terça-feira, 29 de junho de 2010

ESTUDO DO LIVRO LIBERTAÇÃO - CAPÍTULO 2 -JULIANA SOLARE



A Palestra do Instrutor


Ao nos retirarmos do educandário, o Instrutor Gúbio, pousando sobre Elói, o nosso companheiro, e sobre mim, os olhos lúcidos, acentuou:
— Para muitas criaturas, é difícil compreender a arregimentação inteligente dos espíritos perversos. Entretanto, é lógica e natural. Se ainda nos situamos distantes da santidade, não obstante os propósitos superiores que já nos orientam, que dizer dos irmãos infelizes que se deixaram prender, sem resistência, às teias da ignorância e da maldade? Não conhecem região mais elevada que a esfera carnal, a que ainda se ajustam por laços vigorosos. Enleados em forças de baixo padrão vibratório, não apreendem a beleza da vida superior e, enquanto mentalidades frágeis e enfermiças se dobram humilhadas, os gênios da impiedade lhes traçam diretrizes, enfileirando-as em comunidades extensas e dirigindo-as em bases escuras de ódio aviltante e desespero silencioso. Organizam, assim, verdadeiras cidades, em que se refugiam falanges compactas de almas que fogem, envergonhadas de si mesmas, ante quaisquer manifestações da divina luz. Filhos da revolta e da treva aí se aglomeram, buscando preservar-se e escorando-se, aos milhares, uns nos outros...
Auscultando-nos a surpresa manifesta, o Instrutor prosseguiu, respondendo-nos às argüições íntimas:
— Tais colônias perturbadoras devem ter começado com as primeiras inteligências terrestres entregues à insubmissão e à indisciplina, ante os ditames da Paternidade Celestial. A alma caída em vibrações desarmônicas, pelo abuso da liberdade que lhe foi confiada, precisa tecer os fios do reajustamento próprio e milhões de irmãos nossos se recusam a semelhante esforço, ociosos e impenitentes, alongando o labirinto em que muitas vezes se perdem por séculos. Inabilitados para a jornada imediata, rumo ao Céu, em virtude das paixões devastadoras que os magnetizam, arrebanham-se de conformidade com as tendências inferiores em que se afinam, ao redor da Crosta Terrestre, de cujas emanações e vidas inferiores ainda se nutrem, qual ocorre aos próprios homens encarnados. O objetivo essencial de tais exércitos sombrios é a conservação do primitivismo mental da criatura humana, a fim de que o Planeta permaneça, tanto quanto possível, sob seu jugo tirânico.
As observações de Gúbio escaldavam-me o cérebro.
Eu também havia passado pelos baixos círculos da vida, depois do transe corporal; entretanto, não identificara a existência dessas condensações organizadas de entidades malignas do campo espiritual, embora ouvisse, em muitas ocasiões, impressionantes comentários em torno delas.
Efetivamente, não conseguia, por ruim mesmo, exumar todas as recordações do angustiado período que a porta do túmulo me oferecera.
Vira-me perseguido, através de longos pântanos... Errara, aflitivamente, dias e noites que me pareceram sem fim, atormentado e desditoso; todavia, custava-me crer que as atividades maléficas gozassem de organismo diretor.
Por isto mesmo, de mente agora centralizada nos propósitos do bem, aventurei uma indagação.
— Com que fim — perguntei — essas legiões retardadas se mancomunam, além da morte, se despidas da vestimenta grosseira de carne devem saber, mais que nunca, que se empenham em combates inúteis? Não se sentem, porventura, transportadas ao plano do esclarecimento puro, quanto à posição que lhes diz respeito? Não se cercam presentemente de mais sublimes revelações da Natureza? Não lhes quadrariam, mais justos, o trabalho edificante e o estudo nobre, na elevada aspiração de galgar a sabedoria santificante, estrada acima? Por que motivo se aglomeram, assim, através de ajuntamentos desprezíveis e diabólicos? Fácil de entender-se a jornada evolutiva do homem, depois do sepulcro, mas o estacionamento deliberado, na crueldade e no ódio, além da morte, dá para confundir a mente de qualquer...
O orientador sorriu, maneiroso, e considerou:
— Reportamo-nos a Espíritos perfeitamente humanos, não obstante desencarnados, e tais perguntas, André, poderiam ser formuladas, mesmo na Crosta da Terra. Por que razão, nós mesmos, antes de acordar a consciência para a revelação divina, nos precipitávamos nas linhas inferiores, todos os dias, contrariando espetacularmente a Lei? A frente dos olhos, contávamos com bendito dilúvio de claridade solar, jorrando incessante do Espaço Infinito... sabíamos que a existência do corpo correria rápida, que seríamos defrontados pela morte comum a todos, que regressaríamos do mundo carnal pela mesma porta misteriosa, através da qual penetráramos nele; no entanto, quantas vezes teremos menoscabado a Sabedoria Excelsa, com atitudes de criminosa indiferença? Ante as sugestões do Plano Divino que te povoam, agora, o pensamento, lembras-te de algum tempo passado em que tivesses cogitado sinceramente da própria sublimação? Se desenterrarmos o pretérito, meu caro, encontraremos lamentáveis reminiscências... Não nos compete parar ou desanimar - A maneira do tronco frágil, é imperioso crescer, subir, por alcançar o oxigênio de cima, e, apesar de algemados ao que fomos, à semelhança da árvore humilde presa aos resíduos do complicado envoltório que lhe encerrava a semente, reclamamos ascensão, ar puro e largueza de condições para produzirmos o bem que o Senhor espera de nós.
A argumentação de Gúbio era bela e sugestiva; entretanto, eu sentia dificuldades para aceitar a idéia de purgatórios e infernos dirigidos.
— Concordo com as elucidações — exclamei reverente —, mas é quase incrível tanta ignorância, além do corpo que nos conserva em ilusão... a sepultura abre-nos a todos um caminho novo. É razoável que a mente perturbada sofra amarguras de reajustamento até que se restaure; todavia, apropriar-se um espírito desencarnado de certos setores do caminho, como se fora deles senhor absoluto para perpetuar sua tirania, é observação que me escapava...
— Sim — tornou o orientador, convincente —, para quem refletiu sobre o assunto, durante muito tempo, em sentido contrário à realidade, o apontamento surpreende bastante; todavia, não vejo obstáculos à apreensão do ensinamento. Reconheçamos, por exemplo, que o homem comum já atravessou, desde milênios, a estação evolutiva em que se demora o irracional e, em várias ocasiões, revela comportamento de nível inferior ao dele.
Imprimindo grave entono à voz agradável e fraternal, acrescentou:
— Notemos que nós mesmos, os desencarnados, nos movemos num campo de matéria que se caracteriza por densidade específica, embora rarefeita, quando confrontada com as antigas formas físicas, e nossa mente, em qualquer parte, na Crosta ou aqui onde nos achamos, é um centro psíquico de atração e repulsão. O espírito encarnado respira numa zona de vibrações mais lentas, enfaixado num veículo constituído de trilhões de células que são outras tantas vidas microscópicas inferiores. Cada vida, porém, por mais insignificante, possui expressão magnética especial. A vontade, não obstante condicionada por leis cósmicas e morais, inclinará a comunidade dos corpúsculos vivos que permanecem a seu serviço por tempo limitado, à maneira do eletricista que liga as forças da usina para atividades num charco ou para serviços numa torre. Sendo cada um de nós uma força inteligente, detendo faculdades criadoras e atuando no Universo, estaremos sempre engendrando agentes psicológicos, através da energia mental, exteriorizando o pensamento e com ele improvisando causas possíveis, cujos efeitos podem ser próximos ou remotos sobre o ponto de origem. Abstendo-nos de mobilizar a vontade, seremos invariáveis joguetes das circunstâncias predominantes, no ambiente que nos rodeia; contudo, tão logo deliberemos manobrá-la, é indispensável resolvamos o problema de direção, porqüanto nossos estados pessoais nos refletirão a escolha íntima. Existem princípios, forças e leis no universo minúsculo, tanto quanto no universo macrocósmico. Dirija um homem a sua vontade para a ideia de doença e a moléstia lhe responderá ao apelo, com todas as características dos moldes estruturados pelo pensamento enfermiço, porque a sugestão mental positiva determina a sintonia e receptividade da região orgânica, em conexão com o impulso havido, e as entidades microbianas, que vivem e se reproduzem no campo mental das milhões de pessoas que as entretêm, acorrerão em massa, absorvidas pelas células que as atraem, em obediência às ordens interiores, reiteradamente recebidas, formando no corpo a enfermidade idealizada. Claro que nesse capítulo temos a questão das provas necessárias, nos casos em que determinada personalidade renasce, atendendo a impositivos das lições expiatórias, mas, mesmo aí, o problema de ligação mental é infinitamente importante, porqüanto o doente que se compras na aceitação e no elogio da própria decadência acaba na posição de excelente incubador de bactérias e sintomas mórbidos, enquanto que o espírito em reajustamento, quando reage, valoroso, contra o mal, ainda mesmo que benéfico e merecido, encontra imensos recursos de concentrar-se no bem, integrando-se na corrente de vida vitoriosa. Registrava as explicações, profundamente edificado, e, não obstante a longa pausa que se fêz espontâneamente, não ousei interromper o curso da argumentação a fim de não quebrar a linha do pensamento.
Prestimoso e digno, Gúbio continuou:
— Nossa mente é uma entidade colocada entre forças inferiores e superiores, com objetivos de aperfeiçoamento. Nosso organismo perispiritual, fruto sublime da evolução, quanto ocorre ao corpo físico na esfera da Crosta, pode ser comparado aos pólos de um aparelho magneto-elétrico.
O espírito encarnado sofre a influenciação inferior, através das regiões em que se situam o sexo e o estômago, e recebe os estímulos superiores, ainda mesmo procedentes de almas não sublimadas, através do coração e do cérebro.
Quando a criatura busca manejar a própria vontade, escolhe a companhia que prefere e lança-se ao caminho que deseja. Se não escasseiam milhões de influxos primitivistas, constrangendo-nos, mesmo aquém das formas terrestres a entreter emoções e desejos, em baixos círculos, e armando-nos quedas momentâneas em abismos do sentimento destrutivo, pelos quais já peregrinamos há muitos séculos, não nos faltam milhões de apelos santificantes, convidando-nos à ascensão para a gloriosa imortalidade.
O Instrutor, fitando em nós o olhar percuciente e calmo, ponderou:
