Nossos pensamentos acompanham no Além aqueles que amamos.
Nesse ponto da conversação, Lisbela inquiriu, graciosa:
– Mãezinha, Marcos nos vê?
– Sim, minha filha – esclareceu dona Antonina, emocionada, ele nos ajuda em espírito, pedindo a Jesus forças e bênçãos para nós. Por nossa vez, devemos auxiliá-lo com as nossas preces e com as nossas melhores recordações.
Dona Antonina, porém, pareceu asfixiada por enormes saudades.
Enquanto os meninos comentavam com interesse os ensinamentos da noite, demorava-se absorta, mentalizando a imagem do pequenino...
Quando o relógio assinalou o fim do culto, solicitou a Henrique fizesse a oração de encerramento.
O petiz repetiu a prece dominical, rogando ao Senhor abençoasse a mãezinha, e o trabalho terminou.
A dona da casa repartiu com os pequenos alguns cálices da água cristalina que Hilário e eu magnetizáramos e, logo após, pensativa e saudosa, retirou-se com os filhinhos para a câmara em que se recolheriam todos juntos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

ESTUDO DO LIVRO NO MUNDO MAIOR - CAPÍTULO 19 - JULIANA SOLARE



REAPROXIMAÇÃO

Quando Cipriana regressou, em companhia dos demais amigos, encontrou-me banhado em lágrimas, e ouviu a estranha narrativa de meu avô semilúcido. Esboçou complacente gesto e disse, bondosa:
— Sabia, André, que não terias vindo para nenhum resultado.
Em rápidos minutos descrevi-lhe a ocorrência, prestando-lhe todos os informes sobre o passado.
A diretora ponderou, serena, a minha digressão através do pretérito e obtemperou:
— Dispomos de tempo curto e, como não será possível ao doente acompanhar-nos, cumpre interná-lo já em algum recolhimento, aqui mesmo.
Meu avô, mau grado ao júbilo de me haver reconhecido, não guardava razoável equilíbrio: pronunciava frases desconexas, em que o nome de Ismênia era repetido a cada passo.
— Não podemos esquecer — acentuou a venerável instrutora — que o irmão Cláudio precisa de tratamento e de cuidado. É impossível prever quando se achará em condições de respirar atimosfera mais elevada.
Assim dizendo, generosa e meiga, auscultou o velhinho semilouco, examinando-o maternalmente.
Decorridos alguns instantes, informou:
— André, nosso enfermo, para melhorar com mais rapidez e eficiência, deveria retornar à experiência carnal.
— Neste caso, então, — disse eu, humilde poderíamos merecer seu auxilio, Irmã?
— Como não? em se tratando de reencarnação por meras atividades reparadoras, sem projeção nos interesses coletivos, de modo mais amplo, nosso concurso pessoal pode ser mais decisivo e imediato. Temos nestes sítios grande número de benfeitores, providenciando reencarnações em grande escala nos círculos regenerativos. Vejamos como estudar a situação futura deste irmão.
Submeteu o doente a carinhoso interrogatório.
O ancião, comovido, contou que seu genitor, ao se casar, conduziu para o lar uma filha de sua mocidade turbulenta, a qual a mãezinha acolhera com doçura. Essa irmã lhe fora, mais tarde, ama desvelada, tornando-se-lhe credora de justa gratidão. Todavia, enceguecido pelo propósito inferior de possuir dinheiro desmedidamente, despojou-a dos bens que lhe cabiam, por ocasião do falecimento dos pais, que, vitimados por febre maligna, o haviam deixado em vésperas de casamento. Ismênia, espoliada, depois de chorar e reclamar debalde, foi compelida a homiziar-se em residência de família abastada, que lhe cedeu, por favor, um lugar de copeira com remuneração desprezível. Soube que, premida por dificuldades materiais de toda a sorte, desposara um analfabeto, homem rude e cruel, que a seviciara e lhe dera algumas filhas em dolorosas condições de miserabilidade. Exposto o desvio máximo de seu caminho, passou a comentar os indignos ideais que nutria no terreno da sovinice, estremecendo-nos os corações.
Cipriana, demonstrando-se habituada aos problemas daquela natureza, esclareceu-me:
— Já conhecemos dois pontos essenciais para os serviços que lhe competem: a necessidade da reaproximação com Ismênia, que não sabemos onde se encontra, se encarnada ou não, e o imperativo da pobreza extrema, com trabalho intensivo, para que reeduque as próprias aspirações.
De posse do endereço provável dos descendentes da irmã outrora espezinhada, Cipriana recomendou a dois companheiros nossos se encarregassem de rápida investigação na Crosta Terrestre, a fim de nos orientarmos quanto aos rumos a tomar no imprevisto acontecimento.
Os emissários não se demoraram mais do que noventa minutos.
Traziam boas novas, que me reconfortavam.
Localizaram a família a que o desditoso velhinho se referira em suas amargas reminiscências, e traziam sensacional informação. Amigos de nossa esfera esclareceram-nos, quanto a Ismênia, que ela reencarnara e vivia na fase juvenil das forças físicas. Corporificara-se no mesmo tronco doméstico a que emprestara colaboração na época em que meu avô a expulsara do campo familiar.
