terça-feira, 27 de outubro de 2009

AUTODESCOBRIMENTO


Joanna de Angelis / Divaldo P. Franco

Súmula

1 . O ser real.

Complexidades da energia. Interação espírito-matéria. Problemas da evolução.

2. Equipamentos existenciais.

O pensamento. Conflitos e doenças. Distonias e suas conseqüências. O ser emocional.

3. Consciência e Vida.

Incursão na consciência. Consciência responsável. Consciência e sofrimento. Exame do sofrimento.

4. O inconsciente e a Vida.

O inconsciente. O subconsciente. O inconsciente sagrado.

5. Viagem interior.

Busca da unidade. Realidade e ilusão. Força criadora.

6. Equilíbrio e saúde.

Programa de saúde. Transtornos comportamentais. Terapia da esperança. Plenitude! – A meta.

7. O ser subconsciente.

Computação cerebral. Reciclagem do subconsciente. Subconsciente e sonhos.

8. Sicários da alma.

O passado. Incerteza do futuro. Desconhecimento de si mesmo.

9. Viciações mentais.

Insatisfação. Indiferença. Pânico. Medo da morte.

10. Conteúdos perturbadores.

A raiva. O ressentimento. Lamentação. Perda pela morte. Amargura.

11. Os sentimentos: amigos ou adversários?

O amor. Os sofrimentos. Estar e ser. Abnegação e humildade.

12. Triunfo sobre o ego.

Infância psicológica. Conquista do Si. Liberação pessoal.

AUTODESCOBRIMENTO
(Uma busca interior)

Muito antes da valiosa contribuição dos psiquiatras e psicólogos humanistas e transpessoais, quais Klüber Ross, Groff, Raymond Moody Júnior, Maslow, Tart, Viktor Frankl, Coleman e outros, que colocaram a alma como base dos fenômenos humanos, a psicologia espírita demonstrou que, sem uma visão espiritual da existência física, a própria vida permaneceria sem sentido ou significado.

O reducionismo, em psicologia, torna o ser humano um amontoado de células sob o comando do sistema nervoso central, vitimado pelos fatores da hereditariedade e pelos caprichos aberrantes do acaso.

A saúde e a doença, a felicidade e a desdita, a genialidade e as patologias mentais, limitadoras e cruéis, não passam de ocorrências estúpidas da eventualidade genética.

Assim considerado, o ser humano começaria na concepção e anular-se-ia na morte, um período muito breve para o trabalho que a Natureza aplicou mais de dois bilhões de anos, aglutinando e aprimorando moléculas, que se transformaram em um código biológico fatalista...

Por outro lado, a engenharia genética atual, aliando-se à biologia molecular, começa a detectar a energia como fator causal para a construção do indivíduo, que passa a ser herdeiro de si mesmo, nos avançados processos da experiências da evolução.

Os conceitos materialistas, desse modo, aferrados ao mecanismo fatalista, cedem lugar a uma concepção espiritualista para a criatura humana, libertando-a das paixões animais e dos atavismos que ainda lhe são predominantes.

Inegavelmente, Freud e Jung ensejaram uma visão mais profunda do ser humano com a descoberta e estudo do inconsciente, assim como dos arquétipos, respectivamente, que permitiram a diversos dos seus discípulos penetrarem a sonda da investigação nos alicerces da mente, constatando a realidade do Espírito, como explicação para os comportamentos variados dos diferentes indivíduos que, procedentes da mesma árvore genética, apresentam-se fisiológica e psicologicamente opostos, bem e maldotados, com equipamentos de saúde e de desconcerto.

Não nos atrevemos a negar os fatores hereditários, sociais e familiares na formação da personalidade da criança. No entanto, adimos que eles decorrem de necessidades da evolução, que impõem a reencarnação no lugar adequado, entre aqueles que propiciam os recursos compatíveis para o trabalho de auto-iluminação, de crescimento interior.

O lar exerce, sem qualquer dúvida, como ocorre com o ambiente social, significativa influência no ser, cujos ônus serão o equilíbrio ou a desordem moral, a harmonia física ou psíquica correspondente ao estágio evolutivo no qual se encontra.

A necessidade, portanto, do autodescobrimento, em uma panorâmica racional torna-se inadiável, a fim de favorecer a recuperação, quando em estado de desarmonia, ou o crescimento, se portador de valores intrínsecos latentes. Enquanto não se conscientize das próprias possibilidades, o indivíduo aturde-se em conflitos de natureza destrutiva, ou foge espetacularmente para estados depressivos, mergulhando em psicoses de vária ordem, que o dominam e inviabilizam a sua evolução, pelo menos momentaneamente.