— Entenderam, agora, como é compreensível a opção de certos espíritos pela casa escura do crime, depois do túmulo, qual ocorre a milhões de entidades encarnadas que, em plena harmonia com a natureza terrestre, estimam viver no domicílio da enfermidade? Atitudes mentais enraizadas não se modificam facilmente. O rei que governa milhares, o condutor que se acostumou a traçar férreas diretrizes, o homem que se habituou a dobrar caracteres alheios, quando não dispõem de princípios santificantes, no terreno idealístico, para se alimentarem intimamente na tarefa a que se consagram, não se transformam em servidores humildes de um momento para outro, só porque se desfizeram da carga de células materiais.
Quando não se recomendam aos precipícios da loucura, no eclipse total da razão por tempo indeterminável, em vista dos desvarios na intelectualidade e no poder, são conservados e respeitados na obra evolutiva do mundo, pelas qualidades apreciáveis e dignas que já conquistaram, embora as paixões violentas que lhes assinalam a vida íntima, e são utilizados então por gênios superiores, nos serviços de aprimoramento planetário, em que vigiam e reajustam os mais fracos, sendo vigiados e reajustados pelos mais fortes, convertendo-se, gradual e imperceptivelmente, ao Supremo Bem, aceitando o Plano Divino em cuja execução passam a colaborar com fidelidade e valor. Em tal posição, auxiliam e são auxiliados, dão e recebem, impulsionam o progresso e progridem a seu turno...
Impôs ligeira pausa às elucidações e, em seguida, prosseguiu noutro rumo:
— Semelhante realidade obriga-nos a meditar na extensão do serviço espiritual em todos os ângulos evolutivos. Educação para a eternidade não se circunscreve à ilustração superficial de que um homem comum se reveste, sentando-se, por alguns anos, num banco de universidade — é obra de paciência nos séculos. Se árvores existem assinaladas por centenas de anos, dentro das finalidades a que se destinam, que dizer dos milênios reclamados por uma individualidade, no capítulo da própria sublimação?
Não podemos olvidar, desse modo, o amor que - devemos aos ignorantes, aos fracos, aos infelizes. Imprescindível se torna caminhar nos passos daqueles que igualmente, um dia, nos estenderam compassivas mãos.
O argumento era demasiado edificante para que interferíssemos com indagações novas.
O orientador percebeu a oportunidade do esclarecimento e continuou:
— Os átomos que integram a hóstia dum templo, são, no fundo, iguais àqueles que formam o pão pobre de uma penitenciária. Assim, toda matéria em si mesma. Passiva e plástica, é análoga nas mãos das entidades sábias ou ignorantes, amorosas ou brutalizadas, no estado de condensação conhecido na Crosta Planetária, e além dele. Em razão disso, são compreensíveis as transitórias construções levantadas em nosso plano por criaturas desviadas do bem. Para quem anestesiou as faculdades no prazer fugitivo, a separação da carne geralmente constitui acesso a doloroso estágio na incompreensão. E considerando que a maioria das criaturas humanas persegue as sensações do corpo físico, qual se as atrações genésicas e o desvairado apego aos bens provisórios dos círculos mais baixos encerrassem toda a felicidade do mundo, a colheita de personalidades desequilibradas é sempre inquietante, conservando quase inalteradas as fileiras escuras dos insensatos cultivadores da satisfação egoística a qualquer preço. Loucos perigosos, por voluntários, dirigidos por inteligências soberanas, especializadas em dominação, constituem hordas terríveis que, a bem dizer, vigiam as saídas das esferas inferiores em todas as direções.
— E porque permite Deus semelhante irregularidade? — inquiriu Elói, sob visível consternação — não bastaria ligeira ordem do Eterno para sanar a desarmonia?
Gúbio, prestativo, não se fêz esperado na resposta.
Sorrindo, franco, aduziu com interesse:
— Não será o mesmo que perguntar o motivo pelo qual o Senhor nos esperou até ontem? acreditaremos em paraísos miraculosos? não sabemos, porventura, que cada homem se sentará no trono que levantou ou se projetará ao fundo do abismo que preferiu? Além disto, é necessário reconhecer que se o lapidário aprimora a pedra, usando lima resistente, o Senhor do Universo aperfeiçoa o caráter dos filhos transviados de Sua Casa, usando corações endurecidos, temporariamente afastados de Sua Obra. Nem sempre o melhor juiz pode ser o homem mais doce.
Qualidades morais e virtudes excelsas não são meras fórmulas verbalistas. São forças vivas.
Sem a posse delas, é impraticável a ascensão do espírito humano. Personalidades vulgares apegam-se à salvaguarda de recursos exteriores e neles centralizam os sentimentos mais nobres, prendendo-se a fantasias inúteis... Encarcera-se-lhes, então, a mente na insegurança, na fragilidade, no pavor. O choque da morte imprime-lhes tremendos conflitos à organização perispirítica, veículo destinado às suas próprias manifestações no circulo novo de matéria diferente a que foram arrebatadas, e, após perderem abençoados anos no campo didático da esfera carnal, enredadas em conflitos deploráveis, erram aflitas, exânimes e revoltadas, ajustando-se ao primeiro grupo de entidades viciosas que lhes garantam continuidade de aventura em fictícios prazeres. Formam associações enormes e compactas, com base nas emanações da Crosta do Mundo, onde milhões de homens e mulheres lhes sustentam as exigências mais baixas; fazem vida coletiva provisória à força de sugarem as energias da residência dos irmãos encarnados, qual se fôssem extensa colônia de criminosos, vivendo a expensas de generoso rebanho bovino. Importa ponderar, contudo, que o homem explora a vaca, menos consciente e incapaz de ser julgada por delito de conivência, ao passo que, na esfera humana, o quadro apresenta outro aspecto. A criatura racional não se eximirá à responsabilidade. Se o perseguidor invisível aos olhos terrestres erige agrupamentos para culto sistemático à revolta e ao egoísmo, o homem encarnado, senhor de valiosos patrimônios de conhecimento santificante, garante-lhe a obra nefasta pela fuga constante às obrigações divinas de cooperador de Deus, no plano de serviço em que se localiza, alimentando ruinosa aliança. Um e outro, por isto, partilhando os resultados da indiferença destrutiva ou da ação condenável, atritam e se vascolejam reciprocamente, tais quais feras que se entredevoram na floresta da vida. Obsidiam-se, mútua-mente, quando nos atilhos educativos da carne ou na ausência deles. Atravessam séculos, assim, jungidos um ao outro, presos a lamentáveis ilusões e propósitos sinistros, com extremas perturbações para si mesmos, já que a herança celestial se faz naturalmente vedada a todos aqueles que menosprezam em si próprios as sementes divinas. Há milhões de almas humanas que se não afastaram, ainda, da Crosta Terrestre, há mais de dez mil anos. Morrem no corpo denso e renascem nele, qual acontece às árvores que brotam sempre, profundamente arraigadas no solo. Recapitulam, individual e coletivamente, lições multimilenárias, sem atinarem com os dons celestiais de que são herdeiras, afastadas deliberadamente do santuário de si mesmas, no terreno movediço da egolatria inconsequente, agitando-se, de quando em quando, em guerras arrasadoras que atingem os dois planos, no impulso mal dirigido de libertação, através de crises inomináveis de fúria e sofrimento. Destroem, então, o que construíram laboriosamente e modificam processos de vida exterior, transferindo-se de civilização.
O Instrutor, sentindo a profunda atenção com que lhe seguíamos a palavra, acentuou, depois de leve pausa:
— Todavia, no fluir e refluir das eras numerosas, os filhos do Planeta que se conservam atentos às determinações divinas, livres da antiga escravidão à miséria moral, tornam ao ambiente escuro do cativeiro que já abandonaram, a fim de ampararem os irmãos ignorantes e desvairados, em sublime trabalho de compaixão. Formam as vanguardas do Cristo. nos mais diversos pontos do Globo, e, aos milhões, sob o patrocínio d’Ele, operam no amor e na renúncia, avançando, dificilmente embora, humanidade a dentro, enfrentando a ofensiva incendiária e exterminadora, com as bênçãos da Luz Celeste...
A exposição não podia ser mais clara. Elói, contudo, observou, assombrado:
— Quem diria, na Terra, nosso velho domicilio, que a vida infinita se estenderia, assim, estranha e ameaçadora?
— Sim — concordou o orientador —, porém a ortodoxia no mundo costuma ser o cadáver da revelação. Argumentos teológicos de milênios obstruem os canais da inteligência humana, quanto às realidades divinas. Mas a criatura prosseguirá na tarefa de autodescobrimento. A força mental, na luta comum, permanece restrita ao círculo acanhado da personalidade egoística, copiando o molusco algemado à concha, e sabemos que semelhante energia, patrimônio eterno com que nos sublimamos ou viciamos, emite raios criadores sobre a matéria passiva que nos cerca, dependendo de nós a direção que venha a tomar. Se milhões de raios luminosos formam um astro brilhante, é natural que milhões de pequeninos desesperos integrem um inferno perfeito. Herdeiros do Poder Criador, geraremos forças afins conosco, onde estivermos. Não será tudo isto perfeitamente inteligível? É por esta razão que o Senhor mandou constar no Livro Divino o seu aviso celestial: — “eis que estou à porta e bato”. Se alguém abre a porta viva da alma, haverá realmente o colóquio redentor, entre o Mestre e o Discípulo, O coração é tabernáculo e a sublimação das potências que o integram é a única via de acesso às esferas superiores.
O devotado orientador fixou o gesto de quem dava término oportuno às explicações, sorriu, benévolo, e interrogou:
— Qual de nós cometeria o absurdo de exigir voo ao balão cativo? A mente humana, enraizada nos interesses mais fortes da Terra, não detém outro símbolo.
Calamo-nos, atendidos em nossa fome de elucidações. Colhêramos ali, na conversação de alguns minutos, precioso material de observação para longo tempo.
Prosseguíamos, agora, em silêncio, extáticos ante a beleza imponente da noite, maravilhosamente constelada.
Vento brando sussurrava cânticos sem palavras na folhagem leve e grupos de amigos, que nos defrontavam de instante a instante, mostravam no olhar a mesma doce felicidade que transbordava do arvoredo florido.
E assim, banhados em comoções inesquecíveis, buscamos o santuário em que receberíamos instruções para serviço próximo, inundados de confiança e alegria, na posição de trabalhadores jubilosos que caminhassem contentes para a luta, como se avançassem, felizes, para uma festa de luz.