Cipriana tudo ouviu, sensibilizada, e, interessando-se por nós, sugeriu organizássemos as bases da futura experiência, conquistando, sem delongas, as simpatias da jovem.
A esse tempo, já nos achávamos portas a dentro de uma organização socorrista, que recebeu a solicitação de nossa diretora em favor do enfermo, com excelente disposição de servir-nos.
Cercando de todas as atenções meu antigo credor, a estimada benfeitora frisou, dirigindo-se a mim:
— Nosso amigo, durante dois anos aproximadamente, não poderá ausentar-se desta casa de assistência fraterna. Permanece ainda profundamente identificado com a atmosfera destes sítios. Visitá-lo-emos seguidamente, amparando-o com os nossos recursos, até que possa respirar de novo os ares da Crosta. É de notar que a mente dele não se libertará das teias da incompreensão com facilidade, e, neste estado, não volveria com êxito ao educandàrio da carne.
Acatei a ponderação, acompanhando o curso das providências para o caso.
Cipriana contemplou, enternecida, a entidade demente, e prosseguiu, bondosa:
— Agora, André, finalizando nossos trabalhos da semana, tentemos trazer Ismênia até aqui, para os trabalhos preparatórios de reaproximação. Achando-se presentemente na juventude terrestre, provàvelmente nos auxiliará no momento preciso, recebendo o irmão perturbado em seu próprio instituto doméstico. Antes de mais nada, porém, necessitamos da simpatia dela, em face do nosso programa de reerguimento.
— Se Ismênia aceitar, se consentir... — acrescentei, hesitante.
— Encarregar-nos-emos do resto — prometeu a interlocutora, decidida; o retorno de Cláudio à esfera física terá características muito pessoais, sem reflexos de maior importância no espírito coletivo, pelo que nós mesmos poderemos providenciar quase tudo.
Confiando o enfermo aos beneméritos companheiros que velavam na casa de amor cristão em que nos asiláramos, dirigimo-nos para o Rio, onde Ismênia seria encontrada por nós em modesto lar de Bangu.
Em plena madrugada, entramos, respeitosos, na humilde residência.
A irmã de meu avô era agora a sexta filha daquela senhora que, na existência física, era conhecida por neta da velha Ismênia, cuja personalidade, para a família terrena, se perdera no tempo, e que não era outra senão a menina e moça, sob nossos olhos, de volta às tarefas aperfeiçoadoras da luta carnal.
Tudo ali respirava pobreza digna e adorável simplicidade.
Adiantando-se, Cipriana colocou a destra sobre a fronte da jovem adormecida, como a chamá-la até nós. Efetivamente, decorridos instantes, veio ter conosco e, reparando que nossa orientadora, envolta em luz intensa, a cobria com um gesto de bênção, ajoelhou-se, desligada da matéria, exclamando em lágrimas de júbilo:
— Mãe Celestial, quem sou eu para receber a graça de vossa visita? Sou indigna servidora...
Cobriu o rosto com as mãos, sentindo-se talvez ofuscada pela claridade sublime, e contendo, a custo, a comoção a estuar-lhe no peito; mas nossa veneranda benfeitora aproximou-se, pousou-lhe as mãos carinhosas na basta cabeleira negra e falou, compassiva:
— Minha filha, sou apenas tua irmã, tua amiga... Ouve! Quais são tuas intenções na vida?
Como a jovem erguesse para ela os olhos lacrimosos, acrescentou a nobre mensageira:
— Precisamos de tua colaboração e não desejamos ser amigos Inúteis. Em que te podemos servir?
Decorreram pesados instantes de expectação.
— Fala! — acrescentou Cipriana, prestimosa; explica-te sem receios...
Voz entrecortada pela comoção, lembrou com ingenuidade juvenil:
— Minha mãe, se eu puder rogar-vos alguma coisa, peço-vos auxilio para Nicanor. Somos noivos, há quase dois anos, mas somos pobres. Trabalho na indústria de tecelagem, com salário reduzido, para ajudar à manutenção de nossa casa, e Nicanor é pedreiro... Temes sonhado com a organização de um lar pequeno e modesto, sob a proteção da Divina Providência. Poderemos aguardar a aprovação de Deus?
Cipriana estampou na fisionomia suma ternura materna e considerou:
— Como não? Teus desejos são justos e santificantes. Nicanor terá nosso amparo, e tuas esperanças nossa viva contribuição. Esperamos, porém, algo de teu concurso...
— Ah! em que poderia servir-vos, eu, mísera serva que sou?
A diretora não prolongou a conversação, pedindo-lhe tão somente:
— Vem conosco!
Em seguida, com grande surpresa para mim. Cipriana cobriu-lhe o rosto com estreito véu de substância semelhante a gaze, para que lhe não fosse dado ver as impressionantes paisagens que deveríamos atravessar.
Sustentada por nós, dentro em pouco a moça se ajoelhava, curiosa e enternecida, ante meu avô, que, ao enxergá-la, prorrompeu em exclamações em que ressumbrava ansiedade:
— Ismênia! Ismênia! minha irmã, perdoa-me!... Afagando-lhe as mãos, torturado, contemplava-lhe o semblante humilde:
— Oh! é ela mesma — insistia, tomado de evidente espanto, com a mesma tristeza do dia em que a expulsei!... Que fêz, porém, para ser hoje mais jovem e mais formosa?
Como a visitante guardasse silêncio, confundida, inquiria, aflito:
— Dize, dize que me perdoas, que esquecerás o mal que te fiz!
A essa altura da inopinada entrevista, Cipriana interveio, dirigindo-se a ela, interrogando:
— Nunca soubeste, em família, que tua bisavó teve um irmão.
A jovem não a deixou concluir, perguntando por sua vez:
— ... que a expulsou de casa? Sim.
— Minha mãe já se referiu a esse passado distante — acrescentou, melancólica.
— Não o reconheces? — tomou, afável, a benfeitora. — Não te recordas?
Nesse instante, o velhinho interferiu, excitando-lhe a memória:
— Ismênia, Ismênia! eu sou Cláudio, teu desventurado irmão...
A jovem não sabia como interpretar aquelas evocações, mas nossa diretora, cingindo-lhe os lobos frontais com as mãos, a envolvê-la em abunantes irradiações magnéticas, insistia, meiga, provocando a emersão da memória em seus máis importantes centros perispiríticos:
— Revê o pretérito, minha amiga, para bem servirmos à Obra Divina.
Notei, assombrado, que algo de anormal sucedera na mente da jovem, porque seus olhos, dantes doces e tranquilos, se tornaram dilatados e inquietos. Tentou recuar ante a súplice expressão de meu avô, mas a energia de Cipriana a conteve, evitando-lhe a expansão dos impulsos iniciais de medo e de revolta.
— Agora, sim! Lembro-me... — gemeu, aterrada.
Nossa instrutora, então, libertou-lhe a fronte e, indicando o enfermo, exclamou em tom comovedor:
— E não tens piedade?
Alguns segundos de expectativa rolaram pesadamente; contudo, o amor, sempre divino na mulher de aspirações elevadas, triunfou no olhar enternecido de Ismênia, que, plenamente modificada, se abraçou ao doente, exclamando:
— Pois és tu, Cláudio? que te aconteceu?
Traçou o ancião largo comentário de suas penas, referiu-lhe as faltas passadas, e falou-lhe, mais lúcido e contente, do conforto que a reaproximação lhe conferia.
Ela conservou-o muito tempo de encontro ao peito, fazendo-lhe sentir sua imensa ternura, sua dedicação e entendimento sem limites.
Quando pareciam perfeitamente reconciliados, Cipriana abeirou-se dela e considerou:
— Minha amiga, estimaríamos receber a tua promessa de auxiliar nosso irmão Cláudio, em futuro próximo. Cooperarás conosco em favor dele, recebendo-o nos braços abnegados de mãe, se a Lei Divina autorizar teu matrimônio?
Reverente, dando-me a conhecer os tesouros de uma existência singela e humilde na Terra, a visitante exclamou:
— Se o Céu me conceder a felicidade de com algo contribuir em benefício de Cláudio, esse benefício será feito a mim mesma; e, se um dia eu receber a ventura conjugal, será nosso primeiro e bem-amado filhinho. De antemão, sei que Nicanor se regozijará com o meu compromisso.
Contemplando, enlevada, o desditoso prisioneiro das sombras, prometia:
— Partilhar-nos-á a vida pobre e honrada, conhecerá as alegrias do pão, filho do suor com a Proteção Divina, e olvidará, em nossa companhia, as ilusões que por tanto tempo nos separaram...
Evidenciando deliciosa singeleza de coração, projetava em êxtase:
— Será um pedreiro feliz, como Nicanor! abençoará a luta digna que atualmente bendizemos!...
Como chorasse, comovida, Cipriana abraçou-a, também tocada no coração e de olhos úmidos, assegurando:
— Bem-aventurada sejas tu, querida filha, que compreendes conosco o celestial ministério da mulher nobre, sempre disposta à maternidade sublime.
Mais alguns minutos decorreram em salutares entendimentos, e, quando o Sol engrinaldava o horizonte de tonalidades diamantinas, de novo estávamos no modesto aposento de Ismênia, ajudando-a a retomar o aparelho fisiológico e a olvidar a ocorrência que vivera, junto de nós, na esfera do Espírito.
Acordou no veículo pesado, experimentando ignoto júbilo. Tinha a mente refrescada de idéias felizes. Teve a nítida impressão de que tornava de maravilhosa romagem, cujas minúcias não conseguiria precisar. Sem saber como, guardava, naquele instante, absoluta certeza de que se casaria e de que Deus lhe reservava ditoso porvir.
Quem poderia definir-nos o reconhecimento e a admiração daquela hora? Meus companheiros abençoaram-na, e eu, por minha vez, desedindo-me dela comovidamente, osculei-lhe a destra minúscula, num beijo silencioso de profunda amizade e de indizível gratidão.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 11 ÍTEM 13 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO

A Fé e a Caridade

1. Por que a fé é importante para manter entre os homens uma ordem social capaz de torná-los felizes?
Porque a fé nos conduz à caridade, desenvolvendo em nós o espírito de solidariedade, eliminando as divergências que tanto separam as criaturas.

A fé constituí força motriz que impulsiona a caridade, em cujo trabalho o espírito se engrandece e alcança a plenitude da felicidade.

2. por que é necessário o concurso da fé para a prática da verdadeira caridade?
Porque a prática desta exige muita abnegação e sacrifício de todo interesse deixa. A criatura crê porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu”.

“A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura crer porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu ” .

3. É licito ao homem procurar ocupar-se unicamente com a sua felicidade?
Não. Embora seja natural que o homem busque ser feliz, procurando vencer as vicissitudes da vida, ele só atingirá a perfeição e a felicidade na medida em que também se preocupar com a do seu semelhante, exercitando-se na caridade.

“Sem levar em conta as vicissitudes da vida, a diversidade dos gostos, dos pendores e das necessidades, é esse também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade”.

4. Podemos dizer que as dificuldades da vida estão vinculadas á falta de caridade?
Sim, e nela, unicamente, está a solução. Quando nos voltamos para o bem-estar do próximo, aliviamos nossas dores e concorremos para a paz social.

A maior receita de fraternidade está contida na fórmula sagrada e imutável anunciada por Jesus no amai-vos uns aos outros.

5. Como devemos encarar os gozos materiais?
Unicamente como meio de satisfação das necessidades orgânicas, portanto efêmeras. Encará-los como fim último é desprezar o real objetivo da vida terrestre: o aperfeiçoamento moral, único que encerra a verdadeira felicidade.

Devemos utilizar os recursos e oportunidade de que dispomos, no mundo material, visando tão-somente á nossa melhoria e á do próximo.

6. O que é necessário para sermos verdadeiros cristãos?
É necessário, tão somente, que sacrifiquemos o nosso egoísmo, nosso orgulho e nossa vaidade, em benefício do próximo.

O verdadeiro cristão se distingue pelo muito que ama o seu próximo.

Conclusão:

A caridade só é verdadeira e capaz de promover a evolução do espírito quando praticada com abnegação e um constante sacrifício de todo interesse egoístico. Mas, para isso, ela tem que ser inspirada e sustentada na fé, que lhe constitui a mola propulsora.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