A experiência do autodescobrimento faculta-lhe no comportamento, como herança dos patamares já vencidos pela evolução, a dualidade do negativismo e do positivismo diante das decisões a tomar.

Não identificado com os propósitos da finalidade superior da Vida, quando covidado à libertação dos vícios e paixões perturbadoras, das aflições e tendências destrutivas, essa dualidade do negativo e do positivo desenha-se-lhe no pensamento, dificultando-lhe a decisão. É comum, então, o assalto mental pela dúvida: Isto ou aquilo? A definição faz-se com insegurança e o investimento para a execução do propósito novo diminui ou desaparece face às contínuas incertezas.

Fazem-se imprescindíveis alguns requisitos para que seja logrado o autodescobrimento com a finalidade de bem-estar e de logros plenos, a saber: insatisfação pelo que se é, ou se possui, ou como se encontra; desejo sincero de mudança; persistência no tentame; disposição para aceitar-se e vencer-se; capacidade para crescer emocionalmente.

Porque de desconhece, vitimado por heranças ancestrais – de outras reencarnações - , de castrações domésticas, de fobias que prevalecem da infância, pela falta de amadurecimento psicológico e outros, o indivíduo permanece fragilizado, susceptível aos estímulos negativos, por falta da auto-estima, do auto-respeito, dominado pelos complexos de inferioridade e pela timidez, refugiando-se na insegurança e padecendo aflições perfeitamente superáveis, que lhe cumpre ultrapassar mediante cuidadoso programa de discernimento dos objetivos da vida e pelo empenho em vivenciá-lo.

Inadvertidamente ou por comodidade, a maioria da pessoas aceita e submete-se ao que se poderia mudar a benefício próprio, autopunindo-se, e acreditando merecer o sofrimento e a infelicidade com que se vê a braços, quando o propósito da Divindade para com as suas criaturas é a plenitude, é a perfeição.

Dominado pela conduta infantil dos prêmios e dos castigos, o indivíduo não amadurece o eu profundo, continuando sob o jugo dos caprichos do ego, confundindo resignação com indiferença pela própria realização espiritual. A resignação deve ser um estado de aceitação da ocorrência – dor sem revolta, porém atuando para erradicá-la.

Liberando-se das imagens errôneas a respeito da vida, o ser deve assumir a realidade do processo da evolução e vencer-se, superando os fatores de perturbação e de destruição.

* * *

Ao apresentarmos o nosso livro aos interessados na decifração de si mesmos, tentamos colocar pontes entre os mecanismos das psicologias humanista e transpessoal com a Doutrina Espírita, que as ilumina e completa, assim cooperando de alguma forma com aqueles que se empenham na busca interior, no autodescobrimento.

Não nos facultamos a ilusão de considerar o nosso trabalho mais do que um simples ensaio sobre o assunto, com um elenco amplo de temas coligidos no pensamento dos eméritos estudiosos da alma e com a nossa contribuição pessoal.

Uma fagulha pode atear um incêndio.

Um fascículo de luz abre brecha na treva.

Uma gota de bálsamo suaviza a aflição.

Uma palavra sábia guia uma vida.

Um gesto de amor inspira esperança e doa paz.

Esta é uma pequena contribuição que dirigimos aos que sinceramente se buscam, tendo Jesus como Modelo e Terapeuta Superior para os problemas do corpo, da mente e do espírito.

Rogando escusas pela sua singeleza, permanecemos confiantes nos resultados felizes daqueles que tentarem o autodescobrimento, avançando em paz.

Salvador, 30 de novembro de 1994.
Joanna de Angelis


O SER REAL



COMPLEXIDADES DA ENERGIA

O conceito atual para a representação do ser humano – espírito e matéria – experimentou acirrado combate dos racionalistas e organicistas do passado, que o reduziram à condição de unidade corporal, que nascia na concepção e se desintegrava após a anoxia cerebral.

Os dabates incessantes, porém, não lograram dissolver as dúvidas que persistiram em torno dos fenômenos paranormais, quando examinada a questão sob um outro ponto de vista.

Viagens astrais (desdobramentos), sonhos premonitórios, recordações de experiências passadas, materializações e desmaterializações (ectoplasmia) permaneceram sob suspeição por falta de explicações lógicas dos investigadores apegados a este ou àquele conceito sobre o ser inteligente.

