quarta-feira, 6 de março de 2013
LIVRO: VOLTEI DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE FREDERICO FIGNER
ENTRE AMIGOS ESPIRITUAIS
Rogando a Jesus me auxiliasse a encontrar o melhor caminho, observei que minha capacidade visual se dilatava. Curiosos fenômenos de óptica afetavam-me a retina hesitante. Altera-se-me a noção de perspectiva. A imagem do ambiente parecia penetrar-me. Objetos e luzes permaneciam dentro de mim ou jaziam em derredor? Dentro de semelhante indecisão, divisei duas figuras ladeando a filha dedicada.
Centralizei quanto possível o propósito de ver, mais exatamente, e tive o esforço compensado. Ambos os presentes se destacaram nítidos.
Que alegria me banhou o ser!
Numa deles, identifiquei sem obstáculos, o venerável Bezerra de Menezes e, no outro, adivinhei o benemérito Irmão Andrade. Pelo sorriso de compreensão que me endereçaram, reconheci que os dois me haviam notado a surpresa indescritível.
Todavia, meu júbilo do primeiro instante foi substituído pela timidez.
Enquanto nos debatemos na lida material, quase nunca nos recordamos de que somos seguidos pelo testemunho do plano espiritual, nos mínimos atos da
existência. Falamos, com referência aos Espíritos, com a desenvoltura das crianças que se reportam aos pais a propósito de insignificantes brinquedos. Senti-me repentinamente envergonhado. Quantos sacrifícios exigiram daqueles abnegados amigos?
Apesar do natural acanhamento que a presença deles me infligia, tudo fiz por levantar-me, de modo a recebê-los com a veneração que mereciam. Tentei, porém, debalde erguer-me.
Percebendo-me as intenções, abeiraram-se de mim. Cumprimentaram-me com palavras confortadoras de boas-vindas. Com gentilezas, explicou-me Bezerra que o processo liberatório corria normal, que me não preocupasse com as delongas, porque a existência que eu desfrutara fora dilatada e ativa. Não era possível – disse, bondoso – efetuar a separação de organismo espiritual com maior rapidez. Esclareceu também que o ambiente doméstico estava impregnado de certa substância que classificou por “fluídos gravitantes”, desfavorecendo-me a libertação.
Mais tarde vim a perceber que os objetos de nosso uso pessoal emitem radiações que se casam às nossas ondas magnéticas, criando elementos de ligação entre eles e nós, reclamando-se muito desapego de nossa parte, a fim de que não nos prendam ou perturbem.
Após instruir-me, benévolo, recomendou-me Bezerra esquecesse o retraimento em que me refugiara, confiando-me a pensamentos mais elevados, de maneira a colaborar com ele para que me subtraísse ao decúbito dorsal.
Pus-me a refletir na infinita bondade de Jesus, enquanto o dedicado amigo me aplicava passes, projetando sobre mim, com as mãos dadivosas, abundantes jatos de luz.
Ao término da operação, acentuara-se-me a resistência.
A rigor, não pude levantar-me, nem falar. Ambos os benfeitores, porém, seguidos de Marta, que nos observava com visíveis mostras de contentamento, retiram-me do leito, determinando que me amparasse a eles para uma jornada de repouso.
“— É necessário sair de algum modo – acentuou Bezerra, em tom grave –, conduzi-lo-emos à praia. As virações marítimas serão portadoras de grande bem ao reajustamento geral”.
Abracei-me aos devotados obreiros da caridade, com esforço, e, não obstante verificar que o derradeiro laço ainda me atava as vísceras em descontrole, afastei-me da zona doméstica, reparando que eu era por eles rapidamente conduzido à beira-mar.