domingo, 27 de junho de 2010

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 13 ÍTENS 7 e 8 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA

Convidar os Pobres e os Estrupiados - Dar sem esperar Retribuição

1. Quem são os pobres e estropiados referidos no texto?
São os nossos irmãos mais necessitados, que não têm condições de retribuir o nosso convite, a nossa doação, a nossa visita, enfim, as nossas atenções.

“E sereis ditosos por não terem eles meios de vô-lo retribuir...”.

2. Por que Jesus nos afirma que ficaremos felizes em auxiliar, sem esperar retribuição?
Porque estaremos experimentando a alegria verdadeira do amor puro e desinteressado, que nos eleva e coloca em sintonia com os trabalhadores do bem.

A felicidade que experimenta aquele que pratica o bem é retribuição maior que o próprio benefício concedido.

3. É correto retribuir os benefícios recebidos?
Sim, pois a gratidão é sempre justa e bem-vinda, e revela elevação espiritual. Apenas, Jesus quis ressaltar que a retribuição não deve ser a mola mestra a nos impulsionar para a prática do bem.

Não devemos esperar gratidão pelas boas obras que praticamos. Devemos, no entanto, ser sempre gratos pelos favores recebidos.

4. A recomendação de Jesus é apenas para as festas?
Não. É para qualquer situação em que nos deparamos com irmãos em dificuldades, sejam materiais ou espirituais.

“Por festins deveis entender não os repastos propriamente ditos, mas a participação ma abundância de que desfrutais.”

5. Como deve ser a atitude do cristão quando auxilia o irmão necessitado?
Fraterna e discreta, movida pelo sentimento da verdadeira caridade, que nos manda fazer o bem tão somente pelo prazer de o praticar, sem esperar retribuição alguma.

“(...) praticam a máxima de Jesus se o fazem por benevolência, sem ostentação, e sabem dissimular o benefício, por meio de uma sincera cordialidade.”

6. Como exercitar esta lição em nossa vivência diária?
Convidando para nossa mesa os irmãos, amigos e parentes menos felizes, e atendendo-os fraternalmente em suas necessidades, ao invés de buscarmos apenas o convívio daqueles que nos podem beneficiar com a retribuição de nossos favores.

Conclusão:

O convite à participação nos bens de que desfrutamos deve ser inspirado na mais pura fraternidade. Se for motivado pelo desejo de retribuição, é mero comércio e demonstração de orgulho e vaidade.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 13 ÍTENS 5 e 6 - MARIA J. CAMPOS



FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA

O Óbolo da Viúva

1. Por que Jesus valorizou o óbolo da viúva?
Porque sua dádiva, aparentemente de pequeno valor, foi retirada, com sacrifico e amor, do pouco que possuía, enquanto que os ricos davam com abundância do muito que lhes sobravam.

“(...) ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para o seu sustento”.

2. O que Jesus nos ensina, nesta passagem?
Que valor material da oferta não é importante, quando se pratica a caridade: o fundamental é o sentimento de amor e desprendimento que acompanha o gesto.

“Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos.”
Sob uma oferta material insignificante pode esconder-se um tesouro de sentimentos.


3. A falta de recursos materiais constitui impedimento para a prática da caridade?
Certamente que não. Aquele que dispõe de poucos recursos deve procurar no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os meios de que carece para realizar seus generosos propósitos.

Muitas vezes, sob a desculpa de não possuir bens, cultivamos a indiferença e o egoísmo, voltando às costas aos irmãos necessitados.

4. Aquele que se acha incapaz de ajudar o próximo com o pouco que tem, o fará se tiver muito?
É quase certo que não. Se conservamos nosso coração fechado quando estamos perto dos necessitados, fechá-lo-emos ainda mais quando nosso orgulho e vaidade forem estimulados pela ambição, cobiça e febre de ter sempre mais.

“Não haverá quem, desejando fazer o bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio...”?

5. Por que não devemos pedir bens materiais a Deus?
Porque pedimos sempre o supérfluo e Deus nos dá sempre o necessário. O que devemos pedir são os recursos para o trabalho honesto, pois o resto nos virá por acréscimo.

6. Apenas com dinheiro podemos auxiliar o próximo?
Não. Podemos auxiliá-la prestando um serviço, consolando aflições minorando sofrimentos físicos e morais, dando ao próximo uma parte do nosso trabalho, do nosso tempo, do nosso repouso, enfim, de tudo o de que dispomos.

“Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontra de realizar seu desejo.”