ESTUDO DO LIVRO NOSSO LAR - CAPÍTULO 32 - JULIANA SOLARE



NOTÍCIAS DE VENERANDA


Agora, que penetrara o parque banhado de luz, experimentava singular fascinação.
Aquelas árvores acolhedoras, aquelas virentes sementeiras reclamavam-me a todo momento. De maneira indireta, provocava explicações de Narcisa, enunciando perguntas veladas.
- No grande parque - dizia ela - não há somente caminhos para o Umbral ou apenas cultura de vegetação destinada aos sucos alimentícios. A Ministra Veneranda criou planos excelentes para os nossos processos educativos.
E observando-me a curiosidade sadia, continuou esclarecendo:
- Trata-se dos "salões verdes" para serviço de educação. Entre as grandes fileiras das árvores, há recintos de maravilhosos contornos para as conferências dos Ministros da Regeneração; outros para Ministros visitantes e estudiosos em geral, reservando-se, porém, um de assinalada beleza, para as conversações do Governador, quando ele se digna de vir até nós.
Periodicamente, as árvores eretas se cobrem de flores, dando idéia de pequenas torres
coloridas, cheias de encantos naturais. Temos, assim, no firmamento, o teto
acolhedor, com as bênçãos do Sol ou das estrelas distantes.
- Devem ser prodigiosos esses palácios da natureza - acrescentei.
- Sem dúvida - prosseguiu a enfermeira, entusiasticamente, o projeto da Ministra despertou, segundo me informaram, aplausos francos em toda a colônia. Soube que tal se dera, havia precisamente quarenta anos. Iniciouse, então, a campanha do "salão natural". Todos os Ministérios pediram cooperação, inclusive o da União Divina, que solicitou o concurso de Veneranda na organização de recintos dessa ordem, no Bosque das Águas.
Surgiram deliciosos recantos em toda parte. Os mais interessantes, todavia, a meu ver, são os que se instituíram nas escolas. Variam nas formas e dimensões. Nos parques de educação do Esclarecimento, instalou a Ministra um verdadeiro castelo de vegetação, em forma de estrela, dentro do qual se abrigam cinco numerosas classes de aprendizados e cinco instrutores diferentes. No centro, funciona enorme aparelho destinado a demonstrações pela imagem, à maneira do cinematógrafo terrestre, com o qual é possível levar a efeito cinco projeções variadas, simultaneamente. Essa iniciativa melhorou consideravelmente a cidade, unindo no mesmo esforço o serviço
proveitoso à utilidade prática e à beleza espiritual.
Valendo-me da pausa natural, interpelei:
- E o mobiliário dos salões? Tal como dos grandes recintos terrenos?
Narcisa sorriu e acentuou:
- Há diferença. A Ministra ideou os quadros evangélicos do tempo que assinalou a passagem do Cristo pelo mundo, e sugeriu recursos da própria natureza. Cada "salão natural" tem bancos e poltronas esculturados na substância do solo, forrados de
relva olente e macia. Isso imprime formosura e disposições características.
Disse a organizadora que seria justo lembrar as preleções do Mestre, em plena praia, quando de suas divinas excursões junto ao Tiberíades, e dessa recordação surgiu o empreendimento do "mobiliário natural". A conservação exige cuidados permanentes, mas a beleza dos quadros representa vasta compensação.
A essa altura, interrompeu-se a bondosa enfermeira, mas, identificando-me o interesse silencioso, prosseguiu:
- O mais belo recinto do nosso Ministério é o destinado às palestras do Governador. A Ministra Veneranda descobriu que ele sempre estimou as paisagens de gosto helênico, mais antigo, e decorou o salão a traços especiais, formados em pequenos canais de água fresca, pontes graciosas, lagos minúsculos, palanquins de arvoredo e frondejante vegetação. Cada mês do ano mostra cores diferentes, em razão das flores que se vão modificando em espécie, de trinta a trinta dias. A Ministra reserva o mais
lindo aspecto para o mês de dezembro, em comemoração ao Natal de Jesus, quando a cidade recebe os mais formosos pensamentos e as mais vigorosas promessas dos nossos companheiros encarnados na Terra e envia, por sua vez, ardentes afirmações de esperança e serviço às esferas superiores, em homenagem ao Mestre dos mestres. Esse salão é nota de júbilo para os nossos Ministérios. Talvez já saiba que o Governador aqui vem, quase que semanalmente, aos domingos. Ali permanece longas horas,
conferenciando com os Ministros da Regeneração, conversando com os trabalhadores, oferecendo sugestões valiosas, examinando nossas vizinhanças com o Umbral, recebendo nossos votos e visitas, e confortando enfermos convalescentes. À noitinha, quando pode demorar-se, ouve música e assiste a números de arte, executados por jovens e crianças dos nossos educandários. A maioria dos forasteiros, que se hospedam em
"Nosso Lar", costuma vir até aqui só no propósito de conhecer esse "palácio natural", que acomoda confortavelmente mais de trinta mil pessoas.
Ouvindo os interessantes informes, eu experimentava um misto de alegria e curiosidade.
- O salão da Ministra Veneranda - continuou Narcisa, animadamente - é também esplêndido recinto, cuja conservação nos merece especial carinho.
Todo o nosso préstimo será pouco para retribuir as dedicações dessa abnegada serva de Nosso Senhor. Grande número de benefícios, neste Ministério, foram por ela criados para atender aos mais infelizes. Sua tradição de trabalho, em "Nosso Lar", é considerada pela Governadoria como das mais dignas. É a entidade com maior número de horas de serviço na colônia e a figura mais antiga do Governo e do Ministério, em geral.
Permanece em tarefa ativa, nesta cidade, há mais de duzentos anos.
Impressionado com as informações, adiantei:
- Como deve ser respeitável essa benfeitora!...
- Você diz muito bem - atalhou Narcisa, com reverência, é criatura das mais elevadas de nossa colônia espiritual. Os onze Ministros, que com ela atuam na Regeneração, ouvem-na antes de tomar qualquer providência de vulto. Em numerosos processos, a Governadoria se socorre dos seus pareceres. Com exceção do Governador, a Ministra Veneranda é a única entidade, em "Nosso Lar", que já viu Jesus nas Esferas Resplandecentes, mas nunca comentou esse fato de sua vida espiritual e esquiva-se à menor informação a tal respeito. Além disso, há outra nota interessante,
relativamente a ela. Um dia, há quatro anos, "Nosso Lar" amanheceu em festa. As Fraternidades da Luz, que regem os destinos cristãos da América, homenagearam Veneranda conferindo-lhe a medalha do Mérito de Serviço, a primeira entidade da colônia que conseguiu, até hoje, semelhante triunfo, apresentando um milhão de horas de trabalho útil, sem interromper, sem reclamar e sem esmorecer. Generosa comissão veio trazer a honrosa mercê, mas em meio do júbilo geral, reunidos a Governadoria, os
Ministérios e a multidão, na praça maior, a Ministra Veneranda apenas chorou em silêncio. Entregou, em seguida, o troféu aos arquivos da cidade, afirmando que não o merecia e transmitindo-o à personalidade coletiva da colônia, apesar dos protestos do Governador. Desistiu de todas as homenagens festivas com que se pretendia comemorar, mais tarde, o acontecimento, jamais comentando a honrosa conquista.
- Extraordinária mulher! - disse eu - por que não se encaminharia a esferas mais altas?
Narcisa baixou o tom de voz e declarou:
- Intimamente, ela vive em zonas muito superiores à nossa e permanece em "Nosso Lar" por espírito de amor e sacrifício. Soube que essa benfeitora sublime vem trabalhando, há mais de mil anos, pelo grupo de corações bem-amados que demoram na Terra, e espera com paciência.
- Como poderei conhecê-la? - perguntei, impressionado.
Narcisa, que parecia alegrar-se com o meu interesse, explicou, satisfeita:
- Amanhã, à tardinha, após as preces, a Ministra virá ao salão, a fim de esclarecer alguns aprendizes sobre o pensamento.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