Com a proposta do homem trino – espírito, perispírito e matéria – a controvérsia encontrou campo fértil para equações favoráveis à sua existência antes, durante e depois do corpo físico.

Com muita propriedade, Albert Einstein definiu o homem como sendo um conjunto eletrônico regido pela consciência. Essa consciência condutora, certamente, a ele preexistente e sobrevivente, é o Si eterno, o espírito imortal, realizando inúmeras experiências da evolução, trabalhando, em cada uma delas, os valores que lhe jazem interiormente – Deus em nós.

Conseqüentemente, o indivíduo humano é um agrupamento de energias em diferentes níveis de vibrações.

Essa energia inteligente, na sua expressão original, como espírito, passa por condensação de moléculas, assim constituindo o corpo intermediário (perispírito), que se encarrega de concentrar e congelar as partículas, que se manifestam como o corpo somático.

Na gênese da energia pensante, permanecem ínsitos os instintos primários docorrentes das remotas experiências, que se exteriorizaram, quando na área da razão, como impulsos, tendências, fixações automatistas e perturbadoras, necessitando de canalização disciplinadora, de modo a torná-los sentimentos, que o raciocínio conduzirá sem danos nem perturbação.

Muitas vezes, o ser, em crescimento interior, sofre o efeito das energias abundantes de que é objeto e faz um quadro de congestão, responsável por vários distúrbios de comportamento como de natureza orgânica, transformando-os em campos enfermiços, que poderiam ser evitados.

Noutras circunstâncias, as energias não eliminadas corretamente, e mantidas sob pressão, expressam-se como inibição, igualmente geratriz de outras patologias desassossegadoras.

As doenças, portanto, resultam do uso inadequado das energias, da inconsciência do ser em relação à vida e à sua finalidade.

À medida que evolui, descobre as possibilidades imensas que tem ao alcance através da vontade bem direcionada, tornando-se capaz de liberar-se da congestão ou da inibição.

O despertar do Si enseja a compreensão da necessidade de transmudar as energias, encaminhando-as de uma para outra área e utilizando-as de forma profícua, único recurso para o gozo da saúde.

De certo modo, elas decorrem dos imperativos das leis de causa e efeito, que inscrevem nos seres o que se lhes faz necessário para a evolução, seja através dos camartelos do sofrimento ou mediante os impulsos santificados do amor.

A transformação moral, nesse cometimento, é fator preponderante para converter o instinto primitivo em força produtora de novas energias, ao invés de fomentar os distúrbios da congestão e da inibição.

Quando o indivíduo, dominado pelos impulsos da violência, sob rude controle, em tensão contínua, inteiriça os músculos antagônicos, exigindo-lhes demasiada elasticidade, gera atrito das articulações ósseas, às vezes dando origem a várias expressões artríticas, especialmente as de natureza reumatóide...

Conduzir bem essa força é um recurso preventivo para doenças degenerativas, portanto, evitáveis.

Por outro lado, os núcleos vitais (chackras) abaixo do diafragma, que não tem as energias transmutadas para a região superior a fim de serem sublimadas, especialmente na zona sacral, produzem doenças do aparelho urinário e genésico, com agravantes no que diz respeito aos relacionamentos sexuais...

Nada se deve perder no organismo. Todas as energias poderão ser canalizadas sob o comando da mente desperta – o Eu superior – para a sua responsabilidade, criatividade e expressão divina, que demonstram sua origem.

O Eu consciente, mediante exercício constante, deve comunicar-se com todas as células que lhe constituem o invólucro material, à semelhança do que faz quando lhe atende alguma parte ou órgão que necessita de tratamento.

Considere-se um corte que dilacere um membro. Pode ser deixado de lado para auto-refazer-se ou receber curativo imediato para a reparação dos tecidos e capilares.

Da mesma forma, a consciência – o Si – deve atender a energia, nas suas diferentes manifestações, rarefeita ou condensada, interferindo com amor e dando-lhe ordens equilibradas para a sua sublimação.

A doença resulta do choque entre a mente e o comportamento, o psíquico e o físico, que interagem somatizando as interferências.

Diante de ocorrências viciosas, de acidentes morais e emocionais, cumpre se lhes faça um exame circunstanciado, passando-se à conversação com o departamento afetado, despertando-lhe as potências e liberando-as para o preenchimento das finalidades da vida a que todas as coisas estão submetidas e se destinam.