Conclusão:

Todos somos chamados e sempre dispomos de meios para servir ao nosso próximo. O mérito da nossa ajuda, não tem qualquer relação como seu valor material, mas com a generosidade e o desprendimento que acompanham o gesto.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

ESTUDO DO LIVRO NOSSO LAR - CAPÍTULO 38 - JULIANA SOLARE



O Caso Tobias
No terceiro dia de trabalho, alegrou-me Tobias com agradável surpresa. Findo o serviço, ao entardecer, de vez que outros se incumbiram da assistência noturna, fui fraternalmente levado à residência dele, onde me aguardavam belos momentos de alegria e aprendizado.
Logo de entrada, apresentou-me duas senhoras, uma já idosa e outra bordejando a madureza. Esclareceu que esta era sua esposa e aquela, irmã.
Luciana e Hilda, afáveis e delicadas, primaram em gentilezas.
Reunidos na formosa biblioteca de Tobias, examinamos volumes maravilhosos na encadernação e no conteúdo espiritual.
A senhora Hilda convidou-me a visitar o jardim, para que pudesse observar, de perto, alguns caramanchões de caprichosos formatos. Cada casa, em "Nosso Lar", parecia especializar-se na cultura de determinadas flores. Em casa de Lísias, as glicínias e os lírios contavam-se por centenas; na residência de Tobias, as hortênsias inumeráveis desabrochavam nos verdes lençóis de violetas. Belos caramanchões de árvores delicadas, recordando o bambu ainda novo, apresentavam no alto uma trepadeira interessante, cuja especialidade é unir frondes diversas, à guisa de enormes laços floridos, na verde cabeleira das árvores, formando gracioso teto.
Não sabia traduzir minha admiração. Embalsamava-se a atmosfera de inebriante perfume. Comentávamos a beleza da paisagem geral, vista daquele ângulo do Ministério da Regeneração, quando Luciana nos chamou ao interior, para leve refeição.
Encantado com o ambiente simples, cheio de notas de fraternidade sincera, não sabia como agradecer ao generoso anfitrião.
A certa altura da palestra amável, Tobias acrescentou, sorridente:
- O meu amigo, a bem dizer, é ainda novato em nosso Ministério e talvez desconheça o meu caso familiar.
Sorriam ao mesmo tempo as duas senhoras; e, observando-me a silenciosa interpelação, o dono da casa continuou:
- Aliás, temos numerosos núcleos nas mesmas condições. Imagine que fui casado duas vezes...
E, indicando as companheiras de sala, prosseguiu num gesto de bom humor:
- Creio nada precisar esclarecer quanto às esposas.
- Ah! sim - murmurei extremamente confundido -, quer dizer que as senhoras Hilda e Luciana compartilharam das suas experiências na Terra...
- Isso mesmo - respondeu tranqüilo.
Nesse ínterim, a senhora Hilda tomou a palavra, dirigindo-se a mim:
- Desculpe o nosso Tobias, irmão André. Ele está sempre disposto a falar do passado, quando nos encontramos com alguma visita de recém chegados da Terra.
- Pois não será motivo de júbilo - aduziu Tobias bem-humorado -, vencer o monstro do ciúme inferior, conquistando, pelo menos, alguma expressão de fraternidade real?
- De fato - objetei -, o problema interessa profundamente a todos nós.
Há milhões de pessoas, nos círculos do planeta, em estado de segundas núpcias. Como resolver tão alta questão afetiva, considerando a espiritualidade eterna? Sabemos que a morte do corpo apenas transforma sem destruir. Os laços da alma prosseguem, através do Infinito. Como proceder? Condenar o homem ou a mulher que se casaram mais de uma vez? Encontraríamos, porém, milhões de criaturas nessas condições. Muitas
vezes já lembrei, com interesse, a passagem evangélica em que o Mestre nos promete a vida dos anjos, quando se referiu ao casamento na Eternidade.
- Forçoso é reconhecer, todavia, com toda a nossa veneração ao Senhor - atalhou o anfitrião, bondoso -, que ainda não nos achamos na esfera dos anjos e, sim, dos homens desencarnados.
- Mas, como solucionar aqui semelhante situação? - perguntei.
Tobias sorriu e considerou:
- Muito simplesmente; reconhecemos que entre o irracional e o homem há enorme série gradativa de posições. Assim, também, entre nós outros, o caminho até o anjo representa imensa distância a percorrer. Ora, como podemos aspirar à companhia de seres angélicos, se ainda não somos nem mesmo fraternos uns com os outros? Claro que existem caminheiros de ânimo forte, que se revelam superiores a todos os obstáculos da senda, por supremo esforço da vontade; mas a maioria não prescinde de pontes ou do socorro de guardiães caridosos. Em vista dessa verdade, os casos dessa natureza são resolvidos nos alicerces da fraternidade legítima, reconhecendo-se que o verdadeiro casamento é de almas e essa união ninguém poderá quebrantar.
Nesse instante, Luciana, que se mantinha silenciosa, interveio, acrescentando:
- Convém explicar, todavia, que tudo isso, felicidade e compreensão, devemos ao espírito de amor e renúncia de nossa Hilda.
A senhora Tobias, no entanto, demonstrando humildade digna, acentuou:
- Calem-se. Nada de qualidades que não possuo. Buscarei sumariar nossa história, a fim de que nosso hóspede conheça meu doloroso aprendizado.
E continuou, depois de fixar um gesto de narradora amável:
- Tobias e eu nos casamos na Terra, quando ainda muito jovens, em obediência a sagradas afinidades espirituais. Creio desnecessário descrever a felicidade de duas almas que se unem e se amam verdadeiramente no matrimônio. A morte, porém, que parecia enciumada de nossa ventura, subtraiu-me do mundo, por ocasião do nascimento do segundo filhinho.
Nosso tormento foi, então, indescritível. Tobias chorava sem remédio, ao passo que eu me via sem forças para sufocar a própria angústia. Pesados dias de Umbral abateram-se sobre mim. Não tive remédio senão continuar agarrada ao marido e ao casal de filhinhos, surda a todo esclarecimento que os amigos espirituais me enviavam, por intuição.
Queria lutar, como a galinha ao lado dos pintainhos. Reconhecia que o esposo necessitava reorganizar o ambiente doméstico, que os pequeninos reclamavam assistência maternal. Tornava-se a situação francamente insuportável. Minha cunhada solteira não tolerava as crianças e a cozinheira apenas fingia dedicação. Duas amas jovens pautavam toda a conduta pessoal pela insensatez. Não pôde Tobias adiar a
solução justa e, decorrido um ano da nova situação, desposou Luciana, contrariando meus caprichos. Ah! se soubesse como me revoltei!
Semelhava-me a uma loba ferida. Minha ignorância deu até para lutar com a
pobrezinha, tentando aniquilá-la. Foi aí que Jesus me concedeu a visita providencial de minha avó materna, desencarnada havia muitos anos.
Chegou ela como quem nada desejava, enchendo-me de surpresa, sentou-se a meu lado, pôs-me em seguida ao colo, como noutro tempo, e perguntou-me lacrimosa: - "Que é isso, minha neta? Que papel é o seu na vida? Você é leoa ou alma consciente de Deus? Pois nossa irmã Luciana serve de mãe a seus filhos, funciona como criada de sua casa, é jardineira do seu jardim, suporta a bílis do seu marido e não pode assumir o lugar provisório de companheira de lutas, ao lado dele? É assim que o seu coração agradece os benefícios divinos e remunera aqueles que o servem? Quer você uma
escrava e despreza uma irmã? Hilda! Hilda! onde está a religião do Crucificado que você aprendeu? Oh! minha pobre neta, minha pobre!..."
Abracei-me, então, em lágrimas, com a velhinha santa e abandonei o antigo ambiente doméstico, vindo em companhia dela para os serviços de "Nosso Lar". Desde essa época, tive em Luciana mais uma filha. Trabalhei, então, intensamente. Consagrei-me ao estudo sério, ao melhoramento moral de mim mesma, busquei ajudar a todos, sem distinção, em nosso antigo lar terrestre. Constituiu Tobias uma família nova, que passou a me pertencer, igualmente, pelos sagrados laços espirituais. Mais tarde, voltou ele, reunindo-se a mim, acompanhado de Luciana, que veio também ter conosco
para nossa completa alegria. E aí tem, meu amigo, a nossa história...
Luciana, contudo, tomou a palavra e observou:
- Não disse ela, porém, quanto se tem sacrificado, ensinando-me com exemplos.
- Que dizes, filha? - perguntou a senhora Tobias, acariciando-lhe a destra.
Luciana sorriu e ajuntou:
- Mas, graças a Jesus e a ela, aprendi que há casamento de amor, de fraternidade, de provação, de dever, e, no dia em que Hilda me beijou, perdoando-me, senti que meu coração se libertara desse monstro que é o ciúme inferior. O matrimônio espiritual realiza-se, alma com alma, representando os demais simples conciliações indispensáveis à solução de necessidades ou processos retificadores, embora todos sejam sagrados.
- E assim construímos nosso novo lar, na base da fraternidade legítima - acrescentou o dono da casa.
Aproveitando o ligeiro silêncio que se fizera, indaguei:
- Mas como se processa o casamento aqui?
- Pela combinação vibratória - esclareceu Tobias, atencioso -, ou então, para ser mais explícito -, pela afinidade máxima ou completa.
Incapaz de sopitar a curiosidade, esqueci a lição de bom-tom e interroguei:
caso?
- Mas, qual a posição de nossa irmã Luciana neste Antes, porém, que os cônjuges espirituais respondessem, foi a própria interessada que explicou:
- Quando desposei Tobias, viúvo, já devia estar certa de que, com todas as probabilidades, meu casamento seria uma união fraternal, acima de tudo. Foi o que me custou a compreender. Aliás, é lógico que, se os consortes padecem inquietação, desentendimento, tristeza, estão unidos fisicamente, mas não integrados no matrimônio espiritual.
Queria perguntar mais alguma coisa; entretanto, não encontrava palavras que revelassem ausência de impertinente indiscrição. A senhora Hilda, contudo, compreendeu-me o pensamento e explicou:
- Fique tranqüilo. Luciana está em pleno noivado espiritual. Seu nobre companheiro de muitas etapas terrenas precedeu-a há alguns anos, regressando ao círculo carnal. No ano próximo, ela seguirá igualmente ao seu encontro. Creio que o momento feliz será em São Paulo.
Sorrimos todos alegremente.
Nesse instante, Tobias foi chamado à pressa, para atender a um caso grave nas Câmaras de Retificação.
Era preciso, desse modo, encerrar a palestra.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ESTUDO DO LIVRO ENTRE A TERRA E O CÉU - CAP. 12 - ORADOR ALEXANDRE X. CAMARGO