ESTUDO DO LIVRO ENTRE A TERRA E O CÉU - CAP. 5 - ORADOR ALEXANDRE X. CAMARGO



5 - VALIOSOS APONTAMENTOS

Alcançáramos a orla do mar, em plena noite.
A movimentação da vida espiritual era aí muito intensa.
Desencarnados de várias procedências reencontravam amigos que ainda se demoravam na Terra, momentaneamente desligados do corpo pela anestesia do sono. Dentre esses, porém, salientavase grande número de enfermos.
Anciães, mulheres e crianças, em muitos aspectos diferentes, compareciam ali, sustentados pelos braços de entidades numerosas que os assistiam.
Conversações edificantes e lamentos doloridos chegavam até nós.
Serviços magnéticos de socorro urgente eram improvisados aqui e além... E o ar, efetivamente, confrontado ao que respirávamos na área da cidade, era muito diverso.
Brisas refrescantes sopravam de longe, carreando princípios regeneradores e insuflando em nós delicioso bem estar.
– O oceano é miraculoso reservatório de forças – elucidou Clarêncio, de maneira expressiva; até aqui, muitos companheiros de nosso plano trazem os irmãos doentes, ainda ligados ao corpo da Terra, de modo a receberem refazimento e repouso.
Enfermeiros e amigos desencarnados desvelam-se na reconstituição das energias de seus tutelados. Qual acontece na montanha arborizada, a atmosfera marinha permanece impregnada por infinitos recursos de vitalidade da Natureza. O oxigênio sem mácula,
casado às emanações do planeta, converte-se em precioso alimento de nossa organização espiritual, principalmente quando ainda nos achamos direta ou indiretamente associados aos fluidos da matéria mais densa.
Passávamos agora na vizinhança de uma dama extremamente abatida, quase em decúbito dorsal à frente das águas, recolhendo o auxílio magnético de um benfeitor que se iluminava no serviço e na oração.
Clarêncio deixou-nos por momentos, conversou algo com um amigo, a pequena distância, e regressou, informando:
– Trata-se de irmã do nosso círculo pessoal, assediada pelo câncer. Foi retirada do veículo físico, através da hipnose, a fim de obter a assistência que lhe é necessária.
– Mas – objetei, curioso – esse tipo de tratamento pode sustar o desequilíbrio das células orgânicas? A doente conseguirá curarse, de modo positivo?
O Ministro sorriu e aclarou:
– Realmente, na obra assistencial dos espíritos amigos, que interferem nos tecidos sutis da alma, é possível, quando a criatura se desprende parcialmente da carne, a realização de maravilhas.
Atuando nos centros do perispírito, por vezes efetuamos alterações profundas na saúde dos pacientes, alterações essas que se fixam no corpo somático, de maneira gradativa. Grandes males são assim corrigidos, enormes renovações são assim realizadas.
Mormente quando encontramos o serviço da prece na mente enriquecida pela fé transformadora, facilitando-nos a intervenção pela passividade construtiva do campo em que devemos operar, a tarefa de socorro concretiza verdadeiros milagres. O corpo físico é mantido pelo corpo espiritual a cujos moldes se ajusta e, desse modo, a influência sobre o organismo sutil é decisiva para o envoltório de carne, em que a mente se manifesta.
Nesse ponto das explicações, porém, o Ministro abanou a cabeça e ajuntou:
– Nossa ação, contudo, está subordinada à lei que nos rege.
No problema de nossa irmã, o concurso de nosso plano conseguirá tão somente angariar-lhe reconforto. A moléstia, em razão das provas que lhe assinalam o roteiro pessoal, atingiu insopitável extensão.
– Quer dizer que ela, agora, apenas se habilita à morte calma?
– indagou Hilário, atencioso.
– Justamente – confirmou o orientador. Com a cooperação em curso, despertará no corpo desfalecente mais serena e mais confortada. Repetindo as excursões até aqui, noite a noite, habituar-se-á, com entendimento superior, à idéia da partida, transmitindo aos familiares resignação e coragem para o transe da separação;
aprenderá a contribuir com o seu esforço, no sentido de aliviar-lhes as aflições pela humildade que edificará, dentro de si mesma... pouco a pouco; desligar-se-á da carne enfermiça, acentuando a luz interior da própria consciência, a fim de separar-se do ambiente que lhe é caro, como quem encontra na morte física valiosa liberação para serviço mais enobrecido. E, assim, em algumas semanas, mostrar-se-á admiravelmente preparada ante o novo caminho...
Clarêncio silenciara.
O assunto requisitava-me a novas observações.
– Nesse caso – comecei a falar, hesitante.
O Ministro, porém, sorriu compreensivo e atalhou, esclarecendo:
– Já sei a tua conclusão. É isso mesmo. A enfermidade longa é uma bênção desconhecida entre os homens, constitui precioso curso preparatório da alma para a grande libertação. Sem a moléstia dilatada, é muito difícil o êxito rápido no trabalho da morte.
Nesse instante, contudo, Zulmira e Odila chegavam à praia, em sítio não longe de nós.
Clarêncio recomendou-nos atenção.
Rodeamo-las, prestamente, qual se fossem irmãs enfermas, sob a nossa guarda.
Nem uma nem outra nos identificavam a presença. Tão pouco pareciam interessadas pelo movimento no logradouro.
A primeira esposa de Amaro centralizava o olhar sobre a presa, enquanto que a vítima revelava na expressão facial o intraduzível terror dos que se abeiram do extremo desequilíbrio.
Zulmira ensaiava o gesto de quem se propunha a regressar precipitadamente a casa, mas, contida pela companheira, avançava, entre a aflição e o pavor.
E, repetindo as mesmas acusações que já ouvíramos, Odila martelava o cérebro da outra, reiterando, desapiedada:
– Recorda o crime, infeliz! Lembra-te da horrível manhã em que te fizeste assassina! Onde colocaste meu filho? Porque afogaste um inocente?
– Não, não! – gritava a pobrezinha dementada – não fui eu!
Juro que não fui eu! Júlio foi tragado pelas ondas...
– E porque não velaste pela criança que meu marido levianamente confiou às tuas mãos infiéis? Acaso, não te acusa a própria consciência? Onde situas o senso de mulher? Pagar-me-ás alto preço pelo relaxamento delituoso... Não permitirei que Amaro te
ame, alimentarei a antipatia dele contra ti, atormentarei as pessoas que te desejarem socorrer, destruirei a própria casa de que te apossaste e me pertence!... Impostora! impostora!...
– Sim, sim... – concordava Zulmira, terrificada, não matei, mas não fiz o que me competia para salvá-lo! Perdoa-me! perdoame!
Prometo empenhar-me no refazimento da paz de todos...
Serei uma escrava de teu marido e restitui-lo-ei aos teus braços; converter-me-ei em serva de tua filhinha, cujos passos orientarei para o bem, mas, por piedade, deixa-me viver! Liberta-me! Compadece-te de mim!...
– Nunca! nunca! – bradava a interlocutora, friamente – tua falta é imperdoável. Mataste! Deves confessar o delito perpetrado, à frente da polícia!... Dobrar-te-ei a cerviz! Serás recolhida à penitenciária, para que te mistures às delinqüentes de tua laia!...
– Não! não! – suplicava Zulmira, com sinais comoventes de angústia.
– Se não aniquilaste meu filho – bradava a outra, cruel, devolve-o aos meus braços! Devolve-o! devolve-o!
Nesse momento, ambas se achavam à frente de determinada nesga da praia.
Os olhos da pobre obsidiada adquiriram estranho fulgor.
– Foi aqui! – rugiu a perseguidora, rudemente – aqui consumaste o sinistro plano de extinção da nossa felicidade...
Qual se fora tangida de secretos impulsos, a segunda mulher de Amaro desprendeu-se dos braços que a constringiam e, penetrando as águas, clamava, aflita:
– Júlio! Júlio!...
Odila, no entanto, perturbada e ensandecida, pôs-se-lhe no encalço.
Sentindo-lhe a aproximação, Zulmira rodou sobre os calcanhares e disparou de volta ao lar.
Acompanhamos as duas, na competição a que se entregavam, sem perdê-las de vista.
Varando a casa, incontinenti, dando a idéia de que o corpo adormecido era poderoso magneto a atraí-la, Zulmira despertou, alagada de suor, conservando no cérebro de carne a impressão de que vagueara em terrível pesadelo.
Tentou gritar, mas não conseguiu.
Faleciam-lhe as forças em colapso nervoso, insopitável. A dispnéia castigava-a com violência, enquanto as coronárias se mostravam intumescidas.
Clarêncio aproximou-se e aplicou-lhe fluidos salutares e repousantes.
Acalmou-se-lhe o coração, vagarosamente, o campo circulatório tornou à feição normal. Foi então que a desventurada senhora conseguiu gemer, clamando por socorro.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 11 ÍTEM 12 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO

O Egoísmo

1. O que impede a prática da caridade pelos homens?
O egoísmo, que enclausura as pessoas em si mesmas, privando-as de se relacionar fraternalmente com o próximo.

O egoísmo é a negação da caridade. Sem a caridade não haverá descanso nem segurança para a sociedade humana.

2. O que é necessário para que a caridade seja melhor praticada na face da Terra?
É necessário que os homens se amem com mútuo amor, pois só o amor torna os corações sensíveis aos sofrimentos alheios.

“Se na Terra a caridade reinasse, o mau não imperaria nela fugiria envergonhada; ocultar-se-ia, visto que em toda parte se acharia deslocada” .

3. O mal desaparecerá, um dia, da Terra?
Certamente que sim. Quando os homens melhor compreenderem as lições e os exemplos do Cristo e se compenetrarem da sua verdadeira função como cristãos, o mal desaparecerá da Terra, dando lugar à caridade.

“ O Cristo jamais se escusava; não repelia aquele que o buscava, fosse quem fosse”.

4. De que forma podemos contribuir para a implantação do amor e a conseqüente destruição do egoísmo na face da Terra?
Começando por dar o exemplo, como fez Jesus, sendo caridoso para com todos, fazendo todo o bem que pudemos, inclusive àqueles que nos olham com desdém; tornado-nos, enfim, mais sensíveis às necessidades e sofrimentos alheios.

Compreendendo o efeito danoso do egoísmo, iniciamos o nosso processo de reforma íntima, colaborando eficazmente para a melhoria da Humanidade.

5. A ingratidão das pessoas não será obstáculo à nossa boa ação?
Não. A nós compete, unicamente, fazer o bem não importa a quem; a Deus, que sabe o que vai em nosso íntimo, fica o encargo de fazer toda a justiça..

Jesus, ao nos dar a receita do amor, não estabeleceu limites nem condições para a sua prática.

6. Qual o maior obstáculo que encontramos para a destruição do egoísmo em nós?
Nossos interesses e caprichos que, erradamente, sempre colocarmos acima dos do próximo.

A satisfação desses interesses e caprichos ainda nos impede de reconhecer em nosso semelhantes criaturas que, como nós, aspiram à mesma felicidade.

7. Como impedir que nossos interesses e caprichos falem mais alto?
Através do esforço próprio, muita coragem e tendo a norma cristã como inspiração para todas as lides cotidianas, aprenderemos a dividir o que temos com os nossos semelhantes.

Ninguém vive para si: vivemos para nossos familiares, nossos amigos, nossos ideais etc.

Conclusão:
Deus nos criou para a felicidade, fruto do relacionamento fraterno com o nosso próximo; o egoísmo faz com que nos enclausuremos em nós mesmos, privando-nos dessa bênção.