12 – ESTUDANDO SEMPRE

Às despedidas, retomamos as excursionistas sob a nossa guarda e, em pouco tempo, achávamo-nos, de novo, no caminho terrestre.
Da faixa de luz solar, tornamos à imersão na sombra noturna, mas o espetáculo do céu não diminuíra em beleza, porque as primeiras cores da alvorada tingiam o distanciado horizonte.
Clarêncio restituiu a companheira de Antonina ao lar, depois de afetuoso adeus. E, sem maiores delongas, demandamos o ninho doméstico de nossa amiga.
Antonina mostrava-se calada, tristonha...
Dir-se-ia teimava em permanecer, para sempre, junto do pequenino que a precedera na longa viagem da morte. Todavia, em penetrando o estreito santuário familiar, dirigiu-se apressadamente ao quarto, de coração novamente atraído para os outros filhinhos.
O Ministro, paternal, fê-la deitar-se e aplicou-lhe recursos magnéticos sobre os centros corticais. A mãezinha de Marcos demonstrou experimentar leve e doce vertigem...
Atendendo ao orientador, demoramo-nos em observação, notando que a Antonina de nossa maravilhosa viagem aderira ao corpo denso, qual se fora por ele sugada, à maneira de formosa mulher, de forma sutil e semilúcida, repentinamente engolida por bainha de sombra. Em se justapondo ao cérebro físico, perdera a acuidade mental com que se caracterizava junto de nós. Com a fisionomia calma e feliz, despertou no veículo pesado...
Contudo, Antonina não mais nos viu. Era agora simplesmente a mulher humana, nas cobertas agasalhantes do leito, acomodada à escuridão do recinto.
Lembrava-se, sim, do passeio ao Lar da Bênção, mas através de impressões a se esfumarem, rápidas.
Só a imagem do filhinho, tema central do seu amor, lhe persistia clara e movimentada na memória...
Nossa presença e todas as demais particularidades do vôo sublime lhe acudiam à lembrança por acessórios fantásticos a se lhe perderem nos obscuros escaninhos da imaginação.
Como quem seleciona preciosidades, a consolada mãezinha procurava, ansiosa, nos arquivos da própria mente, todas as palavras que ouvira do filho abençoado, buscando retê-las no escrínio do coração. Por isso, das valiosas observações de Clarêncio, em
poucos minutos não lhe restava na alma qualquer reminiscência.
Antonina movimentou-se, fez luz e ouvimo-la pensar, vibrante:
– Oh! meu Deus, que alegria! pude vê-lo perfeitamente! Quero guardar a recordação deste sonho divino!... Marcos, Marcos, que saudades, meu filho!...
O Ministro abeirou-se dela, acariciou-lhe a cabeça, como se a envolvesse em fluidos calmantes e a simpática senhora restabeleceu a sombra no recinto.
Abraçando a caçula que repousava ao seu lado, novamente dormiu.
– Nossa amiga não poderá guardar positivas recordações – informou Clarêncio com atenção.
– Mas, porquê? – indagou Hilário, admirado.
– Raros Espíritos estão habilitados a viver na Terra, com as visões da vida eterna. A penumbra interior é o clima que lhes é necessário. A exata lembrança para ela redundaria em saudade morta.
– Como isso é lamentável! – alegou o meu companheiro, penalizado O Ministro todavia, explicou paciente:
– Cada estágio na vida se caracteriza por finalidades especiais.
O mel é saboroso néctar para a criança, mas não deve ser ministrado indiscriminadamente. Reclama dosagem para não vir a ser importuno laxativo. O contacto com o reino espiritual, enquanto nos demoramos no envoltório terrestre, não pode ser dilatado em toda a extensão, para que nossa alma não afrouxe o interesse
de lutar dignamente até o fim do corpo. Antonina lembrarse-á de nossa excursão mas de modo vago, como quem traz no campo vivo da alma um belo quadro de esbatidos contornos.
Recordar-se-á porém, do filhinho mais vivamente, o bastante para sentir-se reconfortada e convicta de que Marcos a espera na Vida Maior. Semelhante certeza ser-lhe-á doce alimento ao coração.
O silêncio passou a dominar o recinto mas Clarêncio quebrou-o, quase de imediato convidando-nos a socorrer o velhinho que nos aguardava.
Dormitava o ancião numa velha cadeira.
– Será sono? – perguntou Hilário, mais novo que eu na vida do Além.
– Sim – Confirmou o instrutor, benevolente –, na fase em que se encontra, Leonardo subordina-se a todos os fenômenos da existência vulgar. Não prescinde, assim, do repouso para refazerse.
Examinamo-lo mais detidamente.
Sem dúvida, o ancião trazia um veículo semelhante ao nosso, segundo os princípios organogênicos que presidem à constituição do corpo espiritual, contudo mostrava-se tão pesado e tão denso como se ainda envergasse a túnica de carne.
Deixei a Hilário os pruridos de curiosidade que em outro tempo me assaltavam de inopino.
Após lhe observar o aspecto desagradável, meu colega inquiriu sobre as razões de tal obscurecimento.
O Ministro não se fez rogado e explicou:
– O psicossoma ou o perispírito da definição espírita não é idêntico de maneira absoluta em todos nós, assim como, na realidade, não existem dois corpos físicos totalmente iguais. Cada criatura vive num carro celular diferente, apesar das peças semelhantes, impostas pela lei das formas. No círculo de matéria densa, sofre a alma encarnada os efeitos da herança recolhida dos pais, entretanto, na essência, a lei da herança funciona invariavelmente do indivíduo para ele mesmo. Detemos tão somente o que seja exclusivamente nosso ou aquilo que buscamos.
Renascemos na Terra junto daqueles que se afinam com o nosso modo de ser. O dipsômano não adquire o hábito desregrado dos pais, mas sim, quase sempre, ele mesmo já se confiava ao vício do álcool, antes de renascer. E há beberrões desencarnados
que se aderem àqueles que se fazem instrumentos deles próprios.
E, imprimindo grave entono à voz, ponderou:
– A hereditariedade é dirigida por princípios de natureza espiritual.
Se os filhos encontram os pais de que precisam, os pais recebem da vida os filhos que procuram.
Lembrei-me repentinamente de alguns dos grandes gênios da humanidade, que produziram filhos monstruosos ou medíocres.
Mas, vindo ao encontro do meu pensamento, o orientador observou:
– No campo das grandes virtudes, os pais usam, por vezes, a compaixão reedificante, empenhando-se em tarefas de sacrifício.
Temos no mundo mulheres e homens admiráveis que, consolidando qualidades superiores na própria alma, se dispõem a buscar afetos que permanecem a distância, no passado, em tentativas heróicas de auxílio e reajustamento.
E, sorrindo, acrescentou:
– Na família consangüínea ou na família humana, obtemos o que buscamos. Quem já acertou as próprias contas com a justiça, pode confiar-se aos sublimes rasgos do amor.
Em seguida, Clarêncio deteve-se na contemplação do velhinho que repousava e continuou comentando, mais particularmente com Hilário:
– Conforme a vida de nossa mente, assim vive nosso corpo espiritual. Nosso amigo entregou-se, demasiado às criações interiores do tédio, ódio, desencanto, aflição e condensou semelhantes forças em si mesmo, coagulando-as desse modo, no veículo que
lhe serve às manifestações. Daí, esse aspecto escuro e pastoso que apresenta. Nossas obras ficam conosco. Somos herdeiros de nós mesmos.
– Mas... e se nosso irmão trabalhasse? Se depois da morte procurasse conjugar o verbo servir? – inquiriu meu colega, preocupado – Ah! indiscutivelmente o trabalho renova qualquer posição mental. Gerando novos motivos de elevação e novos fatores de
auxílio, o serviço estabelece caminhos outros que realmente funcionam como recursos de libertação. Por isso mesmo, o constante apelo do Senhor à ação e à fraternidade se estende, junto de nós, diariamente através de mil modos... Todavia, quando não nos
devotamos ao trabalho, enquanto nos demoramos na vestimenta terrestre, mais difícil se faz para nós a superação dos obstáculos mentais, porque a indolência trazida do mundo é tóxico cristalizante de nossas idéias, fixando-as, por vezes, durante tempo indefinível.
Se pretendemos possuir um psicossoma sutilizado capaz de reter a luz dos nossos melhores ideais, é imprescindível descondensá-lo pela sublimação incessante de nossa mente, que precisará, então, centralizar-se no esforço infatigável do bem. É para esse fim que o Pai Celestial nos concede a dor e a luta, a provação e o sofrimento, únicos elementos reparadores, suscetíveis de produzir em nós o reajuste necessário, quando nos pomos em desacordo com a Lei.
Lá fora, porém, as aves matutinas anunciavam o novo dia...
A tênue claridade da manhã penetrava o recinto.
Clarêncio lembrou que para socorrer o ancião ensandecido não dispensaríamos algum trabalho de análise da mente e, porque semelhante serviço demandaria talvez a cooperação de companheiros encarnados, que não deviam ser incomodados na paisagem
diurna, o Ministro convocou-nos à retirada.
O prosseguimento da tarefa assistencial, desse modo, foi marcado para a noite seguinte.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 13 ÍTEM 4 - MARIA J. CAMPOS




FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA

Os Infortúneos Ocultos

1. Para fazermos o bem devemos esperar que o necessitado nos procure?
Não. Se quisermos praticar a verdadeira caridade, devemos socorrer nosso irmão em aflição, sem esperar que ele se humilhe, vindo até nós.

“Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.”

2. Quais as características da caridade, expostas neste parágrafo?
A humildade, que nos leva a fazer o bem; a espontaneidade; a discrição; o desinteresse; o amor ao próximo.

“Não lhes pergunta qual a crença que professam nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens.”

3. Devemos divulgar os atos de caridade que praticamos ?
Não. Jesus nos ensina a dar com a esquerda, de modo que a direita não venha a saber. Em outras palavras: fazer a caridade sem ostentação.

A prática da verdadeira caridade dispensa a identificação do benfeitor e do favorecido.

4. Porque, no exemplo dado, se ressaltam os trajes e os gestos da senhora?
Porque, no exercício da caridade, devemos cuidar para que nossos trajes e gestos não venham a insultar a miséria ou a humilhar aquele que a recebe.

"A caridade não consiste apenas na adoção de bens materiais: “dispensar cuidados é também dar alguma coisa."

5. Qual a melhor recompensa que podemos obter, praticando a verdadeira caridade?
A paz de nossa consciência, decorrente da certeza de que agimos conforme as leis de Deus.

“Ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e de sua consciência”.

6. Qual o modelo a ser seguido, na prática da caridade?
Jesus, cujos ensinamentos e testemunhos estão contidos no Evangelho.

Jesus, cujos ensinamentos e testemunhos estão contidos no Evangelho.

Conclusão:

A verdadeira caridade vai em busca do infortúnio para minorá-lo, e o faz com respeito e em silêncio.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

ESTUDO DO LIVRO ENTRE A TERRA E O CÉU - CAP. 11 - ORADOR ALEXANDRE X. CAMARGO



11 - NOVOS APONTAMENTOS

Hilário, aderindo à renovação da palestra, indagou da irmã Blandina se ela era a dirigente do parque em que nos achávamos, ao que ela informou, com humildade:
– Não me atribua tamanho crédito. Tenho tarefas variadas aqui e alhures, entretanto, sou mera servidora. O nosso educandário guarda mais de duas mil crianças, mas, sob os meus cuidados, permanecem apenas doze. Somos um grande conjunto de lares,
nos quais muitas almas femininas se reajustam para a venerável missão da maternidade e conosco multidões de meninos encontram abrigo para o desenvolvimento que lhes é necessário, salientando-se que quase todos se destinam ao retorno à Terra para a
reintegração no aprendizado que lhes compete.
– E a direção central? – inquiriu meu colega, esmiuçador.
– Não reside aqui. O parque é uma das várias dependências de vasto estabelecimento de assistência e educação, do qual somos hoje tutelados. No fundo, nossa casa é uma larga escola, dotada com todos os recursos indispensáveis ao nosso aproveitamento.
Os melhores processos de habilitação espiritual funcionam conosco, em benefício dos que vão renascer na carne e dos que se dirigirão, mais tarde, às Esferas Superiores.
– Mas possuem aqui até mesmo os cursos primários de alfabetização?
– Não estranhem. Partilho com Blandina o estudo das leis divinas para renovar-me em espírito, com vistas ao grande futuro, mas o amor que ainda trago por velhos companheiros de luta humana constrange-me a larga demora, em serviço de cooperação,
na antiga casa de fé religiosa a que me afeiçoei.
– Aliás – ponderou o Ministro, sensato – o auxílio divino é como o Sol, irradiando-se para todos. As instituições e as almas que se voltam para o Pai Celestial recebem o suprimento de recursos de que necessitam, segundo as possibilidades de recepção que demonstrem.
Interessado, porém, nos apontamentos que surgiam, cada vez mais valiosos, Hilário indagou:
– Em que base se formará o processo de auxílio nas igrejas?
Com o impedimento de nossa comunicação direta, como será possível cooperar em favor dos nossos irmãos católicos romanos?
– Muito simplesmente – esclareceu Mariana, prestimosa, o culto da oração é o meio mais seguro para a nossa influência. A mente que se coloca em prece estabelece um fio de intercâmbio natural conosco...
– Mas não de maneira ostensiva – alegou o nosso companheiro, estudioso.
– Pelo pensamento – explicou a interlocutora, respeitável. A intuição beneficia em toda parte e, quanto mais alto é o teor de qualidades nobres na criatura, mais ampla é a zona lúcida de que se serve para registrar o socorro espiritual. O culto público, indiscutivelmente, qual vem sendo levado a efeito, nos tempos modernos,
não favorece o contacto das forças superiores com a mente popular. Os interesses rasteiros, conduzidos à igreja, constituem sólido entrave contra o auxílio celeste.
E a preocupação de riqueza e pompa, quase sempre mantida pelo sacerdócio nos ofícios,
inutiliza por vezes os nossos melhores esforços, porque, enquanto a atenção da alma se prende a exterioridades, as forças contrárias ao bem e à luz encontram facilidades positivas para a cultura do fanatismo e da discórdia. Ainda assim, superando tais obstáculos, é sempre possível algo fazer em benefício do próximo.
Durante a missa, por exemplo prosseguiu Hilário, observador, é viável o seu trabalho de cooperação?
Mariana fixou uma expressão facial de bom humor e aduziu:
– Somos grandes falanges de aprendizes da fraternidade em ação. Por mais desagradáveis se nos mostrem os quadros de luta, a nossa obrigação é servir.
Finda ligeira pausa, continuou:
– Quando a missa obedece a pura convenção social, funcionando como exibição de vaidade ou poder, a nossa colaboração resulta invariavelmente nula.
E, sorrindo:
– Que teríamos a fazer num ato bajulatório, em que os devotos da fortuna material ou da perversidade incensam a desregrada conduta de pessoas inescrupulosas? Há missas solenes de consagração a políticos astuciosos e a magnatas do ouro que, em verdade,
são reais sacrilégios, em nome do Cristo. Por outro lado, há missas de almas que constituem escárnio à dor dos que foram recolhidos pela morte, quais as que são mandadas celebrar por parentes ambiciosos que, por vezes, até mesmo se alegram com a
ausência do morto, ávidos que se mostram de lhes pilharem os despojos, na corrida a testamentos e cartórios. Essas missas fortemente adubadas a dinheiro estão para eles tão frias, como os túmulos em que se lhes asilou a carne desfigurada. Mas, se o ato
religioso é simples, partilhado por mentes e corações sinceros, inclinados à caridade evangélica e centralizados na luz da oração, com os melhores sentimentos que possuem, o culto se reveste de grande valor, pelas vibrações de paz e carinho que arremessa na direção daquele a quem é endereçado. Freqüentemente, as missas
humildes, realizadas aos primeiros cânticos da manhã, são as mais favoráveis ao nosso concurso. Podemos, com mais segurança, articular as possibilidades ao nosso alcance e ambientá-las a benefício daqueles que esperam de nós o amparo necessário.
Hilário pensou alguns instantes, valendo-se do intervalo que surgira na conversação e obtemperou:
– Possuímos nas igrejas a questão do patrocínio. Imaginemos que determinado templo foi erguido à memória de Gerardo Majela.
Isso expressa uma obrigação para o grande místico europeu?
– Certamente não se trata de uma obrigação escravizante, mas de um serviço que lhe honra o nome e que merecerá dele certo reconhecimento mesclado de responsabilidade. Devemos reconhecer, contudo, que o trabalho do bem, qualquer que ele seja,
permanece ligado a Jesus. No entanto, se algum servo do Senhor está ligado a obra por fazer, tanto quanto lhe seja possível desdobrar-se-á para enriquecê-la de bênçãos.
– Mas... e na hipótese de algum santuário surgir, dedicado a suposto herói da virtude? Figuremos alguém da Terra sendo conduzido ao altar por imposição da autoridade humana, sem mérito bastante, à frente do Senhor... Os crentes encarnados atribuir-lheiam poder de que não conseguiria dispor... Em que situação estaria
o templo que lhe fosse consagrado?
Mariana registrou a pergunta, cortesmente, e explicou:
– Numa contingência dessas, mensageiros de Jesus responsabilizar-se-iam pela instituição, distribuindo aí os benefícios adequados aos merecimentos e necessidades de cada um.
– E o tipo de assistência? é de renovação espiritual ou de mero socorro aos crentes encarnados?
– Ah! – comentou Mariana, sincera – o trabalho é complexo e divide-se em múltiplos setores. Não está limitado à esfera da experiência física. Inumeráveis são as almas que, desligadas do corpo, recorrem aos altares, implorando esclarecimento... Outras,
depois da morte, confiam-se a desequilibradas emoções, invocando a proteção dos Espíritos santificados... É preciso corrigir aqui e ajudar além... Agora, devemos injetar um pensamento reconstrutivo nessa ou naquela mente extraviada, depois é imprescindível harmonizar circunstâncias, em favor desse ou daquele necessitado...
A maioria das pessoas aceita a religião, mas não se preocupa em praticá-la. Daí nasce o terrível aumento das aflições e dos enigmas.
A lógica de Mariana encantava-nos.
Hilário, porém, prosseguiu indagando, perscrutador.
– Mas, apesar de consciente da verdade que a separação do veículo físico nos impõe, acredita a irmã que a organização católica é suficiente para conduzir o mundo moderno?
Ela sorriu com tristeza e redargüiu:
– Meu amigo, entre cooperar e aprovar, há sensível diferença.
A sociedade ajuda a criança sem infantilizar-se. As igrejas nascidas do Cristianismo caminham para grande renovação. O progresso assim exige. As idéias de céu e inferno e os excessos de natureza política, na hierarquia eclesiástica, estabeleceram grandes
perturbações para a alma popular. Entretanto, cabe-nos considerar as religiões que envelhecem como frutos fortemente amadurecidos.
A polpa alterada pelo tempo deve ser colocada à margem, contudo as sementes são indispensáveis à produção do futuro.
Auxiliemos as igrejas antigas, em vez de acusá-las. Todos somos filhos do Pai Celestial e onde houver o mínimo gérmen de Cristianismo aí surgirão recursos de recuperação do homem e da coletividade para o Cristo, Nosso Senhor.
A conversação era fascinante e as perguntas pareciam brilhar ainda, nos olhos de Hilário, maravilhado tanto quanto nós, ante as elucidações que recebia, mas a hora esgotara-se.
Um sinal de Clarêncio fez sentir que havíamos alcançado o momento da volta.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SEMANA - ESTUDO DO EVANGELHO CAPÍTULO 13 ÍTENS 1 a 3 - MARIA J. CAMPOS




FONTE BÁSICA

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA

Fazer o Bem sem Ostentação

1. Que significam as palavras de Jesus “(...) não saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita?
Que devemos fazer o bem pela satisfação de auxiliar o irmão necessitado, e não como meio de chamar atenção sobre nós mesmos.

“Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas...”.
“Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza, admiravelmente, a beneficência modesta”.

2. Por que Jesus afirma que os que alardeiam a caridade praticada já receberam sua recompensa?
Porque, quem assim age, o faz movido por orgulho e vaidade, a fim de merecer os elogios das pessoas. E, sendo esse o seu propósito, o reconhecimento público já lhe basta, porque seu orgulho foi satisfeito.

“Quando derdes esmolas, não trombeteis....”
“A prática do bem com ostentação é demonstração real de inferioridade moral.”


3. Como devemos agir para auxiliar o próximo?
Ajudando nosso irmão discretamente, em segredo; cuidando em ocultar nosso gesto e dando graças a Deus pela oportunidade que nos concede, de praticar a caridade.

Na prática da caridade, o maior beneficiado não PE quem a recebe, mas aquele que a pratica.

4. O bem, feito com ostentação, consegue auxiliar o necessitado?
Materialmente, é possível que sim. Moralmente, porém, causa mais mal do que bem, uma vez que o beneficiado sente mais carência de solidariedade quando o humilhamos com nosso auxílio ruidoso.

“A verdadeira caridade... é delicada e engenhosa no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de melindrar.” A prática da caridade, sendo dever de todos nós, dispensa qualquer ato de reconhecimento ou recompensa.

5. Como Jesus nos ensina, nesta passagem, a fazer o bem sem ostentação?
Atendendo, de imediato, à súplica do leproso, curando-o e recomendando-lhe que guardasse silêncio sobre o acontecido.

“Abstém-se de falar disto a quem quer que seja.”.

6. Se o bem deve ficar oculto, por que Jesus mandou que o ex-leproso se apresentasse aos sacerdotes?
Para que ele, de acordo com o costume da época, pudesse novamente ser registrado no rol dos vivos, voltando ao convívio da família e da sociedade.

Jesus, além de atender ao pedido do enfermo, curando-o, preocupou-se em reintegrá-lo à vida familiar e social, das quais fora banido em razão da doença.

Conclusão:

Fazer o bem é dever de todos. Portanto, não há razão para buscarmos aplausos para os nossos atos. O verdadeiro bem age em silêncio, com a aprovação agradecida do beneficiado, o agrado de Deus e a satisfação interior de quem o pratica.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

ESTUDO DO LIVRO NOSSO LAR - CAPÍTULO 37 - JULIANA SOLARE



A PRELEÇÃO DA MINISTRA

No curso de trabalhos do dia imediato, grande era o meu interesse pela conferência da Ministra Veneranda. Ciente de que necessitaria permissão, entendi-me com Tobias a respeito.
- Essas aulas - disse ele - são ouvidas somente pelos espíritos sinceramente interessados. Os instrutores, aqui, não podem perder tempo.
Fica você, desse modo, autorizado a comparecer com os ouvintes que se contam por centenas, entre servidores e abrigados dos Ministérios da Regeneração e do Auxílio.
Num gesto afetuoso de estímulo, rematou:
- Desejo-lhe excelente proveito.
Transcorreu o novo dia em serviço ativo. O contacto de minha mãe, suas belas observações relativas à prática do bem, enchiam-me o espírito de sublime conforto.
A princípio, logo após o despertar, aqueles esclarecimentos sobre o bônus-hora me haviam suscitado certas interrogações de vulto. Como poderia estar a compensação da hora afeta a Deus? Não era atribuição do administrador espiritual, ou humano, a contagem do tempo? Tobias, porém, esclarecera-me a inteligência faminta de luz. Aos
administradores, em geral, impende a obrigação de contar o tempo de serviços, sendo justo, igualmente, instituírem elementos de respeito e consideração ao mérito do trabalhador; mas, quanto ao valor essencial do aproveitamento justo, só mesmo as Forças Divinas podem determinar com exatidão. Há servidores que, depois de quarenta anos de atividade especial, dela se retiram com a mesma incipiência da primeira hora, provando que gastaram tempo sem empregar dedicação espiritual, assim como existem homens que, atingindo cem anos de existência, dela saem com a mesma
ignorância da idade infantil. Tanto é precioso o conceito de sua mamãe - disse Tobias - que basta lembrar as horas dos homens bons e dos maus.
Nos primeiros, transformam-se em celeiros de bênçãos do Eterno; nos segundos, em látegos de tormento e remorso, como se fossem entes malditos. Cada filho acerta contas com o Pai, conforme o emprego da oportunidade, ou segundo suas obras.
Essa contribuição de esclarecimento auxiliou-me a ponderar o valor do tempo, em todos os sentidos.
Chegada a hora destinada à preleção da Ministra, que se realizou após a oração vespertina, dirigi-me, em companhia de Narcisa e Salústio, para o grande salão em plena natureza.
Verdadeira maravilha o recinto verde, onde grandes bancos de relva nos acolheram confortadoramente. Flores variadas, brilhando à luz de belos candelabros, exalavam delicado perfume.
Calculei a assistência em mais de mil pessoas. Na disposição comum da grande assembléia, notei que vinte entidades se assentavam em local destacado entre nós outros e a eminência florida onde se via a poltrona da instrutora.
A uma pergunta minha, Narcisa explicou:
- Estamos na assembléia de ouvintes. Aqueles irmãos, que se conservam em lugar de realce, são os mais adiantados na matéria de hoje, companheiros que podem interpelar a Ministra. Adquiriram esse direito pela aplicação ao assunto, condição que poderemos alcançar também, por nossa vez.
- Não pode você figurar entre eles? - indaguei.
- Não. Por enquanto, posso sentar-me ali somente nas noites que a instrutora verse o tratamento dos espíritos perturbados. Há, porém, irmãos que ali permanecem no trato de várias teses, conforme a cultura já adquirida.
- Muito curioso o processo - aduzi.
- O Governador - prosseguiu a enfermeira explicando - determinou essa medida, nas aulas e palestras de todos os Ministros, a fim de que os trabalhos não se convertessem em desregramento da opinião pessoal, sem base justa, com grave perda de tempo para o conjunto. Quaisquer dúvidas, quaisquer pontos de vista, verdadeiramente úteis, poderão ser esclarecidos ou aproveitados, mas, tendo em vista o momento adequado.
Mal acabara de falar e eis que a Ministra Veneranda penetrou no recinto em companhia de duas senhoras de porte distinto, que Narcisa informou serem Ministras da Comunicação.
Veneranda espalhou, com a simples presença, enorme alegria em todos os semblantes. Não mostrava a fisionomia de uma velha, o que contrastava com o nome; sim, o semblante de nobre senhora na idade madura, cheia de simplicidade, sem afetação.
Depois de palestrar ligeiramente com os vinte companheiros, como a informar-se das necessidades dominantes na assembléia em geral, com relação ao tema da noite, começou por dizer:
- "Como sempre, não posso aproveitar a nossa reunião para discursos de longa tiragem verbal, mas aqui estou para conversar com vocês, relacionando algumas observações sobre o pensamento.
"Encontram-se, entre nós, no momento, algumas centenas de ouvintes que se surpreendem com a nossa esfera cheia de formas análogas às do planeta. Não haviam aprendido que o pensamento é a linguagem universal?
Não foram informados de que a criação mental é quase tudo em nossa vida?
São numerosos os irmãos que formulam semelhantes perguntas. Todavia, encontraram aqui a habitação, o utensílio e a linguagem terrestres. Esta realidade, contudo, não deve causar surpresa a ninguém. Não podemos esquecer que temos vivido, até agora (referindo-nos à existência humana), em velhos círculos de antagonismo vibratório. O pensamento é a base das relações espirituais dos seres entre si, mas não olvidemos que somos milhões de almas dentro do Universo, algo insubmissas ainda às leis
universais. Não somos, por enquanto, comparáveis aos irmãos mais velhos e mais sábios, próximos do Divino, mas milhões de entidades a viverem nos caprichosos "mundos inferiores" do nosso "eu". Os grandes instrutores da humanidade carnal ensinam princípios divinos, expõem verdades eternas e profundas, nos círculos do globo. Em geral, porém, nas atividades terrenas, recebemos notícias dessas leis sem nos submetermos a elas, e tomamos conhecimento dessas verdades sem lhes consagrarmos nossas vidas.
"Será crível que, somente por admitir o poder do pensamento, ficasse o homem liberto de toda a condição inferior? Impossível!
"Uma existência secular, na carne terrestre, representa período demasiadamente curto para aspirarmos à posição de cooperadores essencialmente divinos. Informamo-nos a respeito da força mental no aprendizado mundano, mas esquecemos que toda a nossa energia, nesse particular, tem sido empregada por nós, em milênios sucessivos, nas criações mentais destrutivas ou prejudiciais a nós mesmos.
"Somos admitidos aos cursos de espiritualização nas diversas escolas religiosas do mundo, mas com freqüência agimos exclusivamente no terreno das afirmativas verbais. Ninguém, todavia, atenderá ao dever apenas com palavras. Ensina a Bíblia que o próprio Senhor da Vida não estacionou no Verbo e continuou o trabalho criativo na Ação.
"Todos sabemos que o pensamento é força essencial, mas não admitimos nossa milenária viciação no desvio dessa força.
"Ora, é coisa sabida que um homem é obrigado a alimentar os próprios filhos; nas mesmas condições, cada espírito é compelido a manter e nutrir as criações que lhe são peculiares. Uma idéia criminosa produzirá gerações mentais da mesma natureza; um princípio elevado obedecerá à mesma lei. Recorramos a símbolo mais simples. Após elevar-se às alturas, a água volta purificada, veiculando vigorosos fluidos vitais, no orvalho protetor ou na chuva benéfica; conservemo-la com os detritos da terra e fálaemos habitação de micróbios destruidores.
"O pensamento é força viva, em toda parte; é atmosfera criadora que envolve o Pai e os filhos, a Causa e os Efeitos, no Lar Universal. Nele, transformam-se homens em anjos, a caminho do céu ou se fazem gênios diabólicos, a caminho do inferno.
"Apreendem vocês a importância disso? Certo, nas mentes evolvidas, entre os desencarnados e encarnados, basta o intercâmbio mental sem necessidade das formas, e é justo destacar que o pensamento em si é a base de todas as mensagens silenciosas da idéia, nos maravilhosos planos da intuição, entre os seres de toda espécie. Dentro desse princípio, o espírito que haja vivido exclusivamente em França poderá comunicar-se no Brasil, pensamento a pensamento, prescindindo de forma verbalista especial, que, nesse caso, será sempre a do receptor; mas isso também exige a afinidade pura. Não estamos, porém, nas esferas de absoluta pureza mental, onde todas as criaturas tem afinidades entre si. Afinamo-nos uns com os outros, em núcleos insulados, e somos compelidos a prosseguir nas construções transitórias da Terra, a fim de regressar aos círculos planetários com maior bagagem evolutiva.
"Nosso Lar", portanto, como cidade espiritual de transição, é uma bênção a nós concedida por "acréscimo de misericórdia", para que alguns poucos se preparem à ascensão, e para que a maioria volte à Terra em serviços redentores. Compreendamos a grandiosidade das leis do pensamento e submetamo-nos a elas, desde hoje."
Depois de longa pausa, a Ministra sorriu para o auditório e perguntou:
- Quem deseja aproveitar?
Logo após, suave música encheu o recinto de cariciosas melodias.
Veneranda conversou ainda por muito tempo, revelando amor e compreensão, delicadeza e sabedoria.
Sem qualquer solenidade nos gestos para evidenciar o término da conversação, findou a palestra com uma pergunta graciosa.
Quando vi os companheiros levantarem-se para as despedidas, ao som da música habitual, indaguei de Narcisa, surpreendido:
- Que é isso? Acabou a reunião?
A enfermeira bondosa esclareceu, sorridente:
- A Ministra Veneranda é sempre assim. Finaliza a conversação em meio do nosso maior interesse. Ela costuma afirmar que as preleções evangélicas começaram com Jesus, mas ninguém pode saber quando e como terminarão.